Who am I ?

Jungkook despertou da sua lembrança assustado, o corpo inteiro tremia com espasmos enquanto ele vomitava água e bile.

Ele gritou um choro agoniado, seus olhos nublavam com as lágrimas em corrente. Sua boca vibrou entre o próprio vômito no chão, as mãos pareciam atrofiadas pela tensão dos espasmos, então ele desmaiou mais uma vez.

O sol queimava seu rosto quando ele acordou mais uma vez, a janela aberta jogava um vento gelado em seu rosto.

Jungkook estava deitado no seu próprio vômito, o cheiro pungente o deixava enjoado e indisposto. Seus olhos pareciam arenosos e sua boca rasgou, pelo tempo excessivo em contato com o ácido de seu estômago.

Ele gemeu tentando sentar, sem saber quanto tempo ficou deitado no chão, seus músculos estavam muito rígidos, então chegou a conclusão de que ficou ali por muito tempo.

Conseguiu andar até o banheiro, mas teve que sentar no chão do box, deixando a água cair no seu corpo por tempo indeterminado.

Seu choro eventualmente parou e foi só aí que ele percebeu que estava chorando.

Jungkook tinha tanto nojo dele naquele momento. Ele não sabia o que fazer a respeito, esquecer não era uma opção.

A água quente do banho relaxou um pouco sua musculatura, seu diafragma doía, provavelmente pelas convulsões causadas pelo vômito.

Sua boca, mesmo rasgada, sentiu alívio quando ele resolveu tomar um chá de camomila e enfiar alguns biscoitos no estômago depois do banho.

O enjôo diminuiu um pouco, mas ele ainda se sentia um lixo.

Ele estava esfregando o chão com um pano e álcool quando o celular em cima  da mesa de centro tocou.

- Fala. - Sua voz saiu rouca e arranhada, mas ele já desconfiava que isso aconteceria, depois de tanto silêncio, vomito e choro.

“Kookie. Você está bem?”

Era Jimin.

Jungkook tossiu tentando melhorar a voz, o rodo caiu ao lado dos seus pés e suas mãos foram até seus cabelos de modo impaciente.

- Jimin? - Jungkook perguntou, como se não acreditasse na sua própria habilidade associativa.

“Jungkook. Você está bem? Onde você está? Sabe onde está?”

Jimin parecia nervoso, provavelmente pensando que ele saiu pra se divertir e estava bêbado ou algo assim, afinal era algo que o “ele” de antigamente  provavelmente teria feito.

- Eu tô bem. - Jungkook suspirou aflito  com o que queria dizer. - Jimin. Por favor…

“Olha. Eu só liguei porque Jin mandou, ok?! Não venha com pedidos nos quais eu não estou pronto para conceder”.

- Pequeno. - Jungkook voltou a chorar, pouco se lixando se era vergonhoso. - Por favor… - ele balbuciou entre o choro. - Eu não sei o que dizer, não sei o que eu fiz pra você antes, mas eu quero consertar o que fiz agora.

Jimin suspirou impaciente, fazendo Jungkook limpar o nariz e os olhos enquanto tentava se acalmar.

- Desculpa. Leve o tempo que precisar. - Jungkook disse um pouco mais recomposto.

Houve um silêncio desconfortável entre eles. Jungkook não sabia se devia desligar ou não, então só esperou.

“ Jin disse que você vai aparecer no churrasco que vamos dar para apresentar Hoseok para os meninos?”

Jungkook mordeu os lábios machucados, pensando no que dizer.

- Se não quiser que eu vá, eu vou entender.

“ Eu quero que venha. - Jimin disse de repente. - Quero que venha e peça desculpas para o Hoseok”.

Jungkook ficou em silêncio, ele não sabia o que pensar, principalmente depois da última lembrança ainda revirando seu estômago, mas não queria perder Jimin. Era como se só houvesse uma resposta capaz de dar ao menor.

- Claro bebê, estarei aí.

“ Ótimo. - Jimin disse seco. - Ah! E tenta não vir bêbado, por favor”. - ele disse antes de desligar na cara de Jungkook.

Jungkook jogou o celular no sofá voltando a chorar aos soluços, seu ombro tremia, mas mesmo assim ele pegou o rodo caído no chão e voltou a limpar sua sujeira de mais cedo.


Seus olhos estavam inchados e sensíveis a luz, então ele colocou um óculos escuros, na esperança de conseguir dirigir  de forma segura, já que aparentemente ele costumava entrar em comas longos depois de provocar acidentes de trânsito.

Jungkook riu seco com o pensamento enquanto vestia uma jaqueta de couro por cima da camiseta branca solta no corpo esguio. Ele colocou a carteira no bolso da calça jeans preta, rasgada e trancou a casa.

Precisou rodar o quarteirão familiar da casa de Hoseok umas três vezes, antes de finalmente parar o carro em frente.

Vários carros tinham feito o mesmo que ele, deixando a rua lotada, o que significava que os meninos já estavam na casa

Ele apertou a campainha, sem saber se devia entrar direto ou não.

Podia ouvir conversas no jardim ao lado, mas não viu nenhuma entrada externa.

- Você. - Hoseok disse assustado quando abriu a porta.

Jimin provavelmente não avisou que ele viria.

Hoseok tossiu sem graça, notando a sobrancelha levantada de Jungkook.

- Jungkook, não sabia que viria. - Hoseok disse, tentando se consertar.

- JHope. - Jungkook disse simplesmente, vendo o garoto arregalar os olhos em puro pânico.

Jungkook entrou na casa enquanto o mais velho congelava, ainda segurando a porta.

