Capítulo 14

Quando amanheceu Lucinda foi a primeira a se levantar e preparou com a ajuda de uma empregada um belo café da manhã. Logo após, levantaram Martin e Laura que imediatamente foram até o quarto de hóspedes para garantir mais uma vez que tudo não fora um sonho e que realmente a filha estava de volta em suas vidas.

— Bom dia família – diz Lucinda, alegremente, ajeitando a mesa.

— Bom dia! – responderam como um couro musical.

Eles se sentaram à mesa e aquela alegria contagiou a todos. Eles ficaram ali por quase uma hora apenas conversando, porém, aquele dia estava só começando e prometia ser especial para todos.

— Este momento está muito agradável, mas tenho que ir para a loja, minhas princesas – disse Martin, levantando e ajeitando o paletó.

— Eu também tenho que ir a um lugar... Vou aproveitar e ir contigo até a cidade – afirma Lucinda, acompanhando os passos do pai.

— E vocês, o que vão fazer?

— Vou voltar para casa – anunciou Celima –, preciso resolver algumas coisas.

— Tenho que ir ao médico hoje – falou Laura.

— Tem razão, eu já tinha me esquecido – diz Martin, voltando os passos que deu.

— Posso te dar uma carona até lá – Celima disse.

— Já que estamos resolvidos... Podemos ir papai?

Martin deu um beijo na mulher, na filha e depois saiu levando Lucinda consigo. Logo após, Celima saiu com a mãe e a deixou num consultório médico antes de seguir para casa. Ao chegar avistou um caminhão parado de frente ao jardim e um rapaz batendo em sua porta.

— Você é Celima Walters?

— Sou eu mesma.

— Viemos entregar o seu piano.

— Sim, claro!... Fique à vontade.

— Aqui tenho um envelope da Senhora Sara para você.

— Muito obrigada!

— Onde quer que coloquemos o piano?

— Bem aqui, por favor.

Ela esperou até eles colocarem o instrumento na sala, depois pagou pelo serviço e seguiu para o quarto onde preparou um belo banho na hidromassagem.

Celima se viu muito contente em ter novamente o piano em casa, desde que retornou para FoxWood sentia falta de tocá-lo. Ela o deixou no mesmo lugar onde Fabrício costumava tocar e lhe ensinar suas habilidades.

Por mais que tentasse resistir ela sentou-se para tocar, desejava muito poder expressar seus sentimentos através da música, seus dedos pareciam dançar de alegria sobre as teclas lançando milhares de belas novas melodias ao seu entorno.

Assim que parou de tocar Celima se lembrou do pedido que Ethan lhe havia feito há algum tempo atrás: "mesmo que tudo parecer ter acabado, você não vai parar de tocar... Essa é sua alegria, não pode perdê-la". Ela dedilhou algumas poucas teclas tentando se lembrar do que havia tocado para ele naquele dia, mas nem isso pode afastar a tristeza que lhe dominou de repente.

"Não acredita que Ethan possa estar falando a verdade... se ele estiver, vai deixá-lo mesmo assim?" Relembrou, em certo instante, as palavras da irmã. "Você mais do que ninguém o conhece o suficiente para saber se ele estava ou não mentindo".

Celima olhou ao seu redor. Parecia tentar enxergar uma solução de um problema que até mesmo ela desconhecia, sentia precisar fazer algo mais tinha medo de dar o primeiro passo.

Enfim, as palavras soluçadas de Sara atingiram-na como um choque. Sua mente rodou naquela frase por algumas vezes trazendo-a de volta à realidade: "ele não sabe de nada... não contei a ele". Ela se levantou em um salto, agarrou as chaves do seu carro e seguiu pela estrada. No caminho telefonou para a mãe, precisava evitar que ela se preocupasse com seu sumiço assim logo de início.

— Celima onde está você? – pergunta Laura –, estamos te esperando faz tempo.

— Eu preciso resolver um assunto importante agora... Não quero que se preocupe, eu estarei aí para o jantar – garante Celima, atenta a estrada vazia.

— Está acontecendo algo?

— Não é nada de mais... Quando voltar eu te explico melhor.

— Então nós te esperamos para o jantar.

— Eu estarei lá, até mais tarde!

Celima estacionou próximo a casa de Ethan e seguiu com cuidado tentando evitar que Sara pudesse vê-la. Ela entrou cuidadosamente no quintal florido tentando tapar o rosto com uma revista da caixinha de correio. Logo depois parou em frente a porta e antes mesmo de bater, ela se abriu.

— Entre.

Celima entrou e seguiu diretamente à sala principal onde se sentou, Ethan a olhou por um tempo tentando imaginar o motivo da visita inesperada ainda parado junto à porta. Após fechá-la ele seguiu os passos dela e se sentou.

— Me desculpe – diz Celima, quebrando o silêncio.

— Não precisa se desculpar... Eu entendo o que fez e o que está passando.

— Quero te fazer uma pergunta... Prometa que não vai mentir – ela pediu, tocando-lhe uma das mãos.

