Canalha
Cada marca que observava no meu corpo era um xingamento a mais que Toji ganhava, se tivessem me amarrado e arrastado por uma estrada de terra talvez estaria mais apresentável. Eram arranhões, marcas e escoriações em todos os lugares sem contar a arcada dentária perfeitamente marcada no lado esquerdo do meu colo.
Sequei a cabeça com a toalha antes de vestir uma camiseta cobrindo parcialmente a selvageria.
Dei um passo em direção a porta do banheiro para sentir meu corpo dolorido reclamar, realmente Toji era um grande babaca, respirei fundo e caminhei devagar de volta para o quarto. No relógio caído no chão marcava onze horas da manhã, não me surpreendia já que as atividades duraram até quase o amanhecer.
Apoiei-me no batente, ele dormia espalhado na cama como uma estrela, a boca ligeiramente aberta e os cabelos mais bagunçados do que nunca. As costas e ombros também sofriam do mesmo mal que eu, completamente marcadas.
Entretanto, não era momento de observar a minha obra de arte, tínhamos que conversar. Abaixei e peguei uma peça de roupa no chão, enrolei e arremessei em seu rosto — Acorda Zenin.
Toji se virou ficando de barriga para cima — Tem uma toalha e roupas no banheiro para você.
Fechei a porta e segui para a cozinha, por sorte fiz uma visita no dia anterior então tinha comida fresca o suficiente para nós dois. Não era uma grande cozinheira como Hatsu, mas sabia o suficiente, afinal tive que sobreviver uma boa parte da minha vida sozinha.
Quando criança, preparava qualquer coisa que tivesse disponível sem me importar com gosto, mas quando fiquei mais velha me interessei um pouco mais por culinária, pelo menos o suficiente para cozinhar coisas com sabor e não qualquer gororoba.
Demorou um pouco para que escutasse o barulho do chuveiro, mas eventualmente ele apareceu. Voltei então minha atenção para os legumes que estava cortando, não queria perder um dedo por estar desatenta. Na panela maior já tinham cubos de carne e tempero, não tinha nada de rebuscado e nem demorado.
— Então, o que é esse lugar? Não é um território.
— É a minha casa. — virei para dar de cara com Toji praticamente nu, apenas com a toalha enrolada na cintura — Pelos céus homem, coloque uma camisa. Vai furar o olho de alguém.
— Não vestirei a roupa dos seus amantes — respondeu puxando uma cadeira — E não é como se fossemos desconhecidos.
Ele apontou para a marca no peito, a mordida que dei estava vermelha e inchada. Ele bem que mereceu, coloquei um prato de comida na frente de Toji e também um para mim, no lado oposto.
Toji olhou suspeito para a cozinha e em seguida se voltou para mim — Vai me envenenar?
— Depende. Se o seu desempenho foi bom o suficiente, ou não. — respondi colocando um pedaço de carne na boca — Então, cuidado.
Não fiquei prestando atenção no cara semi-nu na minha frente, realmente precisava de alimento se Toji não quisesse comer problema dele.
— Quem mandou você atrás de Dragon? — questionei.
— Não sei. Recebi o serviço anônimo, hora, nome e coordenadas.
Bati os dedos na mesa inquieta — Alguém te contratou para queima de arquivo, isso é claro. Aquele anima mel armou uma emboscada e alguém te chamou para acabar com as pontas soltas, a probabilidade de ser o mesmo contratante é grande.
— E, porque armaram uma emboscada para você em primeiro lugar? — perguntou alternando o olhar entre a refeição e eu.
— Tem um assassino atrás de mim.
Foi um segundo, mas a reação de surpresa pareceu genuína, por mais que o Corvo tenha me alertado sobre ser ele o possível assassino, não sei se era possível. Se Toji quisesse já poderia ter me matado inúmeras vezes e não fazia sentido todo aquela conversa de "treino" só para me mandar para um caixão depois.
— Você não viu nada nos anúncios? Tem um valor bem alto pela minha cabeça no mercado.
— Não uso muito, tenho outros meios de receber serviços. — pelo menos parecia sincero — Porque alguém quer a sua morte?
— Me diga você. — rebati — Me falaram que foi 'O assassino de Feiticeiros' que pegou o serviço. Então pergunto, pretende me matar?
Sustentei seu olhar com o meu e Toji não desviou, respondendo em seguida com firmeza — Não.
Por hora, daria um voto de confiança, mas estava colocando as cartas na mesa se por ventura estivesse enganada, saberia que estou mais atenta do que o comum.
