Aliado

— Meu nome é Nicholas, ao seu dispor. — o completo estranho, agora não tão estranho assim, se aproximou a passos largos e eu enfim, pude dar uma boa olhadela nele. Veja bem, não tínhamos muitos modelos masculinos entrando no convento, e nas visitas a casa de minha mãe eu não tinha permissão de sair, então os únicos homens que eu tinha visto era Nathaniel e os atores das novelas chatas que minha mãe insistia em assistir. E os atores não chegavam nem perto da beleza do desconhecido parado à minha frente.

Nathaniel é lindo e eu o amo, mas a beleza dele era completamente diferente da beleza do moreno. Os cabelos de Nicholas eram lisos e longos, me fazendo ter a certeza de que aqueles fios de cabelo eram mil vezes melhores que o meu. Os fios escuros chegavam até um pouco abaixo de seus largos ombros e pareciam clarear em algumas partes, dando um aspecto de mechas cores de mel entre castanho escuro. Seus olhos pretos brilhavam com um certo tipo de malícia, era como se ele soubesse o efeito que causava nas mulheres e gostasse disso. Seus ombros eram largos e a camiseta preta que ele usava estava justa em seu corpo, deixando claro que seu corpo era muito bem construído. O rosto dele tinha o formato quadrado, sobrancelha grossa, nariz levemente empinado e a boca estava em volta de uma barba cheia. Ele tinha uma cara de homem! Seus olhos me fitaram intensamente, sem piscar ou desviar, quando ele pegou minha mão e levou aos lábios. Senti meu rosto esquentar e ouvi o rosnado de Nathaniel.

— Demônios... — o homem bufou rolando os olhos, mas o sorrisinho sacana ainda estava em seus lábios. — Completamente possessivos. — ironizou ainda com os olhos grudados aos meus. Os dele pareciam brilhar e me hipnotizar. De fato, eu não conseguia quebrar nosso contato visual. — Sou mais os vampiros. Somos possessivos também, mas gostamos de umas coisinhas mais... liberais. E somos ótimos de cama. — piscou um olho em minha direção e eu senti meu coração acelerar dentro do peito. Ouvi um rosnado ecoar ao longe, mas mesmo assim não consegui desviar daqueles olhos, até que de repente o toque da mão de Nicholas tinha sumido. Observei, completamente chocada, o vampiro grudar na parede, enquanto Nathaniel o encarava. Demorei um tempo para perceber que Nathaniel tinha jogado nosso convidado na parede sem encostar um dedo nele. — Okay, okay esquentadinho. Eu só estava brincando. — Nicholas levantou ambas as mãos no alto e depois alisou-as na blusa quando Nathaniel o soltou.

— Nunca mais use seus poderes de persuasão nela. — a voz de Nathaniel ecoou pausadamente, suave como sempre, mas a ordem estava clara em cada silaba. Relaxei ao ouvir Nicholas rir e assenti.

— Me desculpe, milady. — seus olhos negros voltaram para cima de mim e ainda estavam divertidos. Assenti discretamente sem saber o que fazer, eu tinha quase certeza de que eu não era capaz de encontrar minha voz naquele momento.

— O que você quer Nick? — Nathaniel voltou a perguntar, fechando a porta e observando Nicholas aproximar-se do sofá e se largar ali.

— A coisa "tá" feia pro seu lado, Nath. — o cabeludo soltou olhando para Nathaniel e depois seus olhos se pregaram em mim. Senti meu rosto esquentar novamente. Ele não precisava falar nada, pois eu tinha entendido que eu era o problema. — Para vocês dois, na verdade. Fomos obrigados a fazer uma "reunião" e até os anjos se envolveram. — ele rolou os olhos ao falar reunião e eu engasguei com a palavra anjos. — Seu querido pai estava lá também. Eu teria vindo mais cedo, mas você sabe... tenho meu probleminha com o sol. — Nicholas sorriu debochadamente. — Sabe, queimar até virar cinzas. — explicou me olhando — E além do mais, eu precisava ter certeza de que eu não estava sendo seguido. Caso descubram que estou aqui, vocês não serão os únicos a serem caçados.

