Capítulo 01

Sentada no banco de trás do carro da família, Celima observava a paisagem de outono pela janela. Chovia levemente, as folhas recém-caídas começavam a cobrir o chão da floresta e o sol surgia vagarosamente por entre as altas árvores e montanhas. Pequenas lágrimas escorriam pela bochecha cor pêssego enquanto o carro seguia constante pela estrada.

Era dia de mudança para a família Walters; Celima partia com sua mãe e sua irmã após a recente perda do pai. Havia apenas sete meses desde a morte de Fabrício e nada mais parecia fazer sentido desde então. O pai era a pessoa em quem ela confiava e dividia a vida, opiniões e ideais.

Desde pequena Celima aprendeu a tocar um instrumento que Fabrício admirava. O piano era algo que fazia uma ligação perfeita entre eles, porém, desde que Fabrício morreu ela nunca mais ousou tocar novamente. Celima adorava tocar para o pai e sem ele presente para ouvi-la nada daquilo tinha valor.

Percebendo que sua filha se afundava em profundo sentimento de tristeza, Sara decidiu mudar de FoxWood e se distanciar de tudo que pudesse lembrá-lo. A decisão não agradou Celima de início, pois ela adorava aquela cidade e aquela casa, porém, foi vencida pela constante insistência de sua mãe em buscar uma nova história para elas.

Timidamente o carro entrou na pequena cidade pacata e arborizada, onde as pessoas não tinham pressa ao andarem pelas ruas pouco movimentadas e onde crianças podiam brincar sozinhas pela orla vazia sem qualquer preocupação.

Sara logo estacionou de frente a nova casa que era menor que a antiga e de coloração amarela clara, tinha uma janela de vidro não tão graciosa e um jardim mal cuidado próximo a baixa grade do portão. A porta principal ficava na lateral junto da pequena garagem onde Sara agora lutava para colocar o carro. Imediatamente Celima pode notar o mar de ondas calmas se arrastando pelas areias não muito distantes de seu quintal.

— O que ainda fazem aqui... Desçam e vão conhecer a casa nova – disse Sara, aliviada por conseguir estacionar na minúscula garagem.

Celima não pensou duas vezes e dirigiu-se imediatamente para o quintal dos fundos. Primeiro se deparou com um antigo jardim de terra vermelha onde agora crescia apenas plantas selvagens desordenadamente, que se misturavam à bela paisagem de ondas calmas que escorregavam pela areia com graciosidade. Alguns pássaros se aventuravam na pesca, mergulhando diversas vezes nas águas geladas de outono e outros voavam pelos arredores das pequenas ilhas, criando uma agradável e diferente sinfonia de cantos.

— Esse lugar é lindo!

— Eu imaginei que fosse gostar da vista – disse Sara, aproximando-se.

— É perfeita.

— Entre... Escolha o quarto e depois venha me ajudar a desempacotar as coisas... Zoe não quer escolher o quarto dela sem você.

— Já estou indo.

Celima escolheu o quarto de frente para o mar, ele era o menor, mas ela não tinha muitas coisas. A cozinha era bem ao lado, os quartos de Sara e Zoe vinham imediatamente depois do seu e por último a sala, o maior cômodo da casa onde agora encontrava-se o belo piano branco de seu pai que foi a primeira coisa que ela viu ao se aproximar, quase engolido pelas caixas e peças da mobília trazidas na mudança.

O processo de desempacotar e organizar tomou pouco tempo daquele dia. Havia poucas coisas para colocar no lugar, pois Sara deixou a maioria dos móveis na antiga casa de FoxWood. Assim sobrou tempo para ela poder preparar um jantar especial na varanda dos fundos e aproveitar o belo anoitecer ao lado de suas filhas.

— Celima acorde! – sussurrou Sara –, o dia está tão lindo.

Celima resmungou algo, esfregou os olhos e se levantou olhando pela janela. Uma brisa balançava os sinos de vento da varanda e as plantas selvagens do jardim. Os raios de sol batiam nas águas claras do mar e os coqueiros das ilhas dançavam com o vento e o cantar dos pássaros.

— Olhe só esta vista! O mar está perfeito.

— O que vai fazer? – pergunta Sara, vendo a filha sair rapidamente pela porta.

— Vou entrar na água.

— Mas e o café da manhã? – perguntou novamente, sem resposta.

Sara e Zoe correram para as areias mornas a fim de observá-la. Aquela não parecia ser a mesma Celima dos dias anteriores, algo pareceu mudar na jovem que agora saltitava naquelas águas.

Na casa ao lado, parado na varanda um jovem rapaz observava a nova vizinha rodopiar e mergulhar. Ela chamava tanto a sua atenção que ele mal conseguia parar de olhá-la. Algumas vezes o fazia rir enquanto pulava de um lado para o outro a tal ponto de fazê-lo engasgar com o café.

— Celima, eu sei que o mar está maravilhoso, mas você precisa vir agora... O café já está na mesa.

— Deixe-me ficar um pouco mais.

— Querida! Você terá muito tempo para nadar aqui... Agora vamos.

Observar o mar passou a ser a atividade favorita de Celima nos dias que se seguiram, o que fazia com que as lembranças do passado fossem menos presentes, permitindo alguns momentos de alegria e tranquilidade. Até mesmo Sara parecia mais aliviada por estar em um novo lar.

Já para Zoe toda aquela mudança não parecia afetar de nenhuma forma, nem mesmo a perda do pai ou estar distante de suas amizades e de tudo que conhecia. Aceitar tudo aquilo era uma tarefa fácil para ela e se adaptar era mais fácil ainda.

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