53. um mês suspensas


O retorno foi calmo, todos decidiram pegar uma via mais calma, dessa vez, Archie voltaria no carro de Henrique, pois ele iria deixar Kitty na casa da Melissa, onde ela havia deixado seu carro para depois seguir para seu apartamento e ele voltaria para o seu. Valquíria e Sophie voltariam juntas, como sempre, sendo que a detetive deixaria a legista em sua casa. Vivienne estava com Blues no colo e voltava com Izzy.

- Combinei com a minha irmã de fazermos a troca no pátio do estacionamento lá de casa. Peço que você fique bem quietinha e abaixada, pois... – ela pausou. –... nós não contamos para nossos pais que você descobriu sobre a gente. - a expressão de Izzy era de uma jovem travessa, totalmente diferente do ar sério e responsável de Bess e isso Vivienne começava a perceber.

Elas faziam o percurso ainda sendo seguidas pelos outros dois carros, eles só iriam se separar quando chegassem na rota do sol, pois cada um sabia seu destino dali em diante.

- Por que eles não sabem? – Vivienne olhou para a outra.

- É a segunda vez que nos descobrem, decidimos contar depois da reunião de família. Nossos pais estão preocupados, estamos esperando a volta de um de nossos primos do exterior. Assim toda a família será reunida para começarmos a discussão. Então eles já enfrentam grande tensão, melhor colocar todas as cartas na mesa do que aos poucos. Quando for para falarmos, você conhecerá os Heinz, ao menos os da minha família – explicava Izzy. – Por isso, poderia fazer isso por nós?

- Tudo bem, a família de vocês parecem ser um pouco complicada. – admitia Vivienne acariciando Blues.

- Vou ter que concordar com você, Vivienne. Não é algo fácil.

Dirigiram juntos por mais um tempo, até se comunicarem pelo rádio, a primeira equipe a se despedir pelo rádio foi Sophie e Valquíria que pegariam outro destino para a casa da legista, depois de mais trinta quilômetros, Henrique e Kitty se despediram, pois a casa de Melissa ficava pela avenida Roberto Freire.

Izzy seguiu para a casa de seus pais que ficava afastada, percorreram mais quarenta quilômetros até serem guiados por aquela estrada em caracol. Os vidros estavam fechados, a película impedia de ser percebido quem estava dentro do carro, quando Izzy entrou no pátio de carros, Bess já estava esperando.

- Parece que alguém quer, mesmo, ver você, normalmente quando peço algo assim, ela sempre está descendo as escadas ou se arrumando. – Izzy começava a perceber que não era só Vivienne que sorria, mas também a outra. – É a primeira vez que isso ocorre. – riu - Deixarei vocês a sós agora. Tchau Blues. – ela deu um beijo na cachorrinha e saiu. Abraçou a irmã apertado e falou algo em seu ouvido que era desconhecido por Vivienne e se dirigiu para casa.

Bess entrou no carro e deu ré rapidamente para sair dali, quando estava na parte de fora do portão e distante do sistema de câmeras e seguranças dos Heinz, parou o carro na estrada de caracol e falou com Vivienne e a Blues, depositando um beijo na testa da outra e um beijo na cabecinha de Blues. Um gesto que não foi afastado por Vivienne, ela havia gostado do gesto carinhoso e cuidadoso da outra.

- Pelo visto vocês se aturaram, ainda estão vivas. – brincou a outra ao voltar a dirigir.

- Sim, estamos em período de trégua. Então, bandeira da paz erguida. – riu com seu próprio comentário. – O que a Izzy sussurrou em seu ouvido?

Bess sorriu.

- Não sabia que a senhorita Lamartine era tão curiosa assim. – seu sorriso entregava a satisfação que ela estava tendo com a pergunta da mais nova. Isso provocava Vivienne ao mesmo tempo em que a deixava tímida por ter olhado para a boca da mais velha.

- Eu perguntei sem me sentir. – confessou. – mas não se preocupe, não precisa me contar.

Elizabeth a fitava, parecia que tinha passado um tempo longo sem ver a ruiva. E de fato, Vivienne estava radiante e intrigante.

