Capítulo 02
Como Fabrício costumava dizer, Celima era inigualável e havia nela coisas que jamais poderia se encontrar em outro alguém. Desde pequena ela demonstrava um amor incondicional e ele chegou a conclusão de que nem a própria Sara Walters soube amá-lo melhor que Celima.
Fabrício também dizia que a menina sempre foi muito inteligente, bela e admiravelmente talentosa com o piano. A sua maior alegria era poder ouvi-la tocar diariamente e com tanta beleza, ela era notável pelas suas habilidades.
Seu sonho desde pequena era ser uma grande musicista, receber total apoio e consideração de seu pai era a base que a mantinha nestes caminhos. Aos 18 anos ela já se preparava para estudar música e aprimorar seus conhecimentos, porém, quando Fabrício partiu aquela menina se perdeu no tempo e deixou de ser tudo aquilo que ele mais admirava.
Já havia se passado um mês desde que partiram de FoxWood e tudo caminhava bem. Toda aquela tristeza ia desaparecendo da vida da família que agora colecionava momentos adoráveis, ou pelo menos era o que Sara acreditava.
Ela não conseguia entender toda a beleza que Celima parecia apreciar diariamente quando chegava à beira-mar e se sentava nas areias mornas em silêncio, fechando os olhos e respirando profundamente aquela brisa fresca de todas as manhãs.
Sara absorvia toda aquela paz que a filha transmitia e assim se sentia mais tranquila, mesmo que aquela não parecesse ser a mesma jovem de antes.
Naquela manhã Sara a viu sentada mais próxima ao jardim. Abraçada aos joelhos, ela tinha o rosto virado em direção ao sol fraco daquele início de inverno e respirava com leveza e tranquilidade. Ela se aproximou de Celima e aproveitou para admirar a paisagem antes de romper o silêncio.
— É uma vista incrível.
— Não há nada melhor que isso aqui – afirma Celima, abrindo os olhos.
— Eu suponho que ainda exista algo que você goste tanto quanto isso aqui.
— Não adianta tentar... Não vou mais tocar.
Sara esperou um momento deixando que o silêncio voltasse por um instante que nem mesmo o som das ondas se podia ouvir, o dia estava extremamente calmo naquela manhã.
Já havia um tempo que ela não conversava com Celima sobre todos os acontecimentos e não sabia ao certo o que fazer, como se perdesse toda a habilidade de entender e ajudar a própria filha. Ela já não tinha conhecimento de como Celima se sentia ou sobre o que pensava sempre que sentava à beira-mar todas as manhãs.
— Diga-me o que está pensando.
— Tenho pensado muito sobre minha vida... Fazer uma faculdade ou algo parecido, procurar algum trabalho por aqui e té mesmo voltar para FoxWood e...
— Não pense nisso – advertiu Sara imediatamente –, nosso lugar agora é aqui.
— Eu não entendo... Passamos nossa vida inteira lá e eu amo aquele lugar...
— Você não ama aquela cidade, você ama as lembranças que tem de lá – retrucou a mulher. — Não devemos voltar querida!
— Existe algo de tão ruim naquela cidade? Sei que não é pelo papai.
— Por favor, esqueça isso... Ninguém vai voltar – afirmou Sara, levantando-se e retornando para casa -, vamos conseguir viver felizes aqui você vai ver, é só ter um pouco de paciência.
Quando chegou na varanda Sara desabou sobre uma das cadeiras como se o mundo pesasse sobre seu corpo, ela sabia que Celima não abandonaria a ideia de voltar a FoxWood com tanta facilidade e impedir isso seria o seu maior desafio. Nem mesmo aquele mar e a bela paisagem do novo lar seria capaz de lhe tirar esse desejo.
Com a mão no peito e tentando acalmar-se de seu desespero antecipado, Sara deparou-se com a sutil figura do vizinho da casa ao lado se dividindo entre palavras cruzadas e observar Celima no jardim mal cuidado, isso a fez perceber que tinha bem ali uma oportunidade que tanto buscava.
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