Sim! Ele foi um pouco cruel, mas queria deixar claro que se lembrava dele, porque não gostava da ideia que tinha do JHope de suas memórias, tanto quanto não gostava de si mesmo. Na sua concepção, tanto ele quanto Hoseok, fizeram algo inexplicavelmente cruel com aquele pobre garoto e ele não tinha certeza se queria saber o porquê.

- JK. - Hoseok puxou os braços de Jungkook, os olhos arregalados em pavor. - Por favor. - ele sussurrou.

- Não falo nada, se pudermos conversar sobre isso depois. - Jungkook disse vendo o garoto concordar com a cabeça várias vezes.

- Sim, claro, claro. - Hoseok pareceu respirar pela primeira vez, puxando os cabelos para trás. - Será que pode ser em outro lugar? - Ele perguntou com os olhos cheios de lágrimas.

Jungkook confirmou e estava prestes a falar algo quando a campainha tocou.

- Pelo amor de Deus. O que você está fazendo aqui? - Hoseok disse aos berros, chamando a atenção de Jungkook que voltou pra ver o que estava acontecendo.

- Eu… - Taehyung olhou por cima dos ombros de Hoseok, vendo Jungkook se aproximar.

Seus olhos iluminaram quase que de imediato e agora Jungkook tinha mais noção do porquê. Taehyung ironicamente se sentia seguro ao seu lado.

- Oi Taehyung. - Jungkook disse calmo, tranquilizando o garoto quase que instantaneamente.

- Por que Jimin me chamou para casa do JHope? - Taehyung perguntou com a voz baixa e submissa, porém um tanto curiosa.

Hoseok retesou todos seus músculos, olhando agoniado para Jungkook.

- Jimin não sabe que Hoseok é o JHope e por enquanto vai continuar assim. Ok?! - Jungkook falou vendo Taehyung confirmar animado.

Ele tinha ainda mais nojo ainda de tudo aquilo, era como se entrasse cada vez mais fundo num túnel escuro e sem esperança de um final iluminado.

- Espera. Você lembrou da g… - Taehyung começou mas foi interrompido.

- Ele é amigo do seu marido? - Hoseok perguntou confuso.

Jungkook concordou pensativo, vendo Taehyung agir estranho na frente deles.

Ele não sabia o que era, porque tecnicamente não se lembrava, mas podia sentir que algo estava errado com o garoto.

Hoseok olhava de Taehyung para Jungkook várias vezes, tentando se convencer que aquilo não era um total pesadelo, mas desistiu de tentar entender o que realmente acontecia ali, chegando à conclusão de que tudo era real e que ele era um fodido que não merecia ser feliz mesmo.

- Você está bem ? - Jungkook perguntou para Taehyung enrugando a testa confuso e pela primeira vez preocupado.

O Taehyung que ele têm de sua lembrança tão recente era tão sensível e delicado. Ele não conseguia mais separar suas ideias novas das antigas enquanto via o garoto sorrindo quadrado  mesmo que parecesse querer chorar.

- Vocês são doentes. - Hoseok disse depois do clima desconfortável se escalar para algo ainda mais confuso.

Os dois não pareciam ter ouvido ou sequer perceberam que agora estavam sozinhos.

- Você lembra de mim? - Taehyung perguntou esperançoso.

- Taehyung. - Jungkook ia tocar nos braços de Tae, mas foi interrompido pela voz melodiosa de Jimin.

- Aí está você. Hoseok disse que você acabou de chegar. - O sorriso de Jimin diminuiu um pouco ao ver que Jungkook não estava sozinho.

- Com licença. - Taehyung sussurrou sem graça, se afastando do casal e indo em direção a sala.

- Achei que não viria. - Jimin sorriu sem mostrar os dentes, olhando as costas de Taehyung enquanto o maior se distanciava deles.

Jungkook parecia perdido em pensamentos.

- Está me ouvindo? - Jimin perguntou irritado enquanto cruzava os braços.

Jungkook suspirou, passando as mãos no rosto na tentativa de conversar decentemente dessa vez.

- Desculpa. Estava distraído. - Jungkook murmurou voltando sua atenção para o menor.

- Lógico que está distraído, Taehyung estava por perto. Isso é o suficiente.

- Jimin. - Jungkook suspirou pesado enquanto encarava o menor com um bico enorme na boca.

- O que ?! Eu tô mentindo por um acaso?

Jungkook apertou suas têmporas com as pontas dois dedos, tentando ignorar as pontadas de dores que pareciam cada vez mais forte.

- Jimin. Você discute comigo como se eu fosse casado com você há cinco anos e eu discuto com você como se te conhecesse há pouco mais de um mês. - Ele respirou cansado, encarando o menor que descruzava os braços, as bochechas vermelhas pela vergonha repentina. - Você entende como isso pode ser confuso pra mim? - Jungkook perguntou aflito por compreensão.

Jimin concordou, mas não disse nada, então Jungkook pegou em sua mão gelada e o levou até a sala, onde todos se reuniam para almoçar.

- Jungkook. Hoseok  joga tênis, vocês deviam tentar uma partida no clube, o Maknae aqui ganha de todos nós quando se trata de esportes. - Namjoon disse vendo Jungkook quieto no canto.

Jungkook concordou distraído assistindo Taehyung espetar uma ervilha com um garfo, mas sem colocar nada na boca.

Ele não sabia porque de repente se preocupava com o mais velho, algo em sua última lembrança o deixou com a sensação de que Taehyung precisava dele de alguma forma.

Jungkook balançou a cabeça, tentando desaparecer com aqueles pensamentos, isso era ridículo.

Seus pensamentos foram distraídos pelo barulho de Taehyung batendo o talher contra o prato de porcelana, desistindo de fingir que comia.

