Caça e Caçadora
Cerca de quatro dias se passaram desde que Toji teve a reunião com os cabeças da família Zenin, tempo correspondente ao seu desaparecimento. Depois da nossa breve conversa no café da manhã e algumas farpas trocadas o homem simplesmente saiu sem dizer nenhuma palavra.
Embora eu não tenha me preocupado muito, Hatsu se viu no dever de me tranquilizar "Mestre Toji geralmente faz isso quando tem algum assunto a resolver", foi o que disse, não precisava ser muito inteligente para saber que esse assunto provavelmente envolvia o submundo e recompensas.
Por certo lado foi bom, não tive que encarar o homem depois da declaração nada sutil sobre as vontades de Naobito Zenin. Se Toji ficasse mais um segundo na minha frente com aquela feição debochada e sorriso lascivo não responderia por meus atos, ou acabaríamos na cama ou num caixão.
Por mais que me condene apenas por pensar nisso, o meu irritante marido tinha encontrado uma caminho para instalar vontades no meu subconsciente, com frequência a sensação da sua mão apertando a minha perna voltava a mente ou a visão do corpo suado cintilando sob a luz do sol. Até mesmo nas madrugadas em que passei sozinha sufocando murmúrios de deleite entre os lençóis seus olhos afiados cor de oliva pareciam me atormentar.
Talvez fosse um dos motivos pelo qual estivesse tão irritada, nem mesmo Kiran teve coragem de abrir a boca venenosa para mim nos últimos dias.
Estava numa área comercial para realizar um serviço, nada muito grande. Uma maldição que aparentemente estava afastando clientes de uma certa rua prejudicando as lojas que ficavam na região.
A maioria das pessoas não conseguem enxergar as maldições mas tenho intermediários que juntam os serviços e repassam sob a desculpa de ser qualquer tipo de purificação religiosa ou algo do tipo. Eles pegavam uma parcela do pagamento como comissão e o restante ficava com o executor.
-Yokai-chan é só seguir esse beco até o fim, só tem uma única rua.
-Acho bom você estar bem aqui quando eu acabar com isso Dragon - rebati segurando o homem rechonchudo pelo colarinho da camisa suja e apertando - Ou preciso lembrar do que vai acontecer se você fugir com todo o dinheiro de novo?
-Veja bem, eu disse que aquela vez... A polícia estava por perto... Yokai-chan...Ar... - ele segurou os meus pulsos e eu soltei. Ele se afastou e bateu com as costas na parede mofada com a mão sob o coração, o rosto com feições suínas estava vermelho e suado.
No canto da minha visão já senti a maldição se mexendo, estava por perto. Observando, não era uma qualquer, as pontas dos meus dedos ficaram pretos e senti as inscrições subindo meu braço enquanto meu contrato com Kiran era consumido. 20% parecia mais do que o suficiente.
Já era fim de tarde, então não tinha tanta luz assim, acima da minha cabeça apenas um estreito pedaço de céu alaranjado. O caminho era pequeno e os prédios nas laterais altos, diminuí a velocidade dos meus passos... Até parecia um bom lugar para uma emboscada.
Olhei para trás rapidamente e um sorriso encardido rasgou o rosto de Dragon, ele levantou as duas mãos em minha direção com o dedo médio levantado - Faça uma boa viagem para o inferno vadia.
-Seu miserável!
E então o chão começou a se movimentar, isso não era bom. Dividi o poder de Kiran para que pudesse usar nos dois braços e agarrei a parede lateral enfiando as garras recém nascidas no cimento escalando e ganhando altura. Nesse momento o corredor inteiro virou uma única maldição, uma única boca no caso, tinham tentáculos escuros e viscosos saindo da abertura e tateando a parede aparentemente buscando por mim.
O cenário não era animador, a compatibilidade daquela maldição comigo era péssima. Minha técnica amaldiçoada é de curta distância, em algo grande e nojento como aquilo não faria nem cócegas. A não ser que atacasse diretamente seu centro, o problema maior era descobrir onde estava, subi mais um pouco apenas para conseguir uma visão melhor, foi quando minha mão escorregou. Ou melhor, desceu.
