Deusa da Primavera



— Isso deve ser o suficiente para você.

Kon acendeu a luz da entrada, revelando uma sala pequena com uma cozinha ainda menor e duas portas, respectivamente um quarto e um banheiro. Uma moradia comum escondida entre muitos prédios, estratégica o suficiente para que ele tivesse fácil acesso as vias de transporte e para que também pudesse controlar seus movimentos.

Como combinado, Toji recebeu uma parcela de adiantamento e o trabalho foi oficialmente iniciado.

O coreano jogou um celular em sua direção, o aparelho foi pego com apenas uma mão num movimento rápido — Vou te contatar por esse número, não o perca. Cérbero vai te acompanhar nas saídas, apesar de as bestas serem bem fáceis de se achar, o mesmo não acontece com as outras categorias.

— Suponho que vai pedir tempo — Toji abriu a lista de contato para ver apenas dois números salvos na lista de contatos, o do ex-detetive e sua "babá" canina de três cabeças.

— Se achar pessoas fosse tão simples, não estaria fazendo um trato comigo para encontrar sua mulher. — O homem se deu permissão para sentar no sofá velho, puxando da mesma caixa branca que levava no paletó, um cigarro. Esfregou de leve o filtro sob o lábio inferior e o prendeu entre eles antes de o acender com um isqueiro.

— Apenas o suficiente para contatar alguns dos meus. Tem alguma informação que pode ser útil para achar a Yokai? Não podemos depender apenas das câmeras da polícia e um deslise — comentou —, lugares que frequenta, o que gosta, qualquer coisa.

Tentou puxar em sua memória apenas para ser recebido com uma verdade amarga, ele sequer a conhecia. Quem era a mulher com quem havia se casado? O que sabia se limitava aos momentos de intimidade e as provocações que trocavam quando juntos. A história da sua odiosa família e sobre a foto que tinha em seu apartamento, que também não fazia ideia de onde ficava.

— Ela não deve estar sozinha, tem essa garota que fica com ela. A última vez que a vi estava de cabelo rosa, Taleyah ou qualquer nome parecido com isso, é uma hacker e o motivo do Mundi estar com problemas.

— Apenas isso? — questionou o homem — De meses que ficou com sua esposa tudo que sabe é que ela não deve estar sozinha?

— Não tive tempo para ficar conversando — rebateu de maneira seca. Mentiras, ele realmente não se importava com os gostos pessoais, o foco de seu interesse no começo era apenas físico, o que realmente preenchia a alma da mulher não o importava. Passava os dias longe cuidando de seus assuntos com os contratantes e quando voltava quando não recepcionado pela língua afiada a encontrava dormindo.

Kon olhou para ele com certa pena, ponderando se estava fazendo algo de bom ajudando ele a encontrar a esposa. Os problemas pareciam ser mais profundos do que realmente aparentava, tragou mais uma vez o cigarro deixando que seus pensamentos se dissipar como fumaça, também não cabia a ele se meter no assunto de pessoas casadas.

— Se lembrar de mais algum detalhe me avise — ele levantou de uma vez —, Cérbero vai avisar quando tivermos algo, no meio tempo sugiro que mantenha a discrição.

Não é como se Toji tivesse muitos compromissos para atender de qualquer forma.

— Tem mais uma coisa — o assassino de feiticeiros o chamou mais uma vez —, quero que dê uma olhada num cara chamado Corvo. É um feiticeiro com técnica de reversão.

— Eu o conheço — Cérbero comentou e em seguida tombou a cabeça —, não é uma pessoa muito confiável. Vende informações para quem pagar a maior quantia, é um dos piores tipos que existe de bestas.

— Besta? Quer dizer que ele trabalha para o Mundi? — Toji o questionou, em duas situações em que [Nome] esteve ferida procurou o homem, se era um dos capachos do dono do submundo. Ela poderia estar com problemas.

— Ah, trabalhar com todas as letras, não. Só que eles tem algum tipo de acordo.

— Ele tem algo a ver com a Yokai? — Kon questionou já com a mão na porta.

— Se [Nome] tiver problemas, irá até ele — a frase deixou sua boca com amargor se recordando das visitas e insinuações feitas. Será que a mulher já havia o encontrado? Ela era forte, mas pelo estado que ficou o parque sua luta com Minori foi brutal, mesmo que a raposa estivesse no controle a sua esposa poderia estar ferida.

Toji trancou o maxilar pensando que o idiota poderia se aproveitar da situação para tomar o que era seu. [Nome] poderia estar com tando ódio dele que se deixaria levar pela situação e terminaria a noite com ele, ou melhor, a mulher usaria o homem a sua vontade. Ela não era facilmente persuadida a tomar ações, o que fazia sempre era por suas próprias vontades.

— Vamos dar uma olhada nele — o ex-detetive concordou —, considere um favor.

Do lado de fora encarou a porta do cubículo, Cérbero que o acompanhou o olhou com exaspero. Se aproximando e colocando a mão na frente da boca para falar.

