Capítulo 3: O jogo de queimada

 Pronto, se agora eles me olhavam porque eu era novo, agora que eu enfrentei o aquele idiota, iria chamar mais atenção ainda.

 O restante das aulas foram se passando e dentro da sala ouvi alguns comentários ao meu respeito, mas eu os ignorei por completo. Eu olhava pela janela, quando avistei Brandon indo em direção ao campo de lacrosse. O observei por um instante e lembrei de como ele foi educado comigo. Isso fez com que eu soltasse um sorriso de leve.

 Olhei para o lado e vi que Wallace estava me olhando sem entender nada. Fiquei vermelho na hora e tentei disfarçar e voltei a prestar a atenção na aula.

 Quando o sinal tocou, já estava aliviado para ir para casa. Arrumei minha bolsa e fui em direção ao corredor. Me despedi de Bonnie e Wallace, meus novos amigos.

 Lembrei que iria ter que passar pra falar com a Iolana para pegar o meu uniforme. Primeiro passei no meu armário para guardar algumas coisas. Sem perceber, Brandon estava ao meu lado parado e me encarando.

 Fiquei calmo e não demonstrei que estava com medo. Uma coisa que aprendi com alguns amigos é que se você demonstra medo eles irão aproveitar mais ainda de você, claro que você vai apanhar das duas maneiras, mas é um jeito de dizer para te deixarem em paz e que você não tem medo deles.

 Ele estava apoiado no armário com um braço e não disse nenhuma palavra, apenas me observava. Continuei guardando as minhas coisas e fingi que ele não estava ali. O corredor estava um pouco vazio já. 

 As pessoas que restavam, estavam colocando as coisas o mais rápido que podiam em seus armários.

 -Você deve estar se sentindo o rei do colégio, não é mesmo?

 Apenas o ignorei.

 -Hey, baixinho. Estou falando com você. –Continuou ele, me cutucando.

 Empurrei sua mão e ele me olhou com um pouco de raiva.

 -O que você quer comigo, oh todo poderoso. –Perguntei com sarcasmo.

 -Escuta aqui garoto. –Ele veio pra cima de mim, colocou as duas mãos ao meu lado, me prensando contra o armário. –Você acha que pode chegar aqui e querer me enfrentar?

 Apenas fiquei em silencio. Por mais que eu não demonstrava medo, por dentro eu estava com muito medo, nunca havia entrado em uma briga antes.

 Eu vi os seus olhos azuis que estava um pouco irritado de mais cedo. Senti a sua respiração e meu coração acelerou e sentia minha mão tremer um pouco.

 -Escuta aqui seu, tampinha. Você vai me pagar por hoje. –Ele se aproximava um pouco mais.

 Eu tentei empurra-lo, mas ele era mais forte do que eu. Eu estava começando a ficar assustado.

 -Você sabe o que acontece com pessoas como você que tentam me enfrentar? –Ele deu um soco de leve ao meu lado. Me assustei um pouco.

 Ele percebeu que eu estava ficando assustado e então continuou.

 -Você não vai durar um mês nesse colégio. Eu vou fazer de tudo pra infernizar a sua vida garoto. Está ouvindo?

 Eu o olhei em seus olhos grandes e em seu rosto estava um sorriso de satisfação. Ele estava curtindo com a minha cara. Me irritei quanto a isso, mas eu não podia fazer nada, já que estava preso por ele.

 -O que foi? Não sabe falar? –Ele soltou um sorriso novamente.

 -Prefiro não gastar a minha saliva com gente desnecessária. –Quando vi, já tinha respondido.

 O sorriso que estava em seu rosto foi desaparecendo. Ele então pegou em meus braços.  Quando ele me tocou, senti um pequeno arrepio em meu corpo. Em seguida, senti a pancada do armário em minhas costas. Caio de joelhos no chão sentindo a dor em minhas costas. Brandon se abaixa, pega no meu queixo, apertando ele e vira em sua direção.

 -Aí que é o seu lugar. –Ele se levanta e continua me olhando. –Na próxima vez, se é que vai ter, vai ser pior que isso.

 Brandon saiu e me havia me deixado sozinho naquele corredor vazio. Senti um pequeno aperto no peito e a vontade de chorar veio junto. O que havia acontecido com aquele garoto educado de antes?

 Meus olhos se encheram de lagrimas, mas eu me controlei para não chorar. Isso irá demonstrar que eu era fraco e não podia demonstrar isso no colégio. Me recuperei, me levantei e então fui para a direção para pegar meu uniforme e em seguida fui para o ônibus para ir para casa.

