*EXTRA - Another Life
Megumi acordou num salto, do lado de fora trovões ecoaram e relâmpagos fizeram se iluminar o pequeno quarto que ele tinha na escola. Sua respiração estava descompassada e os olhos levaram algum tempo para se adaptarem a escuridão, primeiro por estar realmente escuro e o segundo por terem lágrimas acumuladas nos cantos. O jovem sentia o coração batendo em ritmos rápidos, tão forte, que se ficasse parado podia sentir o peito se movendo.
Acabara de despertar de um pesadelo.
Levantou as duas mãos para o rosto e respirou fundo, esfregando a pele para limpar a trilha de lágrimas que escorreu. Sua nuca também estava molhada, provavelmente de suar frio. Girou na cama, colocou os pés para fora e apoiou os cotovelos nos joelhos. Mirando uma mancha qualquer no chão, novamente se perdendo em pensamentos ao som da chuva que castigava o prédio do lado de fora.
Quando seu coração voltou ao ritmo normal, alcançou o celular posto na mesa ao lado de sua cama, eram quase quatro da manhã. Contudo, as nuvens escuras faziam parecer ser mais cedo.
A época de chuvas em Tóquio chega em meados de junho, porém ele não se lembrava da última vez que houve uma tempestade como aquela. É de certa forma inquietante observar os lapsos de luz que iluminavam até as sombras mais escondidas do quarto e então desapareciam deixam para chegar aos seus ouvidos o som.
Naturalmente Megumi não conseguiu dormir, as cenas do pesadelo voltavam no momento em que fechava seus olhos, então, até que pudesse sair da escola, apenas encarou o teto do seu quarto repassando informações de missões, o que ele poderia treinar nos próximos dias e sua agenda.
Alguém como ele não tinha muito o que fazer, afinal era um estudante de jujutsu, quando não estava em missão estava se recuperando dela. Mas aquele dia era diferente, ele tinha um compromisso.
As seis horas em ponto se levantou, abandonou as vestes da escola as trocando por um par de calças jeans, uma camisa simples branca e tênis igualmente claros. Pegou uma mochila, colocou dentro a sua carteira, fones de ouvido e um embrulho retangular enfeitado com um papel lilás e fitas. Colocou os fones de ouvido no pescoço, vestiu a jaqueta e fez menção de sair.
Antes de chegar a porta ele se lembrou de algo que estava ficando para trás, na mesma mesa onde ficava o celular, havia uma gaveta. O garoto a abriu, pegou de dentro dela uma chave e um colar. Esse segundo tinha no lugar do pingente uma aliança machucada, o colar foi posto envolta de seu pescoço e a aliança guardada dentro das vestes, próxima ao seu coração.
Sabendo estar pronto, enfim ele se foi.
A música regrou seus passos pelas ruas tranquilas, a chuva ainda caia implacável, embora os raios e trovões tivessem cessado. O lugar onde precisava chegar não era perto, mas também não era muito distante, naquele começo de manhã percorreu o suficiente para gastar cerca de uma hora e meia do seu tempo.
Subiu as escadas, fechou o guarda-chuva, pegou a chave, e entrou na residência deixando seus pertences logo na entrada. Silenciosamente colocou a mochila no sofá, e andou até a cozinha procurando por ali uma garrafa de água.
Foi então que sentiu algo se mover atrás de si, perigoso, mas conhecido. Escutou um longo suspiro sendo dado e então se virou.
— Por que você nunca me avisa quando vem para casa?
Próxima à porta da grande casa com boa localização na cidade de Mitaka, na província de Tóquio, sua mãe [Nome] estava escorada. Sobre as vestes de dormir, consistindo em uma calça xadrez e uma blusa branca, tinha um longo roupão. Os cabelos, assim como os dele, pareciam desordenados e os olhos, cansados.
As cenas do pesadelo de repente voltaram para sua mente, a mulher mais jovem do que agora — muito mais magra e castigada pela vida — fugia de um lado para o outro com ele ainda bebê, e terminava rasgando o próprio peito por ele.
Megumi soltou a garrafa de água do balcão e andou com passos largos até a mãe a abraçando pela cintura. O gesto foi repentino, pegou a mais velha de surpresa, principalmente quando não esperava ver o garoto em casa tão cedo naquele dia, mas um movimento de instinto abraçou seus ombros e então alisou suas costas.
