50. Vamos sair: pé na estrada (parte 2)
Valquíria e Sophie encontravam-se às 05h da manhã em frente ao prédio de Elizabeth e Henrique, as duas mulheres dormiam pouco e acordavam bem cedo, então, foram as primeiras a chegarem. Valquíria estava com uma roupa tremendamente casual, um short de linho bege até a altura das coxas, uma camisa social leve preta, com mangas dobradas até o braço, uma bolsa de praia no ombro esquerdo e tênis branco. Enquanto Sophie, optou por um vestido azul petróleo aberto na latera da coxa direita, com pulseiras em sua mão esquerda, carregando uma bolsa de mão pequena para a praia. Nos pés, calçava uma sandália baixa, sem salto.
Kitty estava mais empolgada e já havia colocado a parte de cima do seu biquíni, branco e verde, vestindo uma saia longa com estampa de folhas, enquanto sua irmã mais nova vestia um vestido verde, aberto na lateral com estampa de folhas de verão. Para finalizar o conjunto da mulherada, veio Elizabeth, vestindo um short Jeans cintura alta por dentro uma blusa branca com uma jaqueta que descia reto até a altura de suas coxas em cor bege, tênis e camisa branca. Estava com seus óculos escuros. Todos reunidos na garagem dos Hernandez e Heinz. Elizabeth já tinha arrumado a parte do banco atrás com uma capa protetora para os cachorros não enjoarem e se caso ocorresse, estariam protegidos e evitaria alguma surpresa na estrada.
Todos deram bom dia uns para os outros, as bagagens já estavam posicionadas e guardadas. As distribuições nos carros eram: Sophie iria com Valquíria; Kitty iria com Henrique e Vivienne ficaria com Bess e os dois cachorros. Elizabeth apertou a mão de Valquíria e explicava que eles deveriam seguir para a zona sul de Nova Amsterdam, seguindo pela rota do sol e passando pela barreira do inferno. Seguir para o maior cajueiro e por lá pegar a primeira a direita depois a segunda a esquerda e descer para a estrada de terra batida poderia seguir reto, passando pelas praias de nova haye, até nova Scheveningen.
Todos foram para os seus respectivos automóveis, saindo Elizabeth no primeiro carro, sendo seguida pelo carro de Valquíria e por último Henrique, pois como Valquíria não era acostumada a andar por aqueles caminhos, preferiram escoltar a detetive. Nesse ponto pegaram a autoestrada, passando pela longa avenida Roberto Freire, até naquele momento o transito estava fluindo,
A manhã às 5h30 estava nublado, o sol estava escondido pelas bolsas cinzentas, um chuvisco fraco fez com que os três carros ficassem alerta. Elizabeth que estava na frente da frota pegou o rádio se comunicando com Valquíria para ela passar a informação para Henrique:
- Valquíria, atenta, curva fechada e um declive a direita. – dizia Elizabeth ao pegar o rádio para se comunicarem.
- Copiei, Elizabeth! – disse a morena em resposta. Rapidamente a informação foi passada para Henrique.
Quando chegaram na rota do sol, o sol começava a dar as boas-vindas. O caminho foi tranquilo sem muitos imprevistos, algumas comunicações no rádio quando algo aparecia na estrada. Até que o comunicador do carro de Henrique foi para o de Elizabeth:
- Ei meninas, cadê a emoção que estavam prometendo nesse off-road? Está tranquilo demais. – brincou Kitty.
- Quer emoção? Iremos te dar isso Kitty. – Elizabeth disso com um sorriso travesso que Vivienne desconhecia.
Quando chegaram nos bancos de areia lá estavam as tão esperadas dunas, Elizabeth falou no rádio com Valquíria e depois passou para Henrique que haviam chegado nas partes das dunas e deveriam ficar atentos para acionar corretamente as trações.
- Bom pessoal, aqui não tem mistério e é apenas seguimos até o final. A Kitty quer emoção, então, o que acham de um desafio de quem sobe primeiro nas dunas?