— Caçados? — consegui murmurar. Olhei para Nathaniel que me encarou por um momento e depois se aproximou, pegando em minha mão e deixando um beijo ali, sem se importar com essa demonstração de carinho na frente de sua visita inesperada.

— Está tudo bem, estamos seguros aqui. — sua voz ecoou baixinha em minha direção.

— É... — a voz de Nicholas se arrastou ao olhar em nossa direção. — Nem tanto...

— Eles não podem entrar aqui, Nicholas! É uma das regras mais...

— Você não sabe o que está rolando, não é Nathaniel? — a voz do moreno ecoou exasperada e seus olhos se encheram de pena por um momento. Nathaniel nos levou em direção ao sofá e nos sentamos ali, encarando o cabeludo. — Não foi só as regras de não se envolverem que vocês quebraram. Tem mais coisas aí. Algo sério, que só Gabriel, seu pai e a velha bruxa Glinda sabem. Ah, e Deus, é claro. Mas aquele é importante demais para se juntar com a plebe. — ele rolou os olhos e eu prendi minha respiração ao escutar aquilo. — Deixaram a gente de fora do assunto principal e só explicaram que precisávamos acabar com vocês dois. A coisa realmente está feia e eu queria poder ajudar mais, mas nem eu sei o que está rolando direito. O que posso te dizer é que vocês não estão seguros aqui nessa casa. A proteção que colocamos quando sua mãe ainda estava viva não vai segurá-los mais. — eu não tinha deixado passar o fato dele citar a mãe de Nathaniel, e eu estava curiosa quanto a isso, mas guardei minhas perguntas para mais tarde devido a gravidade da situação.

— Como pode ter tanta certeza disso? — Nathaniel murmurou encarando a porta. Era como se ele estivesse esperando alguém entrar de repente. Estremeci com aquela possibilidade.

— Porque eles falaram abertamente sobre isso. A única coisa que manteve sua mãe em segurança quando estava grávida de você era a regra dos seres sobrenaturais não poderem entrar onde não são bem vindos e o fato de que Lúcifer não estava do lado deles naquela época. Mas parece que agora é diferente. Eu não sei o que está rolando... O que pode ser mais perigoso do que a gestação de um Nefilim? Nathaniel, você é um ser que nunca existiu e mesmo assim Lúcifer conseguiu fazer com que ninguém te caçasse ou te matasse. Ninguém nunca soube a magnitude dos seus poderes... Bom, talvez Deus saiba, mas aquele ali eu não consigo entender, nem se eu quisesse... — percebi que o cabeludo estava divagando, mas eu não queria interromper. — Consegue entender um ser que é onipotente e onipresente, mas mesmo assim não se envolve com nada diretamente? Ele tinha ciência da ordem dada para acabar com você, antes mesmo do seu nascimento, mas não contou onde sua mãe estava, não nos matou, não se envolveu...

— Como se ele quisesse lhes dar uma chance? — me espantei ao ouvir minha voz sair. Ambos olharam para mim... Nathaniel confuso e o vampiro exasperado.

— Acredito que ele queria era ver o circo pegar fogo. — sua voz estava completamente sarcástica ao revelar aquilo. Eu não consegui levar essa declaração a sério.

— Mas agora é diferente no que? Ele vai se envolver? — Nathaniel deixou de encarar a porta e olhou para o vampiro. Prendi a respiração novamente. Se Deus, o todo poderoso, se envolver, não teríamos a menor chance!