 Chegando em casa, e ela estava vazia, meus pais iriam chegar somente a tarde. Subo para o meu quarto e vejo que os moveis já estão instalados. Jogo a mochila de lado e me jogo em cima da cama. Fiquei pensando nas coisas que havia acontecido hoje e isso era só o primeiro dia.  Teria que passar pelos outros dias, aturando esse tipo de coisa. Estava exausto. O telefone toca e então vou atende-lo. Era minha mãe.

 -Oi querido, como foi o seu primeiro dia?

 Não podia dizer que eu tinha entrado em uma confusão.

 -Foi aquela coisa de sempre né? Está precisando de alguma coisa?

 -Queria pedir para que você ficasse em casa para esperar o restante da mobília, eu fui aí de manhã, mas não posso ficar o dia todo por aí, tudo bem?

 -Claro, não se preocupe.

 Me despeço dela e volto a deitar na minha cama. Ela estava tão confortável que quanto menos esperei, já estava dormindo.

 Acordei com a campainha tocando. Era a empresa de moveis que trouxe o resto da mobília. Menos mal, pelo menos não precisaria esperar mais. Depois de descarregarem e colocarem dentro de casa, assinei os papeis e eles saíram.

 Olhei para o relógio e então decidi fazer um lanche, antes de sair pra correr com Lola. Nos encontramos na entrada do parque. Ela estava com uma calça leagging e um top.

 -E então, como foi lá no seu colégio?

 -Foi um pouco, digamos que, diferente. –Respondi a ela.

 -Espero que não entre em confusão.

 -É, eu também.

 Corremos por uma hora mais ou menos e então nos sentamos para descansar um pouco. Peguei a garrafa de água que tinha levado e tomei um gole.

 -Aconteceu alguma coisa que você gostaria de me contar?

 Olhei pra ela um instante.

 -Tudo bem, pode me ver como uma amiga, uma ouvinte. –Continuou ela.

 -Não foi nada de mais, apenas uma bagunça no refeitório.

 -Sabia que tinha alguma coisa, mas não é isso que anda te incomodando.

 -Como assim?

 -O seu jeito de correr, está diferente. Parece que você está com raiva de alguma coisa. E pelo que sei, você não estaria com raiva do refeitório. –Ela sorriu.

 Respirei fundo e disse pra ela sobre o que Brandon e suas ameaças.

 -Aposto que ele deve ser um filhinho de papai. –Disse ela. –Mas é isso mesmo que está te incomodando?

 Ela parecia ler o meu rosto. Não havia contado a ela sobre o que senti no banheiro. Decidi que iria guardar isso pra mim mesmo.

 -Olha, as vezes as pessoas tendem a ser mal para chamar a atenção das pessoas ao seu redor.  Ela quer tanto ser reconhecida pelas pessoas que acaba fazendo esse tipo de coisa para que as pessoas o notem. –Ela passou uma mão em meu cabelo.

 Sorri pra ela e ficamos ali por mais alguns minutos. Quando saímos do parque, já estava a noite. A lua brilhava no céu. Fui andando tranquilamente para casa, até que encontro Wallace.

 -O que você está fazendo por aqui? –Perguntei.

 -Eu moro aqui, bobinho.

 -Como? Será que as pessoas que se mudam, tendem a vir para cá? –Nos dois caímos na risada.

 -Está indo para casa? –Perguntou.

 -Eu? Sim, estava correndo.

 Nos dois nos sentamos na calçada e ficamos observando a lua.

 -Por isso que seu corpo é todo bem trabalhado. –Disse ele com um sorriso tímido.

 Minhas bochechas ficaram vermelhas e tentei disfarçar.

 -Desculpe por hoje. –Disse ele.

 -Pelo o que?

 Fiquei observando ele por um instante.

 -Ah, você sabe, por você ter se desentendido com o Brandon. Agora ele vai ficar no seu pé.

 -Não se preocupe com isso. Sei como lidar com gente como ele.

 Ficamos sentados por alguns minutos conversando. Me apoio com os braços para trás e continuo olhando para a lua. Percebo que Wallace me olha fixamente.

 -O que foi? –Perguntei.

 -Nada. –Ele tentou disfarçar. –Melhor eu ir.

 -Tudo bem. Nos vemos no colégio amanhã então.

 Me despedi dele e então fui para casa. Hora dessas meus pais já estariam em casa. Subi para o meu quarto e tomei meu banho, logo o jantar estava pronto. Depois do jantar, contei meu dia para meus pais, claro que não foram todas as coisas, apenas o que achei necessário dizer.

 -É bom ver que você está se dando muito bem com o novo colégio. –Disse meu pai.

 Fui para o meu quarto, fiz os deveres que tinha e depois fui dormir. Na manhã seguinte, acordei e me arrumei para a aula. A campainha toca e era Wallace me convidando pra ir com ele e sua mãe. Era melhor que o ônibus, pelo menos não iria ter muitas pessoas me encarando novamente.