- Não vai comer? - Jungkook perguntou baixo tomando a atenção de Taehyung que agora o olhava em expectativa.

Taehyung negou com a cabeça, olhando apreensivo de Jimin para Jungkook.

Jimin fingiu que não viu, apesar de estar atento à situação com seu ouvido, a ponto de ouvir até a respiração do seu marido ao lado.

Jungkook olhou o prato de Taehyung e antes que pudesse pensar sobre isso, pegou um pedaço de carne do churrasco com seus hashis e colocou no prato do mais velho.

- Melhor? - ele perguntou com um sorriso pequeno como incentivo.

Taehyung olhou um pouco mais empolgado para Jungkook, depois de tanto tempo sem receber uma ordem, ele nem sabia muito bem o que fazer com uma, além de engolir o nó em sua garganta e começar a comer, torcendo pra que só ele percebesse o quanto seu coração batia alto e seu rosto parecia queimar de tanto sangue acumulado ali.

Jimin bufou jogando o guardanapo na mesa e levantou bruscamente.

- Vou ver como está a sobremesa. - ele disse engasgando com as lágrimas que começaram a brotar em seus olhos diminuídos.

Jungkook ignorou os resmungos de Yoongi sobre isso e seguiu Jimin, pedindo licença ao se levantar.

Jimin estava encarando a porta de vidro da cozinha que dava para o jardim, os olhos boiando em lágrimas que escorriam vez ou outra por seu rosto avermelhado.

Jungkook abraçou Jimin por trás, sentindo o cheiro do perfume doce no pescoço do menor, ele sentia falta daquele cheiro.

- Você fica lindo com o nariz vermelhinho.  - Jungkook disse encarando Jimin pelo reflexo quase escasso do vidro da porta.

Jimin fungou, encarando o reflexo de Jungkook sério em resposta.

- Desculpa. Não quis te chatear. - Jungkook sorriu um pouco sem graça, se afastando depois de beijar o pescoço do menor.

Jimin virou, olhando pensativo para Jungkook.

- Eu sinto muito, mas não sei se consigo passar por isso tudo de novo. - Jimin disse com a voz trêmula beirando  a insegurança.

Jungkook concordou com a cabeça.

- Jimin. Eu nunca senti nada parecido antes, a forma como meu corpo reage a você, como meu coração bate toda vez que reconhece seu cheiro, como ele se acelera ao confundir alguém na rua parecido com você. - Jimin abriu a boca para interrompê-lo, mas Jungkook continuou a falar, o impedindo. - O que eu quero dizer é que eu realmente quero tentar um relacionamento com você. É muito cedo para saber exatamente o que sinto, mas sei que é verdadeiro. - Jungkook se aproximou segurando Jimin pelos cotovelos. - Eu só não posso deixar de lado quem eu fui antes de acordar do coma, eu preciso pelo menos tentar descobrir o tipo de pessoa que eu era antes de tentar ser alguém diferente, melhor. Jimin, eu simplesmente não consigo deixar pra lá.

Jimin concordou notando pela primeira vez o quão horrível Jungkook estava. Os olhos vermelhos e inchados, olheiras enormes e arroxeadas, a boca toda cortada. Ele parecia alguém que passou por um inferno nos últimos três dias.  

- Eu tenho uma condição. - Jimin disse um pouco nervoso.

- Qual? - Jungkook perguntou, feliz porque o menor estava disposto a pelo menos tentar entender seu lado.

- Eu não aceito mais que você me traia. Eu tenho o direito de ter alguém que me a… - Jimin mordeu os lábios, olhando apreensivo para Jungkook. - ...que me respeita. - ele completou trocando o peso dos pés, na tentativa de disfarçar a timidez.

- Eu prometo te respeitar Jimin. Eu não sei o que eu tinha com Taehyung antes, mas se você puder ao menos deixar eu tentar ir atrás de toda a história, eu te conto tudo que eu descobrir e podemos decidir o que fazer à partir daí.

- Me contar? - Jimin abriu a boca em um “O”, parecendo em choque com a ideia, como se aquilo nunca tivesse passado por sua cabeça antes.

- Sim. Somos casado não somos?! Não é isso que pessoas casadas fazem? Partilham seus problemas?

Jimin se afastou se sentindo de repente confuso e assustado, ele não sabia o que pensar sobre aquilo. Jungkook nunca o deixou entrar em sua vida daquela forma antes.

- Jimin, uma hora você vai ter que descobrir com quem casou.- Jungkook falou parecendo estranhamente se referir a outra pessoa.

Jimin sentiu a mesma estranheza na frase, juntando as sobrancelhas enquanto pensava sobre o assunto.

- Eu não sei se quero descobrir. - ele disse baixinho.

Seu marido sempre foi um mistério pra ele e honestamente ele tinha medo da verdade, a mentira sempre pareceu confortável aos seus olhos, mas talvez ele estivesse iludindo a si mesmo quanto a isso.

Jungkook riu se aproximando do menor para beijar seus cabelos.

- Eu preciso saber a verdade e consequentemente contatei a você quando descobrir, então é melhor se preparar. - Jungkook acariciou as bochechas do mais velho, rindo um pouco da cara de pavor do baixinho.

- Você nunca me contava nada, achava que eu não era capaz de aguentar saber. - Jimin soltou em voz alta um fragmento dos seus pensamentos acelerados.

- Eu acho você incrivelmente capaz agora. Então, por favor. Confia em mim?

- Ok. - Jimin disse entre os suspiros.

O barulho de algo batendo na pia tomou a atenção dos dois que se viraram, pra dar de cara com Taehyung tentando passar despercebido pela cozinha.