— Não, mas os anjos vão. Todos eles! Você sabe que Deus mantém suas galinhas aladas em rédea curta. Aqueles filhos de uma puta conseguem ser tão cruéis quanto os filhos de Lúcifer. E agora eles têm o aval do papai. Estão descendo para acabar com todos que se colocarem no caminho. — seus olhos se desviaram para mim brevemente, antes de voltar a mirar Nathaniel. — Quando eu disse que vocês desencadearam uma guerra eu não estava brincando! Eu só queria entender o porquê dessa guerra. Lógico que o relacionamento de vocês foi o motivo, mas tem algo mais aí...

— Nathaniel. — olhei alarmada para ele, enxergando-o borrado por conta das lágrimas que eu tentava segurar. — O que nós fizemos? — sussurrei colocando a mão na boca ao mesmo tempo em que o rosto de Brenda, Rebecca, Izobel e o resto das garotas invadiam minha mente. Eu tinha partido para que todas elas ficassem em segurança e agora descubro tudo isso. Até onde eu sabia elas poderiam estarem todas mortas nesse exato momento.

— Se acalma, ou vai acabar tendo um ataque. — a voz do cabeludo ecoou, mas eu não lhe dei ouvidos. Eu não estava prestando atenção a muita coisa para falar a verdade. Eu só conseguia imaginar cenários onde todos do convento acabavam mortos cruelmente. — É sério, seu coração está tão rápido que...

— Rose...

— Nathaniel, eu deixei a Brenda lá. — minha voz subiu algumas oitavas e eu olhei para ele. Minhas lágrimas já caiam livremente a essa altura. — Eu deixei minha melhor amiga, minha família, sozinha. Pelo que eu sei ela pode estar morta ou sendo torturada ou...

— Rose... — ambos olhamos em direção ao vampiro que suspirou e passou as mãos em seus cabelos longos. — É Rose, não é?! Se a sua amiga não sabe de nada, ela está bem. — gemi agoniada jogando a cabeça para trás e fechando os olhos. Droga. — Vocês envolveram mais uma humana nisso? O que tem na cabeça de vocês?!

— Eu sinto muito... — engasguei com um soluço. — Eu... eu...

— A culpa é minha, Nick. Eu me revelei para a amiga dela. Rose ainda não entende completamente as regras do nosso mundo e...

— Nathaniel, a culpa não é só sua. Você sempre me disse que era perigoso e...

— Não, Rose! A culpa é inteiramente minha...

— Querem calar a boca vocês dois? — o vampiro estava claramente irritado. Eu não tinha percebido que ele tinha se levantado e andava de um lado para o outro. — Okay... Mais alguém sabe? — balancei minha cabeça negando. — Como que é essa sua amiga? — encarei-o em confusão por um momento. — Sim, sim, Rose. Eu irei buscá-la...

— Mas...

— E vocês vão partir daqui agora mesmo! Nathaniel, você entende a gravidade disso tudo, não entende?! Não podemos proteger mais a casa, como fizemos com a sua mãe, então vocês vão ter que se esconder e...

— E a Brenda?! — interrompi ele com meu coração aos pulos. Eu estava completamente apavorada com o que poderia acontecer conosco, mas eu tinha metido minha amiga nisso. Ela tinha que ser prioridade nisso tudo. — Ela não faz parte disso, ela não escolheu isso.

— Eu já disse que irei buscá-la. Eu vou tomar conta dela. — prometeu me olhando e eu assenti depois de um tempo. Tentei explicar detalhadamente a aparência de Brenda, onde meu antigo quarto era e onde ficava sua cama.

— Nicholas...

— Nathaniel, não temos escolha! Ela vai ficar segura na minha casa. Eu juro! Como líder dos vampiros, ninguém vai invadir a minha casa, pois eles confiam em mim. E é por isso que vocês vão se esconder no Bloody Mary...

— Bloody Mary? — não consegui evitar a pergunta ao escutar o nome. Nathaniel rolou os olhos em direção a Nicholas, mas fez um carinho em minha mão e me olhou, pronto para explicar.

