Cinco Segundos
Gritos de todos os lados, não de medo, de excitação. A arena onde as lutas aconteciam era parecida com um coliseu do mundo antigo. Na base, o ringue, e pelas laterais se erguiam arquibancadas. O som ecoava do fundo para o topo vibrando as paredes de cor suja da estrutura. Metal batia, e urros grotescos soavam criando uma sinfonia para o espetáculo da morte.
Porque é exatamente isso que a luta entre Toji e Cinco, o quinto melhor colocado do Tártaro, foi.
A confiança e a força, contra um nome conhecido e uma figura icônica. O Zenin tinha que admitir, o homem tinha um talento. Até mesmo o fez suar o suficiente para alguns fios de cabelos escuros grudarem em seu rosto. Foi a maior quantidade de energia que gastou em meses.
— Achei que fosse melhor — Cinco cuspiu no chão —, veio de tão longe apenas para me fazer um corte.
O homem passou a mão no rosto manchando de vermelho a pele por onde vertia um filete de sangue.
— Seria uma pena acabar com a luta rápido demais, é preciso tempo o suficiente para as apostas — respondeu batendo a ponta do pé no chão, olhando ao redor. Sabia que Kon e Cérbero estavam na plateia, o segundo garantindo seu futuro milionário enquanto o primeiro buscava informações no meio de tantos criminosos.
— Claro, porque agora você não tem a Yokai pra te sustentar.
— Parece que todo mundo aqui gosta demais de falar dela. Não sabia que tinha tantos fãs.
— Mas é claro — Cinco começou a o rodear puxando papo para recuperar o fôlego e a capacidade de explosão —, é a única coisa que parece que desperta algum tipo de sentimento humano em você. Todos sabem da sua família, foi chutado e teve uma vida miserável, e se quisesse lavaria o nome Zenin da terra.
Toji não sabia o motivo daquela conversa, mas deixou que o homem falasse. Quanto mais tempo ganhasse para o ex-detetive, melhor.
— Não faz sentido esconder que venderam a yokai para eles. Conheço um cara que já esteve na cama dela, algumas vezes pelo que sei, apesar da cara de princesa disse que geme como uma vagabunda. — disse ainda andando ao seu redor. — Que gosta de ficar por cima enquanto cavalga num pau grosso. Depois de acabar com você aqui, acho que vou fazer uma visita para ela... Na Grécia.
Cinco sorriu, e foi a primeira vez durante toda aquela conversa que o assassino de feiticeiros vacilou. Aquela informação é confidencial, a rosinha se dedicou muito para esconder seu paradeiro e o de [Nome].
Se ele estava esperando que a provocação lhe desse uma abertura, estava bem errado. Foi no momento em que abriu a boca que Cinco assinou sua sentença de morte. A tendência é que com as emoções descontroladas as pessoas passam a ser descuidadas, mas Toji Zenin não é comum.
Para aqueles vendo a luta de fora, tudo aconteceu em cinco segundos. E o que restou foi uma massa avermelhada indicando que um dia havia uma cabeça junta ao corpo.
Do camarote, junto de Hades, Perséfone precisou piscar algumas vezes para processar o que realmente havia acontecido. A fumaça densa do charuto de Hades preencheu seu ouvido, e a mão subiu por sua perna acompanhada depois de uma risada.
— Era o esperado — disse —, ainda demorou mais do que eu esperava.
— Cinco não era fraco — respondeu ao homem, tentando ignorar as carícias que se tornavam cada vez mais perigosas.
— Mas era um idiota tagarela — o homem se ajeitou para colocar o charuto para longe e puxou a mulher para seu colo, sem se importar com os seguranças ao redor ou a pele exposta pela fenda do vestido. — Você normalmente não se interessa pelas lutas, mas não desgrudou os olhos hoje.
— Tem algum motivo para não prestar atenção? — Hades não podia sonhar do seu envolvimento com Toji. Perséfone correu a mão pelo rosto do homem traçando seus lábios e também os traços elegantes, se ela não sentisse tanto nojo por ele. Poderia se considerar ser alguém de sorte, porque ele realmente se parecia com um deus.
