Capítulo 13

Assim que entrou com o carro naquela estreita estrada Celima sentiu um certo nervosismo tomar conta de seu corpo, sua mão suava e borboletas pareciam dançar em seu ventre. Ela não sabia o que esperar dali em diante.

Ela poderia encontrar quem procurava? Os verdadeiros pais gostariam de revê-la? Como os dois poderiam ser? Ela se parecia com a mãe ou o pai? Como reagiria ao ver a irmã gêmea? O que seria da sua vida dali para frente? Diversas perguntas giravam em sua mente.

Haviam três dias que ela estava com os pensamentos fixados e enlouquecidos, não conseguia parar de encontrar respostas com e sem sentido para suas perguntas. Duas vezes naquela estrada Celima pensou em retornar a cidade e esquecer tudo, mas ela não podia, tinha necessidade em seguir e descobrir sua verdadeira identidade.

Devagar ela seguiu e quando finalmente avistou o portão dourado escrito Johnson 's, ela parou. Celima pegou no banco ao lado a sua bolsa e o diário de Sara. Ela respirou profundamente enquanto observava aquele lugar e tomava coragem para sair do carro.

Algumas árvores a impedia de olhar melhor, mas ela podia ver um senhor cuidando do jardim na frente da casa, ele regava tudo com muita dedicação. Havia também uma mulher na varanda aparentemente tomando um típico chá da tarde enquanto admirava um homem a lutar para se manter firme no seu belo cavalo.

No local mais próximo do portão, três mulheres colhiam frutos das árvores e uma delas parecia bem mais jovem do que as outras, mas com a distância e os galhos das árvores menores a impedindo de ver melhor, não pôde tirar muitas conclusões.

Celima colocou o diário na bolsa e saiu do carro. Caminhou lentamente pela estrada até chegar ao portão, analisou e quando percebeu estar aberto ela entrou.

Enquanto caminhava pela estrada de terra, em seu pensamento as tortuosas lembranças da última vez que viu Sara a invadiu de súbito. Suas recordações começaram a assombrá-la e então parou de caminhar, de repente lhe faltou o ar, seus pulmões não tinham forças para puxá-lo de volta, as lágrimas embaraçaram as vistas e seu corpo não lhe permitia dar mais nenhum passo a frente.

Seu coração estava quase saltando pela boca, tudo estava acontecendo rápido demais, então permaneceu paralisada na estrada por alguns minutos intermináveis e para sua sorte ninguém a avistou ali.

Celima começou a se recompor e caminhou rapidamente até a grande plantação de árvores e ali se escondeu. As empregadas acabaram de colher as frutas e estavam retornando à mansão, Celima esperou que elas desaparecessem para então poder se aproximar. Caminhou sorrateiramente e ali perto da casa ela parou. No quintal avistou a mesma mulher agora olhando calorosamente a magnífica paisagem e pensou consigo se aquela seria sua verdadeira mãe.

Novamente veio a sua mente a imagem de Sara desesperada querendo explicar os motivos de tê-la tirado de seus verdadeiros pais. Ela tentou evitar, mas era quase impossível controlar. Celima agarrou-se à árvore como se estivesse lutando contra uma forte correnteza que lhe arrastava para a morte.

Sobre seu ombro direito repousou uma mão suave e aquele toque a fez estremecer. Os olhos da moça travaram de medo na fixa imagem do jardim frontal onde um senhor ainda regava as plantas. Agora parecendo estar em câmera lenta e prestes a virar de cabeça para baixo Celima suou frio, engoliu a seco e por fim virou-se.

O mundo pareceu parar naquele momento, bem a sua frente estava a própria imagem de si, era como se olhar no espelho. O susto, a dúvida e o espanto foram mútuos, Celima e Lucinda estavam frente a frente.

Lucinda derrubou a cesta com maçãs que carregava, levou as mãos ao rosto e lutou para lançar suas primeiras palavras enquanto seu suposto reflexo permanecia imóvel e de olhar fixo bem a sua frente.

— Meu Deus! Eu estou sonhando... Um daqueles sonhos que parecem reais.

Celima desgarrou-se da bolsa e caminhou até a irmã que estava três passos a sua frente. Ela estendeu lentamente a mão para tocá-la e Lucinda retribuiu o gesto.

— Não sabe como estou feliz em vê-la – afirma Celima, soltando um simpático sorriso.

Uma breve pausa se fez enquanto Celima acariciava levemente o rosto aveludado de boneca da irmã. Ela parecia uma frágil e bela boneca de porcelana, bem vestida e cuidada que abriu de repente um largo sorriso.

— Eu sonhei a minha vida inteira com este momento – relata Lucinda –, mas tenho medo que seja apenas um sonho e que logo acorde, triste, por saber que, na verdade, não está aqui.

