Prólogo
De acordo com o bom e velho Google, o nome Valentina significa: mulher valente, forte, vigorosa e cheia de saúde.
Eu costumava fazer jus ao nome que minha mãe me deu, mas ultimamente tudo tem mudado, tudo mesmo. Fazem nove anos que a mamãe morreu, cinco que meu pai se casou novamente e sessenta e cinco dias que conheci Caleb Fletcher.
É por causa dele que estou parada em frente ao espelho, usando um vestido branco e longo, terminando de me arrumar para o casamento, o meu casamento.
Não. Eu não estou casando com o Fletcher, mas isso não vem ao caso agora.
A infelicidade não me impede de admirar o belo trabalho que Skye, minha melhor amiga, fez com o meu vestido perolado estilo sereia, com mangas rendadas que vão até o pulso e o véu perfeitamente bordado.
— Está lindo. — admito a encarando pelo espelho.
Minha amiga arqueia a sobrancelha loira e se senta de forma elegante na minha cama enquanto alisa seu vestido longo e rosa, igual ao de Nicolle, a outra madrinha.
A Skye sempre foi rápida demais, não só para se vestir, mas para tudo. Ela não só ganhou curvas e menstruou primeiro... Skye Rose Ledger simplesmente conheceu o amor da sua vida no ensino médio, do jeito mais clichê possível. Claro, Ethan e ela tiveram que passar por uma série de problemas, mas poxa, eles tinham e ainda tem um ao outro.
É errado esperar encontrar um amor avassalador como ela encontrou?
Até mesmo Theodore Marley, meu melhor amigo, encontrou na Nick um refúgio.
Nicolle, ou Nick como a chamo, era minha arquinimiga de infância até ela se casar com Theo e eles terem uma filha, a Sarah. Nós até poderíamos manter alguma rivalidade, mas depois que meu pai e sua mãe se casaram se tornou impossível viver distante uma da outra, então ambas levantamos a bandeira de paz e atualmente somos boas amigas, tanto que ela vai ser a segunda madrinha.
Viu? O amor surgiu até para o papai novamente, mas para mim não chegou uma vez sequer, obviamente deve ter algum motivo para isso, o que claramente significa que sou uma exceção, uma exceção ao amor.
Onde está meu amor verdadeiro?
Fecho os olhos tentando evitar as lágrimas e o rosto de Caleb me vem a mente.
Minha madrasta termina de arrumar o vestido de Sarah , minha dama de honra, em seu corpinho e seus olhinhos brilham como se fosse o seu casamento e não o meu. Sinto-me satisfeita por distrair os pensamento que me levam ao Cal e o medo em meu peito cresce a cada segundo mais perto de me tornar esposa de Stanley Olsen.
Toco no cordão ao redor do meu pescoço e inevitavelmente lembro do sorriso da mamãe.
— Seja Valentina. — sussurro para mim mesma.
Mamãe se foi em um acidente de carro quando William, meu irmão, tinha quinze e eu tinha dezessete. Foi um choque para toda a família. Apesar da dor, conseguimos nos acostumar com a vida a três, meu pai, meu irmão e eu.
Então veio Mary Kintzell.
Eu já a conhecia, afinal, ela é sogra do Theo como já contei, mas quando meu pai nos apresentou ela como sua futura esposa foi horrível.
E oh! Como eu estava enganada, tê-la como madrasta não foi o meu pior pesadelo, porque se eu soubesse que conheceria meu noivo na festa beneficente dada por uma amiga de Mary, pensaria duas vezes antes de ir até lá e dá início aos piores meses da minha vida.
Mas não tenho escolha. Já entendi que o amor não existe para mim e por isso estou a prestes a ir a igreja me comprometer com um homem que aprecio. Sabemos que somos a exceção para esse sentimento lindo e puro, então Stanley e eu decidimos nos unir e formar uma família, afinal, não é só o amor que move o mundo. Certo?
Dessa forma, tudo o que tenho que fazer é seguir o conselho que a mamãe sempre dava: Ser Valentina.
— Querida, vamos se atrasar para o seu casamento! — a Sra. Kintzell falou numa voz fina e forçada.
Apesar de eu a comparar diversas vezes com a madrasta da Cinderella, Mary não é má.
— A noiva sempre se atrasa, mãe. — Nicolle defendeu, ajeitando os longos cabelos enrolados e negros com uma mão, enquanto usava a outra para passar um batom no tom escuro de sua pele.