— Não, realmente foi algo para se prestar atenção — ele respondeu puxando as pernas dela e correndo com as mãos pelas curvas laterais até alcançar seu pescoço e atacar de maneira furiosa seus lábios. Não havia nenhum tipo de sentimento romântico entre eles, ela era sua puta favorita, apenas isso.
— Tem algo que quero que faça para mim — Hades puxou a cabeça de Perséfone para trás. Quase caindo para trás, ela precisou segurar no ombro do homem para recuperar o equilíbrio. — Quero que descubra o que o Cinco disse no fim da luta.
— Não importa o que seja — Hades a soltou e a jogou para o lado antes de se levantar —, quero descobrir o que tira aquele bastardo Zenin do sério.
Antes de conseguir perguntar mais alguma coisa, dois caras entraram no camarote. Hades apontou para Perséfone e os dois a pegaram pelo braço. Mesmo pedindo por explicações, o homem, manteve os olhos no fundo da arena onde os restos estavam sendo recolhidos e Toji retirado.
Na tabela exposta, agora ele estava na posição 5.
Hades havia convidado o assassino, a pedido de Minori, mas realmente não entendia o que ele estava procurando na Tártaro. Dinheiro o mercado tinha, o sexo também, a mulher que ele supostamente amava e havia perdido está desaparecida... O que aquele cara realmente queria?
Ter a situação fugindo do seu controle o tirava completamente do sério. Maldito momento que Mundi colocou a garota aos seus "cuidados", aquela que era o receptáculo de Amarate lhe dava mais problemas do que realmente glórias. Armou todo o esquema com [Nome] e no fim a idiota ainda conseguiu a perder de vista.
— Preparem o carro — ordenou se virando e pegando o paletó jogado —, vou retornar para a mansão.
— E a senhorita Perséfone? — perguntou um dos seguranças enquanto o homem virava o resto de uísque na boca.
— Ela terá uma longa noite pela frente.
Toji viu de longe Cérbero e Kon, não conversou com eles. Mas viu o bolo de dinheiro que o cão balançou em sua direção com um sinal positivo.
Retornou para seu novo quarto nas instalações e seguiu direto para o banheiro, tinha sangue respingado por toda sua roupa, também nas mãos e nos braços. Apoiou as duas mãos nos azulejos claros e olhou para o chão enquanto a água batia no topo da cabeça e escorria pelas costas.
Sem pensamentos, seus olhos se fixavam nas gotas se condensando e as acompanhava escorregar até se juntar a poça de água embaixo dos pés e morrer no ralo.
Quando as pontas dos dedos já estavam enrugadas, percebeu que já estava ali a tempo demais. Fechou o chuveiro e após esfregar os cabelos desleixadamente, enrolou na cintura. Com certeza era um lugar muito melhor que o anterior, se livrar do cheiro úmido e mofado já era uma melhora tremenda.
Batidas, ou socos, soaram em sua porta. Ponderou se fingia não ter escutado, mas na segunda leva, depois de perceber que ficaram mais fortes, resolveu atender.
— Hades mandou um presente para você.
— Não me interessa — se virou para fechar a porta, mas foi impedido.
— Infelizmente essa não tem devolução.
O segurança puxou então Perséfone pelo braço e a empurrou para dentro do quarto. A mulher bateu de frente com Toji, que a segurou como reflexo.
— Aproveite.
E se foram tão rápido quando entraram.
— Esse foi um reencontro dramático — comentou a soltando e colocando um passo de distância entre eles.
— E indesejado — Perséfone ajeitou o robe transparente no corpo. Ainda que não precisasse dele para Toji perceber estar quase nua. Seu rosto parecia avermelhado e os braços estavam fortemente cruzados na frente do corpo.
Toji olhou para o teto, fechando os olhos por um segundo, em outros tempos com um pouco duas ou três falas ela já estaria em sua cama. Hoje, só havia uma mulher com quem desejava estar, e a mesma está praticamente do outro lado do planeta.
Sem falar nada, andou até a mala e pegou roupas, rapidamente se vestiu e em seguida puxou o lençol da cama jogando para que a mulher se cobrisse.
— Hades te manda para todos os caras que ganham uma luta?
