44. Sua assistente pessoal?
Uma semana se passou sem Elizabeth pisar no estúdio devido a um problema de saúde que gerou um atestado de sete dias. A ruiva podia imaginar que não era esse o problema, pois desde a última conversa todas estavam bem e com saúde. No estúdio o burburinho era solto, pois raramente viam a senhorita Heinz adoecer, todos estavam preocupados com a saúde da mulher. "só que diferente de nós ela tem uma irmã para a substituir quando adoece." Pensou Vivienne.
Naquele mesmo dia, o diretor resolveu falar com ela, seus serviços não eram mais necessários daquele ponto, ele a estava colocando para fora. Como haviam acordado, não era um emprego fixo, Vivienne apenas estava substituindo o baixo nível de pessoal naquele semestre.
Mas a verdade era outra, o "Studio Pierre" passava por uma maré um pouco complicada, era extremamente famoso, reconhecido, renomado, todavia haviam gastos tremendamente altos, seus investidores diminuíam a cada dia. Apenas estava lucrando graças ao grande cache que recebia devido as vendas de bilheteria das peças de Elizabeth Heinz, era somente ela que mantinha aquele lugar funcionando.
O diretor não queria informar que estava com dívidas até o pescoço e que estava recebendo propostas de três acionistas distintos para vender uma parte das suas ações daquele prédio, basicamente seria como ter um CEO, ou seja, um diretor executivo principal que tomaria e assumiria as rédeas da empresa, desempenhando responsabilidades que incluíam tomar decisões importantes, gerenciar os recursos e operações gerais, além de dar a última palavra em caso de desacordos.
Para Vivienne, a sua saída fora uma surpresa, pensava que se esforçasse bem ela teria uma vaga oficial e fixa, pelo visto, não adiantou muito seus esforços. Estava perdida em pensamentos, quando uma mão esquerda colocou um aparelho telefônico na mesa, sussurrando em seu ouvido:
- Vejo que aprendeu a fazer tudo direitinho. – disse a voz.
- Olá, Bess, - disse Vivienne já reconhecendo o tom. Embora, a Heinz estivesse fora da companhia, aqui e acola ela e Vivienne precisavam se encontrar para formalizar direito o acordo que acabaram de fixar. Isso acabou "aproximando" as mulheres, tornando possível alguns reconhecimentos. O que deixou a mais alta intrigada.
- Como... – foi cortada
- Como eu sei? Você é canhota e a Izzy é destra, eu notei isso, lembra?
- É verdade, você notou. – Vivienne se virou para fita-la, parecia ter uma satisfação no olhar, não sabia dizer.
- Sim, qual o significado do celular, eu já tenho um. – retrucou a garota.
- É para falar conosco, você não pode falar conosco com qualquer aparelho, esse ninguém vai encontrar você. O sistema é utilizado pelas unidades federais, até mesmo os maiores traficantes, mestres do crime desejam essa tecnologia. É algo extremamente seguro e prefiro que converse conosco por aí. Jogue o outro fora ou faça uma doação para alguém, venda, não sei. Já falamos com alguns conhecidos que mexem com tecnologia de computadores e tudo já foi transferido para o seu uso pessoal e necessário. O que carrega no bolso é apenas um aparelho que parece que fez um reset. – Explicou a mais alta.
- Vocês mexeram no meu celular? – indagou a outra um tanto irritada.
- Sim, mas aparentemente alguém já estava tentando quebrar as defesas da portabilidade, me parece que alguém deseja saber sua localização. Então, fiz alguns percursos fictícios para seja lá quem estiver monitorando você, pensará que está em outro local – Vivienne engoliu em seco. – Para o seu bem, livre-se desse aparelho. Irei ver o diretor agora.
Elizabeth ainda não sabia da saída da outra, mas ela também não tinha contado. Quando foi para a sala do diretor foi aí que ficou sabendo da notícia da demissão da outra, tentava discutir com ele por qual motivo iria dispensá-la se a jovem tinha feito tudo certo.
- A razão não é dela fazer ou não tudo certo, Liz. Apenas o pessoal já retomou e agora estamos com a capacidade de bastidores além do esperado. Precisamos dispensá-la por não ser necessária. – Pierre mentiu.
- Está dizendo que se ela for necessária ela tem o emprego de volta?
- Claro, mas em quê ela será necessária se temos tudo? – falou com certo receio.
- Assistente. – disse rapidamente
- O que? – retrucou ele sem entender
- Eu preciso de uma assistente.
- Em todos os anos que te conheço nunca precisou de uma assistente, por que precisaria agora? – disse ele sem entender
- Meu bom amigo, em todos esses anos quando foi que me viu adoecer?
- Nunca..
- Eu ainda não me recuperei, então, se o estúdio puder fazer isso por mim. Substitua a função dela de auxiliar de bastidores e a coloque como minha assistente pessoal de palco, por favor. Eu assumirei os custos por ela.
- Claro, amiga, meu Deus Liz, não sabia que tinha sido algo tão severo assim, você está bem, porque não tira mais uns dias de atestado?