— É um bar. O bar dele. — apontou com a cabeça para seu amigo. — Começou sendo um bar somente para vampiros, mas hoje em dia outras raças são bem vindas. Vampiros e Lycans se odeiam por natureza, mas o Blood Mary é como se fosse uma zona neutra. Ali dentro não existe brigas e as diferenças acabam da porta para dentro.

— E eles não esperam que eu esteja do lado de vocês dois. Ninguém sabe da amizade que eu tenho com Nathaniel. — Nicholas completou olhando para mim e eu assenti novamente. Minhas mãos ainda tremiam levemente e meu coração acelerado deixava claro para os dois o quanto eu ainda estava nervosa. — Vocês vão ficar bem, vamos ajudá-los...

— A Brenda é a minha família Nicholas. — sussurrei deixando que mais lágrimas caíssem. Eu não estava com vergonha de estar sendo uma chorona patética, não quando o assunto poderia ser Brenda morrendo.

— Cuidarei dela como se fosse da minha família. — ele prometeu e eu assenti engolindo o choro. Eu tinha acabado de conhecê-lo, mas só o fato dele estar aqui se arriscando pela gente, me fazia ter a plena certeza de que ele cuidaria bem de Brenda.

— As outras meninas do convento... — sussurrei lembrando-me de Izobel e das meninas.

— Nada vai acontecer a quem não sabe de nada. — dessa vez foi Nathaniel quem murmurou e eu me peguei assentindo e pensando pela primeira vez na minha mãe. Eu não gostava dela, não a tinha como mãe ou alguém da família, mas eu não queria que ela morresse.

— Nathaniel, a minha mãe... — sussurrei tão baixinho que se eles fossem humanos eu teria certeza de que não escutariam. — Eles podem usá-la para poder me atrair ou...

— Não. — Nicholas respondeu antes de Nathaniel. — Deus está cagando e andando para todo o resto, desde que não mexam em seus queridos humanos. Tudo foi para o caralho, mas a regra de não tocar em humanos que desconhecem o nosso segredo prevalece. Por isso Nathaniel lhe disse que, desde que não saibam de nós, eles estarão seguros. Podem até entrar no convento ou na casa da sua mãe para procurar pistas de vocês, mas não estão autorizados a tocar num fio de cabelo de quem está cego para nosso mundo. — tentei ao máximo me tranquilizar com suas palavras. — Agora eu devo ir e vocês também. Nathaniel sabe como entrar no bar pelos fundos.

— Nicholas eu nem sei como te agradecer. — observei eles se abraçarem brevemente. Nicholas deu uns tapas fortes nas costas de Nathaniel e riu.

— Você não tem que me agradecer em nada! Eu prometi à sua mãe que eu iria lhe proteger custe o que custasse. Gostaria de poder tê-la ajudado mais e...

— Eu sei. — Nathaniel retribuiu os tapas nas costas de Nicholas, que se afastou e veio em minha direção. Sua mão fria tocou a minha e ele mais uma vez levou-a aos lábios. — É melhor não abusar da sorte, Nick. — Nicholas riu com o tom de aviso de Nathaniel e eu somente sorri sem graça em sua direção. Mesmo que ele não estivesse usando seu dom de persuasão em mim, como Nathaniel acusou, eu não podia negar que sua beleza era algo absurdo.

— Foi um prazer, senhorita. — sua voz estava galante ao se despedir de mim. Nathaniel bufou ao nosso lado e eu deixei uma risadinha nervosa escapar. — Uma pena ser nessas circunstâncias.

— Obrigada Nicholas. — murmurei apertando sua mão de leve. — Você não sabe o quanto eu fico aliviada em saber que Brenda vai estar bem cuidada. Eu sinto muito que tenhamos arrastado você para isso e...

— Nunca fugimos de uma boa briga. — ele me cortou, piscando em minha direção, enquanto soltava nossas mãos e levava seu olhar para Nathaniel. — Se apresse. — Nathaniel assentiu com a cabeça e observei o vampiro sair da pequena sala num piscar de olhos.