— Não — pegou o pano branco no ar se enrolando nele —, mas ele quer saber de você, é mais fácil tirar informação de alguém montada em sua cintura. O que Cinco te disse no fim da luta?
O homem se soltou na cama — Já não me lembro.
Perséfone revirou os olhos. Por dentro estava realmente grata pelo idiota ser cego pela esposa e nada mais, poderia relaxar um pouco. O último encontro dos dois não terminou bem, apesar de terem se visto no dia do convite oficial, não trocaram palavras desde o dia do restaurante.
— Vai ficar parada aí igual um fantasma a noite toda? — ele disse — Pode sentar na beirada da cama, se quiser.
— Você não vai perguntar — questionou —, sobre aquele dia.
— Kon e Cérbero já me falaram — respondeu seco —, se tem alguém para perguntar alguma coisa é você. Mas provavelmente não tenho as respostas, foi só mais um trabalho.
— Certo — a mão apertou com força o pano. Seguindo a sugestão anterior, se sentou de costas para ele.
Por alguns minutos ficaram em silêncio até a mulher tomar coragem — Como foi? Que você matou meu irmão.
Se Toji fosse sincero, diria que sequer se lembrava. Antes de abrir a boca, Cérbero surgiu em sua mente dando um sermão sobre ele ser um idiota e que [Nome] estava certa em se manter longe.
— Rápido — foi o que escolheu responder. Não é totalmente uma mentira, todos seus trabalhos acabam num instante.
Ela nada disse, mas ele viu quando soltou os ombros. Provavelmente aliviada do irmão não ter sofrido mais do que devia — O que você pretende fazer agora? Chegou no topo bem rápido.
— Lutar com o Um, matar o Hades e o Mundi. Já esqueceu? Em menos de uma semana isso vai ter acabado.
— Semana? Você é burro por acaso? Quando se chega no top 10 cada participante só pode ter uma luta por mês. Se for algo recorrente deixa de arrecadar dinheiro.
Toji se sentou — Não tenho esse tempo, preciso que seja em uma semana.
— Por quê?
As palavras que Cinco disse nos seus últimos momentos de vida soaram.
Sabe aquele meu amigo? O que gosta de comer a sua vadia? Ele está voando nesse momento para encontrar sua esposa. Quando sair desse buraco já não terá nem os ossos para contar história.
Foi Corvo que aceitou o pedido de Mundi para o assassinato, e agora que ele sabe onde [Nome] está, o tempo corria contra eles.
— Tem um pássaro carniceiro indo atrás de [Nome].
Perséfone se virou — Por que nesse momento?
— Estou preso nesse buraco a meses, não me pergunte o motivo.
Ela colocou o dedão na boca mordiscando a unha enquanto pensava numa solução, Toji não podia lutar. Mas não significa que outras lutas grandes não possam acontecer, uma em especial tiraria o velho do Mundi do seu escritório e o traria para o Tártaro.
— Existe uma maneira, é muito mais difícil e coloca em risco todos nós — se virou —, se convencer o Dois aceitar lutar com Um. Iria colocar os dois alvos no mesmo lugar e criar uma grande distração.
— Sem chance, aquele cara tem suas próprias convicções. Se não aceitou até agora não tem nada que eu possa fazer, pense em outra forma.
— Realmente, parece que só eu tenho um cérebro nesse grupo — um resmungo irritado soou —, é claro que também não faz ideia de quem ele é.
— Deveria? — Toji questionou olhando para o teto.
— Sim — Perséfone respondeu — Dois foi quem ensinou [Nome] a lutar.
Num instante, a dúvida foi sanada. Dois é o bastardo Kamo, família a qual sua esposa vem, a sensação incômoda e familiar vem de [Nome]. Os dois tinham a mesma postura.
— Terá uma única chance de o convencer — a mulher disse por fim e se levantou andando até o pequeno frigobar e puxando uma bebida de dentro —, se falhar todos vamos para vala. Inclusive [Nome]. Então, assassino de feiticeiros, preste bem atenção em tudo que vou te contar.
O que quer que fosse que estivesse dentro do copo, foi virado de uma única vez por Perséfone — A noite vai ser longa.
N/A: E foi longa, só não do jeito que o Hades pensou.
Obrigada por ler até aqui!
Até mais, Xx!
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