Morada dos Vermes



O caminho foi rápido e a casa odiosa em que eu cresci logo se ergueu em nossa frente. Vendo de fora era grande como esperado de uma família tradicional, mas não passava de um lugar vazio com vermes de habitantes. Parte da estrutura era velha, mas me referia ao que um dia chamei de família.

Não me dei ao trabalho de anunciar minha chegada ou sequer comunicar a visita. Pedi passagem aos poucos servos que ainda estavam amarrados a promessas e escravidão até o fim de suas vidas.

Toji me seguia de perto, parecendo levemente curioso sobre o ambiente.

-[Nome]-sama - umas das criadas disse quando virei o corredor. Sua voz tremida e o rosto manchado com uma expressão de medo, suas mãos estavam juntas na frente do corpo e se agarravam nervosamente.

Sabia exatamente quais eram os motivos por trás de tudo aquilo então tratei de a acalmar - Não se preocupe, vou embora o mais rápido que conseguir.

Afinal, não queria que eles sofressem pelo meu ato. Já era ruim o suficiente estar a mercê daquele homem.

Abri a porta do meu antigo quarto sem qualquer tipo de cerimônia, vazio apesar de mobilhado. As marcas de arranhões no chão ainda presentes, conseguia ouvir o barulho das corrente ecoando pelas paredes junto dos gritos que faziam a janela tremer. Eram como um fantasma que se recusava a sair dali um pesadelo que encontrou morada naquele local maldito.

Contei algumas tábuas no chão e vendo uma específica a puxei. Eles eram idiotas demais para perceber qualquer coisa, então a mochila com todo o meu lucro proveniente de trabalhos extras estava ali. Empoeirada, mas cheia como eu me lembrava.

Não podia depender apenas do banco.

Olhando os armários, já tinham se livrado da maioria das minhas coisas como esperado. Mas o que ficou seria o suficiente para alguns dias ou pelo menos até que comprasse algumas roupas novas.

De novo, o que ficou intacto foram os itens escondidos.

Geralmente eu conseguia alcançar o teto subindo numa cadeira, mas com o quarto completamente vazio era um pouco difícil de tomar algum impulso.

Já estava no inferno mesmo então que desse um abraço no capeta

- Se importa em me levantar marido?

Toji parecia olhar alguma coisa pela janela completamente despreocupado, mas andou em minha direção. Juntou as mãos na frente do corpo e assim que coloquei a mão em seu ombro por equilíbrio disse numa voz baixa apenas para que eu ouvisse - Sua conta está aumentando esposa.

Ele dobrou os joelhos e pisando na junção da sua coxa sentei em seus ombros, as mãos dele subiram pela minha panturrilha até encontrar apoio nas minhas coxas. Olhei para o tufo de cabelo preto entre as minhas pernas, se ele tentasse alguma coisa não me importaria em efetuar um escalpo.

Para sua própria sorte, aparentemente só queria me manter estável. Ergui a placa do teto tossindo um pouco por conta da poeira, o que ficava ali em cima era talvez mais importante do que qualquer outra coisa, puxei uma mala e em seguida pedi para que ele abaixasse.

-Não acho que tem mais. - Bati uma mão contra a outra, sentindo meu braço esquerdo arder um pouco. Abri a bolsa e tirei o casaco roubado do trem vendo que as manchas vermelhas pareciam piores.

-Tsc.

Minori bastarda. Tinha alguns selos de maldições que provavelmente cortariam o efeito por algum tempo, mas aquilo era algo além das minhas habilidades não era um gasto que eu queria ter mas teria que fazer uma visita ao corvo o quanto antes.

Terminei de enrolar os selos apenas para recolocar o casaco, joguei a bolsa maior para Toji e peguei a mochila a colocando no meu ombro bom. Mesmo sem permissão ele abriu o zíper para ver o conteúdo parecendo um pouco surpreso.

-Pode pegar qualquer coisa daí como pagamento.

-Parte do pagamento - me corrigiu - Você tem me dado ordens desde manhã, vai precisar de mais do que armas amaldiçoadas para zerar essa dívida. Embora...

Ele olhou para algo específico e sorriu fechando o zíper em seguida - Tem algo bem interessante aqui. Vou aceitar, por hora.

Saímos do cômodo em seguida apenas para ver que no corredor o próprio demônio vinha em minha direção, tão cedo mas ao mesmo tempo muito bêbado com um prostituta de cada lado enquanto provavelmente minha mãe estava em algum lugar do jardim fingindo que não sabia de nada.

Ele vinha acompanhado de pratos de comida e garrafas de saquê, não me admira que o único cheiro distinto no prédio era o de álcool.

Assim que o velho colocou os olhos em mim seu rosto se fechou, afinal ele havia se livrado de mim no dia anterior. Imagino que ele não queria ver meu rosto tão cedo e quem sabe nunca mais.

-Porque diabos você está nesta casa - tomou uma das garrafas e jogou na minha direção, tão bêbado que a garrafa caiu a alguns metros dos meus pés. - Saia daqui!

-Com prazer - apertei a alça da mochila e segui andando, o queixo alto e a falta de medo pareceu disparar algum gatilho de que o homem já não tinha nenhum controle sobre mim. Não que algum dia teve.

Mais uma vez a raiva explodiu e de maneira quase lúcida virou para tentar me acertar com o que tinha nas mãos. E antes que pudesse fazer algo, Toji segurou o pulso do velho não se importando em colocar mais força do que necessário.

Os ossos quebrando e a mão virada veio acompanhada de um grito, tropeçando nos próprios pés as acompanhantes gritaram e saíram correndo deixando tudo para trás. Olhei para o chão onde o velho gritava segurando o pulso e em seguida para Toji que estava com uma expressão nova. Pelo menos era uma que eu nunca vi em seu rosto.

A testa estava franzida, o maxilar travado e os olhos pareciam ser capazes de cortar tudo e qualquer coisa, como a mais afiada das katanas.

Toji se abaixou para ficar na altura do homem, falando com uma voz baixa levemente debochada e com tom de aviso - Devia saber que não se deve encostar na esposa dos outros.

-Miserável, você só se casou com essa inútil porque eu deixei - e continuou - Se não seria largado como outra falha Zenin.

-Devo ser honesto sogro, estava bem com a ideia antes mas.. - Toji pegou um dos talheres caídos no chão e girou ele entre os dedos. Num movimento rápido o garfo foi fincado a poucos centímetros do rosto do mais velho - Já que entregou sua filha pra mim, já não tem mais nenhum direito sobre ela.

-Não gosto de ninguém tocando no que é meu.

Franzi o cenho quando tais palavras deixaram sua boca, mas segurei a vontade de retrucar. Por enquanto.

Sem esperar uma resposta, Toji levantou e andou até me alcançar empurrando de leve a base das minhas costas com a mão. No fim do corredor apenas os gritos de ódio honestamente sabia que não era nenhuma novidade tanto pra mim quanto para ele.

-Agora entendi da sua obsessão por talheres. Tem certo charme.

Virei o rosto surpresa por sua fala e não consegui conter uma gargalhada. - Finalmente concordamos em algo.








N/A: Viva aos talheres!

Lembrando que, quem chegou aqui por Sýndesis (Gojo x Leitora) a parte 2 da história também está sendo postada sob o nome Kairós.

Até semana que vem, Xx

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