— Sei que fui eu que sugeri, mas realmente é uma boa ideia? Quero dizer, ele não parece o tipo de cara que faz as coisas do jeito que quer?

Kon riu apagando a bituca do cigarro no poste de luz antes de o jogar na beira da rua — Sempre é bom manter alguém como ele no seu lado bom, independente de seus atos.

Olhou mais uma vez para trás antes de seguir para seu carro estacionado do outro lado da rua, um sedan de cor preta e brilhante.

— Toji não está nesse negócio por Mundi, ou pelo dinheiro — comentou para a companhia —, e sim pela mulher.

— Com tantos milhões envolvidos? Por quê?

A porta do carro se abriu — Olhe para o que seu casamento foi um dia e terá a resposta.

Sem nada mais a dizer, se sentou no banco do motorista e partiu os deixando para trás, ainda tinha mais coisas a resolver no dia e entre elas estava uma reunião com seu cliente. Os clientes, é verdade que quando se referiu ao grupo no restaurante deu a entender ser apenas um. Na realidade, aqueles que desejavam destronar Mundi, eram todos seus inimigos juntos. Talvez depois do serviço eles se voltassem uns contra os outros, se lançando nas gargantas como lobos.

O carro percorreu as ruas com dificuldade, parando em engarrafamentos e semáforos. Uma vida caótica presente apenas nas grandes metrópoles, portanto quando chegou ao lugar combinado estava quase atrasado. Kon estacionou e não demorou até que estivesse numa sala escura rodeado de cadeiras luxuosas e silhuetas parcialmente desconhecidas.

— Shiu Kon — um deles começou, um cheiro forte de charuto o atingindo logo em seguida —, estamos ansiosos para o novo horizonte que nos aguarda. Espero que a essa altura já tenha contratado nosso nobre cavaleiro.

— Sim, o melhor deles — respondeu tirando o cigarro do bolso, o coreano apenas aguardou as vozes cessarem —, posso assegurar aos senhores que o serviço será executado, é de minha total responsabilidade e confiança.

Tentou pescar o isqueiro no bolso, apenas para se lembrar que acabou o deixando no carro, na sua frente uma mão enluvada estendeu uma chama. Ele se inclinou na direção para acender o acender, dedos finos se apresentaram quando iluminados pela chama alaranjada não eram os de um homem com certeza, também sentiu um perfume doce característico de uma mulher.

Sabia que o grupo era extremamente elitista e machista, não seria fácil para uma mulher se colocar no meio deles de maneira tão fácil. Ainda mais num tempo tão curto, esteve com o mesmo grupo a menos de uma semana atrás.

O instinto cultivado nos anos de polícia o incomodou, tinha um palpite que mesmo aquele seleto grupo não estava mais seguro.

— Obrigado — agradeceu por fim tentando pegar mais alguma característica que pudesse o ajudar na identificação. Era uma figura esguia e silenciosa, fora o perfume nada conseguiu.

Limpou a garganta e concluiu — Assim que conseguirmos encontrar o esconderijo do Mundi, o serviço será concluído.

— Já que-

— Um momento — um dos homens chamou limpando a garganta, Kon conseguiu ouvir barulho de roupas se agitando no escuro —, eu... Me sentiria mais seguro em saber quem é o contratado.

— Desculpe, mas conhece meus meios, o serviço será feito, é só o que posso informar.

— Num mundo como esse, apenas sua palavra não é o suficiente — finalmente ela havia se revelado, estridente e fina. Quase num tom cantado, havia algo na mulher que fazia os pelos da sua nuca eriçarem.

— Kon tem a minha permissão para atuar do jeito que quiser — a voz firme e esterna de um homem que ainda não havia se pronunciado soou calando todos os outros —, controle sua companhia, uma vez que nem deveria estar aqui para começo de conversa.

Poderiam ser um grupo, mas a ordem da cabeça principal era absoluta.

— Voltaremos a nos encontrar em duas semanas. Dispensados.

Foi uma boa decisão não falar todas as informações, quando Kon voltou para o carro ficou pensando na sensação estranha que estava o acompanhando, do lado de fora aguardou no carro por algum tempo. Observando o hotel luxuoso onde as reuniões eram feitas de maneira secreta, veículos de luxo entravam e saíam, mas um em particular chamou sua atenção. A cor prata da marca importada estava manchada por algo mais escuro, uma névoa rastejante que poderia apenas pertencer a uma maldição.

Ele deveria tomar cuidado a partir de agora, pois tinha a sensação de estar se aproximando da senhora chamada morte.

Enquanto o ex-detetive se preocupava em manter as informações restritas aos seus interesses, e ponderava sobre suas novas descobertas. Toji se aventurava nas ruas.

O famoso assassino de feiticeiros passou a tarde em silêncio, pensativo, tinha feito muito isso nos últimos dias. Pensar. Tentando se descobrir, e entender o que realmente era, quem realmente é.