- A gente aceita, Liz! – Henrique falava na maior animação – Agora a Kitty vê o que é off-road!
- Nós também topamos! – Valquíria acabou falando.
Os três veículos ficaram lado a lado e foi dado a largada. Henrique saiu em disparada na frente com seu Tac Stark, Elizabeth sorriu, sabia que ele estava tentando dar a grande emoção para Kitty, porém deveria ir com cautela devido a areia fofa e em um trecho seria exigido do motor.
Os três carros novamente ficaram pareados e chegou a subida de uma duna, o banco de areia fofo, foi nessa hora que Elizabeth acelerou e ultrapassou os dois outros carros, essa subida começava a ficar íngreme, então ela acionou a tração reduzida, dando mais força para o carro chegar ao topo. Quando enfim conseguiu passar, a descida manteve em velocidade no início baixa e deixou o freio-motor atuando para poupar os freios. Após passar por um trajeto difícil, acelerou.
Os dois carros Jeep Wrangler fizeram um trabalho excepcional na subida daquele banco de areia inclinado, era a vez do Tac Star mostrar do que era capaz. Henrique começou bem, fazendo os mesmos movimentos na subida inclinada, porém o carro começou a derrapar no meio do trajeto, o que deixou Kitty angustiada, ele sorriu de lado e começou a corrigir com movimentos suaves no volante e com leves acelerações para retomar a tração nos pneus, assim subiu em linha reta e conseguiu vencer aquele obstáculo, acelerou para alcançar os dois Jeeps.
A areia subia rapidamente, foi a vez de passar por mais um banco de areia só que ainda mais fofa. Dessa vez, Valquíria foi a primeira a se atrever a subir, fez uns movimentos angulares e colocou força na aceleração, levantando areia, tinha dado tudo certo, tanto com ela e com Elizabeth, mas o Tac Stark do Henrique não teve sorte na primeira tentativa, sendo ouvido as vaias de Elizabeth para seu carro. Ele deu ré, e subiu novamente forçando o motor, nada de passar, levou uma terceira vez para subir e as mulheres tiraram sarro dele pela derrapagem, o que deixou revirando os olhos.
Depois começaram a dirigir pela parte lisa da areia, pouco dava para sentir aquele terreno disforme, era por isso que Bess preferia os 4x4, sem falar do estilo sport que combinava mais com sua pegada voltada para a natureza. Nisso ela e Izzy eram diferentes, a outra irmã era mais cidade, enquanto a outra preferia se afastar.
Sempre faziam um rodízio de gostos, assim não ficavam dependentes só de uma, o que gerava os comentários de que a Heinz era de lua. Uma hora queria de um jeito e em outro momento mudava totalmente seu estilo e gosto. Porém, ninguém, com exceção de Vivienne, sabia que essas mudanças se davam pela existência de duas Elizabeth Victoria Heinz e não só uma como consta o registro.
Elizabeth guiou eles por um trecho mais denso, a praia começava a desaparecer e dando lugar a uma trilha com mata e umas partes enlameadas, deveria ser resultado da chuva que havia acontecido horas antes. Estavam diante do primeiro obstáculo naquela trilha uma vala e uma subida.
As mulheres preferiram deixar o Henrique tentar a travessia, ele deu uma leve atolada. Praguejou e desceu do carro. As mulheres na parte de trás dos seus automóveis falaram com ele pelo rádio perguntando se iria ser necessário reboque. Mas antes, quis tentar fazer um tipo de calço com areia no sentido em que ele queria que os pneus girassem. Voltou para o carro novamente e tentou mais uma vez, quando conseguiu. Os dois Jeeps conseguiram passar, embora com dificuldade, não atolaram e conseguiu completar o percurso.
Kitty estava emocionada com a adrenalina dessa trilha, era a primeira vez experimentando um off-road, estava arrependida por pedir para Elizabeth emoções, pois foram por percursos densos sem uso do by pass, conhecido como uma passagem mais "leve" para os aventureiros de primeira viagem. Passaram pelas dunas, pela vala de lama, agora o próximo desafio e último era uma travessia com água. Bess estava eufórica para ver o desempenho do novo Wrangler, afinal o antigo modelo e o novo possuíam diferenças ao se tratar de desempenho.