— Olhe só para você – diz Celima, tocando-lhe o rosto novamente. — Não pense nessa bobagem, eu estou de fato aqui, você não está sonhando.

— Passei quatro anos acreditando que você estava morta – comenta Lucinda, abraçando-a fortemente.

— E eu fiquei durante dias imaginando como seria esse nosso encontro – falou Celima, afogando-se no abraço forte da irmã –, eu estava muito ansiosa.

— Que loucura... Como é possível que isso esteja acontecendo?

— Eu nunca estive morta, minha irmã.

— Temos tanto para conversar... Isso muda completamente nossas vidas... Você precisa conhecer nossos pais – conclui Lucinda, atropelada pelas suas emoções.

— É o que mais tenho desejado – afirma Celima, agora mais calma.

— Conte-me sobre você – pede Lucinda. — Sente-se aqui comigo.

Atrás de algumas árvores existia um banco estrategicamente posicionado de frente a uma vista completa do campo, sob uma sombra enorme. As duas se sentaram e por um tempo considerável permaneceram ali. Celima retirou o diário da bolsa e entregou nas mãos de Lucinda que o leu atentamente.

Logo depois ela completou a história contando tudo que vivera com Sara, Fabrício e Zoe. Sobre Ethan e o seu quase casamento, as alegrias que sentia quando tocava piano e o desastre de descobrir a realidade.

— Querida, sinto muito! Imagino o quanto tenha sofrido – diz Lucinda.

— Passei por momentos difíceis quando descobri que Sara mentiu a vida inteira em relação a mim.

— E seu noivo, você o amava?

— Muito!

— Não acredita que ele possa estar falando a verdade? Se ele estiver, vai deixá-lo mesmo assim? – pergunta Lucinda, olhando-a fixamente.

— Quando vim para FoxWood, eu deixei tudo para trás – diz Celima apenas, depois de uma pausa.

— Entendo! Mas não deve se desanimar, enfim você nos encontrou, essa é a maior alegria que poderia ter.

— Sim, é o que eu mais esperei nos últimos dias.

— Você tem que esquecer todas essas decepções e viver uma vida nova... Vamos te ajudar e vamos ser muito felizes – completa Lucinda, abrindo o largo sorriso novamente.

— Você está certa – concordou Celima, retribuindo o carinho.

As duas se abraçaram e continuaram conversando por mais um tempo. Lucinda falou um pouco sobre ela e a vida na casa da montanha. Ela falou também sobre os pais e como eles eram incríveis e se amavam.

No fim da tarde Lucinda reuniu Martin e Laura na parte de trás da casa. De frente a piscina ela ajeitou uma mesa com algumas frutas e guloseimas, acompanhadas de um delicioso jantar.

— Minha filha, para que tudo isso? – pergunta Laura.

— Pai... Mãe... Eu trouxe uma pessoa para jantar conosco – anunciou Lucinda –, alguém muito especial.

— Quem é essa pessoa? – pergunta Martin, um tanto desconfiado e confuso.

Lucinda caminhou rapidamente até a porta da cozinha e levou a irmã consigo. O casal tentou várias vezes saber quem era enquanto caminhavam até eles, mas as várias folhagens que estavam ao longo do corredor os impediram de descobrir.

Laura ficou extremamente surpresa ao ver ali a filha que acreditava ter morrido há 21 anos. Agarrou-se ao marido, pois suas pernas estavam bambas e ele assim como ela estava pasmo e sem qualquer força para uma imediata reação.

— Pai... Mãe... Esta é a sua filha... Minha irmã, Celima.

— Meu Deus! Eu estou sonhando? – pergunta Laura, num sussurro.

— Não é um sonho... É nossa filha de verdade – garantiu Martin, sorrindo.

Celima soltou-se de Lucinda e correu para os braços de seus pais, sua emoção era tanta que mal podia conter sua felicidade. As lágrimas de alegria surgiram nos olhos dos poucos empregados ali presentes enquanto Martin arrastava Lucinda para dentro do enorme abraço.

Laura beijava desesperadamente a face da filha com medo de que ela desaparecesse de repente como em passe de mágica. Depois a abraçou forte quase que afogando-a em seus braços.

— Olhe só pra você... É tão bela como sua irmã – comentou Martin, observando longos segundos a face de sua filha.

— Eu quase não estou me aguentando de felicidade – diz Celima.

— Bem, estamos todos assim, querida! – afirmou Laura.

— Como isso é possível meu Deus?

— Vocês não vão acreditar quando souberem o que aconteceu com ela.

— Temos muito para conversar... Venha, vamos nos sentar – fala Laura, ocupando a primeira cadeira.