— De qualquer forma, não posso pegar serviços enquanto não resolver esse problema. Então trabalhe bastante para me sustentar, querido. — minha voz saiu doentiamente doce e mais nenhuma palavra foi trocada entre nós.
Assim que terminei a refeição me levantei para colocar o prato na pia, se não tinha como rastrear o contratante de Toji não havia modo de descobrir quem estava por trás de tudo. Colocaria esse assunto na espera enquanto lidava com Amarate e Minori, mais a primeira do que minha irmã estúpida, e também Hatsu. Precisava ter uma conversa com a mais velha sobre os tais selos que ela colocou na casa e também sobre suas habilidades.
Ouvi a cadeira arrastando e quando olhei por cima do ombro Toji desaparecera, não me importava realmente embora soubesse que ele devia ter voltado para o quarto a fim de colocar as roupas do dia anterior. Mirei a mesa, pelo menos o prato estava vazio.
Antes meu plano era ficar pelo menos alguns dias no apartamento. Entre um trabalho e outro, era mais fácil de entrar e sair do que a casa nos terrenos Zenin. O prédio ficava nos subúrbios de Tóquio, era uma construção antiga de 5 andares em meio a outros 6 edifícios exatamente iguais. O bairro era antigo e maioria dos moradores eram pessoas sozinhas que não se preocupavam em questionar o comportamento de seus vizinhos.
Não era uma vizinhança bonita, mas era o suficiente.
— Quem é essa na foto?
Toji estava parado próximo à janela, já vestido, observando um pequeno porta retrato de madeira velha. O papel dentro tinha as pontas queimadas, mas ainda dava para ver duas figuras distintas. Uma senhora que sorria largamente segurando os ombros de uma criança mirrada e retraída.'
Olhei para ele ponderando de respondia ou não, seria apenas justo já que ele me contou sobre a irmã.
— Uma pessoa que foi para mim o que Suyen foi para você. Alguém que se preocupou demais.
— Morta imagino — ele pegou o objeto na mão para ver mais de perto.
— A muitos anos — confirmei a informação — É minha avó, não de sangue. Mas gostaria que fosse, ela morava perto da minha casa e eu me escondia no jardim dela sempre que fugia. Um dia passei a tarde inteira lá, só esperando o tempo passar. Ela me encontrou quando a tarde virava noite e me convidou para entrar...
As lembranças voltaram a minha mente, deixei um riso cínico escapar da minha boca — Foi a primeira vez que comi um chocolate na vida. Dois meses depois da foto a casa dela pegou fogo, o jardim foi devastado e sua existência esquecida pelas pessoas, pelo menos a maioria delas.
Limpei a garganta — Eu tinha dez anos.
— E sua irmã?
— Minori sempre foi manipuladora, era filha perfeita. Educada, seguia as ordens sem questionar até os quinze anos que foi quando fugiu e me deixou para trás para pagar seus pecados.
Respirei fundo andando até uma poltrona de veludo azul desbotado que tinha no canto soltando meu peso sobre ela — E como se não fosse o suficiente está se metendo em alguma merda muito maior do que pensa que pode controlar.
Apoiei o rosto na mão olhando a figura máscula que estava de pé, de certa forma inquieta, ali na sala do meu humilde e singelo apartamento. — Você pode ir se quiser, sou uma garota crescida. Não vou chorar por achar que uma noite de sexo significou algo.
— Me pareceu bem chateada ontem. Tem certeza disso ou vai ficar com saudade de mim assim que eu sair por aquela porta?
Maldita língua solta.
Levantei-me num salto — Não sei do que está falando e se não me lembro. Logo, não disse.
Fechei a porta que separava a sala do corredor, a energia amaldiçoada de Kiran tomou meu braço e o selo de passagem foi feito. — E a propósito, saia por essa e não aquela.
Uma tempestade inteira trovejou atrás daquelas íris cor de oliva, seus passos foram lentos e seu corpo parou a centímetros do meu. Sabia que ele não ficaria, nossa 'coisa' não funcionava desse jeito.
— Obrigado pela comida.
— Eu que agradeço por lamber até o veneno no fundo do prato.
Toji riu — Não estava falando sobre essa.
Então saiu para uma rua qualquer que estava nos arredores que fez conexão com o meu encantamento. Cerrei os dentes e resmunguei. — Canalha.
N/A: Eita atrás de eita minha gente. Conforme votado no meu instagram - iamhksan (devo confessar que estou gostando um pouco demais de fazer stories) - Selcouth ganhou a votação de ordem hoje.
Então ta ai para vocês o 'aftermach' do casal que não é casal.
Vejo você na semana que vem com mais.
Obrigada por ler até aqui.
Até mais, Xx!
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