- Você me conhece, sabe do meu vício por trabalho, então, podemos deixar assim? – falou se levantando da cadeira.
- Sim, claro! Espero que ela a ajude. – Pierre organizou a papelada para que toda a responsabilidade quanto a Vivienne fosse transmitida para Elizabeth.
- Estou indo para a minha sala agora, obrigada, velho amigo.
Vivienne estava com a bolsa no braço e estava na sala do diretor que desejava falar-lhe, talvez iria dar o seu último pagamento. Ele pediu para ela sentar, deu o ultimo pagamento da jovem que agradeceu e já iria sair quando ele disse:
- Calma, ainda não terminamos. Surgiu uma vaga, assistente pessoal.. estaria interessada?
- Claro! – Vivienne falou rapidamente e feliz, queria continuar com seu trabalho, pois gostava dele.
- Ótimo, seu novo trabalho é ser assistente pessoal da senhorita Heinz, da nossa grande estrela, então, não a irrite, não faça nada de errado. Ela não está tão bem de saúde como outrora e pediu para que você fosse a nova assistente. Em todos esses anos ela nunca teve uma, então, você teve sorte! – ele dizia
Vivienne nada disse, achava tudo aquilo muito estranho.
- Agora pode ir até a Liz. Ela vai dizer suas atividades.
Vivienne seguiu a passos lentos até a sala da outra, quando viu o nome na porta, depositou três batidas e escutou um "entre". Suspirou atrás da porta e adentrou aquele lugar. Elizabeth encontrava-se escrevendo no computador, digitando habilmente. Resolveu não interromper e esperou em pé naquele lugar.
- Sente no sofá e já falo com você. – Disse Elizabeth sem fita-la ou imaginar quem fosse. Passado mais quinze minutos com Vivienne a observando, ela enfim parou de fazer o que resolvia e se surpreendeu por ser Vivienne; - Por que não disse que era você?
- Não quis atrapalhar. – fitou a outra sentada na cadeira do seu camarim.
- Hum... não iria. O que deseja? – inquiriu Elizabeth, retirando seu óculos aro redondo de leitura e colocando na mesa, ao lado do computador.
- O diretor me enviou aqui, ele disse que agora serei a sua assistente pessoal e que a ideia foi sua. – arqueou uma sobrancelha ao dizer isso.
Sorriu um pouco – Sim, tive essa ideia ou você iria ficar na rua, o que você iria preferir? – deu de ombros.
- Não poderia fazer isso.
- Senhorita Lamar... – fora cortada.
- Pare com isso, não precisa me tratar assim, você mesma disse, bom eu acho que foi você, a um tempo atrás para fazermos uma trégua. Você disse isso, não foi? Foi você que se abriu comigo sobre o Joe e me ajudou no meu primeiro dia aqui, correto, Bess? – apertou a sua bolsa, enquanto esperava uma resposta.
- Foi... – disse um pouco constrangida ao escutar seu apelido na boca de outra pessoa sem ser o da irmã. Sabia que era a forma mais eficaz para serem diferenciadas. Um apelido entre as irmãs, mas que para Vivienne era o nome que as diferenciavam.
- Trégua? – Vivienne ficou em pé e esticou a mão para a outra que a olhou e depois para a sua mão.
- Trégua. – Elizabeth se levantou, passou a mão em seu cabelo, deu um sorriso de lado e esticou a mão, apertando a da outra. Era o pacto sem mais discussões.
- Então, qual é a minha atividade aqui? – quis saber a ruiva.
Enquanto o dia passava, Vivienne acompanhou Elizabeth em todas as reuniões que diziam respeito ao teatro, questões e tomadas de decisão sobre figurino, sobre algumas compras, falas a serem substituídas e resolver problemas entre os próprios atores. Começou a perceber que o dia da outra era muito mais agitado e cansativo do que imaginava. Recebeu ajuda da própria Heinz para organizar a sua própria agenda. As horas foram se passando até dar o horário de ambas, quando Elizabeth falou por fim:
- Vamos até a praia, já deu o nosso horário e podemos conversar melhor ao ar livre. – a mais velha reuniu suas coisas para saírem dali, apagou as luzes e trancou sua sala.
Elas saíram juntas e foram de carro até a via costeira, um pouco perto dos pinheiros, local que tinha uma praia calma e com poucas pessoas. Algo bem aconchegante. Elas desceram do carro que estacionou na sombra projetada pelas árvores e desceram para praia por um caminho que ali tinha. Caminharam um pouco mais e ambas sem problema algum, sentaram na areia aproveitando aquele imenso céu azul e o vento, naquele início de fim de tarde.
