Escolhas certas por vias tortas
Toji se perguntou se a mudança repentina de cenário seria um efeito do que seria o território do homem chamado de Corvo. Ou se era algo mais complexo que alguém ser energia amaldiçoada como ele sequer se daria ao trabalho de entender.
O quarto chamado de consultório era de aparência suja e abandonada, mas esse segundo lugar para o qual fora mandado até parecia decente. Tinha uma única porta no local, clara com uma camada de tinta já amarelada em certos pontos e uma luz na parte de cima com o escrito "em atendimento" piscando em vermelho.
Não tinha janelas, apenas um sofá de camurça verde musgo e outras duas poltronas baixas igualmente feias. Entre eles uma mesa baixa que serviria como um bom apoio de pé.
Sem ter realmente uma escolha, se sentou jogando as pernas sobre a mesa e colocando a bolsa sobre o colo, tinha dado uma olhada antes mas ali sozinho poderia inspecionar o conteúdo com um pouco mais de calma.
Não eram muitas, tinham poucas peças mas sabia dizer apenas de olhar que eram de boa qualidade. Gostaria de saber da onde a mulher tinha conseguido aquelas armas, não eram do tipo que simplesmente apareciam no mercado, nem mesmo para leilão.
Na verdade era um mistério completo a vida dela, não era idiota viu as marcas no chão e próximo a janela um fecho de metal onde provavelmente se amarrava uma corrente. Se sua intuição estivesse certa diria que depois que a irmã fugiu o velho chefe de família prendeu [Nome] para evitar que ela seguisse o mesmo caminho. De repente a mania da mulher de se apoiar na perna esquerda fez sentido, provavelmente um mau hábito adquirido durante o tempo que treinou acorrentada.
Ele mesmo não teve uma vida fácil, mas a nuvem escura que parecia estar sobre o passado de [Nome] era densa e ainda muito misteriosa.
Desviando a atenção para as armas começou a manusear, eram cinco no total, todas lâminas. Mas apenas duas chamou sua atenção, a primeira até mesmo alguém como ele conhecia a lança invertida do céu, uma arma capaz de anular as técnicas e resistir a energia amaldiçoada.
Passou de leve a mão pela lateral da lâmina, não era tão afiada mas cortar não era seu papel principal. Atuar como um inibidor não necessariamente pedia por um corte preciso, soube no momento em que a viu na bolsa que seria seu pagamento.
Mas junto dela tinha uma segunda que também chamou sua atenção, não tinha uma empunhadura propriamente dita, o cabo era feito do próprio metal. Tinha uma série de inscrições da lateral que não entendia e achou que parecia mais uma ponta de lança do que uma lâmina de fato.
O recorte e a cor também eram diferentes, um metal negro e reluzente como se fosse feito do breu as bordas com um tom dourado em ouro vivo, tinha a lâmina reta com um espaço no meio e achatada. Era bem ruim de segurar na verdade, parecia ter algumas inscrições na base em uma língua estrangeira, se tivesse que dar um palpite diria que era grego.
Toji ficou por algum tempo na sala de espera, isso até que seu telefone tocasse. O número era desconhecido mas sendo aquele horário só podia ser uma única pessoa, honestamente não estava com vontade de atender mas quando recebeu a ligação pela segunda vez não teve muita opção.
-Você deve ser uma pessoa muito mal amada para atrapalhar a lua de mel de alguém
-Deve estar rico para não cumprir com os seus serviços.
-Pode me cobrar no momento em que o prazo acabar - respondeu - Até lá eu faço as coisas do meu jeito.
Não tinha paciência para lidar com seus contratantes, desde que começou nunca falhou em um serviço. Pelo menos essa garantia ele podia dar, se tivesse um prazo para o trabalho iria executá-lo dentro dele, mas todos os imbecis pareciam ansiosos demais para ter suas tarefas executadas.
Falando em tempo, já fazia alguns minutos que [Nome] estava dentro da sala com o sujeito chamado de Corvo. As feridas no braço dela estavam de fato feias, mas levava todo aquele tempo mesmo?
