Única Chance
O sol que se erguia no horizonte parecia opaco, sem cor, uma luz morta surgindo num céu também pálido. Uma falsa sensação de paz embalada pela paisagem silenciosa assustadoramente mórbida. Fios de vento corriam entre as árvores levando seus cantos de agonia, enquanto tudo que restava no entorno, era a morte. Ela acompanhada do medo, e desespero estiveram me acompanhando desde o momento em que nasci. Não havia motivos para nos separarmos também quando chegasse meu fim.
Que ironia que é passar tanto tempo ponderando sobre a vida e ao fim dela querer algum tempo a mais, logo eu que coloquei tantos pontos finais. Num dos meus pesadelos mais recentes me vi diante uma pilha de corpos, não acima dela como um ser inalcançável e sim atrás, sendo impedida de avançar pela sujeira. Se eu quisesse ter um vislumbre de luz, teria que me desfazer da pilha de cadáveres, contudo, sempre que eu puxava um deles, outro caía em seu lugar. Sem face, com um único corte no meio do corpo que vertia moedas de ouro manchadas de vermelho. Reflexo da vida regrada a morte por dinheiro.
O sangue rançoso de cheiro metálico estava acumulado no chão e fazia até mesmo a sola dos meus pés se grudarem a ele. Levantando filetes gosmentos a cada passo dado, se de um lado havia a luz bloqueada pelos meus pecados, do outro existia o vazio.
Não sombras, não escuridão. Nada.
Seu centro poderia ser sombrio, mas não existia som, luz, cor. Um pedaço arrancado que fez do que sou algo incompleto.
Eu sabia, no momento em que a alma se dividiu em duas, que meu destino não seria feliz. O mundo iria lutar contra a pequena falha, buscando meios de voltar tudo a seu estado natural. Um dos lados da balança era mais fraco e caiu nos encantos, nos sussurros doces do fim e suas promessas vazias. Eu, que estive lutando para conquistar um pequeno momento de felicidade, não teria outra opção senão sucumbir.
Falsamente tentei enganar o tempo, mas ele provavelmente só escuta aqueles merecedores disso. O amor que senti um dia se quebrou e então da ilusão rachada ganhei algo muito maior, maior que minha própria existência, alguém que valia a pena. Meu conto de terror se fantasiou de fadas, mas a meia-noite chegou, o feitiço de desfez e novamente o que se apresentou para mim foram os monstros criados a própria semelhança
Família, nunca foi uma palavra que fez sentido para mim, era um amontoado de letras que significavam algo que não conheci, mas descobri no último ano o que é. Tanto presa na cela dos meus pensamentos, quanto barrada pela pilha de corpos em pesadelos, tive uma visão do que talvez pudesse ser meu em outra vida. Um grupo de desajustados, de todas as formas e lugares, que se juntaram para ser aquilo que nunca tiveram ou o que perderam.
Contudo, essa vida nossa é um jogo de sobrevivência. Ou somos os caçadores, ou as presas, não existe meio-termo nesse mundo e nesse momento, não existe a verdade, apenas a realidade.
E ela não favorece pessoas quebradas como nós.
- Madame entre no carro agora! - a voz esganiçada similar a um latido me tirou da pequena reflexão.
Virei para trás e Cérbero estava andando de um lado para o outro com o celular no ouvido apontando para o carro. - Isso não é bom, definitivamente não é bom.
Os dias corridos e sem rotina roubaram até mesmo alguns quilos do mais velho, fazendo com que suas roupas parecessem alguns números maiores do que realmente precisava.
Paramos por um momento, no meio da estrada, para tomarmos um ar antes de continuar a viagem. Toji sempre saia para andar e verificar os arredores, mas parece que dessa vez algo realmente aconteceu, pois os xingamentos tomaram a boca do cão de guarda, direcionadas ao homem do outro lado da linha.
Com um ganido, ele colocou a mão na boca e olhou para dentro do carro - Não devia falar palavrões perto de Megumi, volte logo Toji seu desgraçado. Não importa quantas maldições sejam, se pararmos agora só irá trazer mais.
Não escutei a resposta, mas pela expressão frustrada imaginei ter sido negativa.
- Esse imbecil! - segurou o celular no alto, seu rosto se contorcendo de fúria a ponto de até ganhar um tom avermelhado. - Sempre pensa, ou melhor, não pensa no que faz.
