Distância



— Ele é tão fofo!

— Parece com a madame [Nome]!

— Você é cega? Ele é a cara do Toji, e não tem nada de fofo nele.

Taleyah, Tani e Yuina faziam um meio círculo envolta do berço para observar o novo integrante da casa com certa animação. Mesmo sendo um bebê recém-nascido, ele me passava a impressão de não gostar de estar no centro das atenções.

Depois de Taleyah dar sua opinião sobre a aparência de Megumi, Toji colocou a mão em sua cabeça fazendo menção de explodir seus miolos. Coisa que a fez entrar em pânico e segurar seu antebraço com as duas mãos enquanto as outras duas garotas seguravam risos pela cena.

— Consigo ver perfeitamente tanto o mestre Toji, quanto a senhora — Hatsu se aproximou do berço fazendo os quatro ficarem quietos —, um por fora, outro por dentro. Mestre Toji não era uma criança quieta dessa maneira.

Eu, que estava sentada numa poltrona no canto do quarto, fiquei curiosa com o comentário repentino.

— É mesmo Hatsu? — questionei — O que mais tem de informação? Já que Megumi nasceu a cara do pai, talvez tenha que me preparar para lidar com os mesmos maus-hábitos.

— Se eu não te conhecesse diria que está com ciúmes — Toji enfim soltou Tale quando seus olhos se fixaram nos meus.

Apoiei o braço na poltrona e olhei para a janela — Ciúmes, não. Injustiçada talvez, não foi você que ficou carregando ele por inúmeros meses. — Reclamei —, mas suponho que seja melhor os meus traços de personalidade do que os seus.

Hatsu colocou os braços por cima do berço pegando o pequeno no colo e apoiando no corpo — Mestre Toji não gostava que o pegassem no colo, em pouco tempo começou a se mexer, e quando teve força o suficiente para ficar de pé não parava quieto. Meu senhor não foi uma criança particularmente sociável.

Um riso seco escapou da minha boca — Consigo ver isso.

Tale ajeitou os cabelos bagunçados — Como você era como criança [Nome]?

— É uma boa pergunta — bati os dedos no braço da poltrona tentando me recordar de algo da minha infância que não fosse relacionado a uma experiência ruim. — Minori sempre foi a mais ativa, então suponho que fomos assim desde que nascemos.

— Ah! Falando nisso, Haruna e Kon estão de olho para ver se surge uma notícia dela, mas faz meses que não dá as caras.

Taleyah disse isso sem saber do pequeno encontro que tive com minha irmã pouco antes de Megumi nascer. Agora com a criança no mundo, preciso me preparar para qualquer situação. A energia amaldiçoada de Kiran ajudou meu corpo na recuperação, com exceção da mudança corporal, é possível que eu possa voltar a me mexer como antes.

Principalmente, lutar como antes.

Toji me olhou com um rosto sério, provavelmente tendo uma ideia do que passava nos meus pensamentos, e talvez compartilhando em algum nível da mesma ansiedade. Pinxie é um pouco mais perceptiva do que Tani e Yuina, então conseguiu ler nas entrelinhas a informação escondida entre nós.

Ela teria nos questionado. Isso se, Cérbero não tivesse aparecido no quarto trajado com um avental rosa e uma mamadeira. Desde que ele ganhou um quarto fixo na casa, o velho parece realmente feliz, além de ajudar Tani e Yuina na cozinha, não é estranho encontrar ele conversando com Hatsu numa tarde tranquila no jardim.

Apesar de acompanhar o assassino de feiticeiros quando necessário, como seu fiel escudeiro, Cérbero parece estar vivendo seu melhor momento quando está fazendo alguma atividade dentro da casa.

— Porque estão todos reunidos aqui? — ele chacoalhou a mamadeira — Perdi alguma coisa?

— Não, as meninas só engataram numa conversa intensa sobre quem o Megumi parece mais.

O homem fez uma careta, olhou para o bebê no colo de Hatsu, em seguida para Toji, e por fim para mim — É meio óbvio, não é?

Balancei a cabeça quando a discussão recomeçou — agora com Cérbero participando ativamente na conversa com as meninas —, e observei ele entregar a mamadeira para Hatsu do outro lado do quarto e sair com as jovens levando a discussão para o lado de fora.

A mais velha ajeitou o bebê no colo, me forcei a fechar a mão em punho com a cena, mirando o braço com a maldição de Amarate com o mais profundo desgosto.

Kiran esteve nos observando de perto nos últimos dias, completamente fora do seu comportamento normal, e de acordo com a kitsune manter a marca da Imperatriz do Fim longe do bebê era a melhor opção. Seus cantos falam sobre perversos, mas num bebê sem qualquer tipo de noção de certo e errado, com uma energia amaldiçoada intata e crescente, sem determinação para lutar contra uma potencial possessão, é outra situação.

Por esse motivo, por esse medo de não saber o que pode acontecer, fui obrigada a me manter mais distante do que realmente gostaria. Por menos tempo do que queria, sempre na companhia de alguém.

Nas noites escuras, quando a ansiedade surge arrebatando o sono, fervilhando a mente com pensamentos, só me restava vigilar. Meu desejo mais profundo era de segurar Megumi perto de mim, o proteger, e por mais que a minha mão se levantasse sempre parava no meio do caminho.

Durante essas madrugadas repletas dos mais variados pensamentos, acabei ganhando uma companhia além de Kiran.



