46. "tell me somethin' girl...
https://youtu.be/adPGSh5ktZo
Vivianne deixava cair algumas lágrimas após contar aquele momento tão íntimo para a loira. A outra ao seu lado, como um instinto apenas pegou a mais baixa e mais nova para perto de si, fazendo com que ficasse entre suas penas e a abraçou tão apertado e de forma acolhedora que a ruiva não fez nada para afastá-la, muito pelo contrário, não lembrou de fazer isso e nem desejava. Ambas tinham perdido naquele dia algo ou alguém que eram importantes, apenas compartilharam de suas dores e consolaram uma a outra por longos minutos.
Talvez tinha passado cerca de trinta minutos não sabiam, mas aquela forma continuou assim, até Vivi parar de chorar e soltar-se um pouco daquele abraço que foi se tornando cada vez mais frouxo para que pudessem se olhar. A face corada da ruiva, fez Elizabeth, enxugar com seu polegar as lágrimas da outra. Sem aviso ou mesmo nada, ela depositou um beijo no topo da testa da outra como quem dissesse: "Eu sinto muito, vai ficar tudo bem!", e foi isso que foi entendido.
Elas se encararam, pela primeira vez estavam próximas uma da outra. Vivianne confiava na mulher a sua frente, embora, se fosse a irmã dela, teria receio de estar tão próxima e muito incomodada, como já ficou de outras vezes, mas estar tão próxima da Bess, era confortável, era seguro, aconchegante pela seriedade, responsabilidade, confiança que ela transmitia. Ela observou a boca carnuda da outra que a fez umedecer os lábios, a maior apenas acompanhava cada movimento. Distantes delas, podia ser ouvida uma música internacional em uma versão cover:
"tell me somethin' girl, are you happy in this modern world? Or do you need more?"
Elizabeth colocou um fio para trás da orelha da ruiva que com o vento insistia de ir para o rosto da mais nova. Ficar perto da outra Heinz provocava sentimentos ambíguos nela e de difícil compreensão. Vivienne não entendia, mas apenas queria que a outra não se afastasse. A música ia se dissipando e mais nada, apenas o som do mar eram ouvidos, ficaram se encarando, como faltassem coragem para ambas de algo mais, até um grunhido despertar daquele transe envolvente.
Vivienne foi a primeira a estreitar os olhos em expressão de dúvida e o mesmo foi seguido pela outra, observaram ao redor, e um pequeno filhote, blue merle, possivelmente border collie estava puxando a blusa de Vivienne. Ambas começaram a rir.
- Parece que quando estou com você, os animais nos perseguem. – ambas riram.
- Isso é verdade, todas às vezes algum bichinho entra em nosso caminho. Ele parece perdido. Sem coleira, sem nenhuma identificação e ainda é muito filhote. Não deve ter mais de 90 dias.
Olharam ao redor, não havia pessoas, Vivienne segurou ele no colo e ele começou a lamber a ruiva.
- Diana teria amado. – comentou a ruiva
- Ela ficou encantada pelo Joe, lembro como se fosse hoje e ele ficou encantado por ela. – As duas acariciavam aquele cachorro que ninguém sabe de onde havia surgido.- Temos que levar para uma clínica, a dra. Wei do Joe. Ela saberá o que fazer e depois vamos publicar e esperar alguém se manifestar. Ela não parece estar na rua a muito tempo, pode ter fugido, não faço ideia. Mas não há parasitas, não há sinais de estar tão suja, exceto por um monte de areia e estar molhada em alguns locais.
- Acha que ela precisará ser internada? - indagou a ruiva segurando a pequena cadelinha
- Não sei, observando de primeiro momento, receio que não, talvez até volte conosco. Você deseja passar a noite com ela? - indagou a mais alta.
- Posso sim, mas você que sabe cuidar, não quer tentar?
- Você sempre parece só naquele apartamento... pensei que gostaria de ter companhia e ela gosta de você.
- Quer dizer de nós. - sorriu Vivienne.
- Bom, decidimos depois esse detalhe. O importante, é que ela terá um teto hoje. Vamos nos apressar, ChoHee Wei é lotada, e se queremos falar com ela, precisamos correr.
Levantaram e se dirigiram para o carro, Vivienne foi o tempo todo com o pequeno nos braços, enquanto Elizabeth terminava de agendar e preparar tudo com ChoHee Wei que dizia que poderia recebe-las.