- Aposto que ele disse para irmos à frente que nos alcança depois - andei com passos lentos em sua direção.
Cérbero olhou para mim com certa preocupação, visto que a minha condição física não é das melhores.
- Se o conhece tão bem, porque não o impede de fazer besteiras? - a porta do veículo se abriu.
Um riso fraco surgiu nos meus lábios - Por o conhecer bem sei que não adianta tentar impedir.
O mais velho pareceu passar por um momento de realização, tombando a cabeça para o lado por um momento, concordando em silêncio. Se sentei no banco de trás onde Megumi também estava seguro. Nesse movimento senti algo no meu braço se mover e então virei imediatamente a cabeça para o vidro traseiro, vendo a longa e vazia estrada cercada apenas de uma floresta densa e formações de montanhas.
Uma fumaça se ergueu do horizonte relevando a posição de Toji.
- Ele se vira depois - me abaixei e peguei de dentro da bolsa algo que parecia protetores de ouvido, tomando cuidado para colocar no meu filho sem encostar nele. Megumi reclamou e fez menção de chorar, mas consegui impedir dizendo em voz baixa. - Sei que não gosta pequeno, mas as coisas vão ficar barulhentas por aqui.
Como um encanto, ele se calou, Cérbero ligou o carro e sair praticamente cantando pneus.
- Estamos a quanto tempo da próxima cidade? - perguntei apoiando a mão no teto ainda virada para ver o que estava acontecendo nas nossas costas.
- Algo em torno de 40 minutos - respondeu.
Franzi em desgosto com a informação - Faça em vinte.
O grito tomou o carro - Nem pensar!
- Não temos tempo Cérbero, não são maldições comuns - comentei - e parte delas está nos seguindo. Se não quiser que viremos comida agora mesmo, não tem opção.
- Ah, que merda - o homem olhou para o retrovisor pisando fundo no acelerador -, o que aquele bom para nada está fazendo! Não é para isso que ele serve?
Tapei um dos meus olhos sentindo uma sensação incômoda - Tenho a sensação que ele está lidando com algo um pouco maior.
- Droga, droga, droga, filha da puta! - esbravejou, Apenas por garantia abaixei o olhar para o bebê aparentemente alheio dos termos gritados.
- Não disse que falar esse tipo de coisa perto do Megumi é ruim?
- Sim! - gritou em retorno e continuou - Desculpe! Mas agora é extremamente necessário.
Balancei a cabeça achando de certa forma engraçado a contradição do mais velho. Me abaixei e peguei debaixo do outro banco, uma bolsa de armas. A maioria do que tinha era adequado para curta distância, mas pelo menos uma delas ia me permitir lutar e ganhar algum tempo. Puxei a arma e pulei o banco indo para o passageiro, abrindo o vidro em seguida.
Mordi o cano da arma, sentindo o gosto metálico na língua. Apoiei as mãos na lateral do carro e coloquei a cabeça para fora, forçando o corpo em seguida até conseguir sentar na janela e conseguir apoio. Tirei a arma da boca, mantendo os olhos fixos no que nos seguia.
- Eles estão se aproximando Cérbero - disse virada para trás vendo as maldições correndo pela via, enquanto carregava com cuidado a arma. As manchas escuras lançavam os carros para o alto, fazendo chover vermelho.
- Consigo ouvir isso - o homem respondeu com certo desespero fazendo o veículo ultrapassar uma fila de automóveis pelo acostamento -, estou fazendo o meu melhor aqui!
- Tente um pouco mais - pedi, ajeitei a postura e respirei fundo antes de fazer o primeiro disparo. Escutei ele reclamando o quanto eu e Toji éramos parecidos, mas apesar disso a velocidade aumentou.
A energia amaldiçoada guardada imaculada dentro de mim não iria durar muito tempo, por esse motivo chegar a cidade e encontrar uma porta apta a me fazer uma passagem era o mais importante. Enquanto lidando com as maldições médias, um raio pareceu ser disparado do horizonte, com tons de noite parecia ser uma própria fenda do vazio se abrindo no ar.
- Não existe um mundo onde isso pode ser uma coisa boa. Cérbero!
O carro repentinamente parou, o cheiro de borracha queimada saindo do chão enquanto o que estava na nossa frente explodiu por completo. Mais tiros foram disparados no que estava no perseguindo, olhei para os lados tentando encontrar outra saída, não tinha muito o que fazer. Voltei para dentro do carro e fechei a janela.