Estava segurando na pálpebra do que era um gigantesco olho que nascia da parede. A pupila girou olhando para outros pontos, até pensei que poderia me esconder mas no momento que tirei a mão o olho se virou rapidamente focando em mim, os tentáculos cor de esgoto então foram direcionados para onde estava.
-Merda - finquei as garras no olho rasgando a orbe, o globo ocular explodiu fazendo com que um líquido verde espesso saísse do que agora não passava de um buraco. Aproveitei o espaço para apoiar o pé e pular para a outra parede desviando do ataque, um rugido grotesco saiu da maldição e nesse instante vi o que precisava bem no meio e no fundo da garganta, uma esfera cheia de nervos ramificados saindo dele.
-Claro que não estaria num lugar fácil - chutei um tentáculo que veio na minha direção - Poderia estar na borda da boca, em algum lugar da parede, mas não está na porra do fundo da garganta dessa porcaria.
Mais um urro monstruoso soou.
-Ah cale a boca! - gritei de volta como se fosse fazer alguma diferença. Com raiva, escalei até onde as paredes me permitiam, isso porque tinha uma cortina ali. O que me levava a crer que Dragon não estava sozinho, devia ter algum feiticeiro compactuando com aquela imundice.
Olhei para baixo, a altura era menos do que realmente queria mas teria que funcionar, entreguei o controle de 30% para Kiran e saltei, usei a parede oposta para tomar impulso. Em meio tentáculos gosmentos em direção ao núcleo os braços na frente abriam o caminho e assim que finquei as mãos no núcleo o puxei, a carne podre foi rasgando até que se dividiu por completo, fiapos de veia e entranhas retorcidas balançavam de cada uma das metades.
O que estava à minha volta sumiu, sobrando apenas as duas partes do centro nas minhas mãos, as joguei no chão pisando em cima até que fosse exorcizado por completo. Agora a outra parcela culpada por essa situação desagradável ainda estava correndo com as pernas inchadas por aí.
Olhando com mais atenção vi que no fim do beco tinha uma escada que levava até o topo, seria muito mais fácil localizar Dragon de cima e foi o que eu fiz. Os prédios do distrito eram todos próximos então foi fácil pular de telhado em telhado buscando o homem roliço pelos cantos.
O encontrei numa viela escura aparentemente falando com alguém no celular.
-Fiz o que você me disse, agora que garantia que eu tenho de que vai cumprir a sua parte do acordo? - me abaixei para ouvir mais da conversa.
-Não, me transfira o dinheiro agora. Eu vou atrás de você tá me ouvindo? Não faz ideia de quem eu conheço. Ei, Ei!
Dragon tacou o celular no chão e olhou pra cima com as mãos no rosto, por sorte bem onde eu estava. Sorri mesmo sabendo que ele não veria nada além da minha silhueta iluminada pela lua, coloquei um pé pra fora e me deixei cair sabendo que a queda não traria nem mesmo um arranhão.
-Eu achei... Que tivesse dito para você me esperar - Estiquei os meus braços pra frente enquanto andava na direção do porco que corria. - Ah é verdade nossa parceria acabou, você me chamou de vadia e armou uma emboscada.
Estalei a língua, era uma rua sem saída.
-Yokai-chan, por favor me escute. Eu não tive escolha.
-Não, não - eu interrompi - Você tinha sim, mas como a escória que você é tentou abocanhar mais do que pode morder. Tão guloso Dragon-san.
Deixei Kiran se manifestar em sua totalidade e andei lentamente em direção ao velho - Quando for armar uma emboscada, tenha certeza de duas coisas. Que vai dar certo ou que já vai estar bem longe quando der errado.
As pernas do homem não suportaram seu peso e ele caiu no chão se escorando na parede - Sim, sim. Farei isso da próxima vez, por favor me perdoe... O que você quer? Dinheiro? Te dou meus melhores contratos.
Dei mais um passo em sua direção, o medo era visível em seu rosto ele tremia e gaguejava não conseguindo vocalizar as suas desculpas esfarrapadas e mentirosas, uma tentativa falha de lutar por sua vida miserável.