- Pronto, ChoHee, confirmou que está livre agora, seu último paciente desmarcou, então na teoria temos sorte.
Elizabeth se dirigiu até a clínica da Dra. ChoHee Wei que ficava na avenida Roberto Freire, não tão longe dali, dentro de um dos famosos shoppings da cidade de Nova Amsterdam chamado de " Zee Shopping". ChoHee Wei tinha a sua clínica logo ali e era muito conhecida, além de ter grande prestígio. Ela abrigava mais de cinco especialidades, sendo um consultório extremamente famoso e também hospital.
As duas mulheres chegaram no shopping e Elizabeth mostrou onde ficava a clínica, pois ela informou que iria comprar algumas coisas necessárias para o cachorro e qualquer remédio teria ali mesmo no hospital. Vivienne assim concordou.
- ChoHee Wei está esperando por nós, só avisar e estará tudo ok. Eu volto logo tá bom?
- Tudo bem. – Vivienne saiu do carro com o cachorro e se dirigiu para a clínica vendo o carro da outra partir quando ela já estava dentro do shopping. Afinal, era um shopping um tanto aberto e bastante ventilado.
Uma mulher de jaleco azul marinho foi recebê-la na porta. Ao que deduziu Vivienne, deveria ser a ChoHee Wei, era uma mulher magra, da mesma altura que ela, pele alva, cabelos lisos soltos, olhos puxados, entregando sua ascendência coreana com um sorriso extremamente brilhante, a aguardava animadamente.
- An-nyeong-há-se-yo, (olá) você deve ser a Vivienne, eu sou ChoHee Wei, amiga e veterinária da albina, não veterinária da albina, ela não é um animal, eu cuido nos animais que ela traz. – dizia enquanto se atrapalhava um pouco. - ela deve ter ido comprar as coisas da bolinha de pelos, não é? Vamos entrar e examinar essa bolinha de pelos – ChoHee Wei a guiou para dentro e era um local enorme com diferentes especialidades. O hospital parecia cheio para os outros médicos. Ao que Vivienne entendeu, o prédio havia sido comprado por ela e recebia também uma comissão de todos os melhores médicos veterinários que havia contratado, sendo considerada a melhor do Estado em quesitos de animais de pequeno porte. Ela guiou para os fundos do local até seu consultório. Pediu para Vivienne colocar na bancada de alumínio.
- Temos aqui uma menininha. – ChoHee Wei examinou e apalpou a pequenina. Fazendo algumas coletas de materiais, exame de citologia, vermifugou e aplicou a vacina V10 - Você conhece a Lizzy a muito tempo?
- Eu sou assistente dela e também vizinha de apartamento. – respondeu a ruiva acariciando a bolinha de pelos.
- A Albina ama demais animais, perdi a conta de quantos nós já ajudamos. Pelo que entendi, vocês encontraram na praia, sabe é bem comum as pessoas abandonarem animais, mesmo de raça. Antigamente era mais frequente com cachorros ou gatos sem raça definida (SRD), porém tornou-se algo sem distinção, as pessoas abandonam aos montes e em épocas festivas nem se fala, cresce o número de adoções e no outro mês o número de abandono. – comentava com certa irritação na voz por existir tal irresponsabilidade.
- É uma verdadeira tristeza, as pessoas não possuem mais senso ou coração. Elizabeth me explicou que é voluntária, na verdade vocês duas, não é? – disse curiosa.
- Sim, ajudo nos mutirões de vacinação e castração, é algo extremamente importante, além disso estimulamos palestras informativas sobre os principais cuidados e avisos e precauções contra a leishmaniose que se tornou bastante comum aqui na região e outras coisas. Então, estamos tentando sempre explicar para a civilização sobre a adoção, responsabilidades e conscientização de que não são seres descartáveis. – Dizia ChoHee Wei, enquanto injetava vacina e alguns fortificantes, pois Elizabeth tinha uma parceria e cadastro de protetora dos animais na clínica que dava certo desconto, apesar de não ser problema financeiro, mas ChoHee Wei fazia questão.
- E você conhece Elizabeth a muito tempo? – agora foi a vez da ruiva questionar sobre a mais velha.