- Continue.
- [Nome] sei que você não é idiota, mas está pegando fogo! - o mais velho praticamente chorou, me fazendo pensar quem era a criança ali dentro.
- Continue Cérbero, não vamos queimar de passar por ele - respondi com firmeza -, precisamos chegar na cidade.
Não sei dizer se foi o meu tom de voz, desespero ou o pedido nos meus olhos que fez o homem galgar um pouco de coragem e pisar no acelerador com ódio, fazendo o veículo arrancar de uma forma inimaginável. O carro popular foi engolfado por laranja, o calor veio agressivo, mas cessou tão rápido quanto chegou, Cérbero desviou dos escombros, passou pelo acostamento e seguiu deixando mais uma pilha de corpos para trás.
Particularmente, nesse ponto já não fazia tanta diferença para mim, disse que faria qualquer coisa para proteger o que é importante. Uma morte a mais ou a menos na pilha de pecados que tenho não me fará mais santa.
Fechei a mão em punho, quando vi que a cidadela começou a aparecer no horizonte, essa é a minha primeira e única chance.
- O que estamos procurando?
O que salvei da energia de Kiran teria de ser o suficiente para fazer a ponte para um lugar conhecido. Olhei para Megumi e então respirei fundo.
- Uma porta.
[Toji POV - Narração 3° Pessoa]
Como de costume, sempre que o grupo parava em algum lugar, Toji Zenin se preocupava em garantir que o entorno estava seguro para isso. Desde que seu filho nasceu, [Nome] estava no ápice do nervosismo, as noites sem dormir eram comuns e a ansiedade parecia estar a consumindo de todas as formas. Misturadas claro a todos os sentimentos que ele não conhecia, mas sabia identificar no rosto de sua esposa.
Estava presente quando Minori deu seu recado, e apesar de não gostar de admitir, a incerteza de quando a cunhada vadia viria para cobrar o preço da sua trégua, também o deixa de certa forma inquieto. Meses atrás ele não se preocuparia muito com outros, talvez com a velha e as duas pirralhas que insistiam em não o abandonar, mas agora tinha uma mão inteira de pessoas que gostaria de manter por perto.
Com esses pensamentos que rumou para as árvores, deixando três dessas pessoas para trás.
As floresta envolta da rota nacional estava perturbadoramente quieta, sequer o som de animais chegava aos seus ouvidos. Por mais que as folhas se mexessem, a sensação que o homem tinha era de uma maré recuando para fazer seu tsunami.
Toji olhou sobre o ombro, vendo entre os troncos escuros [Nome] e Cérbero parados próximos ao carro. Voltando seu olhar para frente e retomando a caminhada, resolveu se afastar, fisicamente, pois seus pensamentos pareciam sempre estar voltados para ela.
Nunca fora um homem de sonhos, desejos mundanos com certeza. Dinheiro, sexo, prazeres estiveram na sua vida desde que teve força o suficiente para sair da propriedade Zenin. Porém, o último ano, aquele que veio depois de um casamento arranjado entre dois descartados, trouxe muitas mudanças. Se tivesse que dizer sua maior vontade hoje, seria para que tudo acabasse e ele pudesse então descobrir o que é uma família.
Romance também não estava seu radar, as mulheres que o procuravam não queriam amor, queriam alguém para alimentar suas fantasias sujas e as fazer gemer até revirar os olhos. [Nome] veio como algo desconhecido, a maioria das feiticeiras que trabalham no submundo jujutsu estão longe de serem princesas, mas ela foi a primeira que despertou no seu interior a vontade de conhecer sua força além do meio das suas pernas. A peculiar noite de núpcias, onde conheceu também a kitsune Kiran, era uma memória guardada com certo esmero.
Para ele, que era como um idiota perdido no deserto, [Nome] veio como um oásis, pensou que depois do primeiro mergulho estaria saciado, mas apenas o deixou ainda mais sedento. Queria conhecer seus pensamentos e decorar suas curvas, pena que a realização disso veio tarde demais, pois estavam escondidas atrás de uma montanha de ouro e juramentos de indiferença.
Foi quando surgiu sua primeira vontade, ter novamente entre as mãos o que havia perdido por pura ignorância.
