De Perna Atada
Estava na pequena área de treino atrás da casa, o chão de terra batida parecia ainda mais seco do que antes e conforme meus pés batiam contra o chão pequenas nuvens de poeira se levantavam.
-Achei que ia me deixar pelo menos tomar café da manhã - comentei apertando a lateral do meu pescoço.
Depois de ter voltado pra dentro da casa não consegui mais do que uma hora de sono até que Toji derrubasse sem querer algum item do quarto me acordando de maneira nada sutil.
Não tinha mais nenhuma sombra do homem do dia anterior, nem do vulnerável e tão pouco o do esquentadinho. Um breve "vamos" foi mais do que o suficiente para me lembrar de sua promessa de treino, e de que a mesma parecia estar sendo levada bem a sério.
-Não quero correr o risco de você vomitar restos em mim - respondeu com a já conhecida voz tediosa.
Toji estava de costas e andava de maneira bem tranquila, o sol mesmo sendo matinal brilhava forte indicando que um dia de temperaturas elevadas viria pela frente. Não vi Hatsu em nenhum lugar por perto, mas ouvi sua voz dando ordens para Tani e Yuina dentro da casa.
Mesmo que não quisesse, não pude evitar de encarar o mesmo local onde pensei ter visto as sombras se moverem horas antes do amanhecer. A sensação agourenta tinha desaparecido, mas restou uma curiosidade dentro de mim que se perguntava se teria sido fruto de minha imaginação ou algo a mais.
-O que está olhando? - a voz do homem soou ameaçadoramente próxima me fazendo dar um pulo por não ter percebido sua aproximação sorrateira. Olhei para o lado para ver que seu rosto estava com uma expressão zombeteira e cínica, dei um passo para trás colocando algum espaço entre nós.
Para minha surpresa Toji tinha se livrado da camisa deixando à mostra seu tronco e peitoral definidos pelos anos de treinamento, cada músculo perfeitamente desenhado como se fizesse parte de uma escultura renascentista e mesmo que não intencionalmente desci os olhos vendo a parte deles que desapareciam para dentro da calça formando um "v".
Ele não se mexeu, e quando voltei a encarar seus olhos esmeraldas o homem parecia estar um tanto quanto satisfeito em me ver observando seu corpo daquela maneira. Me virei puxando um laço do pulso e prendendo meu cabelo no alto, não é como se não estivesse acostumada a ver o corpo nu de um homem, mas o tempo que passei longe de um trazia sensações que subiam pelas minhas costas, e outras partes, como labaredas.
Bati a ponta dos sapatos no chão, vestia roupas simples de treino ou o mais próximo que eu tinha disso. Shorts largos de comprimento até pouco antes da metade das minhas coxas, um top que havia achado nas coisas que recuperei na minha casa antiga e uma camiseta, dada a situação atual até que ela parecia desnecessária.
Cruzei os braços segurando a barra da vestimenta e puxei, talvez um pouco mais devagar do que o necessário, e assim que passei ela pela minha cabeça a joguei para o lado me virando para Toji.
-E então - chamei - Por onde começamos?
O homem subiu os olhos pelo meu corpo sem nenhum resquício de vergonha, e quando alcançou meu rosto deixou que um sorriso de canto moldasse seus lábios.
-Corrigindo sua postura ridícula - ele jogou os braços para trás se alongando - Lute comigo, sem encostar a perna esquerda no chão.
-Que tipo de treino é esse? Não devia me dar alguma coisa mais-
Precisei me interromper quando vi que ele avançou em minha direção com as mãos em punhos, me preparei para defender mas no último momento ele se apoiou no chão mudando a direção do ataque e me passando uma rasteira. Preparei para cair no chão, mas senti um solavanco impedindo.
O braço direito de Toji estava na minha cintura me segurando com força contra seu tórax, nada além do tecido do meu top impedindo nossa pele de se tocar. Seu rosto estava tão próximo do meu que podia sentir o calor tramitando entre eles.
-Eu disse [Nome] - ele apertou ainda mais seu aperto escorregando a mão pela minha perna alcançando a parte atrás do meu joelho e a puxando - Sem usar a perna esquerda.
Num instante ele me soltou segurando apenas minha perna, reclamei quando a parte de trás da minha cabeça bateu contra o chão.
