Capítulo 07
Após o noivado Celima pode perceber o quanto tudo estava diferente, sua vida estava se tornando mais segura e Ethan era o que ela mais precisava. Tudo se transformou tão rapidamente que até mesmo ela sentia-se mudada e com novas prioridades.
No entanto, conforme o tempo passava a única coisa que não mudava eram as inquietações de Sara. Depois do noivado ela já não mais se intrometia nas opiniões ou escolhas de Celima, que por um lado foi algo libertador, mas em compensação tornou-se incômoda como se precisasse se livrar de algo.
Celima estranhava tudo isso afinal era o outro lado de Sara que ela ainda não conhecia, até então uma mãe controladora era tudo que ela tinha e agora essa mãe tinha se tornado uma pessoa inquieta e muitas vezes distante, trancada em seu quarto.
— Lendo mais um livro? – indagou Celima, sentando-se ao lado da mãe – Este é novo?
— Sim... Eu o comprei na semana passada.
— Queria falar sobre algo com você.
— Onde dizer querida – afirmou Sara, ainda concentrada na leitura – Estou te ouvindo.
— Às vezes, tenho a impressão de que você não está feliz.
— Não, minha filha – disse Sara, desgarrando-se do livro – Não pense assim, eu sou a mãe mais feliz do mundo.
— É que te vejo tão inquieta... Como se estivesse perdida em outro mundo.
— É apenas impressão sua... Não ligue para isto, estou apenas pensando no seu casamento, nos preparativos e tudo mais.
— Não temos data definida ainda mamãe... Não deveria ficar pensando nisso... Vamos demorar um pouco para nos casar – afirma Celima imediatamente.
— Eu sei... Mãe é mãe e nos preocupamos.
— Temos muito tempo para nos preparar, deixe isso de lado.
Sara sorriu para a filha, fingiu estar mais alegre e consolada com aquelas palavras, então deu um beijo na testa de Celima e depois voltou a concentrar-se em sua leitura.
Celima se levantou e seguiu para a varanda onde avistou Ethan sentado à beira-mar. Ele parecia concentrado em algo, talvez buscando enxergar toda aquela beleza que apenas os olhos de Celima podia ver naquele lugar.
Ela se sentou ao lado dele e ambos ficaram em silêncio. A vista do mar quando o sol estava prestes a esconder-se era hipnotizador com sua brisa suave e fresca.
— Ultimamente minha mãe tem andado tão diferente – disse a moça, enfim.
— Como assim?
— Não tem muito tempo desde que ficamos noivos e minha mãe já está pensando no casamento... Anda pelos cantos, calada e pensativa, está estranha.
— Você já falou com ela?
— Sim... Ela me disse que está pensando nos preparativos da cerimônia... Mas não sei se acredito.
— Isso é coisa de mãe... Elas acabam se preocupando, mesmo quando sabem que não precisam – conclui Ethan, mais calmo.
— Acho que tem razão.
— Já está tudo pronto para reabrir a minha loja – ressaltou ele, mudando de assunto.
— Que boa notícia.
— É verdade... Podemos começar a juntar dinheiro para o nosso casamento.
— Estou muito feliz! - sussurrou Celima, sorrindo timidamente.
— Eu também estou, minha querida.
Juntos eles ficaram à beira-mar até que o sol desaparecesse e a noite tomasse seu posto resoluta. Ethan acompanhou Celima de volta para casa, despediu-se dela no jardim e esperou até que desaparecesse pela porta.
Sara estava sentada na varanda tricotando e cantarolando sem desviar sua atenção. Ela estava tão concentrada que nem mesmo notou Celima passar ou Ethan se aproximando dela sorrateiramente.
— Sua filha está insistindo na história de que você está muito estranha... Ele falou, fazendo-a assustar-se... Esta ideia de preocupação com o casamento não está funcionando, acho melhor mudar de tática ou ela vai pegar no seu pé.
Ethan despejou suas palavras e voltou rapidamente para casa. Sara abandonou o tricô e imediatamente se levantou indo direto para o quarto onde se trancou mais uma vez.
Celima levantou-se de madrugada após um pesadelo que a fez acordar espantada. Não sabia ao certo se sonhara com seu pai, mas aquilo a incomodou bastante então se levantou para tomar um copo de água quando se deparou com a luz do quarto de sua mãe acesa.
Ela espiou pela fechadura e novamente a avistou com aquela caixa misteriosa. Depois de alguns minutos vasculhando os papéis Sara foi em direção à porta com a caixa em mãos e Celima se escondeu na parede da sala tomando cuidado para não acordar Zoe que dormia no sofá com a TV ligada.