— Vou falar tudo que quiser – ressaltou ele, olhando-a fixamente.

— Você não sabia de nada?

— Eu não sabia... Eu as questionei uma ou duas vezes, mas nunca me falaram nada sobre isso... Apenas disseram que precisavam de você aqui e longe de FoxWood.

— Quero que me desculpe por não ter acreditado em você.

— Já falei que não precisa pedir desculpas.

— Você ainda me ama? – questionou, de repente.

— Com toda certeza!

— E ainda quer casar comigo?

— Eu seria a pessoa mais feliz do mundo.

Ela o beijou contente em obter tal resposta. Mesmo que de início fosse tudo parte dos planos de Sara, Celima aprendeu a amá-lo e sem ele jamais poderia ser feliz por completo.

— Quero te pedir uma coisa – Celima anunciou, agora mais séria.

— Estou te ouvindo.

— Venha comigo... Eu tenho uma casa em FoxWood onde podemos viver.

— Eu vou para onde você quiser.

— Tem que ser hoje... De preferência agora.

— Nossa! Assim tão de repente – exclamou ele, surpreso –, não vai me dar nem alguns dias para arrumar tudo.

— Não mesmo, tem que ser agora... Então o que me diz?

— Me dê apenas uns minutos para poder arrumar minhas coisas – ele falou, após pensar alguns segundos, quieto.

— Você é incrível! – ela concluiu, abrindo um largo sorriso.

Ethan seguiu até o quarto e começou a separar todas as coisas que precisaria dentro de uma grande mala preta. Enquanto esperava Celima se dirigiu até a porta da cozinha e ali observou a vista do mar que agora não parecia mais tão bela quanto antes.

O céu estava repleto de nuvens carregadas mesclando-se com alguns espaços vazios onde os fracos raios de sol apareciam. O vento estava razoável e o mar parecia mais agitado, seu som era forte e as ondas se arrastavam a uma distância maior do que de costume.

— Está tudo pronto.

— Podemos ir? – questiona a jovem, tentando se livrar das velhas lembranças.

— Sim, podemos ir.

— Precisa de ajuda?

— Eu preciso trancar tudo antes de sair, pode me ajudar com isso?

— Claro!

Rapidamente todas as janelas e portas da casa foram trancadas. Já prontos para partirem Celima abriu a porta e ali se deparou com Sara e Zoe, paradas e com olhares fixos em sua direção.

Celima levou um susto. Sara aparentava ser mais velha do que de fato era, há muito tempo não se alimentava direito e nem se preocupava com a sua aparência. Zoe continuava a mesma figura de sempre, agarrada ao braço daquela mulher que parecia se desmontar sobre seu colo.

— O que quer aqui? – pergunta Celima, com certa frieza.

— Preciso que me escute por um minuto apenas.

— Estou ouvindo.

— Apenas quero pedir perdão e pedir que você esqueça tudo que passou... E mesmo que nunca entenda minhas ações, eu peço que nunca se esqueça de mim – disse Sara, aparentando cansaço após despejar tais palavras.

— Com toda certeza eu vou me esquecer daquele dia... Mas nunca poderei ignorar o que você fez por mim...

— Isso é tão – Sara foi interrompida.

— Eu posso até te perdoar por mentir para mim, por querer mandar em minha vida e por transformar tudo num pesadelo – Celima fez uma pausa, uma pausa que por um instante provocou alegria em Sara, uma alegria que logo desapareceu...

— Então – Indagava a mulher sendo novamente interrompida.

— Mas o que eu não posso perdoar... É você pensar que tem direito em me tirar da minha família, criar milhões de mentiras e destruir não só a minha vida mais a de outras pessoas.

— Me desculpa – pediu Sara, aos prantos.

— Não fale assim com ela – repreendeu Zoe, em alto tom.

— Não venha dizer uma só palavra a mim... Você mais do que ninguém aqui sabe como atormentar e destruir a vida dos outros – ressaltou Celima, apontando-lhe o dedo.

— Eu nunca vou me esquecer de você – sussurra Sara em soluços.

— Eu também não vou me esquecer de você e nem de seu marido... Acho melhor vocês irem embora agora.

— Adeus! – despediu-se a mulher, olhando Celima pela última vez.

— Podemos ir por favor?

— Sim... Nós podemos – afirma Ethan, pouco desajeitado com a situação.

Os dois caminharam até o carro, Ethan guardou a mala e pegou o volante, pois Celima estava nervosa e tremia demais para conduzir. Ele dirigiu até FoxWood e no caminho eles conversaram muito pouco. Ele queria deixá-la com seus pensamentos e sabia que ela precisava disso, reencontrar com Sara pareceu lhe afetar profundamente.

— Hoje a noite vou te levar para conhecer meus pais – diz Celima, mantendo o olhar na paisagem fora do carro.

— Eles já sabem de mim?

— Sim, sabem... Aliás, meus pais conheceram os seus... Eles já foram sócios.

— Quem são seus pais? – pergunta Ethan, confuso.