- Sim, a Albina e eu nos conhecemos tem alguns anos. Acredito que tinha cerca de uns dezoito anos, acredite ou não, eu fazia direito no turno da noite, foi ai que nos conhecemos. Ela ainda cursava teatro pela manhã, achava loucura demais ela fazer tudo isso. Porém, eu percebi que isso não era para mim e acabei largando o curso. A Albina me apoio nessa mudança repentina, enquanto meus pais estavam loucos. – ela riu por trás de um semblante triste ao lembrar disso – Não recebi apoio, então, a família da Albina me deu um emprego de recepcionista no escritório deles, trabalhava quatro horas e juntava para pagar os livros da universidade. Meus pais cortaram minhas economias, fui expulsa de casa só por não seguir os caminhos que eles queriam. A família da Albina tinha um imóvel para ser adaptado, então estava desocupado. Eles me ofereceram e eu não podia aceitar, queria alugar algo, mas eles negaram, então como bons advogados e com bons argumentos, utilizaram a ideia de usufrutuário. Eu tomaria conta daquele imóvel para eles, podendo viver lá tranquilamente. – falou com um sorriso sincero. – A época que não tive o apoio da minha família, me machucou, porém fui acolhida pela família da Albina. Então, Elizabeth me ajudou muito no meu período mais vulnerável. É claro que faria tudo isso de graça, mas ela nunca que aceita, então dou meu jeitinho. Prefiro estar envolvida em todos os projetos, se fui tão bem recebida e cuidada, quero ao menos retribuir, assim ajudo a Albina sempre que posso e não só por ela, mas por todos os animais.
Vivienne estava emocionada por ouvir as histórias da outra, era totalmente diferente da irmã, a que era tão cheia de luxúria, que ficava com mais de quatro mulheres ao mesmo tempo. Essa irmã ela estava cada vez mais curiosa para conhecer, mas um alerta no seu cérebro a lembrou de que, ninguém sabia da existência de duas Elizabeth's e se estava fazendo um juízo errado de Izzy? Batidas foram ouvidas e a mais alta estava de volta.
- Oi morena! – disse Elizabeth
- Oi Albina! Estou vendo aqui o novo resgate de vocês e é uma linda garotinha border collie blue merle! Esses humanos estão cada vez mais loucos! Ela apresenta um quadro de parasitas nos tímpanos, precisamos cuidar logo, mas é um tratamento tranquilo. As medicações para o primeiro tratamento será a base de otiflex limpiador, precisará aplicar uma vez a cada doze horas durante cinco dias e depois você segue com um antibiótico, o Easotic spray, será a cada vinte e quatro horas durante sete dias, tudo bem? Vou colocar tudo isso no receituário
- Certo, eu vou pegar na farmácia de vocês.
- Se o dono oficialmente aparecer, o que eu duvido muito, ela tem um retorno comigo agendado para daqui a trinta dias, se algo piorar traga antes, Albina. Mande sempre que puder fotos de qualquer alteração.
- Tudo bem, você sempre me salva, amiga! Não tenho como te agradecer! – disse com um sorriso amigável.
Vivienne notava a relação que as duas moças tinham e pela primeira vez, uma mulher não estava dando em cima da outra e vice-versa. Era uma relação estritamente de amizade e uma boa amizade. Vivienne ficou admirada pelas duas mulheres dialogando sobre a pequena cadelinha ali.
- Bom, garotas, estão liberadas agora, não quero tomar mais nenhum tempo de vocês. Vamos ver como a garotinha irá se sair e vocês duas podem me ligar caso precisem! – disse ChoHee Wei se despedindo.
Vivienne estava carregando a pequena bolotinha nos braços, enquanto perguntava para Elizabeth onde ela tinha ido, foi uma atitude um tanto reflexiva e fechou a boca rapidamente, isso a fazia lembrar do passado dela e sempre ouvia algo ruim do Alexander, ele dizia que ela queria controla-lo. Esperou por ouvir a mesma coisa da moça alta que não agiu dessa forma:
- Eu fui ao pet shop aqui na esquina. Comprei alguns quilos de ração para essa bolotinha, além disso, comedouro, pois acabei doando os do Joe, tapetes higiênicos e cascos, essa boca nervosa poderá nos dar certo trabalho.
Elizabeth descia as escadas com ela e acabou até sorrindo. Não acreditava que alguém que pouco a conhecia não havia ligado e só respondido a sua pergunta, sem ver como alguém controladora ou ditadora.
- Entendi, vamos pegar os medicamentos?
- Sim, viramos aqui a esquerda com a Jules. – Elizabeth e Vivienne foram até a farmácia e deram a receita para a Jules, uma mocinha de aparentemente 24 anos, cabelos castanhos na altura dos seios e um crachá dizendo o seu nome. Seus olhos eram castanhos e com longos cílios.