- Jin mandou eu recolher os pratos. - Taehyung disse tímido enquanto sorria forçado para os dois.

Seu coração parecia que ia sair pela boca.

Jimin apertou a mão de Jungkook, sorrindo fraco e saiu da cozinha.

Jimin estava confiando nele.

Jungkook mal conseguia conter sua felicidade, mas a suprimiu assim que notou Taehyung no meio da cozinha, incomodado com algo enquanto puxava pra baixo a manga, já enorme, da camisa larga no corpo.

- Oi V. - Jungkook disse vendo o garoto arregalar os olhos em resposta.

Ele parecia ser bom em causar esse tipo de reação nas pessoas.

Taehyung deu alguns passos pra trás, esbarrando na parede na qual usou como apoio.

- Você lembra de mim? - Taehyung perguntou engasgado.

- Muito pouco. Eu preciso muito da sua ajuda Tae. - Jungkook segurou as mãos trêmulas do mais velho.

Taehyung não sabia o que fazer, olhando para todos os cantos menos para os olhos de Jungkook.

- Jimin...ele…

- Ele está bem. Tae, olha pra mim. - Jungkook pediu calmo, tentando não assustar ainda mais o garoto na sua frente.

Taehyung olhou para Jungkook sorrindo quadrado de novo enquanto tentava colocar as mãos na frente do corpo, como fez em sua última lembrança, era um sinal claro de submissão automática.

- Desculpa. Você não precisa olhar pra mim, se não quiser. - Jungkook disse acariciando uma mecha dos cabelos do mais velho.

Ele não sabia o que estava fazendo, ele se sentia guiado por instintos e parecia uma ideia idiota fazer algo assim, mas estava funcionando.

Taehyung perdeu o sorriso, mas agora encarava seus olhos.

- Tae eu preciso de ajuda. Preciso lembrar. Você pode me ajudar? - Jungkook perguntou ainda com a voz calma e baixa.

Taehyung se desesperou conforme Jungkook subia a mão das suas, passeando por seu antebraço.

- Eu não sei. Eu te beijei, no quarto e você disse…

- Eu não sou mais o cara que você conheceu. - Jungkook respondeu, o interrompendo.

Taehyung concordou, mordendo o lábio inferior parecendo inseguro com tudo aquilo, mas sem conseguir resistir obedecer.

- Eu preciso saber quem era o cara que você conheceu. - Jungkook disse enquanto o mais velho concordava distraído.

Taehyung tentou se afastar do mais novo, mas Jungkook o pegou pelo punho o impedindo.

- Espera.

- Ai. - Taehyung segurou a mão de Jungkook, sorrindo quadrado enquanto lágrimas caíam de seus olhos enquanto tentava se afastar do mais novo. - Me solta, por favor.

Jungkook enrugou a testa levantando a manga da blusa do braço em que segurava firme.

Ele quem arregalou os olhos dessa vez, vendo o pulso todo cortado de Taehyung. Tinham marcas recentes ali, marcas de estilete ou algo tão afiado quanto e que agora sangrava por ele ter apertado com força, terminando de rasgar a pele já sensível do garoto.

- Porra. - Ele sussurrou abaixando a blusa de Taehyung antes que mais alguém visse aquilo.

- Me deixa ir embora. - Taehyung implorou chorando.

- Não! Vem comigo. - Jungkook ordenou, vendo o garoto entrar em alerta, as pupilas dilatando enquanto ele o seguia cegamente.

Jungkook falou algo no ouvido de Hoseok quando passaram pela sala, vendo o mais velho confirmar com a cabeça.

- Tae. Você está bem? - Jin perguntou vendo o garoto chorando enquanto Jungkook o puxava pelo braço.

- Ele está bem Jin. - Jungkook disse seco, arrastando Taehyung até o banheiro indicado por Hoseok.

- Tira a blusa. - Jungkook ordenou enquanto mexia nas gavetas da pia.

Taehyung fez o que o mais velho mandava sem questionar.

Jungkook bateu a mão no mármore da pia e Taehyung sentou imediatamente ali, balançando os pés no ar a espera de novas ordens.

Eles ouviram uma batida na porta. Hoseok segurava o kit de primeiros socorros nas mãos parecendo mal humorado quando Jungkook abriu a porta, porém suas feições mudaram completamente ao olhar em choque para o braço expostos de Taehyung.

- Precisam de mais alguma coisa? Uma água?

Jungkook olhou pra Taehyung esperando uma resposta.

Taehyung negou, sorrindo tímido enquanto tentava cobrir os pulsos com a blusa que segurava nas mãos , o que foi a deixa para Hoseok deixar os dois sozinhos.

- Podemos conversar? - Jungkook perguntou enquanto molhava um algodão com água boricada. - Vai te distrair da dor. - ele completou.

Taehyung riu seco, mas concordou com a cabeça.

- Nós nos encontrávamos com frequência? - ele perguntou tirando a blusa de Taehyung de suas mãos para limpar os machucados com o algodão.

Taehyung mordeu o canto da boca, mas não parecia incomodado com a dor e sim com a pergunta.

- Do que se lembra? - Ele perguntou inseguro, a voz grave mal saindo por sua garganta, deixando algumas lacunas de rouquidão.

- Não muito. - Jungkook parou com o algodão, pegando gaze e micropore para começar o curativo.

Ele não fazia ideia de como sabia fazer aquilo, só sabia que sabia, o que era muito estranho. Era como viver dentro do corpo de outra pessoa.