- Agora vamos dar um banho nesses meninos – Elizabeth falava pelo rádio.
- Lizz, querida, você ta querendo batizar mesmo o teu carro né? Fez ele passar por tudo quanto é buraco! Agora vai enfiar a gente em água?
- Afirmativo, Henrique! Vai querer pegar um by pass? – a outra riu pelo rádio.
- A Tac Stark faz tudo que um Jeep pode fazer! Vamos lá, manda o percurso!
Fizeram uma pausa para Archie correr e fazer suas necessidades desse percurso, além de acalmar um pouco. Passado algum tempo, voltaram para a estrada e o caminho que deviam passar por água. A primeira a encarar a travessia d'água foi a própria Lizz, os cachorros ficaram quietos nesse momento. Ela inclinou o carro e usou a tração reduzida, passando devagar, seguindo um ritmo constante para não formar ondas na água.
Os outros dois carros seguiram com a mesma performance de Elizabeth para fazerem a travessia, foi um momento de grande tensão quando Henrique passou por aquela travessia d'agua houve momentos que Kitty pensou que eles ficaram atolados naquela água toda novamente. De fato, a promessa de Elizabeth foi cumprida, Kitty havia tido aventura demais.
Vivienne estava emocionada no grau de aventura que havia tido, relembrava a época que estava casada e nunca que participou ou fez algo desse tipo. Até porque Alexander não era de fazer esse tipo de coisa ou gostar disso. Era um tanto cheio de frescura demais. Aquela gêmea estava mostrando um novo mundo para a Lamartine.
A aventura foi sendo feita, saíram em pleno início da sexta-feira e voltariam no domingo, as irmãs gêmeas combinaram de que na sexta-feira Bess assumiria, daria aula e a outra voltaria no final da tarde do sábado ficando até o domingo.
Não custou muito para todos chegarem na casa, era um local magnífico, com piscina, garagem para cinco carros, diversos dormitórios, sala ampla, ambiente iluminado e claro. Toda trabalhada em estilo europeu, porém, dos inúmeros quartos, apenas três estavam disponíveis, isto porque os outros estavam passando por reformas que tiveram que ser suspensas, o arquiteto e o empreiteiro eram um casal e o marido havia sofrido um acidente, restando o outro cuidar dele nesse meio período. Os Heinz, adoravam os dois homens, todas as reformas e construções eram com eles, então, preferiam esperar pelos amigos do que pedir para outra pessoa.
Os carros haviam chegado enlameados, na volta pegariam um percurso mais leve e menos intenso, então no outro dia tiraram o que sobrou da lama do segundo desafio. Elizabeth então acabou por falar:
- Eu apenas pedirei desculpas para vocês devido a ausência de quartos disponíveis. Não sei se mencionei, mas estamos com apenas três dormitórios disponíveis e um casal de amigas são as caseiras daqui. Logo, restam apenas dois, acredito que não vão se incomodar em dividir, quanto a mim eu verei um local – dizia Elizabeth – a não ser se quiserem fazer um acampamento, temos na casa umas barracas quem for de gostar disso.
- Pode tentar ficar conosco, não daria certo? – Sophie estava preocupada no local que a outra dormiria.
- Está tudo resolvido, eu irei passar um tempo trabalhando no escritório para dar aula e eu prefiro acampar nessa natureza, não é sempre que temos essa chance. – retomou a outra e foi logo cortada por Henrique, pois não era justo ela ficar deitada no mato, ele ficaria ali de bom grado. – Meu amigo, acredito que ficaria, mas será bom para mim, eu amo acampar, além disso, darei aula para uma turma de pós-graduação no sábado, então precisaria ficar mesmo no escritório e pego uma barraca e um saco de dormir tranquilamente. Não se preocupe. Temos que aproveitar o hoje! Lembra? Carpe diem.
https://youtu.be/UaNu3KGdris
Entraram na casa, sendo logo recebidas por Carole Oliveira e Ruby Zimermann, a primeira era mais baixa, cabelos castanhos, pele morena, com um sorriso cativante, sendo seguida pela loira, um pouco mais alta de cabelos curtos, com ar de bad girl. Carole, estava trabalhando em sua tese de doutorado em psicologia forense sobre perfis criminosos, embora seu início de carreira tenha sido iniciado pela formação em psicanálise, se apaixonado, feito graduação em psicologia, mestrado em psicologia jurídica.