— Martin e Laura Johnson – ela deixou as palavras saírem, sem muita emoção.

— Eu os conheci quando era pequeno...

— Talvez possa trabalhar com meu pai.

— Talvez – ele concordou, incomodado com a tristeza da amada.

Ao chegarem em FoxWood, Celima apresentou rapidamente sua casa para Ethan e o ajudou a se acomodar. Com esta tarefa a jovem voltou a se animar, o que deixou ele mais aliviado e confortável. Ela também aproveitou para avisar a irmã sobre o novo convidado para a reunião familiar enquanto eles se arrumavam para sair.

— Celima, finalmente... Já estava ficando tarde e você não ligava, eu fiquei preocupada – disse Lucinda, sem pausas.

— Não se preocupe minha irmã... Eu estarei aí em uma hora... Avise a todos que vou levar alguém.

— E eu posso saber quem é?

— Tudo bem, mas não conte para eles... É o Ethan.

— Meu Deus! – exclamou Lucinda, surpresa. — Tudo bem eu não vou dizer nada... Mas não demore, estou ansiosa.

Celima desligou o telefone e subiu para se arrumar. O prazo de uma hora logo se esgotou e eles partiram rumo a casa na montanha.

— Essa casa é incrível – admirou-se Ethan, ainda no lado de fora.

— Olá!... Sou Lucinda, irmã de Celima – falou a moça, aparecendo na porta.

— Meu Deus! Vocês realmente são iguaizinhas.

— Estava ansiosa para conhecê-lo... Celima me falou de você.

— É um prazer poder te conhecer também.

— Vamos entrar – sugeriu Celima, ansiosa –, quero te apresentar meus pais.

Os três seguiram até a sala de jantar onde Martin e Laura os aguardavam. O casal pareceu surpreso ao ver aquele rapaz novamente, quando o viram pela última vez ele ainda era pequeno, agora era o noivo de sua filha e havia se transformado num belo homem.

— Mãe e pai... Esse é meu noivo Ethan.

— Finalmente estamos revendo o noivo de nossa filha – diz Martin apertando-lhe a mão –, afinal já o conhecíamos.

— O prazer é imensamente meu Sr. e Sra. Jhonson.

— Que isso rapaz... Não precisa desse cuidado... Martin e Laura, certo?!

— Sente-se conosco... Temos algumas novidades – pediu Laura, com seu sorriso gentil.

— Eu tenho uma coisa para dizer antes – anuncia Lucinda, se posicionando à mesa.

— Pois então diga – pede Martin, atento a filha.

— Não vou mais me mudar de FoxWood... Vou fazer faculdade de medicina aqui mesmo – declara a moça –, agora que encontrei minha irmã, não sairei daqui por nada.

— Estou muito contente em ouvir isso, querida!

— Não posso negar que esteja feliz com sua decisão Lucinda! – comenta Martin.

— Todos nós com certeza estamos – conclui Celima, dando uma piscadela para a irmã.

— Eu quero aproveitar o momento e também dizer algo importante – fala Martin.

— Conte logo papai – pede Lucinda, toda empolgada.

— Agora é definitivo... Vamos abrir uma de nossas lojas no exterior.

— Meu Deus, isso é incrível! – comenta Laura, reluzente.

— Ethan eu gostaria muito que aceitasse me ajudar com esse novo projeto – fala Martin –, se quiser é claro.

— Seria uma honra – afirma ele, admirado com a oportunidade.

— Devemos comemorar.

— As novidades não acabam por aqui... Eu também tenho um pronunciamento – anunciou Laura, ajeitando-se como se fosse palestrar a uma multidão.

— Diga mamãe.

— Estou grávida.

— Está falando sério? – pergunta Celima, surpresa assim como os outros.

— Sim, é verdade... E estou muito feliz.

— Isso não poderia estar mais perfeito – conclui Lucinda, quase a explodir de alegria.

— Poderia sim... Ainda falta dizer uma coisa – garante Ethan, com rapidez.

— O que seria?

— Vamos remarcar o casamento – revela Celima, tomando a frente.

— É maravilhoso.

— Temos muitos motivos para comemorar esta noite... Traga um champanhe por favor – pediu Martin, a Rudolf.

Lucinda entrou para a faculdade na semana seguinte, na nova turma da temporada de inverno. Seus estudos ocupariam quase todos os seus dias durante os primeiros meses, mas sempre que podia visitava a irmã na cidade.

Ethan ficou como principal encarregado da empresa de Martin em FoxWood, enquanto ele se dedicava à nova filial fora do país e Laura comandava os negócios da casa da montanha.

Tudo com a família Johnson era tão fácil e agradável que Celima não poderia se sentir melhor, nada era parecido com os momentos confusos e limitados como os que ela teve ao lado de Sara.

Ela vivia a maioria de seus dias tranquila sem se preocupar se teria ou não que enfrentar a resistência de uma mãe que não apoia suas decisões. Laura era o oposto disso, era a mãe que Celima precisava.

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