- Ela disse que agora sabia uma forma de como me fazer descer as escadas tão rápido da mansão sem deixa-la esperando. – Vivienne não tinha entendido de imediato, mas conectou a fala de Izzy sobre ser a primeira vez que Bess descia tão rápido com o fato dela ser o motivo disso.

Seu rosto ficou vermelho de imediato, o que não passou despercebido pela Heinz. Decidiram ligar o carro e continuar o percurso para casa.

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Depois de voltarem todos da saída para a casa de praia, Henrique deixou Kitty no apartamento de Melissa, que ficava na Roberto Freire. Melissa pegou o Archie e o agarrou, estava com saudades do peludo, mas também sabia que estava em muitas boas mãos, Kitty era uma ótima cuidadora de cães e sabia que Liz estava lá. Por sua vida ser tão atribulada, sabia que era bom proporcionar para o seu querido cachorro momentos ao ar livre e em contato com a natureza.

Naquela noite, certamente, Archie dormiria como um neném de tão cansado que deveria estar. Kitty se despediu da Melissa que entregou as chaves do carro dela para que a ruiva pudesse voltar para o seu loft. E assim a ruiva se despediu e se dirigiu para casa.

Em seu loft muito mais espaçoso e diferente de um kinet que são mais reduzidos, com pé direito convencional. O loft tem uma área maior do que 50 m², devido a sua origem industrial, eles possuem por vezes um pé direito bem alto, materiais rústicos.

Kitty gostava de dar soluções alternativas para dividir os cômodos e fazendo com que ficassem harmônicos e conversassem entre si. Normalmente, dividia cada espaço com os próprios móveis, era a solução pratica e mais comum, também apostava em adotar um único estilo para não errar na sua decoração. Ela tentou investir seus esforços em um conceito único que trazia um mix do designe biofílico e da arquitetura escandinava.

Ao entrar via-se a mesa de palete com 8 cadeiras, e ao lado da mesa, com uns 2 metros de distância estava o sofá cinza de três lugares, com um tapete felpudo degrade de diversas tonalidades de cinza. Sobre o tapete estava um mesinha de centro de sala com uma decoração. Quadros vintages estavam pendurados nas paredes de pequenos tijolos amarelados. Nesta mesma parede havia uma escada caracol de metal com madeira que levava direto para o quarto.

Kitty conservava algumas plantas e quando algumas chegavam a murchar, adorava recolhe-las e por em molduras para decorar seu espaço. Quando colocou as bolsas no chão e foi para a cozinha que também era conceito aberto em frente para a sala, escutou as mensagens. Estava escalada para alguns plantões só que daqui a três semanas. Enquanto, um conhecido pediu ajuda para substituir o barman que teve uma intoxicação alimentar e estava impossibilitado de ir.

Olhou a hora, retornou às 19h30, estava cansada, mas não queria deixar o velho conhecido na mão. Sabia que ele não daria conta. Pegou o telefone e retornou para ele. A voz masculina atendeu:

- Alô? – parecia preocupado e agitado.

- Oi Jey jey, como está? – falou no seu melhor tom para disfarçar o cansaço da viagem. Abriu a geladeira e tirou uma garrafa de 200ml de água e começou a tomar se dirigindo para o sofá.

- Ah, não acredito! Cate é você! – ele parecia sorrir e dizer graças a Deus para todos os anjos. – Por favor, diga que irá quebrar meu galho... – a voz mudou para o mais puro suplico.

- Está certo, eu irei quebrar seu galho, mas vou logo avisando, acabei de voltar de viagem e estou bem cansada. – Kitty, já sabia o que ele desejava antes mesmo dele falar - Qual horário você pretende abrir? – estava tomando novamente a água, enquanto escutava o amigo.

- Sabe que costumamos abrir às 20h, mas sei que impossível você chegar agora. Diga o horário que eu vou cobrir você até lá.

- Às 21h pode ser? - o bar não era tão longe e daria tempo de se ajeitar e comer algo.

- Perfeito! Sabe que te pagarei o dobro não é?

- Agora sim! Será na hora? – ela riu, fazendo gracinha com o amigo.

- Olha, você não sabe o quanto você livrou a minha vida, então, sim! Na hora! Espero você, porque preciso começar a abrir. Obrigada ruiva!

- De nada amigo! Tchau!