- Oi, Liz – a Jules piscava para ela com um sorriso amistoso. – Como está? O que temos dessa vez?
A jovem parou de sorrir quando viu Vivienne e intercalou entre Liz e Vivienne, achando que eram um casal. Elizabeth perguntou quanto custava tudo e Jules disse que era por conta da ChoHee Wei, a outra revirou os olhos e disse que a amiga não tinha jeito. Vivienne percebeu que a moça a sua frente estava interessada na mais alta que mantinha postura profissional e distante, sendo um exemplo de educação, porém sem ser nada rude. Ela gostou de como a mais alta agiu nessas situações, era a primeira vez que via esse tipo de interação com a outra, sem ser a irmã da luxúria. Elas se despediram e foram para o carro, Elizabeth abriu a porta para Vivienne.
- Obrigada, Bess.
- De nada.
A outra deu a volta e entrou no carro.
- Então, deseja passar a noite com ela?
- Você comprou tudo, trouxe para cá, ela parece mais sua do que minha. – disse Vivi.
- Bom, ela amou estar com você, viu só? Até adormeceu no seu colo. Eu estarei do lado, hoje é a minha noite no apartamento, então, eu posso ajudar você no que precisar.
- Sua irmã não gosta de cachorros? – perguntou curiosa.
- Ela gosta... – fez uma pausa - nós.. bom... não temos muitos gostos distintos, sabe? Precisamos gostar de tudo que a outra gosta para não haver diferenças, porém sim, é fato que os meus gostos sou eu que lido, mas eu tento nunca me apegar muito a algo, pois como precisamos variar, essas criaturinhas reconhecem. Você precisava ver o Archie quase dedurou a gente uma vez. – abriu um sorriso sincero ao lembrar da situação
- O Archie? Mas ele é louco por você. – disse enquanto dirigiam para casa. – como foi isso?
- Olha, ele realmente é louco por mim, não era pela Izzy. Tivemos que inventar um encontro com uma mulher para a Melissa e sugeri que ela deixasse o Archie conosco, aliás comigo. Foi um encontro bem quente. Tudo ficou por conta da Izzy e demoraria uma semana, foi o tempo que ficamos com o Archie no apartamento para ele se acostumar com a Izzy e ninguém perceber. Foi um verdadeiro intensivo até que enfim deu certo, mas foi uma loucura e hoje em dia eles dois se dão melhores do que nunca, só que você consegue perceber levemente uma diferença de tratamento comigo e com a Izzy. Ele costuma pular em mim e me seguir, você vai perceber um dia.
- Eu adoraria ter visto isso. – elas riram.
Chegaram no condomínio e levaram a nova inquilina para lá.
- Vamos, entre – convidou Vivienne.
Elizabeth pediu licença e entrou.
- Precisamos ajeitar um pouco o local para ela, podemos chama-la por algo temporário.. enquanto os donos a encontram.
- A Dra. ChoHee Wei disse que ela é um Blue Merle, pensei em chama-la temporariamente, enquanto está conosco de Blues - disse Vivienne para Liz - o que você acha?
- Acho uma excelente ideia e um lindo nome, eu gostei! Devemos tirar uma foto dessa garota e divulgar nos grupos.
- Sim, devemos fazer isso. - Elizabeth e Vivienne fizeram várias fotos da pequena Blues que estava dormindo após os medicamentos.
- Ela está sonolenta devido aos remédios, deu um pouco de anemia, então é normal. Vou pegar o cercadinho do Joe para colocar aqui para ela. - Bess foi em casa e pegou tudo o que precisava, deixando a pequena envolta do cercado com água, comida, brinquedo, um tapete lavável.
Enquanto Bess ajeitava a postagem de que encontrou um cachorro, Vivienne fazia um jantar para as duas.
- Prontinho, tudo divulgado, agora devemos esperar e ver se os donos aparecem. - disse enquanto sentava nas cadeiras perto da bancada de frente a cozinha - você cozinha bem, senhorita Lamartine.
- Ah, obrigada, senhorita Heinz, vindo de uma Heinz é um elogio mesmo. - colocou uma porção de massa ao molho de queijo com camarão para a outra e serviu também para si. - E se os donos não aparecerem, o que faremos?
- Ficamos com ela, podemos adota-la.