-Ah t-tem mais uma coisa - ele apontou - Um informante, Minori vai se encontrar com alguém que tem uma pista sobre Amarate em 12 dias, em Kyoto. Você andou atrás dela por tempo, não foi?
-Oh até que foi útil essa - me agachei na sua frente - O que mais? Kyoto é bem grande.
-A escola, dizem que tem uma pista sobre o paradeiro dela dentro da escola de Jujutsu. Posso conseguir mais informação pra você, sim, sim. Eu posso.
Obrigada - sorri, e Dragon respirou aliviado já murmurando para si mesmo - Mas eu consigo me virar sozinha.
Num movimento rápido peguei sua cabeça e bati contra a parede, uma, duas vezes, até que que meu punho estivesse se chocando contra os tijolos e não o crânio que antes estava no meio. Balancei a mão para o lado tirando o excesso de sangue e usando o paletó em seguida para tirar o resto de massa cinzenta grudada nas costas da minha mão.
-Até que foi bem terapêutico, sabia? - disse para o morto - Estava mesmo precisando extravasar.
Me levantei e antes de virar escutei um baque surdo, e uma risada grave e cínica.
-Acho que esse era o Dragon não? - disse a pessoa. Aquela voz eu reconheceria em qualquer lugar. - Gostaria de saber porque minha esposa está com os miolos dele nas mãos, não que eu me importe o meu trabalho já era eliminar o velho mesmo.
Me virando vi que Toji estava parado no meio da rua sem saída, com vestes diferentes das que deixou a casa dias atrás e visivelmente tranquilo.
-Bom então temos um problema. Porque ele estava aqui para me matar.
A informação pareceu pegar ele de surpresa, e honestamente não estava com cabeça para questionar o sumiço ou o serviço dele no momento. Então andei reto fazendo questão de bater contra seu ombro, mas antes que pudesse me afastar a mão de Toji segurou meu braço.
-O que aconteceu? - Questionou com um tom de sinceridade que tinha um pingo de preocupação escondida bem no fundo. Tentei puxar meu braço, mas ele manteve o aperto- O que aconteceu [Nome]?
-Por favor, não finja se importar - me livrei dele a fim de continuar a andar.
O ato não deve ter deixado ele feliz, pois sua mão agarrou meu ombro me fazendo virar bruscamente, seus braços enlaçaram minha cintura usando o próprio corpo como prisão. Kiran sumiu propositalmente, me deixando apenas com a força já originalmente minha para tentar me livrar do homem, soquei o peito de Toji algumas vezes e tentei usar os pés para conseguir o desequilibrar.
-Agora - ele apertou o abraço ainda mais - Toda essa cena porque eu passei alguns dias longe?
Se ele pediu, iria ter.
-Escuta aqui, eu não ligo de você ter sumido por dias. - cutuquei seu tórax com o indicador - Não ligo de ter dado todo um discurso sobre treino e sumido nas horas seguintes. E com certeza não me importa onde você tem dormido e principalmente com quem.
Eu não queria falar aquilo, definitivamente não. Mas aqueles malditos olhos tão pertos dos meus...
- Eu te odeio - coloquei a mão na frente do rosto dele e empurrei para trás, sem ligar pelos restos de Dragon que tinha nela, senti Toji sorrir contra a minha palma.
Ele soltou um dos braços para puxar de leve o meu pulso tirando a mão da frente de seu rosto -Estava com saudade de mim, esposa?
Segurei a gola da sua camisa escura com firmeza - Com certeza não, marido. - Puxei o tecido em minha direção forçando com que ele abaixasse e o beijei.
N/A: *Limpa a garganta*. Isso ainda não é um casal, são só duas pessoas com muita tensão sexual entre elas que ocasionalmente ficam animados quando trocam umas porradas.
Mas tudo tem um começo né, hahahaah
Espero que estejam gostando dessa jornada, e obrigada por trilhar ela comigo.
Replicando o aviso eu fiz um IG para trocar ideias em gerais e mostrar um lado mais humano meu, mais fácil de se aproximar. Então se quiserem ver o que eu ando aprontando é só me seguir no @/iamhksan
Até mais, Xx!
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