Mas foi com a psicanálise que sua história profissional começou, pois possibilitou a bancar seus estudos em psicologia, quando pressionada por seus pares de trabalho a falar sobre qual escola ou pensador psicanalítico ela seguia a linha, era evasiva em sua resposta.
Carole de trinta e um anos, acreditava fortemente na pluralidade, e não estava ali para seguir apenas uma visão, mas compreender todos os autores para que pudesse defender seu próprio estilo de clinicar. Enquanto, Ruby era formada em música, tocava piano como ninguém, e havia ingressado para o mestrado de musicologia pela universidade Federal de Nova Amsterdam, sendo uma das bolsistas da CNPq, dando aulas como professora de piano tanto particular como servidora externa no campus universitário. Apesar de rememorar uma rebelde sem causa era bastante agradável quando permitia conhecer alguém.
Moravam na casa de praia dos Heinz a alguns anos. Ruby tinha vinte e cinco anos, era a bisneta do mordomo da família Heinz, Niles que estava a várias gerações cuidando deles. Devido a isso, a sua bisneta era criada quase como uma prima querida da família. Contudo, sabiam que a imensa casa era demais para ser cuidada e olhada por uma única pessoa. Eles contrataram alguns empregados que ficariam sob a tutela de Ruby e passado a rigor sob as orientações de Niles.
Ruby passou a conhecer Carole, quando a segunda buscou compreender melhor a influência da arte e música no campo da psicanálise em pacientes com Transtorno de Personalidade Antissocial (TPA). Nessa conferência, os organizadores convidaram uma cantora de lírico e uma pianista. Carole ficou emocionada com a apresentação das duas, mas foi com a performance de Ruby em seu piano que pode derramar lágrimas naquelas melodiosas notas honrosas a Johann Sebastian Bach partita número dois em dó menor.
Ao final da conferência falou com a pianista e a convidou para tomar um café, juntas conversaram por longas horas e marcaram para se encontrar de novo e de novo, surgindo um interesse mútuo, ao ponto de Ruby conversa com Elizabeth, os Heinz e seu bisavó sobre a possibilidade de permanecerem ambas na casa. Como sempre os Heinz verificaram toda a linha, ficha e antecedentes criminais da mulher até falarem a resposta positiva e desde então tornaram-se amigos da Carole.
Ambas estavam no hall aguardando a entrada do pessoal, já haviam organizado algumas comidas e aperitivos no deck. Para chegarem até o hall, as visitantes tinham que passar pela longa e piscina e trilhar um caminho de pedra que conduziria para a entrada com piso em taco nobre. A porta era enorme e ali, encontrava-se a sala com uma mistura de tons madeira e pedras, dando um ar de conforto, requinte e luxuosidade. Na escada flutuante de pedra conduziria para os outros andares e demais quartos.
Enquanto dali era possível ver uma entrada para a requintada cozinha em mármore negro. Pelos fundos da cozinha, por um caminho suntuoso para fora em direção ao deck no primeiro andar. A vista dava direto para a piscina logo abaixo como também para a praia particular que haviam ao redor ali. Naquela parte externa, podia ser visto os caiaques, pranchas de surf e outros materiais esportivos.
Elizabeth se dirigiu até a porta e abraçou ambas, apresentando todos animadamente.