Sara foi até o quintal e entre os arbustos das poucas plantas que restaram ela cavou um buraco, enterrou a caixa e teve todo o cuidado de manter a terra como estava antes. Celima assistira a tudo da janela do seu quarto um tanto confusa e intrigada.
Quando Sara terminou sua tarefa, voltou para casa e tomou um banho para se livrar da terra vermelha. Depois colocou a roupa com terra para lavar, escondendo-a entre as outras e por fim ajeitou a cama e se deitou.
Celima assistiu a tudo com total silêncio para não ser descoberta, mas aquela atitude de sua mãe a deixou um tanto curiosa, afinal aquela caixa parecia de grande importância para Sara que quase sempre estava vasculhando seu conteúdo e agora de repente estava enterrada no jardim dos fundos.
— O que será que tinha naquela caixa? Perguntou a si própria... Se ela fez isso é porque não deve ser encontrada.
Celima apagou a luz de seu abajur, se deitou e após pensar um pouco decidiu deixar tudo isso pra lá, afinal se sua mãe fizera isso é porque tinha seus motivos e não iria se meter nisso.
Certa manhã Celima levantou-se tão bem disposta que parecia ter recebido o melhor de todos os presentes. Sara a viu correr até o mar e mergulhar nas águas agitadas e percebeu ser uma missão impossível tentar adivinhar o que tanto deixava a filha feliz, talvez nem Celima soubesse.
— Quanta alegria... O que será que aconteceu? – pergunta Zoe, parada na porta.
— Não sei... Ultimamente ela só tem estado assim.
— A última vez que a vi assim foi quando tocou piano no aniversário do pai.
— Tem razão... O noivado deve estar fazendo muito bem pra ela – conclui Sara, voltando a descascar suas batatas.
— Talvez não tenhamos feito tanto mal assim.
— Acho que fizemos o certo.
Sara estranhou quando Celima saiu da água e retornou para casa. Geralmente ela se sentava à beira-mar e apreciava a paisagem, mas naquele dia em especial ela entrou, tomou um banho longo e quando saiu pegou algumas revistas e se sentou na varanda. Ali ela ficou um tempo em silêncio a folhear as páginas de uma revista.
— Vou com sua irmã ao mercado... Não se esqueça de que seu noivo vem almoçar conosco hoje – anuncia Sara, ainda estranhando a filha.
— Tudo bem.
— Eu deixei o seu café pronto, não fique sem comer.
— Eu vou comer logo, não se preocupe.
Não demorou muito para Celima abandonar as revistas e se dirigir para a cozinha, a fome já começava a lhe incomodar. Após apossar-se de uma belíssima maçã, uma fresta de luz lhe chamou a atenção. Aquela luz que entrava pelo vão da janela e iluminava o piano branco de seu pai.
Celima não resistiu e se aproximou do belo piano estacionado no canto da sala. Ela sentou-se no banquinho, escorregou os dedos pelas teclas e então sentiu uma grande felicidade da qual nem sabia explicar.
Ela passou alguns segundos apenas a olhá-lo, relembrando os momentos agradáveis que tivera com Fabrício. Já havia um tempo que ela não pensava nele e agora só conseguia lembrar dos dias em que tocavam e isso lhe fez sentir tranquila.
Ethan seguia para a casa de Celima quando Zoe estacionou o carro na entrada da garagem. Ele se ofereceu para ajudá-las com as compras e ao chegarem na porta principal escutaram o som animado de um piano.
Sara pareceu não acreditar quando avistou Celima tocar depois de tanto tempo, suas poucas sacolas caíram de seus braços e se espalharam pelo chão da sala.
Os três permaneceram parados no mesmo lugar enquanto Celima dedilhava de um lado a outro do teclado. Nem mesmo deram atenção às compras espalhadas pelo chão da sala, apenas ficaram ali ouvindo-a até o fim.
— Estou tão feliz que tenha voltado a tocar minha filha.
— Isso foi incrível - conclui Ethan, admirado.
— Eu sabia... Antigas paixões não morrem — sussurra Zoe, para ele.
— Talvez seja uma boa ideia eu dar aulas de piano – falou Celima apenas, sem desviar os olhos do instrumento.
— É perfeito – concorda Sara.
Sara se colocou a recolher as frutas espalhadas pelo chão enquanto Ethan se sentava ao lado de Celima no pequeno banco e a ouvia dedilhar algumas notas. Zoe levou as sacolas para a cozinha e ajudou nos preparos deixando os dois por um tempo sozinhos.
— Fico muito feliz de te ver assim.
— Isso aqui me faz tão bem – afirma Celima, olhando fixamente para as teclas.
— Me promete uma coisa?
— O quê?
— Mesmo que tudo parecer ter acabado, você não vai parar de tocar... Essa é sua alegria, não pode perdê-la.
— Eu prometo.
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