— Fique calada, filha... Não me esqueço de como você fugiu para casar com aquele... — tentou procurar um xingamento a altura de seu genro.
Ok, talvez ela seja um pouco má.
Skye e eu a encaramos esperando que ela terminasse de xingar nosso amigo Theo e vendo isso, minha madrasta, a cópia mais velha da Nick, desistiu.
— Vamos, querida Valentina. — resolveu dizer — Está na hora.
— Estou indo, só quero falar com as meninas. — pedi para ganhar um pouco de tempo.
— Seu pai e eu esperaremos lá embaixo, juntos com a Sarah, a única coisa boa que o paspalho do Theodore fez na vida. — Mary fez questão de alfinetar.
— Mãe, pare de falar mal do meu marido, principalmente na frente da nossa filha. — Nicolle repetiu seu pequeno mantra.
Suspirei e voltei a encarar o espelho vendo minha "sobrinha postiça" e sua avó saírem do meu quarto completamente revirado e cheio de maquiagens para todos os lados.
— Por que parece que você quer fugir? — Nick pergunta cruzando os braços quando a mãe dela fecha a porta do quarto.
— Porque ela quer. — Skye volta a se sentar na cama colocando as mãos na barriga protuberante.
— Olha, Val... — Nicolle pareceu me compreender — Eu sei que minha mãe é uma pessoa difícil e que ela pode ser bem persuasiva, mas estamos falando de um enlace matrimonial que é para a vida toda!
— O que quer dizer com isso? —acariciei o pano branco do vestido voltando o rosto para minhas amigas.
— Ela quer dizer que você não precisa se casar com o Stanley porque sua madrasta convenceu a todos, inclusive você, que é o melhor.
— Mas eu gosto... — tentei dizer, mas parei, sei que é mentira.
— E nem venha falar sobre "Ano que vem faço vinte e sete anos, vocês estão casados e ainda moro com meu pai, blá blá blá blá"... — Nick riu enquanto abria e fechava a mão me imitando.
— Alguma coisa aconteceu. — Skye semicerrou os olhos tentando ler minha mente ao mesmo tempo em que mexia em seu cabelo claro e ondulado caído por sobre o ombro — E seja lá o que foi, abriu seus olhos como mil vezes tentei e não consegui.
Caleb aconteceu.
— Valentina, você tem até a hora do "sim" para desistir. — Nick avisou esticando o corpo em direção ao espelho para verificar a maquiagem — A menos que o amor da sua vida apareça do nada e te sequestre.
Minha mente formou a imagem de Caleb aparecendo em um cavalo branco em frente a igreja e me sequestrando. Balancei a cabeça de um lado para o outro e quase abri um sorriso diante da bobagem que pensei, afinal, Caleb nunca viria de cavalo já que tem pavor dos mesmos.
— E seja lá o que decidir, vamos te apoiar. — minha melhor amiga falou me tirando de devaneios — Não se decepcione.
Suspirei.
— Vamos, meninas. Tenho um casamento para encarar.
O caminho para a Igreja God's Save foi silencioso.
Meu pai me olhava pelo retrovisor como se nunca mais fosse me vê, minha madrasta sorria verdadeiramente feliz e no outro carro eu podia vê Skye e Nicolle rindo de algo que Sarah falava.
Assim que chegamos, Ethan e Theo correram para recepcionar suas esposas e logo que as viram seus olhos brilharam e um puro e terno amor, do jeito que eu sempre sonhei para mim. Pedi aos céus que Stanley tivesse a mesma reação ao me ver e por pouco abri a porta, mas Mary foi mais rápida e, mesmo comigo perto, gritou:
— Não! Espere todos estarem em seus lugares e só aí saia, do contrário pode sujar o vestido.
Papai, vestido com um terno caríssimo, riu da reação da esposa e piscou para mim como se dissesse "Não ligue" e bem, apenas dei de ombros os vendo sair do carro para organizar, na porta da igreja pequena e rústica, uma fila com os dois casais de padrinhos, Sarah e por fim meu pai me aguardando.
Foram questões de segundos.
Em um momento minha madrasta levantou a mão para me chamar, mas de repente, arregalou os olhos me fazendo virar a cabeça para frente no exato instante em que um homem abriu a porta do carro e sem qualquer explicação o ligou, me levando para longe de Stanley Olsen, para longe do casamento.
[...]
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