- Essas aqui são minhas queridas amigas, Carole Oliveira e Ruby Zimermann. Estes são Vivienne Lamartine e sua irmã Catherine Lamartine, Henrique Hernandez, doutora Sophie Seyfrield e detetive Valquíria Van Dahl, serão nossos hospedes hoje. – por fim, Elizabeth apontou para as duas criaturinhas peludas. – O Archie vocês já conhecem e essa meninota aqui é a Blues, a nova integrante da família, Ruby.
Carole e Ruby cumprimentaram todos com apertos de mãos e abraços calorosos.
- É um prazer receber todos aqui hoje e principalmente essa fofura – Carole segurava a Blues nos braços, recebendo lambidas da border collie.
- Eles terão outros cinco ou mais peludos para brincarem e cansarem por aqui – riu a Ruby ao passar a mão em Archie e depois alternar com a sua parceira com a Blues. – Bom, vamos conhecer a casa?
- Acho uma ótima ideia, Rubes – Lizz chamou pelo seu apelido.
Carole e Ruby conduziam os outros para conhecerem a casa e suas acomodações. Todos começaram a subir, ficando Elizabeth e Vivienne na sala junto dos dois cachorros. Elizabeth retirava a guia e o peitoral de Archie, junto com a de Blues e deixaram os dois animais correrem, porém eles amavam tanto estar com ela que apenas a seguiam como duas sombras.
- Eu sei, eu sei, a primeira coisa que irei cuidar é de vocês e então piscina. Não esqueci de vocês. – falava enquanto apertava os dois cachorros.
- Vem, vou ajudar você nisso. – dizia a ruiva.
- Enne, vai se trocar, foi uma longa viagem. – a outra falou pela primeira vez seu apelido e ela sorriu com isso, estava melodioso na voz da mais velha.
- Um deles é nossa responsabilidade compartilhada. – retrucou – me passa as chaves do carro e eu vou tirar as coisas deles. Elizabeth só passou para ela. Vivienne fez o percurso de volta e parou para admirar aquela vista que dava no mar, tudo aquilo era de fato muito lindo.
Depois de se deslumbrar com aquela vista, foi até a parte de trás do carro, retirando a ração para adulto do Archie e a de filhote para a Blues. Elizabeth amava tanto aqueles dois cachorros que eles possuíam as próprias mochilas e bagagens cada um. Assim, Vivienne tirava uma bagagem de mão um pouco maior do Archie e Blues uma mochila.
Elizabeth foi até a mais nova e disse que iria dar uma mão, pois lembrava que tinha uma bolsa gigantesca com os brinquedos e acessórios dos cachorros. Ela pegou a mais pesada, colocando nas costas e pegou o saco de ração pesado do Archie. Vivienne levou as coisas do Blues.
- Você gostou desse local? – enquanto faziam o caminho de volta, a Heinz mais velha quis saber.
- Está brincando? É muito lindo, longe de tudo e todos, além da completa segura e a paz que o local transmite. – confessou a ruiva.
- Sim, eu também adoro aqui, queria poder resolver tudo daqui e me mudar de vez para ficar aqui e dividir o local com as meninas e a natureza. Porém, ainda está longe de poder fazer isso.
De volta a casa, em especial na cozinha, duas mulheres ajeitavam o local da água para eles e preparavam uma ração com divertimento.
- O que você está fazendo? – indagou a ruiva.
- Ah, você ainda não viu, não é? Eu costumo treinar os meus cães, bom, depois de tanto encher o saco da Melissa sobre enriquecimento ambiental (e.a) , ela enfim viu que era uma boa ideia e estimulava muito mais o cérebro e as funções do Archie. – Elizabeth retirava uma enorme petball e começava a preencher de ração. – A ideia do enriquecimento ambiental é que o cachorro ou mesmo o gato, possam exercitar a mente, ter uma autonomia, mas também estimular seus sentidos de caça. Então, gosto de colocar sim a ração no pote, quando já estão cansados. Mas fora isso, adoro que eles tenham algo para brincar e estimular.
- Você já estava treinando a Blues dessa forma, não é? – a ruiva pegava um medidor de ração, pois lembrava que a outra já havia verificado quantas gramas ela deveria comer.
