Capítulo 03

Uma, duas, três batidas foram dadas na porta de madeira rústica. Sara não conseguia controlar sua ansiedade, olhava de um lado ao outro do jardim florido e pelas janelas da sala a fim de saber se havia ou não alguém em casa.

Ela insistiu uma última vez e nesta bateu tão forte na porta que por pouco não lesionou o pulso, que recolheu rapidamente para perto do corpo tentando apagar a dor com algumas esfregadelas rápidas.

De repente a porta se abriu como se um vento forte tivesse soprado e atrás dela surgiu a figura de um jovem rapaz, aquele mesmo que observava Celima pela varanda todas as manhãs. O vizinho da casa ao lado.

- Olá! Eu me chamo Sara Walters, sou sua vizinha - disse estendendo a mão para cumprimentá-lo.

- Ethan Moison... Em que posso ajudá-la?

- Seus pais estão?

- Não senhora, eu moro sozinho.

- Eu gostaria de falar com você.

- Tudo bem, entre.

Sara entrou e se sentou num dos pequenos sofás da sala. Ethan fechou a porta e em seguida sentou-se de frente para ela fitando-a pouco desconfiado e muito curioso para saber o que aquela senhora tinha a lhe dizer.

- Desculpe a demora em atendê-la... Acabei de sair do banho - ele explicou-se aproveitando o silêncio repentino.

- Tudo bem... Não se preocupe.

- O que a senhora deseja.

- Ethan, eu gostaria de te fazer uma pergunta - deu uma pausa para ver se ele estava atento a suas palavras. - Você gosta da minha filha?

Ethan levou um susto com a pergunta direta e precisa, sentiu um pequeno calafrio e tentou de toda maneira manter a compostura para não demonstrar o seu pequeno incômodo.

- Não vou negar... A senhora está certa!

- Minha filha perdeu o pai a pouco tempo, ele sofreu um acidente de carro, enfim foi uma tragédia - iniciou Sara, mantendo-se atenta a ele -, ela ficou muito triste e embora esteja bem melhor agora ela ainda não se recuperou por completo... Entende?

- Não estou entendendo aonde a senhora quer chegar.

- Eu gostaria que se aproximasse dela - pede Sara, enfim -, seria muito bom se pudesse.

- Não quer que eu fique longe dela?

- Não... Quero que faça o contrário.

- Quer que eu vire amigo dela?

- É isso mesmo.

- Tudo bem, eu posso fazer isso - concorda Ethan, após pensar um momento -, só não estou entendendo o motivo.

- Minha filha pretende ir embora da cidade e eu não quero que ela vá, pelo menos por enquanto.

- E um amigo ajudará?

- Pelo menos me dá um tempo para pensar em algo melhor... Então, você não pode comentar com ela sobre essa nossa conversa... Ela deve acreditar que se conheceram ao acaso.

- Tudo bem isso não é problema - afirma ele, ainda surpreso com o pedido.

- Bom, agora que já nos entendemos - conclui Sara, se levantando e seguindo para a porta principal -, eu já vou embora... Faça o seu melhor.

Sem ao menos se despedir adequadamente, Sara desapareceu por entre o muro de gramas que separavam as casas de forma rápida e precisa, deixando o rapaz parado à porta indignado por não obter resposta para seu: "Até Breve! Tenha um bom dia".

Ela voltou para casa e garantiu que tudo estava da mesma forma desde que saíra. Zoe dormia no sofá e Celima permanecia à beira-mar como fazia diariamente a esse horário. Sem mais com o que se preocupar ela se trancou em seu quarto e ali permaneceu por um bom tempo.

Ethan era filho único de Juliana e Caleb Moison, grandes empresários de muitas posses. De personalidade forte, bem-educado e gentil, Ethan era o tipo de pessoa que agradava a todos. Desde pequeno era apaixonado por Vôlei de Praia e fez desta sua profissão.

Quando a família Moison sofreu um golpe financeiro a alguns anos atrás, perderam tudo o que tinham e a casa em que Ethan vivia era a única coisa que restava. Pouco tempo se passou depois disto até seus pais sofrerem um acidente de carro e morrerem alguns dias depois.

Ao receber a proposta de Sara, ele se sentiu a pessoa mais sortuda do mundo. Poucas coisas lhe interessavam na vida desde o acidente de seus pais e agora aquela jovem que apreciava a vista do mar era o que ocupava seus pensamentos nos últimos dias e estava disposto a fazer tudo certo por ela.

Era noite, Celima voltava de um passeio pelos arredores da vizinhança. A casa estava silenciosa, parecia vazia. Zoe havia saído e Sara encontrava-se trancada outra vez em seu quarto.

Ela espiou pela fechadura da porta e como em outras vezes a viu vasculhar uma caixa com diversos papéis, já havia tentado uma vez ou outra encontrar a caixa mas não teve sucesso e não fazia ideia do seu conteúdo ou sobre o que se tratava todos aqueles documentos.

Celima estranhava as ações de sua mãe, muitas outras vezes Sara já se trancou no quarto olhando aquela caixa e por mais que quisesse saber o que a mãe guardava ali, ela nunca ousou se meter neste assunto.

Sara não era apenas reservada, ela costumava controlar as ações de Celima e impor suas vontades e opiniões. Desde que a filha nasceu, ela nunca a levou para passear em qualquer outro lugar que não fosse os arredores do bairro afastado em que viviam naquela gigante metrópole que era FoxWood.

Aos 13 anos Celima foi enviada para estudar em um internado numa região bem distante de onde viviam. Ela permaneceu lá até os 17 anos, quando finalmente retornou para casa cheia de saudades dos pais e de seu amado piano, o qual voltou a tocar todos os dias durante várias horas, fazendo com que a jovem permanecesse mais tempo dentro de casa sem ao menos desejar sair para passear.

Ficar qualquer minuto distante dos pais fazia parecer que não os veria por outros longos anos como quando estudou fora. Estar em casa na companhia deles já era o suficiente para Celima viver feliz, independente de ter amigos ou visitas com quem partilhar sua vida e dia a dia.

Sara e Fabrício mantinham uma vida extremamente regrada e discreta, poucos eram os conhecidos da família. Eles não visitavam ou recebiam amigos e parentes, o que não incomodava Zoe de nenhuma forma, porém, começou a despertar dúvidas em Celima após a morte do pai.

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