- Eu nunca tive uma assistente pessoal antes, afinal, sempre fizemos por duas, nunca houve necessidade de envolver outra pessoa e também, não deixamos ninguém se aproximar de nós. A diferença da situação é que agora você sabe o nosso maior segredo, então não há problema em si. Por hora, para vermos como nós duas vamos fluir, quero que lide com a agenda pessoal, reuniões, e você sabe, será de nós duas, por isso seu valor como assistente é maior do que o padrão. Depois vamos analisando o que mais podemos encaixar, tudo bem assim? Você meio que aprendeu e observou como funciona hoje. – Elizabeth a olhou.
- Sim, sem problema. – desviou o olhar que recebia da outra, fitou o mar, olhar para essa Heinz a deixava nervosa e não entendia a razão.
- Eu sei que é o seu primeiro emprego, não se preocupe, tanto eu como Izzy iremos explicar sempre qualquer coisa que desejar. – tentou confortar a outra que parecia um pouco nervosa com tamanha responsabilidade.
- Ela também? – questionou a mais nova um tanto surpresa, voltando a olhar nos olhos da outra que escondeu um meio sorriso.
- Será das duas, terá que saber lidar com ela também, Vivienne. – tentou ser o mais gentil possível.
- Ela nunca foi procurar a outra pessoa? – Vivienne se referiu a ex da outra irmã. Elizabeth contraiu a mandíbula ao escutar, era um passado doloroso para a Izzy e Bess sabia disso.
- Não, ela nunca fez isso. É um pouco mais complexo toda a situação – Elizabeth explicou.
- E a Melissa? Pensei que fosse um caso fixo – Vivienne pegou-se curiosa para saber se eram amigas ou algo mais.
- Não sabia desse seu lado curioso Lamartine. – Heinz arqueou a sobrancelha, parecia que a ruiva era muito curiosa. O que fez Vivienne corar e quase ficar um quadro monocromático vermelho, o que não passou despercebido pela Bess.
- Melissa para mim é uma grande amiga, gosto dela, mas para Izzy, além de ser amiga, às vezes são coloridas, porém nada sério, já foi pactuado isso. Então, nos dias que ela está um pouco mais fogosa, tentamos fazer uma troca de papéis bem rápida. – explicou e achou que deveria deixar isso claro para a outra.
- Então, você tem que dormir com ela? – não acreditou no que estava perguntando e nem a outra estava entendendo muito bem. – Quero dizer, agora que uma vez vocês foram descobertas e agora novamente, o que faziam quando alguma das ficantes da sua irmã apareciam com você em casa?
- Ah, sobre isso... eu precisava entrar no papel e ficar com elas. Mas a muito tempo tomamos medidas preventivas para essas situações. – confessou um tanto constrangida. – Mas isso foi logo no início. Até porque, segundo a minha irmã gêmea, eu não preciso de muito envolvimento amoroso já que sou a viciada em trabalho. Pode ser complicado para você entender, mas após alguns anos fazendo isso, conseguimos entender o funcionamento das pessoas que estamos e sabemos quando aquela mensagem no celular é para um encontro amigável e quando não é. – Bess fez uma pausa. Ela queria dizer algo a mais. – Faz muito tempo, muito tempo mesmo que não me envolvo com nenhuma das mulheres que a minha irmã conhece, pois como disse, com o tempo, aprendemos. – Bess não sabia a razão, mas queria deixar aquilo bem claro para a ruiva a sua frente.
- Aos poucos eu percebo o quão diferentes vocês são mesmo. – um silêncio confortável acabou surgindo entre elas. – Quero compartilhar algo com você. Naquele dia quando você contou a história do Joe e de como ele faleceu... a filha do casal que veio a óbito... – Vivienne começava a ter os olhos marejados e Elizabeth começava a franzir o cenho. – A menininha ruiva chamada Diana, recorda?
- Sim, jamais irei esquecer daquela garotinha, por quê está tocando nesse assunto tão de repente?
- Ela era minha filha. - lágrimas rolaram dos olhos da ruiva.
Elizabeth estava estática não entendia, a menina era filha de Vivienne, então a moça no parque, com um chapéu que cobria-lhe parte do rosto, aquela era Vivienne? Elas já tinham se "conhecido" acidentalmente pelo visto.
- Eu sinto muito pelo Joe, também agradeço pela tentativa dele de salvar a minha filha. Foi uma memória dolorosa e nunca pensei que estivessem conectadas. – dizia Vivienne segurando algumas lagrimas, enquanto fitava o oceano. Elizabeth por puro instinto e forma acolhedora esfregou sua mão esquerda nas costas da outra em sinal de apoio.
A ruiva soltou um suspiro.
- Peço que o que ouvirá aqui deverá ser guardado e jamais revelado, com exceção da sua irmã, pois pelo que li no contrato vocês devem compartilhar tudo.
- A minha promessa valerá por nós duas. Tem a minha palavra e o que precisar para que acredite.
- Tudo bem. Eu acredito em você. O que direi ninguém sabe e ninguém poderá saber, ao menos não ainda até que eu possa reunir informações.
- Informações de quê?
- Para que entenda, precisamos voltar ao passado.
20 de fevereiro de 2018
Nossa, cada capítulo uma revelação mais provocante do que a anterior...
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