As rachaduras ainda estavam lá quando eles voltaram a se encontrar, e mais que isso havia a distância. Paciência, que foi outra virtude ganha nessa jornada, foi necessária. Ele esperou até que [Nome] viesse o procurar, e quando isso aconteceu ele pode vislumbrar um sonho que nunca pensou ter.
Só que para manter isso palpável, sua cunhada maldita e a Imperatriz do Fim precisavam desaparecer.
Toji deu um passo para pular uma raiz alta e então todo o ambiente pareceu mudar, seus músculos se contraíram e no canto de sua visão, vultos começaram a se mover. Eles estavam mais próximos do que o esperado.
Em uma mão havia uma lâmina, presente de [Nome], na outra o celular.
- Oe vira-lata, pegue [Nome] e Megumi e os tire daqui - disse assim que o outro lado atendeu.
Cérbero não parecia se afetar tanto com o apelido, mas o tom de voz mandatório ainda parecia tirar o melhor dele.
- Por quê? O que aconteceu?
- Tem algo bem nojento nos seguindo - respondeu com desinteresse testando a lâmina numa árvore, a cortando imediatamente no meio. A madeira de retorceu e então o primeiro som que escutou quando entrou na floresta foi o da destruição.
Toji escutou Cérbero pedir para [Nome] entrar no carro do outro lado, e enquanto isso passou os olhos pelos arredores contando quantas maldições haviam perto dele.
- Oh, tem mais do que as outras vezes - o pensamento saiu em voz alta, fazendo o outro lado ficar levemente em pânico. - Não se preocupe cachorro, vou resolver as coisas por aqui e encontro vocês na cidade.
O que veio em seguida foi uma sequência de palavrões, alguns direcionados a ele, outros jogados para o ar, no momento em que o mais velho se repreendeu por falar tais coisas na frente de Megumi. Toji decidiu que a ligação estava finalizada.
Aquele conhecido como assassino de feiticeiros girou os ombros, em seguida balançou os braços apenas para se lançar na direção das maldições se esgueirando nos arredores. Mas um pouco incerto sobre a intenção daquilo estar acontecendo, o objetivo era sua esposa. Por que viriam atrás dele primeiro?
- Realmente, hoje não existe ninguém que se compara a você. Será que devo guardar seu corpo depois que te matar? Tenho algumas maldições que gostariam de te ter como troféu.
A voz cantada, fina e insuportável, tirou momentaneamente de Toji toda a racionalidade. De todos os encontros dos últimos meses, foi a primeira vez que Minori se apresentou no meio das maldições. Ela estava bem diferente da última vez, o corpo esquelético agora estava repleto de vigor, o contrário de [Nome] que a cada dia parecia mais doente.
Sua arma cortou o ar limpando o sangue de cor arroxeada da lâmina prata - Não se preocupe em pensar tanto sobre isso, não vai acontecer de qualquer maneira.
A mulher que tinha traços parecidos com sua esposa gargalhou, a voz se sobrepondo a outra - assim como ouviu de Kiran uma vez -, porém dividindo o corpo com quem pensou ser a Imperatriz do Fim, Amarate.
- Gosto de como você tenta - no momento em que o som chegou aos seus ouvidos sentiu a necessidade de apertar o cabo da arma para reafirmar sua realidade. Sedutoramente as palavras chegaram até ele como um encantamento, não é à toa que as lendas dizem que os perversos todos sucumbem aos seus pés. - Eu não desgosto de você herdeiro Zenin, pelo contrário, você parece bem delicioso.
Amarate, Minori, foda-se quem era. Parou de andar o analisando da cabeça aos pés.
- Sou casado - respondeu com sarcasmo mostrando a aliança no dedo - minha esposa não vai admitir, mas sei que ela tem ciúmes. Então vamos cortar o papo furado por aqui.
Uma gargalhada tomou a floresta, fragmentada com dois tons sobrepostos - É uma pena, sangue é sempre mais saboroso quente, direto da fonte, quando com estímulos ainda melhor. Parece que terei que me contentar com o seu após morto mesmo.
Minori não é páreo para ele, mas a resposta afiada que deu antes não voltou a aparecer. Ele não é burro, apesar da maioria pensar que sim, naquele momento teria que se dedicar um pouco mais do que o comum.
