Doce Delírio
— Por quanto tempo planeja ficar me olhando? — os olhos de Toji abriram de uma vez e ele se sentou na cama, deixando que o lençol caísse até sua cintura. Os braços se alongaram e ele levou as mãos até o rosto, ajeitando os cabelos bagunçados para trás.
— O suficiente para eu decidir se gosto de você vivo ou prefiro morto — respondi ainda apoiada na porta do banheiro. Sem me mexer.
— Chegou numa resposta? — ele se virou para pegar algo caído ao lado da cama, expondo os músculos das costas e da lateral.
— Não, os dois tem prós e contras. — dei alguns passos para a frente e me sentei na cama para colocar meus sapatos —, preciso olhar os arredores da escola. Pode fazer o que quiser, só não mate ninguém.
— Não posso garantir.
Balancei a cabeça e andei em direção a porta, o deixando para trás. Pinxie tinha me fornecido um mapa breve de algumas localidades em que poderia observar os arredores da escola. O encontro de Minori com o tal informante é em dois dias, planejo usar hoje para ter ciência das ruas, caminhos, frequência de entradas e saídas. Seria um trabalho de inteligência.
Servia também para eu clarear um pouco a minha mente em relação aos meus sentimentos, a realidade era uma que eu realmente não gostaria de aceitar. Porém, não me parecia a pior das alternativas, a princípio parecia interessante ter alguém ao meu lado. Não precisamos nos amar de maneira intensa, mas para mim, que nunca tive esse sentimento quente por perto; parecia o suficiente.
Era divertido, na maioria das vezes, trocar algumas frases cruzadas com Toji. Geralmente os homens que esquentaram minha cama se deixavam levar e não retrucavam. Ter alguém que respondia às provocações com o mesmo tom e intensidade tornava a experiência mais interessante. Existia um charme perigoso ao redor de Toji que era cruel e naturalmente incita a curiosidade de qualquer mulher, estar ao seu lado era como estar com uma granada na mão e não saber o momento que ela iria explodir.
E o mais surpreendente é que eu não estava me importando.
Fora algumas horas que passei andando pela cidade, prestando atenção no que estava a minha volta e ocasionalmente refletindo sobre alguns aspectos de minha vida. As mãos nos bolsos, passos firmes, era só mais uma no meio da multidão, diferente de Tóquio que tinha prédios tecnológicos para todos os lados Kyoto mantinha um ar tradicional. As ruas eram estreitas, prédios históricos e muitos turistas.
Era fácil de reconhecer os funcionários da escola uma vez que poucos vestiam preto, os botões também faziam sua magia na hora da identificação. Não vi muitos, tão pouco qualquer outra pessoa com energia amaldiçoada.
Já era meio-dia quando me permiti chegar numa área comercial, desesperada por colocar algo em meu estômago, mas sendo eu não seria tão fácil assim.
— Ei, gracinha, que tal um pouco de diversão por umas notas? — havia um grupo de homens numa viela lateral, riram como se fosse se aquela fala baixa fosse algo para se orgulhar.
Ignorei e continuei meu caminho, não precisava e não daria atenção para quem não merecia. Não contentes com a minha ação, eles me cercaram.
— Onde pensa que vai?
— Seguir o meu caminho, então, se me dá licença.
Tentei passar por eles, mas dois colaram os ombros me impedindo. Respirei fundo — Escuta se não quer que seu nariz entre no seu crânio para nunca mais sair, eu sugiro que me deixe passar.
— Irritada? Acha mesmo que pode dar conta de todos nós?
— Com uma mão nas costas — tombei a cabeça pro lado sorrindo. O suposto líder olhou para algo nas minhas costas e num instante vi alguém sendo jogado aos meus pés, Toji acabara de se convidar para a conversa.
— Eu disse para não matar ninguém.
— Ele está vivo — se justificou se colocando ao meu lado, a mão encontrou apoio na base da minha coluna e me guiou para fora da roda. Os homens não disseram nada, ao menos para isso foram inteligentes.
Descemos a rua tranquilamente escolhendo um restaurante para podemos almoçar, como se fosse a coisa mais comum do mundo.
— Porque você sempre está metida no meio de algo? Preciso começar a ficar do seu lado 24 horas.
— O que eu posso fazer? Parece que homens perdem a capacidade de pensar quando veem uma mulher bonita.
— Pode começar usando isso aqui — ele tirou um anel do bolso do casaco, minha aliança de casamento. Só então percebi que não estava a usando, nas nossas viagens se tornou algo comum, mas tirei pela manhã a fim de refazer a faixa selando a maldição em minha mão.
Minha mão esquerda estava apoiada na mesa, Toji a pegou e colocou o anel em seu lugar original — Ao menos vão evitar você.
— Como se isso fizesse alguma diferença — respondi —, duvido que fosse um sinal para você não se deitar com mulheres casadas.
— Apenas as que me procuraram, e insistiram.
— Onde está a sua? — questionei vendo que o anel que pertencia a ele também não estava em seu dedo. Um pouco desconfortável, ele alcançou o bolso da calça, me mostrando o pequeno objeto de ouro, em seguida pedi o objeto e também a sua mão. E fiz o mesmo, num instante voltamos a ser um casal. Marido e esposa.