— Aconteceu alguma coisa Gumi? — a mãe o segurou com força.
Ele mesmo parecia estar a abraçando como se quisesse ter certeza que ela estava realmente ali, sentiu um beijo sendo dado em tua testa e então seu rosto foi preso entre as mãos da mulher. Olhos repletos de carinho olhando para ele, brilhantes acompanhado de um sorriso que o fez se sentir em casa.
— Não — colocou as mãos por cima das da mãe, tendo mais uma vez a imagem do rosto ensanguentado aparecendo —, só perdi o sono e vim antes.
— Mentiras.
Sentada em cima do balcão com um sorriso distorcido e oito caudas balançando atrás de si, Kiran, a yokai de sua mãe respondeu se colocando na conversa. A maioria das pessoas não podia a ver, mas Megumi era diferente, ele não conseguia fazer um contrato, pois sua técnica dominante foi herdada do clã Zenin, mas ele podia a ver e escutar.
— Está inquieto filhote, eu consigo sentir — proferiu a kitsune se deitando na bancada, como um gato gigantesco.
— Eu já tenho 15 anos, até quando vai me chamar de filhote? — reclamou Megumi sem sair dos braços da mãe.
— Continua sendo o filhote da [Nome] para mim, filhote.
A mais velha respirou fundo e balançou a cabeça — É cedo demais para vocês começarem a brigar, principalmente você Kiran.
[Nome] voltou se para o filho ajeitando sua camiseta nos ombros — Achei que viria só de tarde, claro que a casa também é sua, mas é estranho aparecer aqui tão de repente.
Ele nunca conseguia esconder nada dela, um único olhar para seu rosto e então parecia que sua mãe sabia todos seus pensamentos. Com voz baixa e relembrando os horrores vistos naquela madrugada, Megumi contou todos os detalhes do pesadelo, explicando então o anseio em voltar para casa.
[Nome] escutou a narração do filho em silêncio, segurando a mão dele entre as suas, lembrando de um próprio passado de dificuldades. Nada parecido com o que aquela sua outra versão viveu.
— Foi tão... Real — finalizou — o sangue, tudo que aconteceu.
— Naturalmente já vemos sangue demais, as histórias do mundo jujutsu são tão peculiares quanto. Pode ter sido só um apanhado do que já viu e ficou no subconsciente — o acalmou — não sei dizer o que motivou a eu do seu sonho fazer o que fez, mas tenho certeza que ela te ama tanto quanto eu te amo.
— Nessa vida, em outra ou todas as que nos encontrarmos, eu farei qualquer coisa por você. Não importa o que seja o sacrifício, mesmo que me leve, você é mais importante.
Ela afagou o rosto do garoto encostando a testa na sua por um momento como fazia quando era pequeno — E nós protegemos o que amamos do jeito que pudemos.
— Engraçado — A voz veio detrás deles, tinha um sarcasmo venenoso entrelaçado no tom rouco. — Nunca vi você entrar na frente de um ataque por mim, pelo contrário, já me jogou na frente deles.
[Nome] olhou por cima do ombro para o marido e sorriu, respondendo no mesmo tom — Você não precisa, se vira bem sozinho.
Toji entrou na cozinha, passou ao lado do balcão onde Kiran estava e apertou alguns botões na máquina de café, apesar do ar gelado e úmido de chuva o pai de Megumi estava sem camisa. Ele se encostou no balcão e cruzou os braços.
— O garoto já é velho, pode se proteger sozinho — comentou e parou o olhar no balcão — sua raposa está aqui?
Kiran se virou em deleite com a discussão familiar — Seu macho ainda tem os sentidos afiados.
A matriarca colocou a mão na testa — Sim, Kiran está. Algum problema em eu proteger meus filhos até eles ficarem velhinhos?
Megumi cresceu vendo aquelas pequenas discussões, então de certa forma ele nem se afetava mais. Sabia que apesar dos dois trocarem farpas se amavam a sua própria maneira, prova disso é que estavam juntos a mais de quinze anos, e tinham ele.
