Mal do Mundo

[Nome] estava tão cansada que não se lembrava de como foi parar na cama, a última coisa que se lembrava foi de ter sentado no chão e encostado no colchão a fim de esperar que Toji saísse do banheiro. Mas julgando pelo sol que nascia do lado de fora aquilo já tinha sido a muito tempo.

Acordou sozinha, o quarto estava silencioso assim como a casa. No pé da cama, vestes que pareciam ser uma nova troca de roupa. Se lembrou do treino da madrugada, ainda estava com os mesmos trajes sujos, não acreditava que sequer teve coragem de se trocar antes de fazer alguma coisa.

Se levantou e imediatamente suas costas reclamaram, tinha batido de maneira violenta contra a árvore enquanto Kiran testava seu marido. Da base da coluna até o pescoço todo dolorido, nem mesmo a água gelada serviu para trazer algum alívio. As roupas não pareciam ser de Toji pois vestiam seu corpo de maneira muito mais eficiente.

Saindo do quarto para o corredor a mulher se perguntou para onde deveria seguir e por puro instinto acabou chegando a cozinha.

-Mestre [Nome] – a governanta Hatsu cumprimentou assim como as outras duas criadas que estavam por ali. Uma conhecida. Era aquela que abriu a porta na noite passada, não foi lembrada por suas características físicas, mas pelo repentino rubor que lhe tomou as maçãs do rosto. Vendo que a encarava a jovem imediatamente se curvou no chão bradando desculpas.

-Não precisa de tudo isso – a mulher a segurou a forçando a levantar, [Nome] ficava desconfortável com aquela devoção doentia de mestre e servo – Não se curvem dessa maneira para mim não há necessidade.

-Mas você é a senhora dessa casa – a outra garota disse – Não podemos faltar com respeito.

-Não é desrespeito se eu pedir para não fazer, não é? – rebateu imediatamente – Só não precisa.

Batendo de leve nos braços da menina deu um sorriso forçado.

-Creio que ainda não foi apresentada as garotas – Hatsu mudou o assunto ganhando alguma gratidão por não deixar que o clima silencioso se estendesse – Tani e Yuina ajudam com as tarefas que meu corpo velho e inútil já não consegue cumprir.

-Hatsu-san não diga isso – Tani comentou – Se não fosse por você não seríamos nada.

Yuina que estava próxima ao fogão concordou – O café da manhã está quase pronto mestre [Nome], pode aguardar na mesa se preferir.

A mulher franziu o cenho imediatamente – Sem esse negócio de mestre, apenas [Nome] está bem. – as duas meninas se entreolharam como se questionassem se pudessem mesmo fazer aquele tipo de coisa.

-Vocês viram... meu marido? – eram palavras que lhe arranhavam a garganta.

-Mestre Toji sempre sai nas horas mais cedo do dia – Hatsu comentou guiando sua senhora para uma outra sala – É assim desde que ele era menino, fugia da casa para evitar o pai e irmão. Um Zenin sem energia amaldiçoada é considerado menos do que lixo.

Naquele aspecto o clã se assemelhava ao seu próprio, um desprezo por qualquer um que não fosse considerado perfeito. Quando sua irmã gêmea fugiu da casa teve que aguentar seu progenitor gritar aos quatro ventos que devia ter as atirado no rio quando nasceram.

-Se me permite Hatsu-san, se é tão ruim assim porque vocês estão aqui? Ele não deveria ter nenhum direito certo?

A mais velha parou de andar e seu olhar se tornou distante – Fomos entregues ao clã Zenin como pagamento, não valemos de nada para eles. Semelhante atrai semelhante no fim das contas.

[Nome] não teve o que responder, apenas se sentou na mesa tradicional tendo suas costas reclamando pela falta de atenção. Passou a mão pela base da coluna na tentativa de algum alívio, mas não adiantou.

Hatsu sorriu e pediu que a mulher se virasse e apertando alguns pontos específicos nas suas costas a dor pareceu aliviar. – Noite difícil?

-Provavelmente não do jeito que está pensando.

-Não disse nada [Nome]-san – a mais velha rebateu ainda passando as palmas das mãos pela sua coluna numa massagem – Eu os vi nos campos de treinamento, mestre Toji não sabe como se segurar.

-Falando mal de mim pelas costas velha?

Toji sempre saia antes do amanhecer e voltava na parte da tarde, ninguém sabia o que fazia e também não ousavam perguntar. Mas naquele os residentes da casa estranharam o repentino retorno.

O homem estava encostado contra a porta com braços cruzados, enquanto via a governanta da casa passar as mãos enrugadas pelas costas da sua colega de quarto. A pele lisa tinha alguns arranhões num movimento repentino a mais velha apertou um ponto em sua coluna que estralou com o som de ossos se chocando.

[Nome] arfou se inclinando para frente, a mais velha passou a mãos pelas costas delas antes de abaixar a blusa – Desculpe, vai melhorar agora.

Sua esposa não respondeu apenas fez um sinal com a mão, [Nome] podia se fazer durona muitas das vezes e provavelmente era. Mas algumas coisas ainda deixavam transparecer uma personalidade jovial.

