Sentimentos Peculiares


Kiran devia ter algum prazer sádico em me ver em situações no mínimo complicadas, em muito tempo não me sentia tão desarmada e até envergonhada de ter sido pega fazendo algo que talvez não deveria.

-Então? - Toji questionou cruzando os braços e se apoiando no batente da porta.

A foto ainda estava em minhas mãos, sentia meu rosto corado e no momento qualquer coisa que falasse de errado poderia ser um grande problema.

-Estava escondendo as armas no armário - me levantei andando em sua direção e estendi a foto - Estava presa no fundo.

A princípio seus olhos pareciam ter sido tomados com confusão, mas quando olhou o papel o homem que geralmente se mantinha imponente - cercado de uma aura debochada, sarcástica e preguiçosa - pareceu desarmar suas barreiras sendo tomando por uma tristeza que eu não compreendia.

Mas tão rápida quanto veio ela se foi.

-Jogue fora - Com certa rispidez ele me devolveu o papel e seguiu para dentro do quarto não hesitando em tirar a camisa no meio do caminho para o banheiro e a jogar num canto qualquer.

-É sua irmã, certo? - perguntei, uma coragem que não possuía se fez presente junto da curiosidade - E sua sobrinha também.

Toji estava parado de costas para mim com as mãos apoiadas uma de cada lado da porta do banheiro então pude ver seus músculos tencionando quando a mencionei. O homem se virou pra com uma expressão séria.

-Porque você se importa?

Aquela era uma ótima pergunta, nem mesmo soube o que responder a princípio, mas havia uma beleza escondida por trás do gesto da irmã dele, era alguém que não estava disposta a deixar que Toji se fosse.

-Realmente não me importa, mas parece ser bom ter alguém da família que ainda se preocupa com você. - contornei o rosto da mulher com o dedo. Sua face era bela, elegante, parecia realmente digna de uma Zenin e o formato dos olhos, mesmo que fechados, lembravam os do seu irmão. Mas o sorriso em seu rosto era gentil, feliz. Era a expressão de alguém que conhecia o amor.

-Uma tola que acreditava ter beleza até mesmo numa lata de lixo - disse Toji - Suyen foi vendida quando criança, ela nasceu cega e é claro que é algo próximo a desgraça para o perfeito clã Zenin.

-Achei que nunca mais a veria, até que em algum ponto da minha juventude cartas começaram a chegar. - havia um tom amargo em sua voz, como se houvesse dor em cada palavra proferida - Algumas eram fotos, outros bilhetes que ela pedia para as pessoas escreverem.

-Nunca respondi, mas continuavam chegando. Ela era tão insistente que eu desejei que apenas me largasse - e continuou - Suyen foi a única que não desistiu de mim, mas a vida parece ter desistido dela por esse motivo.

Senti um aperto na garganta enquanto ele falava, não tive tempo de conviver muito com Toji. Pelos céus nos conhecemos em pouco mais de um dia, mas nesse período foi a primeira vez que enxerguei alguma vulnerabilidade.

-Você acha que a culpa foi sua - concluí - Sei que não tivemos a melhor das relações até agora, mas... Posso dizer com quase toda a certeza que a morte dela não teve nada a ver com você.

Ele riu, ou melhor gargalhou, tão alto que o som reverberou pelas paredes da casa - É claro que você a retentora de toda a verdade do mundo saberia isso. Por favor me ilumine.

-Se quer agir com uma criança mimada que acha que todo o mal do mundo acontece por sua causa, ótimo - rebati cerrando os olhos em sua direção - A foto é na Grécia, coincidentemente do mesmo lugar que eu consegui a lança de Aqueronte.

-Chamar de lança é um elogio.

-A maldita da arma, chame do que quiser. Se a sua irmã teve uma transferência por meio de alguma instituição jujutsu provavelmente foi rastreada.

-Não tem como você sab-

-Anos atrás - falei por cima de sua voz forçando que ele se calasse - Fui contratada para escoltar um grupo de feiticeiros, uma organização ou algo do tipo estava caçando todos os usuários de jujutsu na Europa.