Ouviu com clareza a menção de talvez um relacionamento passado, mas quem ele era para dizer alguma coisa boa parte de seu dinheiro era gasto com mulheres e bebidas. Sua esposa devia ter mais do que uma fila de pretendentes dispostos a polir seus sapatos se necessário.
Completamente o contrário da irmã, que era mirrada com as maçãs do rosto protuberantes, um nariz fino e olhos fundos. Parecia alguém doente se fosse para ser sincero, se perguntou se aquilo era um efeito do tipo de mestre de maldições que era.
Nesse momento a luz em cima da porta se apagou e depois de um breve destravar da porta [Nome] passou por ela. Já com o rosto corado e o braço completamente normal, o Corvo estava parado no meio do próprio consultório e pareceu sustentar seu olhar até que a porta fosse fechada e interrompesse.
Com um suspiro alto a mulher passou a mão no pescoço antes de ajustar a mochila no ombro - Pronto para ir?
-Quando você quiser.
Ela o olhou com desconfiança - O que aconteceu para você de repente estar prestativo?
-A lança invertida do paraíso.
-Claro - resmungou de volta, abrindo a porta para que ele passasse. Novamente a paisagem além dela era completamente diferente, já era uma rua mais movimentada e não o consultório sujo de antes.
-Não sei porque tive a esperança de que talvez escolhesse qualquer outra - resmungou - Acredito que estamos quites, afinal é mais do que um tesouro.
-Posso pensar sobre isso - já na rua voltaram a andar lado a lado. A paisagem era vagamente familiar, mas não o suficiente para que ele soubesse onde estava. - O que é aquela outra lança quebrada?
-Se eu te contar vai tentar me roubar ela também? - [Nome] estava visivelmente irritada por ter perdido a outra arma milenar.
-Não, toda sua.
Sentiu o olhar de canto de olho por alguns momentos antes de suspirar e continuar - Não está tão errado, é a Lança de Aqueronte* uma das cinco armas de Hades. Pelo menos é assim que os feiticeiros gregos se referem.
-Hades é o senhor do submundo na mitologia grega, em suas terras correm cinco rios - continuou a contar - Adaga de Lete, Punhal de Cócito, Bastão de Flegeonte, Arco de Estige e a Lança de Aqueronte, cada uma com uma propriedade única e específica.
-E o que essa tal lança faz?
-Uma barganha - respondeu mantendo os olhos fixos no horizonte, a voz entrelaçada com um tom sombrio que até ele se surpreendeu pela frieza que carregava. - Caronte transporta mortos pelo rio por uma moeda de outro. A lança exorciza uma maldição em troca de uma vida.
-Se eu tivesse escolhido ela, teria me avisado sobre isso? - Toji perguntou, parando de andar por um segundo e encarando as costas de [Nome] que se afastaram.
-Quem sabe.
N/A: Algo soa familiar para alguém? kakakakaakakaka Sim, essa história se passa no mesmo universo de Sýndesis. SURPRESA!
Estou adiantando o capítulo porque... Natal né tem que ficar de social e tals não sei qual vai ser a minha disponibilidade.
Mas ta aí o da semana!
Até a próxima, Xx
*Nota: 10 de Janeiro, 2022
Chegou ao meu conhecimento que a "lança de aqueronte" existe num jogo chamado 'Conan Exiles'. Na época de escrita não tinha ciência sobre essa informação, os nomes foram montados através de pesquisa e foi uma coincidência (uma tanto quanto infeliz devo dizer).
Não possui semelhanças além do nome, que será mantido, mas fica devidamente registrado a já existência do termo. No jogo Aqueronte é um reino de feiticeiros enquanto aqui é ligado mesmo ao rio do submundo.
Conan Exiles é um videogame de sobrevivência desenvolvido e publicado pela Funcom para Microsoft Windows, PlayStation 4 e Xbox One. Lançado em 8 de Maio de 2018.
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