Capítulo 11

Assustados com aquele grito Zoe e Ethan correram até a cozinha. Lá encontraram Sara com as mãos sobre o rosto, os olhos estavam fixos na imagem de Celima parada de frente a porta.

Zoe entendeu de imediato o que acontecia, porém, Ethan não sabia de nada e se assustou com aquela figura no quintal. Aquela não parecia ser a mesma pessoa por quem se apaixonou e ele não conseguia imaginar o que poderia ter causado tudo aquilo.

Celima ergueu as mãos e mostrou as fotografias rasgadas, Zoe deu um passo à frente e abraçou Sara que pareceu perder as forças que a mantinham em pé. Ethan permaneceu quieto e confuso, enquanto a via soltar as duas partes da fotografia que desapareceram ao vento com os outros itens da caixa.

— Por favor me deixe explicar... – suplicou Sara, correndo até Celima.

— Não ouse tocar em mim – gritou com extrema força.

— Por favor, acalme-se – pediu Zoe aproximando-se.

— Porque você fez isso comigo? – perguntou aos gritos.

— Oque está acontecendo aqui? ... Não estou entendendo nada – diz Ethan com certa calma, também se aproximando dela.

— Não me diga que você também não sabe o que está acontecendo?... Não precisa mais fingir... Eu já sei de tudo.

— Eu não faço a menor ideia do que está acontecendo aqui – afirmou ele, irritado por não saber o que dizer e como agir.

— Ele não sabe de nada... Não contei a ele... Por favor pare de brigar e me deixe explicar – suplicou Sara, tentando tocá-la.

— Explicar mais o que... Não tem mais o que me dizer.

— Deixe que ela fale – pediu Zoe, com receio de outra explosão de fúria.

— Eu não quero ouvir uma palavra sua – apontou o dedo para Zoe. — Que tipo de pessoa vocês são? Como você teve coragem de me roubar na maternidade e conseguir viver com isso todo esse tempo...

— Celima, querida...

— Você mentiu para mim, Zoe não é minha irmã e você não é minha mãe.

— Isso que ela disse é verdade? – pergunta Ethan, indignado.

— Como você teve coragem de fazer isso com sua irmã – virou-se para Zoe novamente. — Vocês duas são as piores pessoas do mundo.

— Não diga isso.

— Espero que vocês tenham muito tempo de vida... Assim poderão se arrepender do que fizeram ao tentar satisfazer seus desejos de ser mãe _ ressaltou Celima, ainda com voz alta –, isso não é ser mãe.

— Não fale assim... Amo muito você minha filha – insistiu Sara, afogada em lágrimas.

— Não me chame de filha... Nunca fui sua filha... Você só destruiu minha vida e eu não percebi nada... Como pude ser tão cega... Vou embora daqui e nunca mais quero ver vocês.

— Não fale assim... Eu não sabia de nada, por favor não me deixe – pediu Ethan, imediatamente.

— Eu não posso... Me desculpe... Eu preciso sair daqui.

Celima correu para o quarto e juntou em uma mala tudo o que precisava. Tirou o traje em que estava, pegou o dinheiro que guardava numa caixinha da cômoda e então despencou sobre a cama, ela não tinha mais forças para entender e lidar com tudo que estava acontecendo. Apenas ficou ali chorando por um tempo, era apenas isso que conseguia fazer naquele momento.

Enquanto Celima permanecia no quarto Sara lutava para se recompor na varanda e Zoe a ajudava da melhor forma que podia, enquanto Ethan ainda indignado permanecia parado no jardim.

— Vocês vão me explicar agora o que está acontecendo.

— Por favor Ethan nos deixe em paz – pede Zoe. — Olhe como estamos.

— De maneira nenhuma, não quero saber se estão bem ou não, eu quero respostas – ordena o rapaz, completamente irritado.

— Não sou a mãe de Celima e Zoe não é irmã dela... Eu e meu marido trabalhamos no hospital onde ela nasceu – Sara fez uma pausa para respirar. — Queríamos muito ter filhos, mas eu descobri que não podia engravidar.

— Continue contando... Não pare.

— Meu marido conheceu Zoe, irmã da verdadeira mãe de Celima. Ela nos entregou uma das gêmeas e a levamos para casa. Mudamos para longe da cidade para que a família não a encontrasse. Alguns meses depois, Zoe veio morar conosco e tivemos que dizer que ela era a irmã mais velha de Celima.

— Porque você fez isso? – pergunta Ethan direcionando-se a Zoe.

— Minha irmã sempre foi muito rica, mas a família entrou em decadência quando alguns empregados deram golpe na empresa... Eu sempre quis filhos e nunca consegui e ela teve gêmeas. Eu conheço minha irmã muito bem e sei que filhos não era o que ela queria, ainda mais quando estavam à beira da falência - disse Zoe, agindo da forma mais calma possível.

— Não fez isso por achar que sua irmã não era boa o suficiente como você... Fez por inveja dela ter a vida que você sempre sonhou não é mesmo... Como pode dizer que sua irmã não cuidaria bem delas se você nem deu chances para ela tentar.

— Não importa o que você acha sobre isso, Laura não merecia. Eu não aguentaria conviver naquela casa vendo todos dos dias como eu era uma fracassada. Eu fiz o melhor e poupei Celima de sofrer naquela família.

— Você não a poupou de nada, fez algo muito pior que isso.

— Não adianta julgar a Zoe – falou Sara, recompondo-se –, tudo já está feito, Celima foi separada da família e não há nada que você possa fazer... Tentamos guardar este segredo mas nada nesse mundo fica escondido tanto tempo.