Olhos normais não teriam a capacidade de os acompanhar, talvez alguns dos melhores treinados também não. Toji não sabia em propriedade qual era a técnica jujutsu ligada a Amarate, mas sabendo da sua linhagem Kamo acreditava não ser tão simples.
- Manipulação de sangue é sempre um saco de se lidar - resmungou rebatendo um ataque que fez árvores e parte da montanha ir para os ares, levantando uma cortina de terra e poeira no céu. Em adição, também tinham as maldições de Minori causando alvoroço.
Um riso soou - Obrigada.
Lutar a distância num ambiente como aquele não era favorável, com a desgraçada manipulando os filetes vermelhos a distância, tornava um pouco mais difícil dele se aproximar, visto que a vantagem era o manter longe. No momento ambos estavam se atacando sem causar dano algum.
Toji estralou a língua, tinha poucas opções para se aproximar dela no momento, Amarate parecia inteligente centrada, mas a contra-alma dividindo o corpo com ela nem tanto.
- É só isso que têm - metade das maldições conjuradas se foram num único golpe -, parece que todo o poder foi realmente para [Nome]. Isso aqui é brincadeira de criança.
Foi por um segundo, mas metade do rosto da mulher se contorceu, embora Amarate tenha retomado o controle rapidamente. Ele encontrou seu caminho, o complexo de inferioridade de Minori traria para ele a abertura que precisava.
- Minha esposa pode ter apenas Kiran, mas com certeza é mais forte do que centenas dessas maldições meia-bocas que está conjurando. - ele desviou de um ataque desleixado, causado pela raiva, trancando o sorriso na boca por estar conseguindo a sua chance. - Ah, já sei. Deve ter usado as suas melhores quando lutou no parque não é? Quando minha mulher quase acabou com você. Agora só sobrou a ralé
- Calado! - por um momento a voz voltou a ser uma só. - Eu que sou o corpo principal, tudo que [Nome] tem era para ser meu. Ela que é a falha!
Toji resmungou - Pelo que sei, ela que é a primogênita, então aquela que apareceu sem ser convidada. É você.
Foi uma das poucas conversas que teve com [Nome] depois de reunidos na Grécia, vez ou outra escutou Minori a chamar de irmãzinha. Perguntou quem era a mais velha e descobriu ser [Nome], embora a gêmea se recusasse a aceitar isso e tomou o contrário como verdade absoluta.
Essa afirmação pareceu ser fatal, pois jogou Amarate para fora do controle e a explosão de energia que veio de Minori, em forma de demostrar o seu poder superior, cortou o céu como se fosse um raio, uma linha desenhada com pincel de nanquim. Causando também a sua esperada abertura.
A lâmina que estava em sua mão, no momento seguinte, estava fincado no meio da mulher sendo retorta ao ceifar sua vida. Sangue escorreu da sua boca, mas estranhamente o que surgiu no rosto foi um sorriso maligno.
- Até que enfim posso me livrar dessa inútil.
O corpo caiu, e com ele a confusão e uma realização tardia.
A marca de Amarate em [Nome], não era para roubar a energia vital dela, ela a Imperatriz do Fim tentando mudar seu hospedeiro. Com aquele que fez o contrato morto, quem tinha a semente do seu poder era sua nova casa, eram como um par de cálices ligados pelo fundo quando um some o outro fica com tudo.
Minori precisa morrer para a Imperatriz do Fim ser exorcizada para sempre, foi que isso que [Nome] disse. É por isso que estava tentando ganhar tempo, porque sabia que o final era apenas um, e acabava com sua própria existência.
Tolo, se lançou em direção à cidade, sem se preocupar com a destruição que ficava para trás, Toji era rápido, sabia que podia ganhar algum tempo antes dela fazer alguma besteira. Já tinham resolvido alguns problemas juntos, esse era só mais um. Viu no caminho alguns vestígios de luta, mas quando chegou na cidade que viu o terror que o restante das maldições medianas de Minori causaram contra os civis.
Novamente um massacre.
O assassino de feiticeiros procurou o carro de viagem apenas para o encontrar estacionado, e vazio, ofegante por usar tudo que tinha para chegar até ali, não poupou a voz gritando por [Nome] e Cérbero. A primeira, junto de seu filho, em nenhum lugar a vista, já o segundo, não podia dizer o mesmo.
Cérbero estava recostado numa porta entreaberta, sua mão estava na maçaneta, a madeira tinha uma mancha vermelha que aumentava enquanto ele caia ao chão.
