16. Final de expediente
Distante dali, a passos lentos, se aproximava um senhor grisalho de cavanhaque também de igual tom. Um pescoço gordo e um olhar sereno. Era cumprimentado por alguns dos outros oficiais e policias ali no recinto. Ele apenas acenava para os outros sem demonstrar nenhuma reação. Caminha a passos firmes para a direção de Valquíria e quando ficaram frente a frente, esboçou um sorriso discreto.
- Valquíria... - o detetive mais velho do departamento de polícia havia chegado, Ian Venosa Deniz, que caminhava as portas para se aposentar, de quando em quando aparecia no trabalho. Afinal, haviam férias premium não tiradas ainda que poderiam expirar antes que ele se aposentasse. A arcada dentária estava um pouco amarelada, o esmalte dos dentes haviam perdido o tom branco devido o tabagismo de anos e que agora ele havia finalmente abandonado. Estava vestindo um terno cinza quando se dirigiu a médica:
- Olá doutora Sophie. - dirigiu-se a Valquíria agora - Fiquei sabendo que você está aqui a mais de vinte quatro horas. O que pensa que aqui é? Uma residência? Valquíria, já está mais do que na hora de ir para casa, - voltou a fitar Sophie - a doutora também precisa ir, aposto que ela deve ter sugado você durante cada momento que ficou aqui. Minhas duas melhores funcionárias e vocês estão quase morrendo de tanto trabalhar.
Sophie se sentiu como uma adolescente outra vez, por ter suas maçãs levemente coradas com o comentário do homem a sua frente. Fora Sophie, Ian, era a exceção dos homens. Talvez, por já ser um homem com mais experiência, não a importunavam. A tratava como uma igual. Valquíria olhou para o relógio no pulso, indicava cerca de vinte horas e meia do outro dia. Ela não fazia ideia que já havia se passado tanto tempo.
Olhou para Sophie como se pedisse por aqueles olhos tão cortantes um genuíno pedido de desculpas, por trás de um constrangimento. Ela sabia que estava a tempo ali, mas lembrou que também havia feito a médica ficar todo esse tempo. Ela se deu por vencida e regressou para a sala de Sophie no qual havia deixado a parte de cima do seu blazer preto. Sophie desligou todos os aparelhos e trancou sua sala como de costume e saíram do prédio, tentando evitar as partes que haviam mais pessoas. Próximas do estacionamento do departamento, valquíria ofereceu uma carona, afinal era o mínimo que podia fazer pela doutora e Sophie percebeu a intenção do pedido de desculpas no convite da carona. Ela sorriu de forma cúmplice, um sorriso pequeno, porém sincero. A detetive percebeu isso.
- Você não tem que se sentir responsável pelas mais de vinte quatro horas lá dentro - confessou a médica. - É o meu trabalho.
Valquíria deu de ombros, uma atitude rara presenciada por outras pessoas, mas para Sophie era a forma da outra demonstrar a cumplicidade que haviam entre elas naquele leve dar de ombros. Ali, fora do departamento sob os olhos de Sophie, ela conseguia baixar minimamente sua guarda
- Vejo você amanhã Sophie - disse a detetive entrando em seu civic grafite
Sophie acenou para a outra, quando sentiu seu celular vibrar, era uma ligação dos cabelos mais claros que ela já havia tido o prazer de conhecer. Diferente dos negros que estava habituada a quatro anos. Ela atendeu a ligação e conhecia aquela voz rouca, perguntando onde ela estava nesse exato momento. Sophie respondeu que acaba de sair do departamento e estava entrando sem seu velho nissan sentra vermelho.
A outra voz do outro lado da linha acaba de contar que estudos revelavam que a cor vermelha estava propensa a ter mais acidentes. Tal informação foi recebida por uma gargalhada da loira que rebateu, afirmando que o centro de pesquisas de acidentes da universidade de Monash, haviam avaliado dezessete cores de automóveis e constatado que a cor preta estavam com mais chances de sofrerem acidentes devido a pouca visibilidade. A voz do outro lado parecia estar chateada com a notícia.
- Vamos Elizabeth, - estimulou a outra. - conte-me o verdadeiro motivo por trás da sua chamada. - colocou a chave na ignição e ligou apenas o painel do carro para poder ligar o ar-condicionado.
- Nada em particular, gostaria de conversar com você, quem sabe nos vermos. - disse com certa malícia na voz.
