Flores Caídas



Pouco mais de um mês se passou desde o pequeno encontro que tive com Toji na floresta.

Para quem nos via durante o dia, nada havia mudado. Palavras eram trocadas de forma afiada, repletas de frases tortas, acompanhada de um veneno latente de ambos os lados. Durante o dia eramos estranhos com uma história, a noite, amantes secretos. Durante as horas gélidas e silenciosas da madrugada que os desejos eram consumados, ignorando um futuro incerto e queimando um presente ignorante. Me fazendo presenciar as manhãs presas nos braços do canalha que chamo de marido.

— Está pior, a cura da sua raposa não devia ajudar nisso?

A pele das minhas costas foi acariciada pela mão quente de Toji, os dedos contornaram o machucado da última sessão de proteção de Hatsu. Me sentei na cama olhando por cima do ombro para o homem deitado ao meu lado. Levantei em silêncio, me afastando do seu toque, vestindo algo para separar o ar da noite do corpo suado.

— A marca está aumentando — respondi ajustando a gola e então fechando a frente da veste com um nó na cintura. — O selo não parecem estar causando muito efeito.

Toji virou de barriga para cima, deixando o braço estendido sobre meu lado da cama.

— A vadia da sua irmã deve estar fazendo algo — ele ajeitou os cabelos —, está pulando de um lugar para o outro se deixando ver e roubando armas amaldiçoadas. Kon e Cérbero insistem em ficar viajando de um lugar para o outro também.

— É isso que está te dando olheiras? É a primeira vez que eu te vejo cansado.

Toji virou deitando de lado e cruzando os braços, o sorriso puxando os cantos de seus lábios. — Essa culpa é sua, com honras. Chega a ser ofensivo pensar que vou me cansar com algo feito com aqueles dois.

Nesse instante, um choro agudo e soluçando rompeu o silêncio, sem ter um segundo pensamento em mente, corri para porta apenas para entrar no quarto do bebê, mantive a mão no batente da porta onde havia uma lâmina escondida. O primeiro pensamento foi de algo fora da normalidade estar acontecendo, nossa vida é tão estranha que a primeira coisa que pensei foi relacionado a alguma maldição.

Me aproximei do berço sem poder fazer muita coisa além de acalmar Megumi com a voz, aflita me virei em direção da porta esperando o pai dele passar e prestar seu socorro. Toji ainda desnudo da cintura para cima, estava praticamente se arrastando, mas fez seu papel quando pegou o pequeno no colo.

— Ele está bem? Tem algo de errado?

— Não — respondeu o homem —, provavelmente só quis chorar. Não é isso que eles fazem nessa idade? Babam, choram, comem, sujam fraldas e repetem.

Bati a testa no seu ombro, o choro cessou e o que restou foram as bochechas rosadas do meu filho e os olhos brilhantes marejados me encarando enquanto apoiado no peito do pai. Um braço nos separando, mas um universo inteiro de distância.

— Você se acostumou a pegar ele no colo.

— Não tive escolha.

O pequeno pareceu voltar a ficar sonolento, pois as pálpebras foram se fechando escondendo as joias preciosas que eram seus olhos. Verdes como os de Toji, porém muito mais vivos e inocentes.

Virei a cabeça para a janela, devíamos estar no fim da madrugada, podia ver no horizonte as cores claras correndo em direção ao dia. Enquanto me afastei de ambos, andei até a lateral gravando o cenário preso entre as quatro vigas de madeira nas minhas lembranças, tal como uma pintura de museu. Vista uma única vez, eternizada por seu artista e então esquecida do mundo.

Minori... Está se aproximando. Ficar na casa da montanha apenas colocaria as garotas e Hatsu em perigo. Por esse motivo, resolvemos nos movimentar. Sem um lugar fixo era uma longa viagem passando por diversos pontos. Algum tempo atrás poderíamos dizer estarmos escondidos uma vez que Hatsu estava cuidando de tudo, os selos de sua família eram fontes e colocava sobre nós um véu de sombras. Porém, as coisas mudaram um pouco nas últimas duas semanas, Hatsu já não estava tão forte tudo que a governanta conseguiu fazer nos últimos tempos fora ficar deitada. Apesar da insistência na busca de um médico, a mais velha negou veementemente, dizendo que não havia necessidade de ver um doutor apenas para ouvir que seu corpo está velho.

Enquanto estivermos longe, elas estarão mais seguras.

A ideia inicial era que eu viajasse sozinha, uma vez que não sei dizer de Minori consegue me achar pela marca de Amarate, mas meu marido foi fortemente contra a ideia. Sendo decidido então que iriamos nos mover num grupo de quatro, sendo Megumi e Cérbero a outra metade dele.

— O que está pensando? — os braços de Toji abraçaram a minha cintura colando seu tronco nas minhas costas.

— Que minha manhã vai ser agitada e eu não dormi nada graças a você.