- Droga - Toji ralhou e correu até o mais velho suportando o corpo com o braço.
- Ah, seu bastardo - a voz dele soou -, achei que ia morrer sem ver seu rosto. [Nome], ela... E Megumi, voltaram para casa da montanha.
- Cala a boca cachorro, precisamos dar um jeito em você.
- Inori - Cérbero corrigiu com um sorriso fraco sendo interrompido por uma tosse -, meu nome de verdade é Inori. Eu sabia que me envolver com você ia fazer com que eu acabasse morto, mas confesso que durou mais do que eu esperava.
A mão do homem segurou a camisa de Toji torcendo o tecido dela com força - Ser o cachorro da família não foi tão ruim assim.
Os dedos se soltaram e o braço caiu no chão, Inori, Cérbero, que foi a primeira peça usada para construir seu sonho, se foi.
Um bolo surgiu na garganta de Toji e foi necessário que ele mesmo travasse os dentes para impedir que as emoções escapassem. O corpo caído sem vida estava com um dos braços apontados para a porta, e pela fenda o assassino de feiticeiros reconheceu a imagem da casa em que todos eles passaram tanto tempo juntos.
A passagem ainda estava aberta, com pesar ele se levantou dizendo para o vento, na esperança que ele levasse sua frase para o submundo - Obrigado Inori, meu amigo.
Quando ele passou pela porta imediatamente sentiu o mau agouro vindo dos fundos, também havia o cheiro metálico, o coração em seu peito batia rapidamente. Ele escutou o choro de Megumi de dentro da casa e correu sem se preocupar com portas. Ao atravessar a parede do quarto do menino se deparou com um círculo de proteção, havia uma inscrição no chão e dentro da barreira estava Hatsu acompanha de dois grandes lobos - um branco e um preto -, rondando o berço. A mais velha, contudo, parecia estar num estado catatônico, um feitiço poderoso como aquele certamente pedia um sacrifício.
Fora do círculo, uma das pirralhas, Tani, estava caída no chão, um buraco em seu centro como se algo a tivesse atravessado. Da mesma maneira que fizera com Minori poucos segundos atrás. Com a mão fechada envolta da arma, Toji se dirigiu ao jardim da casa, onde encontrou a outra residente, Yuina, também morta aos pés da sua senhora.
[Nome] estava completamente manchada de vermelho até seus cabelos pareciam molhados pela substância pegajosa, as mãos agora ambas tomadas pelas inscrições de Amarate estavam embrenhadas em seus cabelos. A princípio ele não viu seu rosto, mas assim que ela percebeu sua presença, o mesmo riso maníaco sobreposto soou, sendo interrompido por um grunhido de dor.
- Não era para ter acontecido assim - a voz da sua esposa ecoou no silêncio mórbido -, chegou aqui mais rápido do que pensei.
- Que merda você pensa que está fazendo? - gritou tentando se aproximar, mas não conseguindo avançar, pois suas pernas estavam trêmulas, e a pressão feita em seu peito parecia o repelir.
- Fazendo a única coisa boa que posso - um sorriso dolorido surgiu no seu rosto -, não me olhe dessa forma. Sempre foi o plano, a variação é que você devia chegar aqui quando tudo estivesse acabado.
- A velha pode selar essa coisa para longe de você - tentou argumentar -, peça para Kiran fazer alguma coisa!
A mulher balançou a cabeça - Não existe outro plano, esse sempre foi o fim. Kiran... Ela provavelmente daria mais tempo, mas acredito que não é possível agora. Já que ela se foi faz um tempo.
O choque da informação, trouxe novas respostas. O corpo definhando e a saúde caindo começaram depois de um certo momento, os sinais estavam ali e todas às vezes ele se enganou acreditando nas explicações breves após sussurros.
- Por favor.
Sua voz quase soou desesperada, a frase morreu no meio dela como se implorar fosse a última chance de tentar fazer [Nome] mudar de ideia. Acreditando de alguma forma ele pudesse fazer a diferença nas escolhas que ela tomou, porém, no fundo, por mais que doesse, Toji sabia.
Pela segunda vez, ele agiu tarde demais.
N/A: Ai, a dor. Ela dói.
Tudo programado para acabar no próximo, com possível atualização dupla contando com o epílogo.
Obrigada por ler até aqui!!
Até mais, Xx!
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