Nathaniel fechou a porta assim que Nicholas saiu e nos arrastou pelo curto corredor que continha ali. Observei ele abrir a porta a direita, entrar no quarto e se encaminhar até uma outra porta, revelando um minúsculo closet. Nathaniel tirou de lá uma enorme mala preta e começou a jogar peças de roupas dentro dela.

— Desculpe estarmos saindo assim, eu... eu queria que... era pra gente... — seu suspiro irritado ecoou e ele chutou a mala pra longe, enquanto encostava a testa na parede. Me aproximei por suas costas e passei meus braços pela sua cintura. — Eu sinto...

— Nathaniel...

— Não, Rose! Eu fui um idiota por achar que... — observei Nathaniel engolir as palavras e balançar a cabeça. — Achei que teríamos tempo antes de tudo isso estourar. Precisamos de mais tempo. — ouvi seu sussurro e engoli em seco. Era a primeira vez que ele demonstrava algum tipo de angústia. Sua voz estava baixinha, perdida e eu não estava acostumada a ver esse Nathaniel, já que ele se mostrava sempre confiante na minha frente.

— O que vai acontecer agora? — me forcei a perguntar. Eu estava com medo, um medo doloroso e nunca sentido antes, mas precisava saber. Eu tinha que me preparar para não perder o controle na frente dele. Eu já conhecia Nathaniel o suficientemente bem para saber que se ele me visse surtando, iria se martirizar pelo resto da vida.

— Eu realmente não sei, Rose. Me desculpe por...

— Para de se desculpar. — tirei meus braços de sua cintura, somente para me enfiar a sua frente. Nathaniel foi forçado a tirar sua cabeça da parede e me encarar. — Nathaniel eu sempre soube no que estava me metendo...

— Não, Rose. Você não sabe... — sua voz estava agoniada.

— Eu sei que não será fácil. Você deixou bem claro que era perigoso, que era contra as regras. Poxa, eu sei até a parte em que queimarei no inferno se eu morrer. — tentei brincar nessa última parte, mas só consegui que ele me lançasse uma careta. — Nathaniel eu sei onde estou me metendo. Estou com medo sim, eu seria burra se dissesse que não estou morrendo de medo. Mas eu não me arrependo de nada! E faria tudo novamente. Você está arrependido? — agarrei seu rosto e obriguei-o a me encarar. Eu queria olhá-lo, queria encarar seus lindos olhos vermelhos, pois assim eu saberia se ele estivesse mentindo.

— Eu sei que sou um filho da puta egoísta, porque eu não me arrependo em nenhum momento em ter te conhecido. — sua voz não passava de um murmúrio baixo. Nathaniel encostou sua testa na minha e eu senti minha pele queimar levemente por conta da sua temperatura. — Podemos morrer a qualquer momento, mas eu não me arrependo de ter te conhecido. Isso soa tão errado. — sua risada ecoou baixa e amarga.

— Isso é o que importa para mim. — eu não quis soar insensível. Eu tinha a plena consciência de que uma guerra séria estava prestes a começar e que vidas poderiam ser perdidas, mas naquele momento, ali naquele quarto, tudo que eu queria escutar era Nathaniel me dizer que não estava arrependido. — Daremos um jeito no resto.

— Daremos um jeito. — ele me prometeu antes de selar nossos lábios em um beijo salgado. Eu não tinha percebido que estava chorando até sentir o gosto das lágrimas na boca. Nathaniel separou nossos lábios e secou minhas lágrimas em silêncio, para depois encostar seus lábios brevemente sobre os meus em um selinho demorado. — Vamos dar um jeito, eu prometo! — assenti concordando e isso foi o suficiente para que ele voltasse a jogar suas coisas dentro da sua mala. — Compraremos algumas roupas para você. — assenti mais uma vez, incapaz de achar minha voz e ele fechou a mala. Era a hora de partir.

