04 Depois deste almoço, voce já faz parte da família

— Tem certeza de que a água não está gelada? — Perguntou Paloma, insegura quanto ao pulo que estava prestes a dar na cachoeira perto do sítio de sua avó.

— Pula logo! — Gritou Ulisses.

Paloma tomou impulso, indo para trás e, usando de toda a sua coragem, correu em frente para pular. A correnteza que descia com força pela cachoeira estava longe, mas seu barulho era muito nítido. A água estava tão limpa que parecia que aqueles que olhavam para ela tinham visão de raio-x. Ela tinha acordado bem cedo, como sempre fazia quando estava na casa de sua avó. Apesar de parecer que ainda não conseguira descansar da viagem, estava amando aqueles dias. Fazia muito calor naquela manhã e Ulisses havia a convidado para visitar a cachoeira com ele e sua irmã, Letícia.

Ao chegar, levantou tanta água que os irmãos cobriram o rosto. Podiam sentir o sol batendo forte sobre a pele deles, e o contraste deste calor com a água gelada dava uma sensação inigualável de frescor. Sentiam que até mesmo a respiração estava melhor e menos pesada.

— Ah, que lugar maravilhoso! — Exclamou Paloma, dando um mergulho logo em seguida.

A água parecia a envolver como um abraço em cada parte do corpo, fazendo-a se sentir como se fizesse parte daquela cachoeira, como se pertencesse àquele lugar. O seu cabelo flutuava pela água. Por um breve momento, ela se sentiu como uma sereia. Ulisses a observava e, a julgar pelo olhar dele, naquele momento ele diria que ela era de fato uma.

— Por que você nunca veio aqui? — Perguntou Letícia, mais tarde, assim que se retiraram da água.

— Todas as vezes que visitei a minha avó eu era muito pequena, então ela nunca deixou que eu viesse aqui quando me chamavam. — Respondeu Paloma, enquanto passava seu hidratante de aloe vera. — Na verdade, eu nem sei como ela deixou dessa vez. Minha avó deve confiar muito em vocês.

— Como eu disse, nossas famílias são muito próximas. Aliás, — Ulisses voltou-se para Letícia — minha mãe está convidando vocês para almoçarem lá hoje. Não é, Lê?

— Sim, é verdade. E você pode pegar aquele livro que eu te falei, Paloma. — Letícia disse, já guardando suas coisas na bolsa. — Eu queria mesmo era que você lesse a série toda, mas como você mora longe, acho que só vai dar tempo de ler o primeiro.

— E eu não esqueci da promessa que te fiz, ok? — Ulisses piscou para ela.

— Não acredito! Vai rolar bolo de sobremesa, então? — Perguntou, dando pulinhos de empolgação.

— Claro, promessa é dívida. Só que tem uma coisa, eu quero você na cozinha junto comigo. Sem dúvidas de que fui eu que fiz o bolo dessa vez.

Letícia revirou os olhos. Apesar de seu irmão ser um convencido, não podia falar nada, ele era mesmo um cozinheiro de mão cheia.

♡♡♡

A casa de Ulisses era um lugar extremamente aconchegante. Não em termos físicos, mas o acolhimento que todos davam à Paloma e sua avó as faziam se sentir nos seus próprios lares. Durante o almoço, todos eram só risos. Paloma se sentiu à vontade para até mesmo chamar a mãe de Ulisses de tia Fabinha e o pai dele de tio Clébio. Antes de se sentarem à mesa, Letícia mostrara para ela os inúmeros livros que tinha. Ela a lembrava de Patrícia, sua irmã mais velha. Era muito mais centrada e comedida que ela e isso a fazia admirar o jeito meigo da nova amiga. Na verdade, já estava a considerando praticamente como uma irmã. Mal conhecia aquela família, mas já os guardava no coração.

— Então chegou a hora mais esperada de todas! — Exclamou Paloma, tirando uma com Ulisses. — Vamos ver o que o grande chef pode fazer.

— Ah mas você está duvidando do meu filho dentro da minha casa? — Perguntou Clébio. — Dona Virgínia, o seu filho não ensinou modos à essa menina?

— Acho que ele ficou dormindo enquanto minha nora cuidava dela. — Dona Virgínia não deixou passar, seu lado piadista aflorava quando perto de Fabinha, que ria descontroladamente da piada sobre o pai de Paloma.

— Vóóó, eu nunca imaginei que viveria pra ver a senhora tirar sarro do meu pai. — Disse a menina, se dirigindo para a cozinha.

— Me deixa, garota! — Dona Virgínia gritou em meio aos risos, enquanto tacava um pano na direção de Paloma.

— O que tem na sua família que deixa minha avó assim, hein? — Perguntou ela para Ulisses, enquanto sentava num banquinho.

— Mas o que você tá fazendo aí? Pensou que iria só assistir? — Ulisses a pegou pelas mãos e a puxou para perto de si. — Você vai me ajudar também.

— Ah ninguém merece! — Lamentou Paloma, que no fundo estava amando toda aquela atenção recebida.

Naquela tarde, em meio aos ingredientes para se fazer um bolo, estavam Paloma e Ulisses, que brincavam um com o outro o tempo todo. Enquanto o bolo estava assando, eles ficaram conversando na cozinha, de onde dava para ouvir nitidamente os risos de sua avó e Fabinha. Ela estava começando a sentir o cheiro que, pouco depois, já exalava pela casa. Quando Ulisses pegou o bolo do forno, ela estava tão ansiosa para prová-lo que o convenceu a deixá-la comer mesmo quente. Assoprou um milhão de vezes, até conseguir fazer com que a temperatura estivesse menos pelando para colocar dentro da boca.

— Hummm, noooossa... — Disse, de boca cheia. — Tá divino! O que você coloca aqui?

— Você viu todo o processo. — Respondeu Ulisses de mãos levantadas. — Não tem nada de muito especial. Talves seja porque eu faço com amor.

Paloma riu.

— Que brega! Mas tudo bem, aceito essa explicação se você me der mais um pedaço. — Retrucou, com o prato estendido.

— Você é meio gulosa, hein. Não quer mesmo esperar esfriar? — Ele cortava o bolo talvez porque já soubesse a resposta.

— Meu querido, se meu sonho se realizasse e eu pudesse comer sem engordar, eu já teria saído daqui e raptado esse bolo pra traçar ele sozinha! — Ela já estava de boca cheia novamente.

— Gula é pecado, irmã! — Ele apontou para o prato dela.

— Tentar a irmã a pecar também, cozinheiro!

Ela e dona Virgínia passaram o dia todo na casa de Fabinha. Quando anoiteceu, Ulisses as acompanhou até em casa. Ele acabou ficando muito tempo conversando com Paloma na varanda e foi embora tarde da noite. De tão cansada do dia cheio que tivera, Paloma acabou se esquecendo de falar com Natan antes de dormir.

Música do capítulo:
Eat You Alive - The Oh Hellos

🧡

Olá pessoas!!
Confesso que além de fome, este capítulo me deu vontade de pular numa cachoeira. Vocês não?
Não se esqueçam de comentar e deixar uma estrelinha.
Beijos!!🥰😘

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