- Eu tive uma lembrança relacionada com um quarto, número 22? Acho que era um motel. - Jungkook começou quando Taehyung não falou nada. - O que fizemos… - Jungkook sentiu os olhos secos queimarem, cansados de lacrimejar. - Tae eu… eu te fazia muito mal, não é?

Ele fungou, alisando os punhos enfaixados do mais velho.

- Eu sou um monstro nojento.

- Não. - Taehyung abriu as pernas, deixando Jungkook se encaixar no meio dele, suas mãos foram para o rosto de Jungkook, o acariciando suavemente.

- Você me salvou JK.

Jungkook juntou as sobrancelhas em incógnita, olhando para Taehyung extremamente próximo do seu rosto.

- O que ? - Sua voz saiu falha e desacreditada.

- O que fazíamos nunca foi certo, eu sei que não, mas me ajudava. Eu me senti tão perdido nesses últimos meses, eu passei dopado praticamente todo o tempo em que esteve em coma. - Taehyung se forçou a cruzar os braços, na esperança de se impedir de tocar em Jungkook como queria.

- Eu me sinto perdido sem você. - ele sussurrou desviando o olhar.

- Tae. Eu sou casado. - Jungkook disse o óbvio, agoniado com tudo aquilo.

- Eu sei, mas… - Taehyung mordeu os lábios, as lágrimas finalmente escorrendo por seu rosto, antes imaculado.

 Jungkook limpou o rosto de Taehyung e o puxou, deitando a cabeça do mais velho no seu ombro para fazer carinho em seus cabelos macios.

- Por que não fazemos assim? Nos reunimos uma vez por semana, onde você quiser e conversamos sobre tudo isso. Você me ajuda a lembrar de tudo isso e eu te ajudo com o que precisar, mas eu preciso ser honesto Tae. Eu quero jogar limpo com o Jimin.

- Você diz, contar para ele? - Taehyung se afastou, o medo evidente em cada traço do seu rosto.

- Só o que você deixar que eu conte ou o que for a meu respeito.

Tae não parecia confiante com a ideia.

- E você nunca mais vai fazer isso com você. - ele disse apontando para os punhos de Taehyung. - Me prometa.

- E você vai me ver ? - Taehyung perguntou ainda inseguro. - Se eu aceitar tudo isso?

Jungkook sorriu largo.

- Sim. É uma promessa.

Taehyung sorriu junto, concordando com a cabeça.

Ele pegou Taehyung pelas axilas, colocando o garoto em pé e sorriu amoroso enquanto o vestia com sua blusa agora toda amarrotada.

- Não sei o que tínhamos Tae, mas eu sinto muito carinho por você.

Taehyung suspirou, caindo um de seus ombros para o lado enquanto suas bochechas ficaram rosadas.

- Achei que ia sentir nojo de mim quando lembrasse. - Taehyung disse um pouco sem graça tentando sorrir.

Jungkook acariciou suas bochechas, ele teve nojo dele mesmo e de toda a situação, mas não de Taehyung.

- Nunca. - Jungkook sussurrou beijando os cabelos do mais velho.

- Obrigado. - Taehyung disse um pouco sem ar pela aproximação inesperada.

- Vem! Vou te levar pra casa. - Jungkook disse depois de guardar os materiais que usou de volta no kit de Hoseok.

Jimin estava com a cara fechada, olhando Jungkook preparar o chá na cozinha do apartamento deles.

Mais cedo, os dois tinham levado Taehyung até sua casa e Jimin odiou assistir Jungkook acompanhar o garoto até a porta e beijá-lo na testa, pareciam um casal de namorados e ele era a merda do empecilho ou algo assim.

- Você parece irritado. - Jungkook disse sem se virar enquanto cortava rodelas de limão para colocar no chá.

- Jura? Nem reparei. - Jimin disse fazendo um bico, os braços cruzados e pensando seriamente em bater os pés no chão, se segurando no último instante.

- É fofo. - Jungkook disse se virando com um sorriso largo no rosto.

- Não tô no clima Jeon.

Jungkook engoliu o sorriso, colocando a fatia de bolo que sobrou do churrasco em cima da mesa e voltou pra pegar o chá, servindo uma xícara para o mais velho antes de lhe fazer companhia.

- Acho melhor eu começar então. - Jungkook disse um pouco amedrontado com a situação.

Ele começou a contar toda a última lembrança que teve sobre quarto 22, todos os detalhes sem nenhum pudor e quando terminou, começou a falar da conversa com Hoseok e Taehyung no churrasco e sobre os punhos de Tae.

A xícara ficou do jeito que Jungkook serviu com o chá para Jimin, o garoto não mexeu em nada, olhando estático para Jungkook enquanto ouvia ele falando do seu amigo e da relação doentia que eles pareciam ter.

- Eu não sei com que tipo de homem você casou Jimin, mas eu quero ser alguém melhor que isso. Eu tenho nojo de tudo isso e não consigo imaginar uma explicação que justifique minhas ações, honestamente.

- Antes que me pergunte, você me traiu e eu não aceito uma opinião diferente dessa.

- Eu sei.

Jimin suspirou, tristeza cobria sua face, mas Jungkook achava o garoto nem tão surpreso assim, apesar de tudo que ele disse.

- Jimin. Você tem algo pra me contar? - Jungkook perguntou cismado.

Jimin enrolou os dedinhos na blusa, olhando para Jungkook com seu olhar de culpa que o mais novo ainda não conhecia.

- Eu te apresentei para o Tae.

Jungkook engasgou com o ar, olhando confuso para o marido.

- Você o que ?

- Ele tinha um namorado abusivo, foi internado milhões de vezes com depressão e outros problemas depois que o cara o largou. Aí eu te conheci e você falava sobre os lugares que você não conseguia deixar de ir, mesmo depois que começamos a namorar…

- Lugares?