- Qual é seu problema? - Ralhei em seguida e tentei o chutar para longe, entretanto ele segurou com força e tirando uma corda de sabe se lá onde prendeu meu tornozelo junto da minha coxa, mantendo a minha perna dobrada.
-Pronto, deve facilitar - concluiu me soltando de vez e tomando mais alguns passos de distância enquanto me deixava no chão.
Usei os braços para me sentar ainda sentindo a dor na parte de trás da minha cabeça, até que notei o padrão nada comum desenhado na corda - Não acredito que amarrou minha perna com shibari.
-Conhecer esse tipo de nó, diz bastante coisa [Nome].
Franzi o cenho e apoiei minhas mãos no chão antes de levantar, um pouco cambaleante mas conseguindo me equilibrar. Bati as mãos na lateral das pernas limpando a sujeira das mãos - Fui tola de acreditar que esse treinamento seria algo próximo do normal.
-Acredito que a melhor maneira de se aprender é praticando.
-Claramente shibari não é uma coisa que você usa com frequência então. - rebati erguendo o queixo mantendo a postura reta - Está frouxo.
A risada que deixou sua garganta foi baixa e rouca, seus olhos pareciam estar mais brilhantes com o desafio sutil que eu lancei no ar - Vou me lembrar disso da próxima vez.
Mais uma vez coloquei as mãos na frente do rosto, era horrível tentar fazer qualquer ataque então precisava tirar o máximo de quando ele se aproximava. Seja qual fosse o código de honra do homem o impediu de atacar a única perna na qual estava me equilibrando, mas não poupou sequências de socos e chutes na parte superior do meu corpo.
Não foi até ter caído algumas vezes que consegui me firmar no chão de maneira apropriada, foi quando tive a chance de devolver seus ataques com maior intensidade além se somente defender. Sentia as gotas de suor escorrer pela minha lateral e colo se misturando com a poeira que se erguia do chão pelos movimentos rápidos.
Toji parecia estar cada vez mais empenhado em me ver lutando, porque aos poucos sua força foi progredindo e a intensidade dos seus ataques também. Seus lábios se mantiveram curvados durante todo o tempo e pude jurar que o ouvi em certa hora um murmúrio rouco. Recuei com um pulo, literalmente, e abaixei apoiando as mãos no chão e retomando o equilíbrio.
-Você não está animado demais com isso?
-Porque? Está cansada? - ele passou a mão pelos cabelos suados os jogando para o lado antes de avançar em minha direção novamente - Imaginei que alguém como você aguentaria mais tempo.
Bloqueei seu ataque e molhei o canto da minha boca com a língua antes de sorrir - Eu aguento querido, pergunte para o Corvo ele vai dar uma resposta bem satisfatória.
A simples menção do homem pareceu ter despertado algum sentimento primitivo em Toji, a provocação mais do que suficiente para me conceder uma abertura. Puxei a corda da perna e esperei para o soco para a enrolar em volta de seu pulso, a surpresa me permitiu desviar do segundo ataque me escondendo em suas costas, sem perder a chance de a passar o laço frouxo pelo seu pescoço.
Quando ele tentou me alcançar, enlacei seu segundo pulso e puxei, suas duas mãos estavam presas atrás do corpo passando pelo pescoço e forçando sua cabeça para trás. Um pequeno empurrão foi mais do que o suficiente para que caísse de joelhos com as costas viradas para mim.
De duas uma, ou ele quebrava os braços tentando livrar o pescoço, ou quebrava o pescoço tentando livrar os braços, embora eu tivesse a impressão de que não seria um empecilho se ele realmente quisesse sair.
Seu rosto estava vermelho por estar tendo o ar sufocado mas o sorriso curvado em sua boca o deixava com uma expressão intensa e feroz. Tirei os cabelos de seu rosto me abaixando em seguida.
-Eu disse que estava frouxa. - sussurrei próximo ao seu ouvido, não terminando minha pequena provocação por aí depositei um beijo estalado na lateral do seu pescoço.
Minha suspeita anterior se fez verdade quando a corda estourou pela força bruta que ele usou para libertar os braços, é claro que faria isso. Antes que pudesse recuar o pedaço de corda restante estava na minha cintura praticamente me colando contra ele, o homem girou a cabeça e respirou fundo como se precisasse ganhar alguma compostura.