- Como assim podemos?
- Você e eu, se quiser a minha ajuda, embora sua irmã passe tempo com cães... ela sabe como cuidar de um.
- Espere, você quer adotar um cachorro comigo? Isso não é só para casais? - a ruiva ficou um tanto nervosa e constrangida, suas maçãs coraram e a loira sorriu.
- Nunca viu adoção entre amigos? - indagou a outra colocando a comida na boca e suspirando, estava tão delicioso. - está perfeito! Você cozinha muito bem! – reafirmou aquilo, de fato fazia tempo que Bess não comia algo tão gostoso.
- Obrigada! Mas voltando, não nunca ouvi falar de adoção entre amigos e como isso funciona?
- Bom, faremos ocorrer, somos vizinhas, apenas faremos funcionar, não se preocupe com isso, darei todo suporte e cuidado.
Elas terminaram de comer e Bess se ofereceu para lavar a louça, assim foi feito, enquanto Vivienne tomava um banho e logo depois voltava para sala.
- Eu agradeço muito pelo jantar, acho que você quer descansar, eu vou para casa e pode me chamar para qualquer coisa. – falava a Heinz.
- Você podia... passar a noite. Faz muito tempo que não tenho um cachorro e hoje a Kitty estará de plantão, então... poderia me ajudar, caso não seja incomodo e você tenha tempo.
- Tudo bem, eu vou só em casa tomar um banho e venho ficar aqui com vocês.
Depois de quinze minutos ela estava de volta com uma camisa preta regata e uma calça cinza de moletom, tinha nos pés duas havaianas pretas.
Vivienne a observou e outra diferença que percebeu era a massa muscular da outra, alguns gêmeos possuíam corpos distintos e Bess era mais musculosa, seus tríceps, bíceps eram mais definidos e desenhados, os deltoides desenhados em suas tatuagens. O abdomen parecia rígido, não que o da outra gêmea não fosse, mas sabia que a massa muscular da Bess ficava mais desenhada e exposta. Vivianne ficou corada ao perceber que a outra percebeu que ela a encarava. Ambas desviaram o olhar um tanto constrangidas. De fato ela não podia esquecer ou negar que aquela irmã a chamava a atenção, talvez fosse apenas uma grande admiração que estava sentindo. Era o que pensava.
- Venha ver, a Blues acordou - tiraram a pequena do cercado e começaram a brincar. Bess ensinava para a Blues e para a Vivienne alguns comandos, pois assim ela poderia começar a obedecer ambas. - veja, no primeiro momento não é preciso falar os comandos, faça que ela sinta isso como uma brincadeira e ela irá por dedução. Depois que o comando estiver fixo, podemos nomear. Veja só.
Bess tinha dois grãos de ração e conduziu até a cabeça da pequena que tentava pegar a todo custo, mas não entendia o que era para fazer e muito menos pegar. Acabou sentando por cansaço e assim Bess liberou a comida que comeu com gosto.
- É mesmo, que fascinante! – disse a ruiva admirada.
- Venha, tente - Bess tocou na mão da outra e colocou alguns grãos de ração, Vivienne não afastou. Tentou fazer como viu Bess, mas a pequena Border foi mais rápida e roubou a ração dela. Isso arrancou um riso gostoso da mais alta que não se controlou e recebeu um tapa de leve da ruiva. - desculpe, não consegui me segurar. Ela foi mais rápida do que você. Venha, deixa-me ajudar.
Bess se posicionou atrás dela, passou sua mão no antebraço direito da outra até as mãos da ruiva, colocou mais algumas rações e guiaram juntas até a cabecinha peluda da Blues que estava começando a entender e sentou automaticamente esperando ganhar o petisco.
- Isso! Boa garota! – falou Elizabeth, sendo ouvido o sussurro no ouvido de Vivienne – com o tempo ela vai pegar bem mais rápido. O importante é sempre marcarmos os acertos, seja com clicker de boca ou um clicker aparelho. Particularmente prefiro o de boca, assim mantenho as mãos livres para fazer outras coisas.
- O que é o clicker? – indagou Vivienne se ajeitando entre as pernas da outra que estava atrás de si. Ter a mais velha atrás de si estava começando a se acostumar. Parecia que aquela era a forma mais obvia e natural que deveriam estar.
Elizabeth a fitava e sorriu de lado.