— Mãe, papai? — uma voz fina e infantil ecoou, acompanhada de passos arrastados
Ele, e Mizuki.
A irmã mais nova de Megumi completaria 6 anos naquele mesmo dia, se ele recebeu o nome de benção, a pequena veio com o nome escrito com esperança. Sonolenta a figura apareceu coçando os olhos com as mãos pequenas, os cabelos eram lisos como o do pai, na verdade ela também parecia uma cópia de Toji, lembrando muito sua prima de segundo grau Maki quando era criança.
Mizuki era uma criança doce, e enérgica, diferente do irmão. Gostava de falar, tinha boa dicção e era criativa, ainda não tinha manifestado nenhuma técnica, mas Kiran podia jurar pelas suas caudas que viria algo relacionado a manipulação de sangue da família Kamo.
Quando Mizuki percebeu o irmão correu em sua direção, quase aos tropeços, ela o adorava. Megumi se abaixou e a pegou no colo recebendo um abraço.
— O irmãozão veio me ver?
— Claro que sim, é seu aniversário, não é?
Ela assentiu com a cabeça e abraçou seu pescoço novamente, apoiando a cabeça no ombro de Megumi continuando a fazer perguntas.
[Nome] recuou e se colocou ao lado de Toji apoiando a cabeça em seu ombro e vendo os dois filhos trocarem algumas palavras, a mão levantando-se para o peito traçando com os dedos uma cicatriz vertical que havia ali. Ela não se lembrava de como havia ganho, só que sempre esteve ali.
O braço do homem envolveu sua cintura lateralmente, como apoio.
— Você ouviu, não ouviu? — questionou sem tirar os olhos das crianças.
Toji resmungou em resposta — É estranho Megumi deixar algo assim mexer com suas emoções, não se apegue a isso. Foi um pesadelo.
Irreal ou não, o que ela sentiu enquanto escutou os relatos do filho, não eram. Uma angústia desmedida, tristeza, uma emoção avassaladora. Apenas de se lembrar, sentiu os olhos marejarem e engoliu seco.
Se soltou do marido buscando também uma xícara para tomar café, sem ligar se estava quente ou não, usando a sensação extrema na ponta da língua para voltar aos seus sentidos.
— Você trouxe um presente para mim? — Mizuki exclamou depois de ouvir do irmão. Ela se voltou na direção dos pais — Posso abrir?
— Vai ficar chateada por não ter outro depois? — Toji respondeu com uma voz muito mais suave, claramente ele tinha um espaço especial para a caçula. Como não poderia? Apenas de ver as bochechas redondas e rosadas já o deixava em paz.
Mizuki balançou a cabeça dizendo que sim, sem ter muita certeza, mas claramente animada pelo fato de ganhar algo do irmão mais velho. Ele andou com a pequena no colo até a sala, a sentou no sofá e então abriu a mochila tirando de dentro o presente.
Apenas de ter na embalagem sua cor favorita já era o suficiente para o colocar no lugar mais alto.
— Você é o melhor, irmãozão é o meu favorito!
Megumi olhou para seu pai com um sorriso sarcástico muito parecido com o do mais velho — Ouviu isso velho?
— Ela só disse isso porque você é a minha cara — Toji respondeu recebendo imediatamente uma cotovelada da esposa. Megumi deu de ombros e continuou com a irmã mais nova
Pois era seu favorito.
— Realmente está brigando com o seu filho para saber quem Mizuki gosta mais? — ralhou a mulher. — Eu nem estou na lista, ela tende a colocar nas posições mais altas quem ela acha mais bonito, e você é o pai.
— O que quer dizer com isso? — Toji apertou sua lateral.
— O garoto Gojo, noivo da sua sobrinha, é o favorito dela — respondeu —, coloque ele e você numa sala, tenho certeza que no momento em que ela colocar os olhos nos cabelos claros dele, esquece sua existência.
O marido tombou a cabeça para o lado por um momento — Não pode estar falando sério.
— Quem sabe — o tom de riso deixou a resposta velada solta, e então logo veio um longo suspiro — É injusto que os dois vieram exatamente iguais a você, Megumi puxou os meus fios de cabelo desordenados apenas.
Toji colocou a caneca de café de lado segurou a esposa pela cintura a puxando para perto, deixando escapar para seus ouvidos uma frase de tom lascivo.