- Não me pergunte, eu nunca quis saber, você jurou que nunca me traiu e eu acreditei. Na época pelo menos… De qualquer forma, parecia que você entendia pelo que Taehyung estava passando e estava disposto a ajudar. Por mim.

Jungkook levantou da cadeira, andando de um lado para o outro, a confusão tomando conta dos seus pensamentos.

Aparentemente Jimin não era tão inocente e alheio aos problemas deles como ele pensava.

- Jimin. Porque escondeu isso de mim?

Jimin deu de ombros, os lábios trêmulos indicavam que o garoto estava assustado.

Por que todo mundo tinha medo dele afinal?

- Eu…eu fui egoísta Jungkook. - Jimin soltou o ar, os ombros caindo em desistência. - Achei que talvez pudéssemos começar do zero, sabe?!

Jungkook afastou a cadeira do menor e ajoelhou mas sua frente, colocando as mãozinhas geladas do pequeno, nas suas.

- Me explica? - Jungkook pediu baixinho, deitando no colo de Jimin e suspirando agradecido por Jimin ter se soltado de suas mãos para começar a fazer carinho em seus cabelos.

- Eu te amei cegamente desde a primeira vez que te vi. - Jimin começou, falando baixinho enquanto o acariciava. - Você era o típico badboy que todos pareciam amar e quando seus olhos caíram sobre mim, eu simplesmente ignorei o resto dos sinais que me alertavam de que você era má notícia. Tudo que me importava era sua atenção.

Jimin sentiu o maior apertar forte suas pernas enquanto suspirava desanimado com aquela história.

- Você tinhas esse ar de que nada podia te atingir e talvez nada realmente pudesse. - Jimin tentou voltar à realidade conforme seus pensamentos o arrastava para o passado.

- Quando eu contei de Tae, você disse que resolveria e eu acreditei.

Jungkook levantou a cabeça, os cílios molhados de lágrimas as olheiras pareciam ainda mais fundas, agora que estavam úmidas com lágrimas.

- Eu consegui? Consegui ajudar Tae?

Jimin sentiu os pêlos arrepiarem com o ódio ao ouvir Jungkook chamando Taehyung de Tae, mas ignorou, se forçando a deixar pra lá.

- Você precisa perguntar isso pra ele.

Jungkook enrugou a testa, os olhos no chão enquanto pensava na história toda.

- Eu estava perdidamente apaixonado por você e como disse antes, ignorei todos os sinais.

- Jimin. - Jungkook sabia que tinha mais naquela história. - Eu fui honesto com você, te contei tudo que sei. Por favor, só estou te pedindo o mesmo em troca.

Jimin mordeu os lábios, vendo o garoto ajoelhado à sua frente, os olhos confusos. Era de dar pena.

- Taehyung tentou te evitar por um tempo, eu não sei o que aconteceu entre vocês, mas algo aconteceu. - Jimin sentiu o coração acelerar.

- Talvez eu tenha brigado com ele, ou algo assim? - ele tentou adivinhar.

- Jungkook o ex namorado de Taehyung está morto.

Jungkook saiu dos pensamentos vagos, encarando Jimin terrivelmente assustado.

- Morto? Como?

Jimin deu de ombros.

- Acidente de carro.

Jungkook levantou, seu corpo vacilou pelo tempo excessivo em que prendeu a circulação sanguínea sentado nas próprias pernas. Sua mão foi automática nos cabelos, os dentes prendendo seu lábio machucado.

- O que quer dizer com isso? Você não acha que eu seria capaz de…

- Eu não sei. Por favor, pergunta para o Taehyung, eu realmente não sei de nada. Tudo que eu sei é que aconteceu um acidente e você estava agindo estranho tanto antes quanto depois do ocorrido. É tudo que eu sei.

Jimin se levantou, envolvendo a cintura de Jungkook com seus braços.

- Eu sinto que não tenho sido tão honesto com você tanto quanto você provou estar disposto a ser comigo.

Jungkook o abraçou de volta, sem conseguir parar de pensar nas últimas informações que acabou de descobrir sobre seu passado, mas tentando dar a Jimin o carinho que ele subconscientemente pedia.

- Prometo que vou me esforçar para confiar nesse novo você. - Jimin riu um pouco da situação estranha. Era como namorar outra pessoa com o rosto do seu ex marido, era no mínimo, estranho e às vezes assustador, quando se aprofundava no pensamento.

- Jimin. É por isso que tem medo de mim? - Jungkook assistiu Jimin se afastar desconcertado.

- Eu não tenho…

- Sim você tem.

O menor parou no meio da cozinha, as mãos voltaram a enrolar a barra da blusa.

- Eu não… - Jimin encheu os olhos de lágrimas, ironicamente, parecendo assustado.

-  Olha! - Jungkook se aproximou, ignorando o fato de Jimin ter dado um passo  pra trás em resposta. - Eu quero ser alguém merecedor da sua atenção. - Jungkook segurou nos seus braços, pescando o olhar do menor, que tentava desviar com a cabeça para não encará-lo. - Eu não quero que tenha medo de mim. Nunca te machucaria, não consigo nem imaginar uma versão de mim, capaz de algo assim.

Seus olhos finalmente se cruzaram e Jimin o encarava com determinação agora.

- Você nunca me machucou. - Jimin disse seco.

- Você diz isso como se fosse algo ruim. - Jungkook não entendia a bagagem que o menor parecia carregar sobre o assunto.

- Você sempre fez questão de provar que eu era intocável, ninguém nunca me machucaria ou encostaria em um fio do meu cabelo enquanto você vivesse. Você me garantiu isso.