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Todos voltaram para suas residências, quando Elizabeth entrou no seu apartamento recebeu uma ligação de Pierre do estúdio falando que haveria uma reforma dos novos proprietários para deixar uma estrutura mais harmônica e convidativa. O pessoal do Marketing também estavam atualizando a página nas plataformas de comunicação como mega e instagram. A ideia era convidar e chamar a atenção de diversas pessoas para o teatro. Contudo, a atriz e advogada ainda não sabia quem era a nova proprietária, mas já havia arregaçado as mangas, isso ela tinha certeza.

Elizabeth tomou um banho, organizava suas coisas e depois de um tempo batidas foram ouvidas no apartamento. Ela abriu a porta, era Vivienne e Blues com roupas para dormir, a loira mais alta não pode deixar de fitar os trajes que a ruiva usava. Uma camisola fina de seda suave preta, por baixo de um robe de mesmo tom. Os seios davam volume e deixavam ainda mais marcado. Não pode deixar de engolir em seco.

Elizabeth segurava a porta e fitava a ruiva a sua frente, não sabia se o rosto da ruiva tinha ficado vermelho com o seu olhar ou se era causado por outra coisa. Vivienne quebrou aquele silêncio:

- H² tem um encontro sonoro - informou – É uma amiga dele, a Malu não sei o que. Bom, será que eu poderia ficar aqui hoje com você? – disse a ruiva.

Elizabeth apenas deixou que ambas passassem e fechou a porta atrás dela e falou:

- Claro que pode, mas como sabe que minha irmã não combinou um encontro sonoro após chegarmos de viagem e consequentemente eu terei que tomar conta disso? – seguiu Vivienne e Blues.

A ruiva a fitou erguendo uma sobrancelha e estreitou os olhos. Aquele comentário a tinha incomodado, estava acostumada a saber que Izzy tinha encontros, mas a Bess com outra pessoa, a deixava sem reação.

- Bom, vou me arriscar, mas minha suspeita é de que você não terá um encontro sonoro hoje! – disse desafiadora, o que fez Elizabeth sorrir de forma imensa. Gostava dessa Enne intrigante também.

- Como você sabe de tudo isso? – Elizabeth foi para o sofá, junto com ela e pegando a Blues no colo que já estava com as duas a um mês e meio, ninguém deu sinal de vida sobre pegar a pequena. Aparentando ter quatro meses agora e sendo oficialmente delas.

- Eu sou observadora, Bess. Você tinha algo a fazer hoje, estava ocupada? – Vivienne observava a gêmea mais velha brincar com a Blues. Bess sempre tinha uma musculatura bem desenhada que acabava chamando sua atenção. Estava com uma camiseta preta sem mangas e calça de moletom preta também. Vivienne não sabia a razão, mas gostava de admirar aquela irmã. Talvez fosse por ela ser gentil e doce.

Quando soube da existência das duas irmãs, Bess a primeira vista aparentou ser alguém fria e distante. Totalmente racionalista e ousava dizer, abusada. Enquanto Izzy, era a irmã que agia antes de pensar, dona de um instinto selvagem libidinal fervoroso, galanteadora e provocativa. Contudo, percebeu que Bess não era fria, era cuidadosa, preocupada, gentil, educada e calma. Ambas tinham um segredo forte a esconder que podiam custar a vida delas. Com o tempo e a aproximação com a gêmea mais velha, Vivienne percebeu que ela tinha traços e atitudes delicadas. Enquanto estava perdida em seus pensamentos, Elizabeth a respondeu.

- Não, não estava. – Elizabeth fitava a outra. – A propósito teremos um mês ou algo a mais do que isso, livre do estúdio. O Pierre acabou de me ligar avisando sobre isso.

Tantas situações já tinham ocorrido para deixar ambas mais próximas, inclusive uma outra situação responsável para a aproximação foi a Blues. A mais alta começou de fato a se encantar pela ruiva e devido a viagem que fizeram, tinham ficado mais próximas. Tem sido difícil se controlar e não querer abraçar a pequena, desde seu passado horrível, até quando a viu dançando com Henrique na borda da piscina. Não sabia que Vivienne Lamartine possuía traços de sedução implícitos. E de fato, aquela ruiva, sabia seduzir quando queria. Era apenas uma parte que deve ter se apagado durante um tempo.