- Sim, eu apenas esqueci de te passar isso. – Elizabeth separava uma enorme caixa de papelão para guardar a petball e tampa-la para Archie. – O Archie já está nessa a um bom tempo, então, o "e.a" pode ser mais desafiador. Já a Blues, vamos pegando leve com ela, então só coloca as gramas dentro desse "João bobo" aqui. – Elizabeth passou o outro brinquedo interativo para cães que ela tinha da época do Joe. Ela nunca jogou nada fora do seu velho amigo.
Vivienne estava procurando naquele brinquedo a abertura e a mais velha acabou sorrindo.
- Você ainda não tinha visto, não é? – ela riu e se colocou atrás da mais nova e mais baixa do que ela, falando perto do seu ouvido – a ideia desse brinquedo é que o filhote ele "derrube" ou tente derrubar para a ração cair. Viu como aqui existe um regulador de dificuldade. Se você deixar totalmente aberto, cairá diversos grãos, a medida que você fechar o nível de dificuldade aumentará. – Vivienne colocava a ração dentro daquele brinquedo, tendo a mais velha atrás de si e sentindo o hálito quente em seu lóbulo direito - Blues ainda é um bebê e principiante nessa brincadeira, então, vamos deixar fácil para ela. – Vivienne deixou a abertura fácil e terminou. – Pronto, agora é só dar para eles brincarem.
Elizabeth levava a caixa fechada e dentro dela uma petball para Archie que já estava pulando de excitação por saber que iria se alimentar e Vivienne com o brinquedo interativo da Blues.
- Nesse momento a gente pede algum comando e vem a recompensa daí que é eles terão acesso a comida. – O Golden já sabendo o que o aguardava, sentou imediatamente e olhava fixamente para a caixa, balançando o rabo. – O Archie, ele sabe que para ganhar ele tem que ficar menos eufórico. Então, eu vou pedir outra coisa para ele. – Elizabeth olhou para Archie, fez um gesto de mão e disse – Cumprimenta.
O cachorro ficou apoiado somente com as patas traseiras e o bumbum, levantando as patas dianteiras no ar.
- Muito bom, garoto! Agora fala! – Archie latiu e ela deu a caixa para ele como recompensa, um pouco afastado da Blues, assim ele teria melhor privacidade. – Vamos, sua vez, faz com a Blues. Só sentar já é o começo, nós estávamos treinando esse.
Vivienne olhou para a Blues que estava latindo baixinho, querendo mordiscar os pés e depois corria atrás do próprio rabo.
- Fique abaixada e passe um grão de ração por cima da cabeça dela até ela sentar. – Elizabeth falava, enquanto supervisionava a caixa quase toda destruída do Archie. Ela sabia que aquele papelão não seria ingerido, mas como sempre, supervisionava o cachorro.
Vivienne seguiu o passo a passo que a outra disse. Guiou sua mão por cima da cabeça da pequena que queria pular para pegar aquela "presa"; depois de mais algumas três tentativas, ela conseguiu sentar e ficar quietinha. A ruiva olhou para a outra que confirmou com a cabeça e Vivienne parabenizou a pequena Border e deu a ração e depois o brinquedo.
- Nessas horas é sempre bom supervisionar em caso de papelão. Porém, com o tempo, você vai perceber que eles só rasgão e não engolem. São criaturas formidáveis. – Archie tinha acabado tudo em menos de 10 minutos, enquanto a pequena Blues lutava bravamente com o brinquedo. – Bom, o grandão terminou, parece que preciso dificultar mais para você. Agora, falta só a outra.
Enquanto esperavam Blues acabar com a ração daquele brinquedo, Vivienne questionou como a outra aprendeu tudo isso.