-Minha lâmina - frisei o termo antes que ele respondesse com qualquer bobagem - Veio desse pagamento, infelizmente soube que o grupo foi morto meses depois com outras centenas deles. Mas se quiser se culpar por algo que não tem a ver com você continue, querido.

Soltei a foto sobre o colchão e voltei a subir no baú para arrumar as coisas nos armários, Toji não disse nada mas bateu a porta do banheiro com força, se trancando lá dentro.

Respirei fundo.

Isso ocorreu bem.

-Não graças a você, é claro.

Kiran não disse mais nada e nem se manifestou, já não estava mais tão animada para guardar meus pertences resgatados, então só as enfiei de qualquer jeito no armário e empurrei os baús para o canto deitando na cama em seguida. Estiquei os braços acima da minha cabeça e coloquei as mãos embaixo do travesseiro fechando meus olhos, ainda não tinha uma visão clara de quais seriam os meus passos futuros.

Por alguns momentos apenas apreciei a calma, sem ter Kiran me enchendo ou qualquer outra pessoa por perto. Me sentia mais cansada do que nunca tanto mentalmente quanto fisicamente, meu corpo pesado a respiração ficando lenta... Caminhando em direção a inconsciência.

Foi quando de repente algo metálico encostou na minha testa, abri os olhos lentamente apenas para me deparar com Toji segurando uma pistola destravada em minha direção. Não ouvi ele saindo do banho mas seus cabelos estavam molhados, as gotas d' água caíam dos seus fios escuros percorrendo seu tórax nu até alcançar a toalha amarrada em sua cintura.

Não me mexi, tão pouco questionei sua ação. Apenas sustentei o seu olhar com desafio e esperando seu próximo movimento.

-Você não tem medo de morrer.

Não foi uma pergunta. Toji ajeitou o dedo no gatilho como se estivesse pronto para efetuar o disparo e de novo não disse nada, apenas aguardei. Suas íris verdes ainda tinham um tom raivoso presente, ele buscava alguma confirmação embora não soubesse o porquê.

-Perguntarei uma única vez, isso pode adiantar as coisas de vez e nos livrar desse inferno de casamento ou te deixar viva por mais algum tempo. [Nome], você mentiu pra mim?

Mantive meu olhar em seu rosto quando respondi. - Não, não tenho compaixão o suficiente por você para criar uma história de conforto.

A sobrancelha do homem pareceu se arquear por um momento, e em seguida ele afastou a arma da minha cabeça voltando a trava para seu devido o lugar. - Só um mentiroso tem medo de morrer por suas falas.

-Só um tolo se culpa por algo que não fez.

Toji suspirou e coçou a lateral da cabeça com a pistola enquanto colocava a outra mão na cintura. - Como está suas costas?

-Gentileza sua perguntar depois de literalmente apontar uma arma para a minha cabeça - comentei incrédula e ganhando um riso debochado em resposta.

-O que posso dizer, você desperta diversos sentimentos em mim esposa. Não leve para o coração.

Virei o rosto para o acompanhar enquanto andava até o armário e pegava algumas roupas limpas, foi uma pergunta genuína embora em uma circunstância peculiar. -Hatsu me deu alguns dias para me recuperar completamente.

-Bom, vamos começar a treinar amanhã então. Se continuar com esse péssimo equilíbrio é capaz de uma maldição pegar você antes mesmo de conseguir agir.

Levantei a cabeça para ver que Toji já tinha sumido atrás da porta novamente, que diabos deu nele?

Sua personalidade virou e voltou ao conhecido num período muito curto de tempo, me sentei na cama puxando as mãos debaixo do travesseiro e com ela a já conhecida faca de prata do casamento; tinha pego no momento em que abri meus olhos, apenas por precaução.

Observei o talher antes de o guardar em seu devido lugar.

- Ainda não chegou sua vez.











N/A: O que será que passou na cabeça desse homem? Porque matar [Nome] adiantaria "coisas"? Ajudar ela a treinar seria uma forma de agradecimento por ter o livrado de uma culpa inexistente?

Isso e mais você descobre, ou ainda não, nesse mesmo livro na semana que vem!

Obrigada por ler até aqui!

Até mais, Xx!

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