Ainda sem soltar sua mão a medi contra a minha, o contraste era evidente, meus dedos eram mais finos e menores. Toji me encarou com curiosidade e logo soltei sua mão, focando no cardápio, fizemos nossos pedidos e silêncio voltou a reinar.
— Sabe normalmente as pessoas conversam quando comem juntas. Especialmente num restaurante.
— Não estou acostumada —, me ajeitei na cadeira, sem conseguir esconder um nervosismo.
O homem sorriu se apoiando na mesa — Não me diga que esse é seu primeiro encontro?
Maldito, o rubor em meu roso denunciou as verdades que eu gostaria de esconder.
— Quem diria, não precisa se importar em me impressionar. Já somos casados.
— Sabe aquela dúvida que eu estava de manhã? Estou começando a me decidir — retruquei —, onde prefere que eu jogue suas cinzas?
Seus olhos verdes miraram os meus com diversão, os cantos de sua boca mantinham um sorriso sarcástico disposto — Não precisa ficar envergonhada esposa, já passamos por outras situações, algo como isso não deve ser muito.
— Desculpe se você já teve muitos desses encontros na sua busca por tirar dinheiro e outras vantagens de idiotas — olhei para o lado, Toji pegou a minha mão por cima da mesa, puxando levemente em sua direção e depositando um beijo na parte superior.
— Não acho que em todo Japão existe alguém tão bonita quanto você.
Não consegui segurar a risada — Jura que é com isso que elas caem nos seus truques? Mentiras deslavadas?
— Caíam — apontou —, para elas realmente era mentira. Isso não se aplica a você.
— Boa tentativa.
— É verdade.
— Então me diga o que você gosta em mim? — perguntei por fim, o olhando intensamente enquanto esperava sua resposta.
— Seus olhos, sua força, a maneira que não abaixa a cabeça para ninguém, mas continua tendo um coração gentil para aqueles que julga que merece — nada havia além de sinceridade em sua voz, pura e simples —, sua língua afiada me diverte, mas não sei se necessariamente gosto dela. Principalmente quando o veneno é direcionado a mim.
— Faz por merecer — limpei a garganta, no peito o coração ficou animado em ouvir tais depoimentos, batendo forte e desenfreado.
— Sou um canalha por natureza, o que posso fazer?
— É mesmo? — questionei — Não acho que somos tão diferentes assim, duas famílias de merda, duas vidas de merda... Disse sobre eu me preocupar, mas ainda que de maneira um pouco rude e deturpada cuida de Hatsu e as garotas. Não é nada diferente do que eu faço.
Ele resmungou em resposta, nossas comidas chegaram e a conversa foi momentaneamente paralisada. Não foi até que saímos que trocamos novas frases, isso depois de num gesto inusitado Toji pegar minha mão e entrelaçar os dedos com os meus.
— Já que estamos aqui, não faz mal olhar um pouco mais. Tem um caminho famoso, turistas parecem gostar disso.
— Se você diz.
Caminho do Filósofo é justamente o que ele diz, um caminho que liga os templos de Ginkaku-ji e Eikan-do, estávamos no começo de Abril, o início da primavera japonesa, o que significava que as árvores de flores de cerejeira estavam cheias. O caminho era delicado, e era só um caminho, nada tinha de especial nele, porém continuava sendo uma das coisas mais belas que vi em minha vida.
— É bonito — comentei —, não pensei ter um lugar assim na cidade.
— Ouvi uma velha comentando, pensei que poderia gostar — a mão livre de Toji se ergueu até a nuca mexendo nos fios de cabelo escuros.
De repente, apesar de estarmos caminhando de mãos dadas, surgiu um constrangimento novo e sorrateiro. Aquela situação era inusitada para ambos, logo nos prevenimos de dizer algo que a tornasse desconfortável, entre nós havia apenas um silêncio gentil que acompanhou nossos passos até o templo de Ginkaku-ji, construído em meio as montanhas verdes, parecia ter saído diretamente de um quadro antigo.
Escadas de pedras cinzas nos levavam para a parte mais alta do terreno onde tinha uma bonita vista, também conhecido como "Pavilhão Prateado" o templo foi construído com a finalidade se servir como refúgio durante a guerra e deveria ter sido coberto de prata, mas isso acabou não acontecendo.
— Obrigada — disse assim que paramos num ponto mais afastado com pouco turistas —, deve ter sido o mais normal que vivi em anos.
— Não posso prometer ser bom para você [Nome], mas estou disposto a tentar.
Toji virou para ficar de frente para mim, ajeitou uma mexa de cabelo atrás da minha orelha e se inclinou em minha direção. O beijo selado não foi arrebatador e intenso como em todas as outras vezes, mas calmo e profundo.
Pela primeira vez desde que tudo começou, não odiei o casamento, quem sabe ainda existia uma chance para ser feliz.
N/A: Pronto rebeldes sem causa, estamos de volta a programação normal. Um novo capítulo saí às 19 horas HOJE (19/08). Olha que belezinha, mas os meus leitores são mimados demais da conta viu? Nadi ama Nadi cuida.
Lembrando que a atualização regular dessa fic é Semana sim e Semana não, então a próxima só entre 2 e 3 de Setembro.
Mas, caso se interesse, Immortals e CF (ambas de Haikyuu) também serão regulares. Assim Como Lito, de Boku no Hero.
Também extendo o convite para ler o meu original fantasioso, "Entre sol e lua sou eclypse".
É isso vejo você a noite. Xx
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