O vento soprava cortante, frio, batia contra as paredes da casa fazendo cânticos quando encontrava suas brechas. Meus pés andavam pelo quarto de maneira silenciosa, ocasionalmente fazendo o caminho entre a poltrona e o berço para observar o pequeno que dormia tranquilo.

A yokai em sua forma original, livre da anatomia humana, estava embolada nos pés de Megumi com suas caudas jogadas para fora do berço com a cabeça apoiada próxima a ele.

— Sua raposa está aqui de novo?

Virei a cabeça para a porta, Toji parecia ter acabado de acordar uma vez que seus cabelos estavam bagunçados e a voz um pouco mais rouca do que o comum.

— Sim, não sei dizer exatamente o que está motivando essa mudança de comportamento. Já que comigo ela nunca foi tão dócil — voltei a olhar para os dois deitados no berço —, deve ser algo relacionado aos instintos. Porém, não estou reclamando, Kiran tem sentidos extremamente aguçados.

Senti algo ser jogado nos meus ombros e vi a coberta em que estava enrolada enquanto sentada na poltrona. Mas diferente de uma cena de filme de romance, o protagonista não colocou o pano sobre os meus ombros de maneira cuidadosa, e sim jogou de uma maneira quase desleixada.

— Obrigada — segurei as pontas e ajustei nos ombros —, não foi só Kiran que mudou as atitudes.

— Posso dizer o mesmo de você — Toji ficou parado do meu lado —, aceita a minha companhia sem reclamar agora.

Cruzei os braços, fazendo da coberta um casulo — Você é a única pessoa que pode ficar perto de mim se correr risco com Amarate.

— É por isso que agora me deixa te abraçar?

O peso dele se fez presente contra meu corpo, os braços se cruzando na minha frente, firmes me fazendo sentir segura, não pelos motivos corretos.

— Não — senti seus músculos de contraírem, Toji apoiou o queixo no meu ombro para escutar o restante da minha fala — Tira de mim a vontade de alcançar o que eu não posso, me lembra que estou presa a uma vida manchada com aquilo que existe de pior. Tem poucos centímetros entre nós, mas uma distância infinita ao mesmo tempo. É como ver a saída, querer ir até ela, mas ter medo do que vem depois.

— Está me usando de camisa de força então?

— Algo como isso — respondi e continuei —, sei que vai me impedir se eu tentar qualquer coisa com Megumi.

— Depois que a situação com Minori se resolver, você provavelmente não vai desgrudar dele. Terá tempo para compensar.

Desviei a cabeça para a janela, o vidro suado por conta do frio, e também pelo sereno da madrugada. As pequenas gotas acumuladas se juntavam e escorriam lentamente até chegar a base.

— Espero que sim.




— Madame [Nome].

A voz me chamando me puxou de volta a realidade, voltando as memórias feitas nas madrugadas de volta para seu devido lugar no fundo da minha mente.

Ergui a cabeça e Hatsu estava próxima a mim, puxei de uma gaveta uma luva imbuída em encantamentos e a vesti. Conseguindo pegar pela primeira vez em algum tempo meu filho no colo. Nesse pequeno momento, todo restante parecia desaparecer, minha total atenção voltada para o pequeno coração de Megumi batendo próximo ao meu.

— Me sinto culpada por pedir tanto de você Hatsu, isso quando devia estar aproveitando uma vida tranquila.

— Não coloque palavras na boca dos outros, minha senhora, eu estou muito feliz vivendo exatamente dessa maneira

A mais velha colocou a mão no topo da minha cabeça e se afastou em seguida — 30 minutos, é o que posso garantir.

Minha gratidão foi silenciosa, aproveitando para gravar cada segundo daquele momento na melhor parte de mim. Resmungando uma música qualquer para embalar os sonhos do meu pequeno.

Enquanto isso, nosso guarda-costas, também conhecido como pai do Megumi, estava encostado com o ombro próximo à janela olhando para o lado de fora com certa preocupação.

— Essa é uma expressão que você não costuma ter no seu rosto — comentei.

— Estou pensando.

Soltei um riso baixo — Isso por si só já é surpreendente.

Toji trocou o peso da perna — Você devia começar a treinar, não sabemos o que pode acontecer daqui para frente. Minori pode aparecer a qualquer instante.

— Pensei ser o melhor lutador existente na comunidade jujutsu atualmente, está confirmando que precisa da minha ajuda.

O homem se desencostou e deu alguns passos na minha direção — Também, sou forte, mas não sou dois. Entre vocês e o restante dos moradores dessa casa, sabe quem eu escolho.

A confissão repentina me fez recuar nas falas tortas por um instante, reconhecendo a razão por trás de seus argumentos além dos sentimentos envolvidos na questão. Respirei fundo e ergui a cabeça para encarar seus olhos.

— Tem razão, mas talvez eu precise de ajuda para voltar ao eixo.

Ele riu e se virou — Disso tenho certeza, seu equilíbrio ainda continua uma merda, esposa.

Cerrei os dentes aceitando o desafio. — Vamos ver se vai dizer isso depois que eu chutar a sua bunda, de novo, marido.







N/A: Hellou! Espero que tenham gostado! Comentem se possível, vai me dar uma animação extra nesse final de história.

Por hoje é isso.

Obrigada por ler até aqui!

Até mais, Xx!

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