Jungkook não sabia o que estava acontecendo, ele não entendia Jimin, então ficou calado.

Jimin saiu andando e parou na sala, esperando que  Jungkook o seguisse e ele assim o fez.

O menor foi até um quadro com a pintura de uma ponte em Veneza pendurado ao lado da prateleira de livros, o tirando da parede para exibir um cofre escondido atrás. Ele digitou uma senha de quatro dígitos e o cofre abriu com um barulho oco das travas sendo desbloqueadas.

A primeira coisa que Jungkook viu foi uma arma, calibre 40mm pelo que parecia, mas não foi o que Jimin tirou do cofre.

Aliás, como diabos ele sabia que tipo de arma era daquela distância?!

- Você nunca me machucou. - Jimin disse revoltado, jogando um envelope pardo em seu peito com força.

- O que é isso? - Jungkook perguntou olhando o envelope desconfiado.

- Todas as pessoas que tentaram.

Jungkook passou um tempo olhando Jimin à espera de uma explicação melhor que aquela, mas Jimin não parecia disposto a dar nenhuma nova informação, então ele abriu o envelope, encontrando recortes de jornais, boletins de ocorrência e até mesmo históricos médicos relatando acidentes, assaltos a mão armada,todo tipo de violência gratuita e morte. Alguns jornais até se arriscaram a associar alguns atos daquela violência à uma gangue local.

Jungkook ergueu os olhos balançando os papéis em sua mão.

- Que porra?

Jimin bufou, se aproximando pra tomar os papéis dele.

- Meu ex namorado. Uma semana depois de ter voltado do exterior e me procurado na escola para tomarmos alguma coisa e por o papo em dia. Ele era inocente nisso tudo.

Jungkook olhou a reportagem num recorte de jornal, vendo um carro destroçado no meio de um cruzamento famoso no centro. Aparentemente se tratava de um acidente causado por falha nos freios, o fabricante do carro garantiu que verificaria prováveis falhas na fabricação daquele modelo, depois de que foi descartado envolvimento criminoso relacionado a possível sabotagem. Aquele lugar já era perigoso por si só, a falha mecânica foi uma soma negativa na história.

- Jimin. - Isso parece um acidente aleatório. - Jungkook disse se arrependendo logo de cara ao ver a feição revoltada do menor.

- O cara que você me viu beijando na porta do bar, depois que nos separamos. - Jimin jogou outro recorte em suas mãos. - Coincidência também?

Outro acidente, agora era um incêndio, ninguém se machucou gravemente, mas muitos se queimaram enquanto saíam do prédio em chamas. Curto na fiação elétrica, o prédio era velho, os peritos alegaram incidente não criminoso e foram enfáticos sobre o perigo dos prédios velhos sem vistoria rigorosa naquela região, a jornalista inclusive aponta uma reportagem feita um ano antes, falando sobre as condições precárias na fiação e circulação de ar dos prédios antigos naquela área de Seul.

Jungkook juntou as sobrancelhas em confusão.

Ele entendia a enorme coincidência naquilo tudo, mas ele realmente não conseguia compreender como teria feito algo assim, parecia tudo muito  ao acaso.

- Esse cara aqui deu em cima de mim na balada enquanto você estava no banheiro. Eu disse que estava acompanhado, ele não acreditou, estava bêbado demais pra pensar direito. Você viu ele passando a mão na minha bunda quando se aproximou. Eu fiquei com medo de você arranjar uma briga, mas tudo que você fez foi pedir licença para passar. Pegou na minha mão e me levou pra pista de dança. - Jimin riu em puro escárnio. - Eu lembro de ter pensado que você queria se divertir, não ia estragar nossa noite brigando num bar e eu lembro que fiquei tão feliz com isso.

Jimin deu um papel em sua mão, dessa vez era uma certidão de óbito.

- Eu reconheço o nome, porque ele falou quando se apresentou e então eu contei para Jin, porque era engraçado alguém chamado Karatapus.

- Jin contou para Namjoon e um mês depois o Nam reconheceu o nome e trouxe o laudo da  autópsia perguntando se eu o reconhecia.

Jungkook leu a autópsia, o cara tinha sido espancado até a morte por volta das três da manhã. Ele não lembrou de nada olhando a foto anexada no arquivo.

- Aparentemente ele estava voltando a pé e bêbado de uma balada próxima da sua casa, nenhuma testemunha. O caso foi arquivado.

Jungkook concordou, assustado com tudo aquilo.

Até pra ele agora pareciam coincidências demais.

- O professor que ia me substituir porque o diretor homofóbico da escola descobriu que eu era casado com um cara e ia me despedir - Jimin jogava papéis impacientemente no colo de Jungkook.

Acidente na autoestrada…

Jungkook começou a ler, desistindo ao ver que eram mais casos acidentais não correlacionados.

- O diretor homofóbico.

Morto.

- O cara com quem eu estava conversando ao mesmo tempo que você, na época da faculdade.

Extraditado por discrepância em visto de estudante.

- O cara que me chamou de “bichinha” na fila do banco e você foi lá dizer algo que só o homem ouviu e pareceu terrivelmente assustado depois, saindo praticamente correndo banco.

Preso por posse de arma ilegal.

- O advogado que emitiu a documentação para nossa separação que perdeu a OAB por má prática.

- Jimin…

- O motorista bêbado que quase me matou quando avançou o sinal na avenida perto da escola no meu primeiro dia de trabalho, eu anotei a placa porque queria que ele perdesse a carteira de motorista, não a vida. - Jimin gritou jogando outro óbito no seu colo.