- O clicker é uma forma de você fazer a indicação para o cachorro, gato que você está adestrando uma marcação de que ele fez o certo. É um barulho específico. Ao invés de falarmos "muito bem", "isso aí", podemos só fazer um estalo que vai resumir em um simples barulho o certo. Pode ser o clicker de boca – ela estalou a língua para fazer o exemplo – ou nesse botãozinho – o apertou e fez o "estalo".
Elizabeth fitava o fundo dos olhos verdes e descia para a boca da mais nova. Piscou e respirou fundo, ela não queria ser como a sua irmã, não agora que estavam se dando tão bem, sem discussões, porém admitiu para si que a pequena era linda e muito atraente. E só talvez, a fizesse sentir um grau de interesse que nunca havia sentido por ninguém antes.
- É um método de treino entendi. Já podemos começar a fazer isso com a Blues? – indagou acariciando a cadelinha entre suas pernas. As mãos das duas mulheres acabavam se encontrando com a troca de carinho depositada na Blues.
- Podemos ficar sim fazendo isso, perceberemos que ela estará condicionada ao barulho quando ela rapidamente ficar olhando para nós a cada clique.
Elas ficaram naquela posição sem se incomodarem, Elizabeth ensinando tanto Vivienne o comando para ensinar Blues a sentar, deitar, rolar, dar a patinha. Ambas riram com as atrapalhadas da pequena cadelinha. Pela primeira vez em algum tempo, Vivienne estava se sentindo bem e esquecia dos seus problemas, deixando-se e se permitindo a sorrir verdadeiramente.
A Blues a fez rir tanto que ela não percebeu que recostou suas costas no peito de Elizabeth que a ainda a tinha entre suas pernas, enquanto estavam sentadas no chão. Bess acabou sorrindo e sentiu o corpo da outra posicionado no seu e apenas a deixou mais aconchegada. Quando Vivienne percebeu, pediu desculpas se afastando um pouco, o que deixou a outra sentindo falta desse encontro de corpos.
- Está tudo bem – disse a mais alta, tentando ter aquele encontro de corpos novamente.
- Melhor nos ajeitarmos, não me dei conta o quão próximas estávamos. – Vivienne saiu daquele enlaço e foi para o lado.
- Tem medo de se aproximar de mim, Lamartine? Eu não faria nada que você não quisesse, pode confiar em mim. – disse a outra a observando ao seu lado, sentada.
- E eu confio em você nesse quesito, Bess. Eu só estou... um pouco confusa. – desviou os olhos da outra.
- Confusa? – franziu o cenho, era algo que fazia sempre que algo não era totalmente claro para si.
- Toda essa história, você e sua irmã são idênticas por fora, mas só isso, vocês são tão diferentes. Eu não consigo está assim com a Elizabeth, aliás, com a Victória, com a Izzy. E eu olho para você e lembro dela, mas vocês são tão diferentes. Eu sei que não faria nada e por isso estou confusa pela primeira vez falando com uma das gêmeas. – tentou explicar da melhor forma que pode.
- Continuo sem entender, Vivienne, você vê a minha irmã e isso te deixa um tanto chateada? – tentava entender a fala da outra.
- Não, não é isso. Vamos deixar para lá. – Enne acabou levantando e Elizabeth fez o mesmo segurando sua mão para impedir que se afastasse. Vivienne voltou a olha-la.
- Eu queria que me explicasse – Bess não largou a mão da outra que também não fez menção de recolher. – por favor.
- Também queria poder explicar da forma que você entendesse e até mesmo eu. Porém, ainda está tudo confuso dentro de mim. Eu estou passando por um divórcio com alguém que... – ela fez uma pausa. – com alguém que eu confiava, era alguém importante para mim e com o passar dos anos fez coisas terríveis comigo e inimagináveis como você sabe. E para completar – Vivienne olhou para Elizabeth com os olhos um tanto marejados. – eu sempre me envolvi com homens, eu... eu não sei o que é isso. Preciso me entender.
Bess a abraçou e deu outro beijo no topo da sua cabeça.
- Não precisa se preocupar com nada disso, estou aqui ao seu lado. Somos vizinhas e como disse, estamos fazendo uma amizade crescer, - Elizabeth disse a palavra amizade, de forma um tanto triste, que foi percebida pela outra. - é normal que a gente se apoie. Estarei aqui para o que precisar.
- Obrigada. – Vivienne retribuiu aquele abraço caloroso da outra.
Música "shallow" na voz da cantora de metal sinfônico Floor Jansen
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