Yuina veio com um segundo conjunto de porcelana a fim de que o homem pudesse se juntar a ela no desjejum. Não tinha ficado perto dela, a encontrou dormindo escorada contra a cama e depois de colocar seu corpo na cama deixou o quarto ficando em qualquer outro lugar da residência.

Já tinha se tocado apenas por conta das lembranças da pequena luta que tiveram, não arriscaria fazer algo do qual se arrependeria depois.

Se sentou na frente dela a testa estava franzida provavelmente pela dor que sentia, as olheiras ainda estavam presentes no rosto cansado. Mas os olhos nunca perdiam o brilho feroz. Ela o encarou com uma careta.

-Deveria pedir para retirar os talheres? Morrer com um hashi parece menos digno do que com uma faca – o sarcasmo entrelaçado com seu tom de voz apenas fez uma raiva repentina despertar no interior da companheira.

-Poderia, mas não. – mesmo assim sua feição continuava a o encarar. Como se estivesse num dilema mental.

As jovens trouxeram o café da manhã e se foram tão rápido quanto apareceram os deixando sozinhos.

-Ficar me encarando não vai resolver nada – disse tomando algum tipo de acompanhamento e o jogando na boca – Fale de uma vez.

-É sempre insuportável desse jeito ou se esforça? – rebateu a mulher cruzando os braços a sua frente. [Nome] desviou os olhos dos seus olhando para a janela no canto do cômodo – Preciso de um favor.

-Em troca de quê?

Jurava que a vontade de enfiar a faca de prata na jugular dele era um desejo constante. Sem contar naquela expressão cínica que não deixava seu rosto nunca, não comentaria sobre a ajuda se não fosse último caso.

-O que você quer? Dinheiro? – Toji dobrou uma perna usando de apoio para os cotovelos.

-Hum... Não sei.

Batendo os dedos sobre a mesa [Nome] resolveu comer alguma coisa, estava faminta já que não tinha consumido nada além de álcool no dia anterior.

-Preciso ir até a casa da minha família pegar meus pertences, tem alguns tesouros por lá. Pode escolher o que quiser.

-Agora as coisas parecem um pouco mais interessante, me decido sobre o pagamento depois.

Já era alguma coisa pelo menos, não podia passar o resto de seus dias usando roupas de outras pessoas. Tinha suas armas guardadas no quarto, dinheiro e sua lista de clientes. Não recebia pela instituição jujutsu, então precisaria continuar juntando suas economias de serviços terceirizados para quando fugisse dali. Afinal de contas ainda era seu plano principal.

Saiu da casa acompanhada do homem, de dia era bem diferente andar pelos terrenos. Os residentes os encaravam como uma peste, de canto de olho com expressões de nojo e de desprezo.

Nada diferente do que ela mesma já estava acostumada. O queixo se mantinha alto e os passos firmes, uma das garotas tinha lhe emprestado um par de calças e uma jaqueta simples e dos baús manteve apenas um dos sapatos. Horrível, mas mesmo assim era o melhor que encontrou.

Disse para que as duas, Tani e Yuina, jogassem os baús fora. Ou se quisessem algo de dentro deles poderiam pegar.

Andaram por um bom tempo até chegar a cidade mais próxima, a única coisa que [Nome] conseguiu manter por perto antes do casamento foi um cartão de banco. Então depois de uma visita a um caixa eletrônico tomaram um trem para sua cidade, ela encostou a cabeça contra a almofada encarando a janela em seguida.

-Contratos para caçar maldições então – Toji disse – Bem que eu achei seu treinamento polido demais para alguém que faz exorcismos apenas para livrar o mundo de algum mal.

- Semelhante reconhece semelhante – [Nome] comentou usando a frase de Hatsu – Não saberia disso se não estivesse no meio do submundo.

O homem não respondeu, sorriu e se afundou na cadeira antes de fechar os olhos, não teve a confirmação, mas ele também não negou. E no momento também não importava nem quem ele era e nem o que fazia.

Sentiu um arrepio na coluna depois de exatos dez minutos de viagem, ergueu a cabeça para olhar para trás. Não havia muitas pessoas nos bancos, salvo um rapaz franzino com vestes escolares, um casal de idosos e uma mãe acompanhada de sua filha.

Mas o que ganhou sua atenção foi o olho que olhava diretamente para ela, uma pele esticada parecia bloquear a porta de acesso para o outro vagão e bem no meio do tecido podre uma pupila em formato de fenda se virava para lá e para cá.

Usou de sua energia amaldiçoada para invocar Kiran, imediatamente marcas tomaram sua mão direita fazendo com que sua pele formigasse até o cotovelo. Toji abriu um olho quando a sentiu pulando suas pernas para o corredor do trem.

-O que está fazendo? - indagou um tanto quanto surpreso.

-Livrando o mundo de algum mal.













N/A: Hellous! Passando para lembrar que essa história não está abandonada apenas esperando enquanto eu termino minhas férias literárias.

Logo logo essa fic será postada semanalmente.

Um desenho da Toji [Nome] patroa enquanto estava usando a possessão de Yokai com Kiran. Lembrando que é como eu penso, você é livre para imaginar como quiser.

É isso até a próxima!

Xx

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