— Não ligo de tentar um terceiro nosso, quem sabe não vem um com a sua cara.
— Mas eu ligo — [Nome] respondeu passando o braço pelos seus ombros, respondendo com o mesmo tom — não é você que fica carregando eles por nove meses.
Por um momento seus lábios se encostaram, era mais um típico bom-dia. Toji a manteve colada ao seu corpo apenas aproveitando sua presença, deixando a testa cair para seu ombro. Dando um suspiro cansado.
— Você devia tirar umas férias Toji.
— Diga isso para Haruna, nem tem tanta coisa acontecendo no submundo e ainda assim fica mandando eu e o velho Kon para todo lugar.
[Nome] não sabia dizer como chegaram até ali, ela e Toji se conheceram durante um trabalho. O que foi um sujo encontro no submundo jujutsu virou uma noite, depois várias noites e então algo mais concreto.
Ambos tinham muitas mortes em suas mãos, ainda criança, matara sua irmã num acidente sangrento, não se lembrava porque, mas sim da raiva. Seus pais não ligavam muito para nenhuma das duas, mas quando ela retomou o que a irmã gêmea havia roubado, sua vida deixou de ser miserável para apenas ruim.
Deixou a casa assim que pode, foi morar com seu tio e retornou anos depois apenas para ver a destruição deixado por um incêndio. Passou a trabalhar com Nishiro em missões, e então num desses dias conheceu Toji, com ele Kon e Cérbero, seus mediadores. Naquela época quem ainda cuidava do submundo era Mundi, e seu maníaco de estimação Hades. Os clientes, queriam uma revolução, e pagaram por isso.
Agora quem cuidava do submundo jujutsu era aquela chamada de Perséfone, ou Haruna para seus amigos. E foram ela e Toji quem a coroaram rainha.
Muitas outras pessoas estavam em sua vida, Toji tinha do seu lado a vovó Hatsu, e as meninas Tani e Yuina, que desertaram do clã Zenin também sem ter para onde ir. [Nome] tinha meu tio Nishiro e Taleyah, a quem resgatamos anos atrás.
Quando Megumi era apenas um bebê, mais uma pessoa entrou suas vidas. A sobrinha de Toji, vinda da Grécia, a garota tinha ainda mais problemas do que [Nome] para resolver, mas encontrou junto do garoto Gojo uma solução para sua própria história. Então, Megumi tinha cerca de 4 anos, a última adição antes de Misuki, uma garota chamada Tsumiki Fushiguro.
Ela andava órfã pelas ruas, sua mãe havia desaparecido, [Nome] então a adotou na família e a criou como sua própria filha. Ela agora estava se preparando para entrar numa boa faculdade em Tóquio, cursando medicina.
— Temos muito o que fazer hoje, a festa de Misuki não vai se erguer sozinha — bateu em suas costas, o forçando a levantar o rosto para o seu —, posso pedir para Haruna te dar uma folga depois disso. Faz tempo que não vamos para casa da montanha.
Os olhos verdes de Toji ganharam algum brilho — Só nos dois?
[Nome] resmungou — Depende se vai se comportar hoje, sem brigas com Satoru.
Toji franziu, ele não gostava nada do paspalho do noivo da sobrinha, sempre que se encontravam raios se chocavam. Ele travou os dentes por um momento, olhando por cima do ombro os dois filhos biológicos brincando no sofá, a filha gargalhando quando Megumi lhe fez cócegas. Cada vez mais, dias tranquilos como esses eram mais difíceis.
— Vou tentar — disse por fim.
Sua esposa apoiou o queixo em seu peito e sorriu — Amo quando você fica todo obediente assim.
Um riso grave escapou de sua boca — Só assim? Eu te amo mesmo quando é um pé no saco.
[Nome] se afastou por um momento, o encarando com confiança, a mesma expressão cínica que o fez se apaixonar em primeiro lugar — Até quando eu te ameaço com uma faca de talher, marido?
Toji abaixou para ter os lábios da sua mulher nos seus — Especialmente quando me ameaça com uma faca de talher, esposa.
N/A: Agora sim, acabou!!
Obrigada por ler até aqui.
Até mais, Xx!!
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top