- Adoraria, mas passei vinte quatro horas no departamento de polícia com a Val, estou exausta - sua voz entregava esse fato.
- Nunca fui trocada por alguém que não faz nada com você e mesmo assim, a deixa esgotada. Como está a Rainha do Gelo?
- Está bem, só bem esgotada, ela parecia exausta.
- Ela vale mesmo à pena essa espera toda? Quatro anos, se não fosse por mim, você já estaria com teias de aranhas em determinadas áreas Sophie.
Sophie gargalhou com a piada da amiga – Você não existe Elizabeth Victoria. Depois recompensarei você, prometo!
- Irei esperar por essa recompensa!
Dizia à outra, até que ambas se despediram e Sophie partiu para seu apartamento no centro. Enquanto estava dirigindo, ela começava a recordar de quando conheceu Elizabeth, a mais ou menos dez anos atrás 2008 em uma festa na cobertura de Melissa, uma das "amigas" da atriz, na época estudante de teatro que foi, por coincidência, amiga de universidade de medicina de Sophie, na época estudante. A música do DJ estava alta, tocando alguma música de sucesso da época, as luzes brilhantes e coloridas, todos estavam se divertindo, bebendo os mais variados drinques que a anfitriã, Mel, havia contratado para o seu bar particular. Mel estava apresentando alguns de seus conhecidos próximos e acabou apresentando as duas garotas e logo um grupo de dez pessoas, incluindo as duas garotas, daquela festa agitada estavam em outro cômodo do apartamento jogando o nomeado "Safadeza ou desafio", um jogo de cartas com apostas em dinheiro e um ponteiro giratório. Os desafios consistiam dos mais loucos como: faça cócegas no corpo da pessoa a sua direita; convença a outra pessoa a fazer algo que ela não queira e as safadezas eram das mais leves até as mais eróticas que poderia se pensar: lamba os dedos da pessoa a sua esquerda, dê um beijo na pessoa a sua frente, chupe o pescoço da pessoa a sua direita e assim por diante.
Em um desses desafios ocorreu do ponteiro apontar para Elizabeth e Sophie na safadeza de beijar a pessoa a sua frente. Ambas não recusaram e assim beijaram-se e mais tarde acabaram se conhecendo melhor no quarto da amiga de ambas. Apesar da amizade colorida que desenvolveram com o passar dos anos, era uma das amigas mais próxima para Liz e ficavam por necessidades da amiga que com o emprego escolhido, não havia tempo de procurar por novas paixões até conhecer a detetive. Podia lembrar da primeira conversa que tiveram sobre Valquíria:
- Então, qual é a razão da urgência? – dizia Liz entrando na casa da amiga – Irá me contar ou eu devo fazer alguma preliminar primeiro?
- Engraçadinha, eu contarei sem rodeios albina. – Sophie puxava a outra para sentar no sofá, enquanto deitava em cima dela.
- Vamos, loirinha, conte-me o que houve para você está assim, parece que encontrou o baú do tesouro no final do arco-íris.
Sophie nada respondeu. – Você achou? – continuou Liz.
- Hoje no departamento conheci uma policial... – fez uma pausa que Liz conseguia entender o que podia significar, em todos esses anos, podia conhecer quando algo despertava seu interesse. – Ela até que faz meu tipo... ela lembra você em alguns casos, de ser misteriosa em um momentos, de ter um olhar gelado em outros.
- Está dizendo que faço seu tipo?- Liz acabou sorrindo amistosamente.
- Se não parecesse tanto com um fantasma, quem sabe – debochou a legista.
- Hahaha, muito atraente Doutora.
- Não, só é interessante. Antes de reforçarmos tanto a amizade, eu não conseguia compreendê-la. Em momentos você era como um casanova, outras vezes era distante e focada nos estudos, em outros momentos queria ir para festas e não parecia está nem aí para o que podia acontecer. Sempre teve vários lados curiosos que nunca pude conhecer completamente.
Elizabeth nada falou, mas talvez essa devesse ser a resposta, pois logo depois Sophie prosseguiu.
- Não sei como é essa mulher , mas o tempo que passamos trabalhando juntas demonstra ser misteriosa e fala pouco com os outros. Acho que só conversa mais comigo, porque se interessa pelas formas das mortes das vítimas. Nunca vi um agente como ela.
- Parece que realmente despertou seu interesse.
- Acho que sim.
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