-Você não sabe com o que está mexendo [Nome] - havia quase um ronronar na sua voz, um tom sedutor que cobria seu timbre já naturalmente baixo. Toji puxou a corda ainda mais, propositalmente para que eu sentisse seu membro rijo contra mim, precisei morder o interior da minha bochecha para impedir que um gemido escapasse bem ali a céu aberto.
Estava quase abrindo a boca para responder quando uma presença apareceu, não era Hatsu ou qualquer uma das meninas. Era um homem alto de cabelos compridos, ombros largos e com uma cicatriz na testa.
A expressão de Toji mudou na mesma hora, e soltando a corda da minha cintura se virou para encarar o homem de frente. Era Jinichi pelo que eu sabia, o irmão dele. O outro Zenin pareceu me olhar da cabeça aos pés, parando em pontos bem específicos do meu corpo antes de manter uma expressão de nojo.
-Achei que pararia de ser tão vulgar quando se casasse, mas parece que ainda tem certo gosto para prostitutas. É inaceitável ter uma mulher Zenin trajada dessa forma, como se estar num campo de treinamento não fosse ruim o suficiente.
-E você com certeza sabe como elas se parecem, não é? - Toji rebateu dando um passo pro lado e me escondendo da visão do irmão - Pelo menos minha esposa sabe fazer alguma coisa que não seja ser uma vaca parideira de herdeiros.
Tenho certeza que aquilo beirou um elogio torto, franzi o cenho de leve e olhei por cima do ombro dele. Dava para sentir a energia amaldiçoada do homem, ele não estava aqui por boa vontade.
-O que você quer Jinichi?
-Ogi e Naobito querem falar com você.
Toji resmungou antes de passar a mão pela lateral dos cabelos - Não poderiam ter mandado um servo qualquer?
-Agora - o outro Zenin completou ignorando a pergunta por completo.
Virei a cabeça para o lado, sentindo mais aproximações. Feiticeiros da unidade Kukuru, todos aqueles que não nascem com uma técnica herdada são obrigados a entrar nesse grupo de artes marciais, é dito que os treinamentos brutais acontecem sem parar durante dia e noite.
É claro que no momento que chamasse Kiran não seria um problema, mas Hatsu e as meninas... Elas não teriam chance alguma, eles não seriam misericordiosos o suficiente para poupar uma idosa e duas jovens.
Coloquei a mão nas costas de Toji com intenção de avisar, mas ele virou o rosto me dando um olhar de canto de olho que indicava que ele já sabia. Ele andou a até onde a camisa estava a pegou vestiu e se virou para mim.
Num movimento inesperado me puxou para perto em algo parecido com um abraço e se abaixou para falar no meu ouvido. - Volte pra casa e não saia até que eles tenham ido embora, avise as meninas. Estão fazendo mais do que só nos observando - Jinichi nos olhava com atenção, pronto para reportar qualquer coisa estranha para os superiores e com certeza isso incluía sobre a nossa relação.
-Não me espere voltar - e então da mesma maneira que havia feito antes, ele beijou meu pescoço e me soltou a fim de seguir o irmão.
Podíamos estar trocando socos à alguns minutos atrás, mas quando se dizia ao quesito família existia um ódio compartilhado. Andei até a casa pegando a minha camiseta e subindo os poucos degraus para entrar nela, não antes de olhar para os dois homens uma última vez.
Assim que fechei a porta lateral atrás de mim, as marcações de Kiran apareceram tomando o meu braço.
-Vigie a casa - dei a ordem tendo apenas um fantasma de riso irônico em resposta.
*Como quiser, majestade.
N/A: Hehehe, ui!
Obrigada por lerem até aqui, eu amo demais escrever essa fic, esse ritmo lento dela essas provocações interrompidas. Dá quase pra ver o veneninho escorrendo nas entrelinhas das frases cínicas.
Dois grandes gostosos.
Chegou por aqui do nada e quer saber mais sobre o universo JJK que eu escrevo?
Não deixe de conferir minha Gojo x Leitora e sua continuação Kairós. É dificil, tem sua porcentagem complexa, mas dado as reações compensa bastante e eu também gosto muito dela.
Até semana que vem, Xx!
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