O homem traçou a curva do meu pescoço com rosto, erguendo a cabeça até conseguir aproximar a boca do meu ouvido.

— Falso moralismo não faz parte da sua personalidade, se quisesse tinha me parado. Apesar de estar rabugenta agora, parecia bem satisfeita pouco tempo atrás.

— Fazer o que — tirei suas mãos de mim e o segurei pelos pulsos virando em seguida para o ver de frente —, é mais fácil ficar na sua companhia quando está com a boca ocupada.

— Devo arrumar algo para fazer com a minha língua então? — sua cabeça se inclinou, não para me beijar, mas para deixar bem clara as intenções atrás de seus olhos e dar ênfase no seu tom de voz.

Mantive os lábios selados e apenas o empurrei para o lado, lançando um último olhar para Megumi antes de sair do quarto. Garantindo que ao menos em sonhos ele estava feliz, peguei uma troca de roupa e saí dali rumando para o banheiro e tendo certeza de trancar a porta, não que uma pequena tranca fosse impedir Toji.

A marca em meu braço parecia ficar cada dia mais forte, o que sei é que tanto eu, Minori e Amarate temos certo grau hereditário com a família Kamo. Não é realmente uma surpresa imaginar que o que ela anda fazendo do outro lado da maldição esteja me afetando. Faz meses que estou com os mesmos postos de aparência hieroglífica gravada, e ao invés de me acostumar não havia um dia em que não odiasse tudo menos do que o dia anterior.

Cansada, meu desejo mais profundo é que um ponto final seja colocado na história.

Porém, antes disso seria necessário fazer algumas preparações, algumas delas já foram feitas de maneira parcial. O restante seria ajustado jurante nossa jornada, e esse talvez fosse o principal motivo pelo qual visitamos Haruna no dia seguinte, depois de uma despedida breve dita para Hatsu e as garotas.

— Megumi, sua tia Haruna é a melhor, não é?

Ao contrário de Taleyah que podia deixar as máquinas rodando seu trabalho de forma independente, Perséfone não podia simplesmente abandonar seu posto de rainha do submundo para dirigir horas até a casa na montanha.

Megumi, como de costume, estava apenas encarando aquela mulher falando com vozes estranhas enquanto apertava suas bochechas o abraçando contra o corpo. Deixei um riso escapar da minha boca enquanto virei a poltrona do escritório luxuoso de Perséfone. A vista realmente parecia digna de uma rainha, uma cidade aos seus pés, o mundo inteiro feito de tapete para seus sapatos de salto agulha.

— Apesar de eu gostar da sua presença — ela disse batendo de leve nas costas do meu filho o embalando —, sei que não veio aqui para fazer uma visita.

Mantive o sorriso no rosto e tombei a cabeça em sua direção — O que te faz dizer isso?

— Seu cão de guarda está longe — disse por fim, um pequeno franzido apareceu entre suas sobrancelhas. — Também não gosto de seu olhar.

— É por isso que você é a rainha e não qualquer outro idiota — me curvei em direção à mesa de centro, pegando um copo de água e erguendo em sua direção num cumprimento. — Também não sou do tipo que fica enrolando, então é bom que percebeu minhas intenções logo.

Haruna colocou Megumi na cadeirinha e então virou sua atenção para mim. Imediatamente assumindo uma postura de negócios, séria, de queixo levantado, elegante como a posição que ocupa.

— O que quer de mim? — Perséfone estreitou os olhos na minha direção.

— Seu silêncio — respondi esfregando as pontas dos dedos — as coisas vão ficar um pouco complicadas daqui para frente. Não importa o que aconteça, preciso que você se abstenha, de tudo.

Vi os músculos de seu maxilar travarem, tensos, mesmo que tentasse esconder de mim sua surpresa. Não foi possível. Logo, continuei a fala.

— Minori vai me atacar a qualquer momento — alisei a lateral da perna — negue qualquer envolvimento comigo. Se possível fique em outro país por algum tempo, Taleyah parece bem com você aqui, então cuide da pirralha por mim.

Minha companhia cruzou as pernas juntando as mãos na frente do corpo, entrelaçando os dedos de unhas longas — Não sou fraca, nenhum dos meus são. Não tenho motivos para acatar.

— Mesmo sendo um pedido meu?

Sua boa se manteve pressionada numa linha fina, o olhar voltado para mim como uma lâmina afiada, disposto a arrancar uma resposta satisfatória a qualquer custo. Respirei fundo e me levantei

— Sou grata por tudo que fez por mim. Não sei dizer se eu estaria viva se não fosse por você, sua ajuda, antes e depois. Você é mais valiosa como rainha do submundo do que qualquer outra coisa, se associar a mim ou Toji não vale de nada para você. Principalmente agora.

Com cuidado Perséfone me analisou, um sentimento de realização iluminando seus olhos logo em seguida. Apesar de ter parecido descobrir algo, ela não disse em voz alta, apenas tombou a cabeça para o lado e então mirou o olhar pesaroso para o chão.