— Agora estamos prontos para saber o que aconteceu com você... Conte por favor – pediu Martin, atento a filha.

— Bom, eu acho mais fácil ler uma coisa para vocês.

Celima pegou novamente o diário de Sara, abriu-o com cuidado e começou a ler pacientemente para que seus pais entendessem o que realmente aconteceu com ela durante todos esses anos.

Logo após terminar a leitura Celima os fitou e não pode imaginar reação diferente para eles. Laura estava mais assustada do que intrigada ou com raiva, seus olhos estavam quase para saltar, a boca travada e trêmula. Já Martin expressava preocupação e raiva ao passar várias vezes as mãos na cabeça e dar leves socos na mesa enquanto praguejava algumas palavras com baixíssima voz. Lucinda estendeu a mão para a irmã e a segurou firmemente.

— Eu não posso acreditar – Laura disse, quase para si mesma, de tão baixa voz.

— Como foram capazes de fazer algo assim? – questionou Martin, explodindo de raiva.

— Acalme-se querido!

— Eu deveria ligar para a polícia.

— Por favor não faça isso – pediu Celima, imediatamente.

— Onde esteve morando durante esse tempo? – pergunta ele, tentando se acalmar.

— Morávamos no lado sul da cidade nas áreas campais, mas nos mudamos para outro lugar tem quase quatro anos.

— Como foi conviver com eles? Minha irmã estava com você todo esse tempo? – perguntou Laura.

— Fabrício foi a melhor pessoa que poderia cuidar de mim, ele me ensinou sobre a vida, a tocar piano e a encarar as coisas com responsabilidade... Mesmo tendo feito o que fez jamais eu seria capaz de odiá-lo.

— Fale de Sara e Zoe – pediu Martin, ainda irritado.

— Zoe sempre foi gentil comigo mas nunca fui de passar tempo com ela, nunca parava em casa ou estava disponível para conversar, não há muito que dizer sobre ela... Já Sara sempre foi muito amorosa primeiro de tudo, porém, muitas vezes decidiu coisas por mim... Nunca me deixava sair sozinha para lugar algum, estava sempre disposta a me privar do mundo se colocasse em risco a verdade que escondia.

— Fizeram algo de ruim com você?

— Não... Eles nunca foram agressivos ou coisa do tipo, embora tenham escondido a verdade sobre minha vida, sempre foram bons pais acima de tudo.

— Bem, e agora que está aqui conosco o que pretende fazer? Vai voltar a morar com elas? – pergunta Martin, temendo a resposta.

— Não volto para a casa de Sara nunca mais depois de tudo que aconteceu... Não quero mais vê-la – afirmou Celima, desviando o olhar.

— Então você vem morar conosco? – pergunta Lucinda juntando as mãos, quase implorando.

— Na verdade, eu gostaria de ficar morando na cidade... Eu tenho uma casa lá e tudo o que preciso – diz Celima, tentando não desanimá-la.

— Eu não entendo porque não quer morar conosco – fala Laura, tentando não mostrar seu desânimo.

— Não é que eu não queira, eu posso vir aqui sempre... É que eu me sinto tão bem onde estou.

— Tudo bem nós não vamos forçá-la... Mas peço que pelo menos, passe essa noite conosco – pediu Martin, educadamente.

— Está bem!

— Conte a eles sobre Ethan Moison – pediu Lucinda, cortando o assunto.

— Moison? Conheço essa família... Foram investidores junto comigo na empresa – ressalta imediatamente Martin.

-— Bom, então provavelmente sabe que eles morreram a alguns anos atrás num acidente de carro? – pergunta Celima.

— Oh! Meu Deus! Não sabia disso.

— Ethan é filho deles, não é? Você o conhece? – pergunta Laura, curiosa.

— Sim!

— Ethan era o noivo de Celima... Estariam casados se ela não tivesse descoberto tudo – conta Lucinda.

— Isso é verdade?

— Sim, é verdade – afirma Celima, voltando os olhares tristemente, ao diário em seu colo.

— E porque não se casaram?

— O casamento foi um plano de Sara para me impedir de voltar para FoxWood.

— Ethan sabia de tudo?

— Eu não tenho certeza... Ele diz que não e Sara confirmou... Mas depois de tantas mentiras, eu não sei se acredito.

— Você gosta dele?

— Sim – respondeu ela, tímida.

— Então você mais do que ninguém o conhece o suficiente para saber se ele estava ou não mentindo – comenta Lucinda, como quem não quer nada.

— Eu não sei o que pensar sobre isso.

— O que acha de jantarmos agora, pois está ficando tarde? – pergunta Martin, tentando espantar a tristeza.

— Você está certo querido! Sirvam-se à vontade – pediu Laura, distribuindo os pratos.

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