Capítulo 05

Celima adormecia profundamente. Sara a espiou algumas vezes antes de garantir que tão cedo ela não acordaria. Com Zoe ao seu lado ela partiu pelas areias com certa rapidez e destreza como se calculasse movimentos em uma guerra.

Ela bateu na porta e aguardou ansiosa apertando uma mão na outra, inquieta. Depois de alguns minutos Ethan apareceu com sua roupa de dormir, encabulado com a visita e o horário.

— O que fazem aqui a essa hora?

— Celima pretende voltar para FoxWood – afirma rapidamente Zoe.

— Precisamos pensar em algo para impedir e tem que ser rápido – declara Sara, entrando sem ser convidada –, o tempo que pedi para Celima ficar se esgotou e eu não consegui fazer nada para tirar essa ideia da cabeça dela.

Ethan precisou de um tempo para processar a informação, ele estava visivelmente cansado e sonolento. Aquele parecia ser um assunto muito importante para suas visitas e por isso ele tratou de se recompor e compreender melhor o que se passava.

— Explique melhor o que está acontecendo – pediu Ethan, unindo-se a elas na sala.

— Celima quer voltar para FoxWood e não podemos deixar – disparou Zoe, rapidamente.

— Porque não finge que ficou doente?

— Não podemos fazer isso, ela acabaria descobrindo de algum jeito – diz Sara, roendo uma das unhas.

— Podíamos tentar – insiste o rapaz.

— Celima tem medo de me perder como perdeu o pai... Se me fingir de doente será demais para ela.

— Podíamos dizer que vendemos a casa – falou Zoe, aparentemente confiante numa solução simples.

— Ela não acreditaria... Sua irmã é esperta, vai saber que estou fazendo isso pra ela não voltar.

— Tem que ter outra forma – conclui Ethan – Só precisamos pensar direito.

— Já sei de um jeito – afirma Zoe, com entusiasmo.

— Então fale.

— Ethan é apaixonado por ela... Então... Conte isso pra Celima.

— Isso é perfeito... Vocês dois namoram... Você segura ela aqui e tudo fica certo – concorda Sara, mais animada.

— Como eu vou fazer isso? – questiona o rapaz, sentindo-se pressionado.

— Pense em uma maneira para contar a ela – orientou Zoe – Você tem que fazer isso.

— Não deixe Celima ir embora – implora Sara, com as mãos unidas de frente ao corpo.

— Está bem! Farei isso – assentiu Ethan, convencido –, eu também não quero que ela vá... Pelo menos não agora.

Naquela manhã o sol brilhava forte, a maré estava agitada, ventava mais do que o normal e as ondas chegavam bem mais alto, obrigando Celima a sentar-se na terra vermelha do jardim. Já fazia um tempo que ela não via um dia tão agitado à beira-mar.

— Então aqui está você – disse Ethan – Eu estava te procurando.

— Sente-se aqui comigo.

— Como está hoje?

— Estou me sentindo muito bem... E você? – pergunta ela, concentrada em sua respiração.

— Muito bem também! – afirma Ethan, tentando controlar o nervosismo –, na verdade, gostaria de conversar um assunto com você.

— Pode falar.

— É um assunto delicado... É que – foi interrompido rapidamente.

— Estou te ouvindo.

— Eu gosto muito de você.

— Também gosto de você – confirma Celima, sorrindo e fitando-o.

— Acho que não me entendeu... Eu gosto de você, não apenas como amigo – revela Ethan, criando um pouco mais de coragem –, é algo mais.

— Você está falando sério? – questionou a moça, após observá-lo um instante, calada.

— Sim, estou falando sério... Não tenho porque mentir... Está sendo ótimo ser seu amigo... Mas, na verdade...

— Nem sei o que dizer – Celima falou, interrompendo-o novamente.

— Não precisa dizer nada...

— Mas eu deveria não é mesmo? Eu, na verdade, nem sei...

— Não quero que você se sinta pressionada.

— Eu não me sinto assim, realmente, foi mais uma surpresa – garantiu a moça.

— Só me responda uma coisa – pediu ele, pegando uma das mãos de Celima.

— O quê?

— Me dê uma oportunidade de te mostrar que podemos ser felizes juntos... Que entre nós pode dar certo!

— Eu não sei... Na verdade – dizia ela sendo interrompida.

— O que te impede?

— Tem tempo que penso em voltar para FoxWood... Por mais que esteja feliz aqui não é a mesma coisa do que se eu estiver lá.

— Sua mãe te ama muito – dispara o rapaz, sem demora –, sei que ela fez tudo isso para o seu bem e da sua irmã também... Entendo o que você diz, mas ainda acho que ficar aqui pode ser uma boa opção.

— Também penso isso... Mas gosto tanto de FoxWood, da minha antiga casa... Não sei o que eu faço.

— Pense melhor – implorou Ethan, segurando as duas mãos de Celima sobre seu peito –, talvez a vida de vocês seja aqui agora... As coisas mudam e por mais que tentamos evitar, às vezes é o melhor caminho.

— Talvez tenha razão.

— Me dê a oportunidade de te mostrar que você pode ser feliz aqui... Perto de sua família e de mim.

— Tudo bem – concordou Celima, enfim –, tentarei mais uma vez.

Ethan se aproximou, deu-lhe um beijo na testa e a abraçou. Seu coração batia tão forte no peito que mal sabia discernir se era por felicidade e por poder estar ao lado de seu grande amor ou pela dúvida, de saber se estava ou não fazendo o certo tentando convencer Celima a se manter contra a sua vontade, ao lado dele e de Sara.

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