Mas gostava da amizade que ambas construíram com o tempo, sem falar que ela, além de todas as pessoas, até mesmo dos seus pais, sabia a diferenciar. Para Vivienne, elas duas eram mesmo duas pessoas. Outro ponto que a deixava um tanto inerte é que, acima de tudo, Vivienne gostava de homens. Bess decidiu parar de pensar e aguardou a resposta da outra.

- Sim, eu fiquei sabendo, ele enviou uma mensagem para mim, você sabe algo sobre os novos proprietários? – indagou a ruiva sem ter muito conhecimento do que estava ocorrendo. - aparentemente é uma pessoa que já chegou trabalhando devido o movimento nas redes sociais e as críticas positivas que está repercutindo. 

- Sinceramente não. – admitiu por fim. – o Pierre não falou muito sobre isso nos últimos momentos. Para ser sincera com você, não sabia que o estúdio dele estava com tamanho problema, eu irei investigar isso e pedirei a papelada sobre o balanço financeiro para o pessoal.

- Será que isso terá uma nova reorganização e demissão de funcionários? – Vivienne a olhou com preocupação, pois temia perder novamente o emprego que havia reconquistado graças a mulher ali na sua frente.

Entendendo onde Vivienne queria chegar, Bess colocou sua mão sobre a dela, em busca de confortá-la. A olhou gentilmente e disse:

- Quanto a isso você poderá ficar tranquila. Sua carteira de trabalho está descrita como minha assistente pessoal, o Pierre deixou todos seus encargos e responsabilidades como salário, horas extras, décimo terceiro, folgas e outros quesitos a mais comigo. Você só tem um vínculo com o estúdio por eu também ter, contudo se um dia você queira abrir uma ação contestando os seus pagamentos, a parte que você terá que acionar sou eu. – Elizabeth a explicava detalhadamente, por fim ela concluiu. – Não precisava se preocupar, seu emprego está a salvo, sou eu que cuido de você.

Vivienne ficou um pouco constrangida com a última fala e rapidamente Bess retirou sua mão da dela. Percebeu que a última frase foi forte demais até mesmo para ela, não entendeu a razão de usar "cuidar de você" daquela maneira.

- Ah, não! – Vivienne fez uma cara de espanto não era para isso que estava questionando tal coisa. – Eu não quero e nem desejo te colocar uma ação, apenas perguntei por temer perder o emprego novamente, mas já estou tranquila, sei que cuida.

Elizabeth deu um sorriso gentil e discreto para a ruiva.

- Eu sei, apenas gosto de deixar bem informado o direito de cada um, não é porque somos vizinhas, amigas que você deve deixar seus assuntos financeiros mal esclarecidos. Tudo é passado por um contador de confiança, além de depositarmos a parte separada para o INSS, precisa se preocupar com a aposentadoria no futuro. Você disse que não havia trabalhado, então, tomei esse cuidado para que receba algo quando ocorrer alguma situação inconveniente, seja por motivo de doença ou outra coisa.

Vivienne estava surpresa por aquela mulher ter pensado a tanto tempo na frente, inclusive sobre questões de sua própria saúde. Assim, ela não iria precisar ou se preocupar tanto. Seus passos para a independência começavam a ser trilhados graças ao auxílio da mulher a sua frente.

- Eu não sei como posso agradecer, Bess. – disse a fitando e de fato queria poder dizer mais, porém, nada parecia ser o suficiente. Os olhos de ambas estavam fixos um no outro, parecia passar muito tempo quando a outra quebrou o silêncio.

- Você já agradece fazendo o bom trabalho que faz e cuidando da nossa agenda, nossos compromissos e facilitando nossa vida. – sorriu a outra e depois piscou. Um piscar que não buscava seduzi-la, apenas expressar que podia contar com ela.

Elizabeth a guiou para o andar de cima, pois tanto Vivienne como a Blues iriam dormir ali, a ruiva questionava onde ela iria dormir, ao passo que a mais velha disse que tinha coisas para serem resolvidas e ela deveria ficar tranquila. Naquela noite, as duas dormiram em cômodos separados.

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