Nathaniel nos levou até o terraço do pequeno prédio e circulou meu corpo com seu braço direito, pois com o esquerdo ele segurava a mala pesada que levava consigo. Deixei meus olhos abertos durante a viagem e me desliguei enquanto encarava as pequenas luzes brilhantes que iluminavam a cidade. Não demorou muito, quase nada na verdade, e estávamos descendo em outro beco escuro. Nathaniel nos colocou no chão e abriu a mala brevemente, para depois fechá-la ao tirar de lá um casaco.

— Não podemos chamar muita atenção. Não será nada bom se perceberem que estamos aqui. — ele explicou ao se vestir com um casaco preto. Puxou o capuz sob a cabeça e depois fez a mesma coisa com o casaco que eu estava usando. — Iremos pelos fundos, ninguém usa essa entrada. Mas não podemos arriscar. Está de noite e o bar do Nick nunca fica fechado. — explicou me puxando pela mão e segurando a mala com a outra mão.

Saímos do beco escuro e caminhamos a passos rápidos por uma rua larga, avistando logo em seguida um enorme bar do outro lado da calçada, com o letreiro em vermelho escrito "Bloody Mary". Conforme passávamos por ali, não deixei de notar que tinha algumas motos e carros estacionados displicentemente. Não deixei de notar também que minhas pernas queriam começar a travar e que tudo dentro de mim me dizia para dar meia volta e correr dali.

— É o efeito do bar. — me assustei brevemente ao ouvir a voz de Nathaniel bem próximo ao meu ouvido. Eu estava tão concentrada nessa sensação, que não tinha percebido que ele estava me olhando. — Você não quer entrar ali ou até mesmo chegar perto. Esse é o efeito que o bar de Nicholas tem nos humanos, mas precisamos seguir em...

— Tudo bem. — murmurei sob a respiração, enquanto me forçava a caminhar ao seu lado, mesmo querendo mais que tudo ir na direção contraria. Ignorei meu coração batendo acelerado e deixei que Nathaniel nos guiasse, até que ao passarmos do bar, finalmente atravessamos a rua e adentramos em outro beco escuro, andando até o final do mesmo e saindo em outra rua iluminada, porém vazia até mesmo de automóveis. O Blood Mary tomava um quarteirão inteiro e assim conseguimos andar pela lateral dele e chegar aos fundos sem problemas.

Nathaniel se aproximou e encostou a palma da sua mão na porta dos fundos, fazendo a mesma se abrir.

— Bruxaria. Nick sabe ser persuasivo quando quer. Acho que você já percebeu. — senti meu rosto corar ao me lembrar do que rolou na casa de Nathaniel. Ele rolou os olhos, mas agarrou minha mão e nos puxou por uma estreita e escura escada. Nathaniel abriu mais uma porta, dessa vez girando a maçaneta e entramos em um espaço aberto com sala, cozinha, quarto e uma única porta, que eu julgava ser o banheiro.

A sala era dividida com a cozinha, assim como a casa de Nathaniel e estava equipada com sofá, televisão, uma estante com alguns livros e até uma mesinha de centro. A cozinha tinha geladeira, fogão, micro-ondas e uma pequena pia em mármore preto. Observei a escada em madeira crua que levava a um mezanino, onde eu conseguia enxergar que havia uma cama e um guarda roupa. Observei também que no canto da sala tinha várias almofadas no chão, e vi que ali tinha um mastro que ligava a sala ao mezanino, permitindo que quem estivesse lá em cima, escorregasse pelo mesmo para chegar à sala rapidamente. Eu não conseguia imaginar Nicholas usando aquilo.

— Nick fez para minha mãe. — Nathaniel explicou ao ver para onde eu olhava.

— O que? — olhei para ele com a testa franzida e ouvi seu suspiro, antes que ele agarrasse minha mão e me levasse até o sofá.

— Acho que está na hora de te contar umas coisas...

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