Capítulo 2: Atormentada

Todo mundo da casa encarava a faca na parede, trocamos olhares, eu estava agarrada em Olavo, que se exploda que eu o odiasse, todo mundo o amava, então talvez os fantasmas não quisessem matá-lo. Então, pelo bem da minha vida, vou ficar grudada nele.

— Me solta Miranda! — ele chiou.

— Não, não vou soltar. Ponto final.

Ele tentou retirar meu aperto, o segurei mais forte e ele desistiu com um suspiro resignado.

— Vamos pelo menos nos sentar no sofá da sala, ok?

— Ok.

Olavo se moveu e eu o segui até o sofá, nos sentamos, eu ainda abraçava as suas costas como um carrapato.

— Espera, o quê aconteceu? — indagou Luíza.

— Eu já falei! — respondi tremendo e com a voz abafada pelas costas de Olavo.

— Acha que pode ser algo planejado pelo programa? Sei lá, para gerar mais audiência, eles resolveram nos assustar?

— Como se aqui fosse uma casa assombrada?

— Pode ser né?

Pode ser, mas eu fiquei calada. Não estava com vontade de dizer que tinha algo no escuro daquela casa, crescendo silenciosamente e que queria "brincar". Não, isso seria muito estranho. Abracei Olavo com mais força de acordo com que meu medo retornava. Isso, quer dizer, fantasmas não existem. Não é? Deve ser o programa, só pode. Respirei fundo, aspirando o cheiro de lavanda dele. Hum!Eu gosto desse perfume. Sacudi a cabeça e o larguei, que pensamentos idiotas eram aqueles?

Levantei-me do sofá e fui em direção das portas de vidro.

— Tá indo para onde carrapato? — indagou Olavo.

— Respirar, você fede. — provoquei, apertando o nariz e fazendo uma cara de nojo.

#####

Arrumei a minha cama, era noite e Luísa ia apagar a luz. Quem é Luíza? Uma ruiva que eu lembro o nome por ser o mesmo da minha sobrinha. Eu não me esforço muito para aprender o nome de ninguém ali, pois logo todos serão eliminados e vai ser eu contra Olavo lutando pelo meio milhão e é claro que sou eu quem vencerá.

Luíza apagou as luzes e eu me aconcheguei para dormir. Cerrei os olhos e abracei meu travesseiro com força e logo adormeci. Meus sonhos foram recheados de pesadelos e eu acordei com uma risada sinistra que ecoava pelo quarto. Era um riso infantil e estranho. Empurrei meus lençóis para longe e me sentei. Apertei meus ouvidos, não estou ouvindo nada não estou... Uma força invisível puxou o meu pé.

Primeiro foi um puxão que me fez deitar na cama. Guinchei. O segundo puxão, me fez caí ao chão num baque surdo e dolorido. E foi aí que eu gritei. As meninas do dormitório acordaram, Luíza foi acender a luz. Outro puxão e eu fui carregada até o meio do quarto. Soltei um novo grito.

— Liga a porra dessa Luz! — supliquei amedrontada.

— Eu não consigo! — respondeu Luíza.

— O Quê? — o pânico crescia em meu interior, ameaçando romper minha barriga como um alien de filme.

— Não tá acendendo! — chorou Luíza.

— Ei, quem tá puxando o meu pé? — indagou enraivada alguma das outras garotas.

— O quê? — inqueriu Luíza sem entender, até que ela também berrou.

Ouvi outros berros. Outras estavam sendo puxadas como eu? Um gelo percorreu a minha espinha. Ouvimos as vozes dos homens se erguendo acima da gritaria feminina.

— Mas o que diabos está acontecendo?

A luz foi finalmente acesa e algumas garotas estavam caídas no meio do quarto como eu. Sentei-me, com lágrimas de terror escorrendo pelo meu rosto. Abracei-me e choraminguei.

— Olavo?!

Ele se aproximou.

— Que é, carrapato?

— Eu tô com medo. Quero dormir aqui não! — falei me agarrando na gola do pijama dele.

Eu sei lá, por que eu estava fazendo isso. Eu ainda o odeio, só tô com medo demais para brigar. Surpreendentemente, Olavo se curvou e perguntou:

— Consegue levantar?

Fiz um não com a cabeça. Parecia que o excesso de medo fez as minhas pernas pararem de funcionar. Ele me pegou nos braços, me carregando como uma princesa, admirei seus músculos. Caramba! Como ele podia ser tão forte? Aninhei-me em seu peito. Olavo se virou para os outros.

— Vamos levar as garotas para o nosso quarto. Seja lá o que for isso, está passando dos limites.

Ele me depositou na cama e me embrulhou. Parecendo notar meu pavor, se colocou a alisar suavemente os meus cabelos me embalando até eu dormir. Ok, talvez ele não fosse tão ruim assim.

#####

No dia seguinte, o programa não deu respostas e nem sinal de vida, ou seja, estávamos sozinhos nessa. Reunidos no jantar, as garotas mexiam nos pratos apenas brincando com a comida. Até eu, que amo comer, mexia no meu hambúrguer com desinteresse.

Um dos garotos quebrou a quietude tensa do recinto.

— Será mesmo, que o que está acontecendo faz parte do programa?

— Não sei. — Ana murmurou — Só senti dedos na minha panturrilha e algo me puxando! — ela começou a chorar.

Inconsciente, me movi para mais perto de Olavo, seu cheiro de lavanda me acalmava, por mais que eu odiasse admitir. Ele passou o braço pelos meus ombros, me puxando para mais perto, acho que fazia isso também de forma inconsciente. Enfim, não me importo.

— Tá com medo? — murmurou baixo contra o meu ouvido, fazendo um arrepio percorrer meu corpo.

— Que pergunta idiota! — revirei os olhos — Eu tô quase pedindo para sair. Não vim aqui para participar de um reality show de terror, ok? Eu nem acredito nessas coisas.

— Sabe, quando os aborígenes descreveram o ornitorrinco para os ingleses, eles não acreditaram que algo assim existia.

— O que quer dizer, espertinho? — repliquei sem paciência.

— Que não acreditar que algo existe, não faz com que ela seja menos real.

Suspirei e me agarrei a ele. Subitamente senti. Alguém estava nos observando, era perceptível. Com os pelos eriçados, virei a minha cabeça em direção a porta do dormitório feminino, na escuridão um rosto pálido e sinistro me encarava. Tinha baixa estatura e exibia um sorriso escancarado e cruel. A criatura pendeu a cabeça de forma antinatural para o lado direito e perguntou:

— Vamos brincar? — no momento seguinte as luzes se apagaram.

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