As mãos estava dentro de um casaco fino, quando passou por um relógio que marcava a temperatura, viu que os números que indicavam 11 °C, continuou andando sem se importar com o frio de primavera. Passou pela frente de um bar muito sugestivo, cheio de luzes vermelhas em neon seus passos cessaram enquanto encarava pelo beco a entrada.

Franziu o nariz quando sentiu o cheiro conhecido da boemia, se virou e foi embora. Já não era mais o tipo de lugar que ele queria frequentar, por fim acabou num pequeno restaurante com um prato quente, sozinho.

A televisão do estabelecimento estava ligada num canal qualquer, falava sobre beisebol e outros esportes. Apesar de ser atlético, ele mesmo nunca havia se interessado por outra coisa que não fosse arte marcial. Também parecia idiota ficar correndo atrás de uma bola, ao menos era sua opinião.

Com o rosto apoiado na mão olhou pela vitrine ao lado, retomando suas reflexões.

A família de [Nome], tendo alguém tão promissor com seu sangue, por qual motivo não a enviaram para a escola jujutsu? Ele não sabia se comprava muito bem toda a história de ser aprisionada porque a irmã fugiu de um compromisso.

Se seu casamento fosse apenas pelo dinheiro, ela poderia fazer muito mais trabalhando legalmente pela escola. E seus pais, eles possuíam técnicas também? O velho Zenin disse sobre ser algo raro a possessão de yokai, e com Minori metida com maldições de nível especial, algum segredo estava guardado no sangue que corriam em suas veias.

— Se eu fosse sua esposa, nunca o deixaria sozinho dessa maneira.

Virou o rosto para ver uma mulher sentada na mesa em sua frente, haviam dois lugares vagos entre eles, mas ainda assim estavam se encarando.

As pernas nuas se escondiam numa mini saia de cor preta, sapatos altos e brilhantes estavam em seus pés. Tinha um casaco escuro cobrindo seus braços com uma touca de pelos caída envolta seu pescoço, e na frente a blusa colada possuía um decote em forma de 'v' profundo. Ela fedia como as pessoas paradas no beco do bar algumas quadras para trás.

— Que bom que não é — respondeu sem dar bola para a mulher, voltando seu hashi para dentro da tigela pescando de dentro um macarrão já encharcado.

Sentia o olhar malicioso para cima de si, então manteve os olhos focados no alimento. "Como se uma aliança fosse impedir alguma coisa", concordava com [Nome], a garota não devia ter mais de 19 anos e estava ali em sua frente o encarando como se fosse um pedaço de carne.

Só que corpo que ansiava em sua cama era outro.

Carma viera para morder sua bunda, estava vivendo todos os clichês que fazia as pirralhas de Hatsu suspirarem. Mas novamente, nada havia para falar, merecia todos os castigos reservados para si.

Limpou as mãos num guardanapo de papel e jogou na tigela se levantando em direção a saída, os pedidos eram pagos antecipadamente, logo, nada devia ao estabelecimento.

Ignorou a garota que o chamou no momento da saída e fez seu caminho de volta a moradia, saiu apenas para tomar um pouco de ar. Não tinha motivos para ficar ali.

Saltos soaram as suas costas e ele se virou para ver a menina correndo em sua direção.

— Você é malvado por me fazer correr dessa maneira — disse com manha fazendo um bico exagerado.

— Pare de me seguir e não precisará correr.

Ela ajeitou os cabelos e ajustou a aparência no reflexo do vidro de um carro, suspirando alto em seguida — Não foi esse tipo de cara que me falaram que você é, desde quando o assassino de feiticeiros é tão chato?

As coisas mudaram um pouco depois dessa fala, até mesmo sua postura e jeito de agir. Era alguém completamente diferente.

— Quem é você?

— Estou aqui para te ajudar — ela respondeu.

— Não foi o que perguntei — Toji alinhou seus pés com punhos preparados no casaco, ele não iria perguntar uma segunda vez, e ela percebeu isso.

— Kon me disse onde te encontrar, mas não que era tão sem graça. Se quiser encontrar Hades e Minos, vai precisar de mim. — seus passos se aproximaram — e antes que volte com toda aquela baboseira de "não foi o que eu perguntei" sou aquela que foi arrastada para uma vida de miséria sem consentimento.

— Diga a Cérbero para me buscar amanhã pela manhã — ajeitou o casaco na frente do corpo antes de andar na direção oposta —, a propósito. O nome é Perséfone.








N/A: Hue hue

Obrigada por ler até aqui, me deixe saber seus pensamentos! Não tem mais muitos personagens a serem apresentados, os 4 cavaleiros do apocalipse nesse arco serão Toji, Cérbero, Kon e a Perséfone.

No próximo já avança um pouco o arco dele. Desculpa se está chato, mas é pros Toji[Nome] ficarem separados mesmo T.T

Até a próxima, Xx.



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