— Parece estar bem resoluta do que precisa fazer.

— Como nunca antes — confessei apoiando as mãos na cintura e então me virando para a janela. — Desde que nasci tudo foi sempre incerto. Enevoado, o que eu queria ser e quem queriam que eu fosse sempre estiveram em conflito. No fim tentei encontrar o meio e me perdi no processo.

Respirei fundo e coloquei a mão esquerda no vidro — Não posso dizer que foi de todo ruim, certas coisas só aconteceram por conta dessas decisões, mas essa dor, toda essa luta, só faz sangrar mais. Me sinto sufocada e se não tivesse Megumi provavelmente já teria enfrentado Minori sozinha, sem me importar se o resultado seria a meu favor ou não. Agora, darei o meu melhor para fazer o mundo dele um pouco melhor.

— Sabe que posso ajudar, se algo acontecer-

— Se algo acontecer comigo ou com Toji, ter ele crescendo no nosso mundo só faz de tudo mais perigoso. Eu não quero essa vida de merda para ele, quantos traumas eu, você e o pai dele temos de ter nascido na cultura jujutsu? — afaguei o braço e me virei — Ele não merece isso.

— É inevitável, ainda mais sendo filho de vocês, se o que você pensa é verdade. Não vai demorar para família Zenin vir atrás dele — rebateu Perséfone.

— Se algo como isso acontecer, nenhum de nós estará vivo para impedir. Nesse caso, para alguém com a força de Megumi, aqueles que valorizam a herança do sangue é a melhor opção.

Derrotada, sabendo que eu não iria mudar de opinião Haruna respirou fundo — Certo, o que devo fazer então? Te negar três vezes tal como os cristãos? Se for considerar meu título, estou na religião errada.

Me aproximei dela com um sorriso e de braços abertos, sendo prontamente recebida. Mas no calor do seu abraço me senti andando sobre o gelo fino.

— Não precisa fazer nada — respondi e passei a mão na lateral da perna tirando do um bolso escondido uma lâmina —, você vai esquecer que um dia eu existi.

Uma mão abafou seu grito enquanto a outra cravou a lâmina em sua pele. Um encantamento antigo dito numa língua estrangeira ativou a energia amaldiçoada de uma das cinco armas de Hades, e então a rainha caiu num sono profundo enquanto as memórias eram levadas pela adaga de Lete, o rio do esquecimento.

Coloquei Haruna na poltrona em que estava sentada antes, foi uma grande sorte encontrar a lâmina enquanto estive na Grécia. Deixou essa parte do serviço um pouco mais fácil. Ela não morreria, apenas teria parte das memórias apagadas.

Recitei todos os encantamentos com um embargo na voz enquanto ajustava os cabelos em seu rosto, retribuir dessa maneira alguém que apenas me ajudou é a mais pura traição. Mas com as paredes se fechando ao meu redor, quanto menos baixas tiver entre os que conheço, melhor será. Haruna lutou para estar ali, por mais se sua ajuda fosse regrada pela gentileza, não posso cobrar sua vida para resolver um problema meu.

— É o melhor para você — encostei minha testa na sua —, e obrigada por me deixar saber o que é uma amiga.

Como um último ato, encostei de leve meus lábios nos seus, casto de despedida e para sempre desconhecido.

Da bolsa de Megumi, tirei um segundo casaco e luvas — exatamente iguais aos que usava —, atirando os antigos na lareira e a acendendo em seguida.

— Hora de ir — sorri para Megumi alheio de toda a situação, peguei a alça do bebê conforto e então saí da sala. Ao contrário de Haruna, o ex-detetive Kon era bem mais fácil de se persuadir. Várias notas dadas em segredo de Toji e ele manteria o bico fechado pelo resto de seus dias, uma relação de mútuo benefício já que se envolver profundamente, sem compensação monetária, não faz o perfil do seu trabalho.

Sua única função seria manter Taleyah nos trilhos, o homem é esperto, pode facilmente a enganar em relação a Haruna.

— Já acabou? — Toji disse quando me aproximei da ante-sala onde os ele estava com os dois mais velhos.

— Haruna estava animada, tanto que parece ter tirado o melhor dela e a fez apagar no meio da conversa. É melhor deixar ela dormir por um tempo Kon — sorri para o coreano, ele sendo o único conhecedor da verdade.

— Perséfone esteve trabalhando bastante nas últimas semanas — ele apagou o cigarro no cinzeiro —, não se preocupe [Nome], vou cuidar dela e ficar de olho em Pinxie.

Acenei com a cabeça em agradecimento, e indiquei para os outros dois homens para irmos embora, virando as costas sem um segundo pensamento.

Mais problema resolvido e mais um passo em direção ao fim.









N/A: Obrigada por ler até aqui!

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Está acabando de verdade essa fanfic, coisa de 2/3 capítulos. Vamos que vamos!

Até mais, Xx!


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