 A mãe de Wallace parecia ser bem legal. Ela era calma e falava de uma maneira tão sossegada que dava inveja as vezes. Chegando no colégio, fomos para os armários e o meu estava todo rabiscado com desenhos e palavrões obscenos. O pessoal estava rindo em volta de mim.

 Me senti mal por eles estarem fazendo isso comigo. Retirei os papeis que estava grudado na porta do armário. Brandon passa ao meu lado e então sussurra pra mim

 -Bem-vindo.

 Em seguida sai andando rindo com os mesmos amigos.

 Lembrei do que Lola disse no dia anterior, que ele faz esse tipo de coisa para chamar a atenção, quem sabe esses amigos dele, só está com ele por medo ou outra coisa.

 -Você está bem? –Perguntou Wallace.

 -Não se preocupe, estou bem.

 Na verdade, eu não estava. Por dentro eu queria chorar. Fui para o banheiro, onde me tranquei em um dos boxes e comecei a chorar. Porque eu estava chorando? Era por causa daquela brincadeira? Nunca fui de chorar dessas coisas.

 Ouço a porta do banheiro se abrir, então eu fico em silencio. Limpo meus olhos e me preparo para sair.

 -Aquele garoto está perdido hoje. Ouvi dizer que hoje a sala de Brandon irá se juntar com a sala dele para a aula de educação física.

 -Então aquele garoto está morto. Tenho dó dele.

 -Mas ele procurou também né? Ninguém mandou ele caçar confusão. Caçou agora aguenta.

 Sai do box e os dois me olharam paralisados. Passei pelo meio dos dois e lavei minhas mãos.  Sequei-as e sai do banheiro. Os dois pareciam ter visto um monstro. Sai com um sorriso de satisfação no rosto.

 Já sabia o que iria acontecer, então teria que dar um jeito de não ir para a aula de educação física. Como era a terceira aula, ainda tinha tempo para pensar em algo.

 Chego na sala de aula e me sento. Fico esperando o professor aparecer, já que estava demorando. O pessoal da sala estava na maior conversa. Até Wallace não parava de falar.

 Olho em direção a porta e então vejo a diretora entrando.

 -Tenho um comunicado para vocês. A professora de inglês de vocês não poderá vir dar aula hoje por motivos pessoais, então vocês vão para a quadra coberta, vocês iram ter aula com o professor de educação física com outra turma.

 Uma chuva de reclamação foi pra cima dela. A diretora bateu as palmas duas vezes e todos ficaram em silencio.

 -Estou fazendo isso para que vocês possam sair mais cedo, porque não conseguimos achar alguém para substitui-la

 Ferrou. Eu não tinha um plano ainda, teria que ir de qualquer jeito para aquela aula. Mesmo se eu inventasse um motivo a diretora não iria deixar. O jeito foi seguir para a quadra coberta.

 -Você parece preocupado. Aconteceu alguma coisa? –Perguntou Wallace.

 -Acho que hoje vai ser o meu funeral.

 Ele olhou assustado pra mim.

 -To zoando com você. –Deu um, tapinha de leve em suas costas.

 Chegando na quadra. Vi o professor já aquecendo os outros alunos. E quem mais estava lá?  Claro o Brandon. Estava todo alegre. Quem poderia imaginar que aquilo tem um lado bom. O professor foi separando as pessoas para cada time e claro que eu iria estar contra Brandon. O jogo que iriamos jogar era queimada.

 Pra quem não sabe, queimada é um jogo onde tem objetivo de acertar a pessoa do outro time com a bola. Quem eliminar um time todo é quem ganha.

 A princípio eu fiquei apenas observando e me esquivando das bolas. Meus olhos estavam focados em Brandon. Que parecia estar se divertindo. Uma hora ou outra, ele tentava me acertar, mas eu apenas me esquivava.

 Uma das vezes em que ele tentou me acertar, a bola passou muito próxima a mim. Olhei para o seu rosto e ele estava sorrindo. Pegou mais uma e tentou novamente, mas errou, assim como das outras vezes.

 Tinha hora que ele me provocava, fazendo sinal para eu acerta-lo, mas eu apenas tentava ignora-lo. O meu time e o dele foram se reduzindo. Deixando apenas umas três pessoas sem contar comigo e cinco do lado dele.

 Ele lançou a bola e acertou em cheio num garoto do meu time. A bola parecia ter sido forte. Eu o vi rindo da situação e isso me deixou com mais raiva ainda. Peguei uma das bolas e acertei o garoto do lado dele. 


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Nos vemos no próximo capitulo. 😘🦊


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