- Quando comecei a me envolver com animais acabei aprendendo coisas que não sabia ou imaginaria que iria aprender. Na época a presidente da ONG contratou um adestrador. Estávamos tão bem naquele período que mais de cinquenta cães eram treinados separadamente e foi nessa época com essa equipe de adestradores que nós, voluntários fomos treinados, pois dali para frente iríamos ser responsáveis por esse treinamento. – Elizabeth, sorria maravilhada com a insistência do Blues para tirar aquele alimento. Elas estavam sentadas no sofá, tendo um Archie calmo e saciado do lado, assistindo a missão impossível do Blues.
- Nunca pensou em deixar o que faz para seguir com o que ama?
- Hum? – Elizabeth a olhou de repente nos olhos. – o que quer dizer, por que acha que o que eu faço não amo?
- Você faz inúmeras coisas: você é diretora, atriz, advoga e quando tem um tempo dá aulas e agora já sabemos como tudo isso é possível, mas eu nunca vi você com esse sorriso – Vivienne apontou para o sorriso que a outra estava quando contemplava os cachorros fazendo os comandos corretamente - quando faz uma dessas coisas como estou vendo agora. Claro, nunca te vi dar aula ou advogar. – Vivienne tocava em um assunto delicado.
Elizabeth se ajeitou mais no sofá, aquele assunto era desconfortável, como ela poderia saber do que de fato gostava se seus pais traçaram algumas coisas para ela, ou melhor, para elas. Alguns desejos e vontades deveriam ser suprimidos, afinal, ela não poderia jamais ter uma vida só sua.
- Eu nunca parei para pensar no que de fato eu gosto – disse com a maior sinceridade e Vivienne viu através daqueles olhos que a outra estava falando a verdade.
- Eu acredito que consigo compreender como você se sente. Eu me casei cedo. Quando terminei o ensino médio eu casei e fui direto para Curitiba viver com o Alexander. Embora eu seja a Lamartine mais jovem, meus pais colocaram todas as tensões em cima da Kitty. Ambos dos nossos pais são médicos e claro, deveríamos seguir com a área da saúde ou casarmos. Mamãe tinha um pai extremamente rígido. – Vivienne olhava para Blues que ainda estava tentando tirar cada grãozinho da ração. – Eu "me livrei" de uma das responsabilidades – fez aspas com as mãos. – casei, então eles estavam despreocupados comigo. Mas Kitty é e sempre foi diferente, foi livre, geniosa e dona do próprio nariz. Ela assumiu ser bissexual e nosso pai ficou uma fera na época, porém aos poucos foi sendo contornado pela mamãe e a Kitty. O que os chocam é a instabilidade financeira que ela vive e com os inúmeros e não fixos empregos. Acredito que essa a preocupação que os assolam atualmente. Apenas a querem feliz e bem.
Elizabeth prestava atenção no que a outra falava. Vivienne tornou a fala.
- Claro que nossos pais não entendem que ela é boa em tudo o que faz. A Kitty é um camaleão, ela sabe fazer de tudo. Por vezes, eu vejo que grande parte ela não quer se fixar para não dar um gostinho para os nossos pais e ela adia terminar a residência de medicina. – nesse exato momento Vivienne a fitou com um sorriso sem graça.
- Consigo imaginar com o pouco que conheço a Kitty que ela faria algo do tipo.
- Pode ser inacreditável, mas ela tem ótimas notas, ela passou em mais de uma seleção da residência, só que ela fica adiando. Ela poderia estar no hospital com a mamãe e o papai ou abrir uma clínica, não sei o que ela quer. – suspirou a irmã em lamentação aos pais - Então, papai e mamãe dizem que ela está estragando o futuro dela. Porém, a Kitty é feliz, ela não se vê feliz fazendo o que eles querem para ela. Da mesma forma que eu não fui feliz fazendo a escolha de me casar cedo, porque meus pais achavam que o Alexander estava apaixonado por mim. – Vivienne fitava ainda mais a Blues. – Às vezes nos sacrificamos pelas pessoas e lá na frente pagamos um preço alto, o preço pode ser nossa felicidade, nossos anos, então, a minha pergunta era, o que você está disposta a sacrificar pelos outros? – Vivienne enfim parou de fitar a Blues e voltou-se para Elizabeth.
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