— Você não merece perdão... Decidiu tudo sobre a vida dela sem se preocupar se ela estaria feliz... Apenas pensou em você... Essa era a família que sempre sonhou em ter?

— Sei que errei, fiz tudo de maneira ruim, mas acredite que eu a amo... Ela é minha filha, não pode ignorar isso.

— Você pode não ignorar, mas ela nunca vai se esquecer de tudo que fez. A vida inteira ela acreditou numa verdade que não existe, cresceu numa vida falsa, nada ao redor dela era real.

— Tenho esperanças de que ela me perdoe.

— Melhor não esperar por isso – finalizou ele. — Eu espero nunca mais ter que vê-las.

Ethan avistou Celima pela última vez no corredor, ela estava com uma mochila nas mãos. Sem se despedir ele caminhou de volta para casa, sentiu medo de dizer algo que pudesse afastá-la ainda mais.

Ela por sua vez, pegou a chave da velha casa em FoxWood e caminhou até a varanda onde Sara estava sentada numa cadeira puxando desesperadamente o ar com as mãos no peito. Zoe estava ao seu lado tentando acalmá-la.

— Eu peço a vocês que nunca mais me atormentem, não me procurem, esqueçam que eu existo e se algum dia eu vir a te encontrar, vou fingir que não te conheço – diz Celima tentando, não olhá-las nos olhos.

— Outra coisa... O carro eu ganhei de presente do meu pai, portanto vou levá-lo e a casa de FoxWood está em meu nome e eu quero os documentos... Mandarei alguém para buscar o meu piano então peço que envie a papelada junto.

Ela se virou e voltou para dentro da casa. Sara tornou a debulhar-se em lágrimas apertando fortemente as mãos no peito. Celima pegou as chaves do carro e olhou pela última vez aquela vista da beira-mar onde gostava de ficar, depois entrou no carro e pegou a estrada rumo a FoxWood.

Quando Celima estacionou em frente a antiga casa, seus olhos estavam inchados de tanto chorar. Tudo aquilo era demais para ela e as lágrimas pareciam o único meio de se livrar da dor que sentia por dentro. Quando enfim saiu do carro ela seguiu para o interior da casa com sua mochila pendurada num dos braços e a esperança de que pudesse ser novamente feliz ali.

Já estava anoitecendo. Celima seguiu diretamente ao quarto, aprontou a cama, tomou um banho rápido e se deitou. Ela dormiu rapidamente apesar de um dia difícil, seu corpo pesava tanto que mal conseguia ficar de pé.

Ao se levantar na manhã seguinte, foi até uma venda do outro lado da rua e comprou algumas coisas para a dispensa. Ela preparou um reforçado café da manhã e depois do desjejum, tirou um rádio portátil de uma caixa e colocou para tocar um CD.

Celima se preparou para o longo trabalho que teria pela frente, deixar a casa como era antigamente. Ela deu início a limpeza pelo andar de cima, os quartos que eram de Sara e Zoe, juntamente com o enorme closet e o antigo escritório de Fabrício foram trancados.

Ela substituiu as fotos da família que estavam pelo quarto e corredor principal por pinturas que Zoe costumava colecionar. E algumas delas também foram colocadas na sala substituindo antigas fotos e diplomas de Celima que ficavam pendurados na parede.

Na sala ela manteve poucos móveis, apenas o necessário para seu uso e o resto das decorações foram guardadas no sótão e no pequeno armário embaixo da escada. O espaço para seu amado piano foi reservado com muita cautela, Celima queria que ele ficasse no melhor lugar possível.

Era fim de tarde quando Celima terminou o seu trabalho na casa e tudo já estava conforme o desejado. Ao terminar ela estava tão cansada que acabou dormindo no pequeno divã azul do corredor.

Celima despertou com um susto provocado pela buzina de algum carro que passava lá fora. Rapidamente ela se levantou e percebeu que havia dormido toda a noite ali, seu corpo estava levemente dolorido por ter que se acomodar naquele pequeno divã durante este tempo.

Após tomar o café e um longo banho Celima partiu rumo à floricultura mais próxima e encomendou flores para o seu jardim. Ao início da tarde as flores foram entregues e ela iniciou o plantio. Dois dias foram precisos para que ela pudesse deixar a casa como desejava, mas enfim tudo estava pronto. A casa que antes parecia abandonada há décadas estava mais bela do que nunca e pronta para guardar novas recordações.

No dia seguinte Celima se levantou cedo. Era o momento de procurar pela família Jhonson, sua família. Sem saber por onde começar ou por quem procurar ela seguiu em direção ao centro da cidade e entrou na primeira loja que encontrou aberta.

— Bom dia, em que posso ajudá-la? – perguntou uma vendedora.

— Preciso apenas de uma informação.

— Sobre o que seria?

— Saberia me dizer como encontro a família Johnson? – pergunta Celima, desajeitada –, Martin e Laura Johnson.

— Eles moram fora da cidade numa montanha no lado norte. Tem uma estrada que passa por lá.

— Sabe como faço para chegar até lá?

— Pegue esta avenida e a siga até o fim, lá você vai encontrar uma placa com a direção para chegar até eles.

— Muito obrigada!

Celima entrou no carro e seguiu pela longa avenida que parecia sem fim. Ela teria que cruzar toda a cidade e FoxWood não era um lugar pequeno. Aquela foi a primeira vez que ela pôde de fato conhecer a cidade em que viveu tantos anos.

Quando enfim chegou ao outro lado a avenida se dividiu em duas pequenas ruas, uma para direita e outra para esquerda. No meio das duas, uma placa anunciava: "Fazenda St. Louis à esquerda - Fazenda Johnson 's à direita". Ela seguiu.

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