- Jimin…

- A nossa empregada que …

- Jimin. - Jungkook gritou fazendo o garoto pular sentado no sofá. - Por favor, chega! - Jungkook disse jogando os papéis de lado para poder pensar em tudo aquilo com mãos calma.

De repente ele se sentiu sobrecarregado, era muita informação para assimilar. Como se tivesse acordado dentro de um pesadelo interminável que tinha a, já esperada, mania de piorar a cada nova descoberta.

- Você acha que eu seria realmente capaz de fazer tudo isso? - Jungkook perguntou honestamente, se sentindo uma criança perdida entre uma conversa de adulto.

- Os documentos provam que…

- Eu quero saber o que você acha. - Jungkook o interrompeu, virando para encarar o menor. - Acha que eu fui capaz de ferir todas essas pessoas, de matar… - Jungkook engasgou, seus olhos ardiam.

- Eu… - Jimin pegou as mãos de Jungkook acariciando lentamente. - ...eu não sei Kookie.

Jungkook sentiu um arrepio bem vindo  pelo apelido, o que fez ele se sentir ainda mais culpado. Por se sentir feliz, mesmo depois do inferno que fez Jimin passar por todos aqueles anos, sabe-se lá o que mais ele fez durante aquele tempo.

- Jimin. Me perdoa. - Jungkook implorou apertando a mão do menor. - Eu odeio a ideia de ter sido esse monstro. Talvez, se eu tivesse morrid…

- Não. Não fala assim.

Jungkook tirou as mãos do menor, pegando os papéis que ainda não tinha visto, novos nomes, novas reportagens, mais acidentes e mortes na qual ele não lembrava nada sobre.

- Jimin. Por que não levou tudo isso a polícia? - Jungkook perguntou sem conseguir acreditar no que sua mente concluía sem que ele quisesse.

- Isso não prova nada. Você leu as reportagens, isso tudo é só conjectura, nada concreto. Sem contar que não posso testemunhar, somos casados e eu sou a única ligação capaz de provar um excesso de coincidência que poderia apenas abrir um caso de investigação, na melhor das hipóteses. - Jimin suspirou levantando os ombros. - Ninguém nunca foi capaz de ir contra você, essas pessoas, as vivas pelo menos, atravessam a rua quando me vêem passar, o pavor em seus olhos… Ninguém testemunharia, seria um beco sem saída de qualquer forma.

- Você acha que eu devo me entregar? Talvez eu pudesse…

- Você não se lembra de nada. - Jimin disse seco. - Vai na polícia falando o que? Sem provas, isso é só uma ideia absurda e sem contar que é passado.

- Foi por isso que me disse que eu só lembro do que é conveniente? - Jungkook perguntou curioso.

- Eu, eu não sei exatamente o que quis dizer com aquilo. - Jimin mentiu.

Jungkook não entendia porque o menor não simplesmente falava o que tinha em mente.

- Por favor, não tenha medo de mim. - Jungkook pediu fisicamente cansado depois de tudo aquilo.

- Eu não tenho. - Jimin sorriu, se levantando pra pegar todos aqueles papéis e jogar no lixo perto da escrivaninha ao lado do divã.

- Eu acho que já está na hora de começar do zero. - Jimin disse se aproximando e sentando em seu colo.

Jungkook sorriu fraco, não tinha muita certeza do que queria depois de tudo aquilo.

Jimin começou a beijar o pescoço de Jungkook, de forma lenta, o tranquilizando sem muito esforço.

- Jimin. - Jungkook o chamou, tentando manter o foco, mas era difícil, aquele lábios eram capazes de fazer o que quisessem com ele.

- Hmm. - Jimin resmungou distraído chupando o pescoço do maior de forma que ficasse uma marca ali. Ele ainda estava enciumado com tudo que aconteceu entre ele e Taehyung, precisava marcar território.

- Por que não me matou no hospital? - Jungkook perguntou distraído.

Jimin se afastou do maior quase caindo de seu colo se não fosse pelos braços de Jungkook em sua cintura.

- Eu nunca te mataria. - Jimin negou com as mãozinhas parecendo indignado com a ideia.

Fofo.

- Eu estava em coma, à sua mercê, você poderia ter tirado minha máscara de oxigênio ou algo assim.

- Eu deixei você sem banho por um dia inteiro quando seu pau ficou duro em pleno coma, uma das noites antes de você acordar. Eu preocupado com você e você tendo sonhos eróticos. - Jimin deu um tapa no braço de Jungkook, que o olhou surpreso.

- Eih. Por que eu apanhei? - Jungkook perguntou indignado, mas não conseguia parar de rir também.

Jimin ria alto, tampando a boca com suas mãos delicadas e gordinhas enquanto os olhos se fechavam em formato de meia lua.

Ele parecia um pequeno anjo inocente.

Jimin nunca faria mal à ninguém, ele sabia disso agora.

Jungkook tinha sorte em tê-lo por perto, não via outro motivo que o fizesse querer lutar para ser alguém que valesse a pena ser amado da forma que Jimin o amava.

- Você merece uma punição por isso. - Jungkook disse começando a fazer cócegas na barriga do garoto em seu colo.

- Não. - Jimin gritou tentando se afastar.

Ele acabou conseguindo escapar eventualmente, correndo até o quarto com dificuldade para respirar por causa das risadas.

- Você não tem pra onde fugir. - Jungkook gritou enquanto encarava os papéis jogados no lixo à sua frente.

- Eu não estou fugindo, estou te guiando até minha cama. - Jimin gritou entre risadinhas fofas.

Jungkook sorriu completamente apaixonado, resolvendo deixar suas dúvidas para mais tarde enquanto se levantava do sofá pra seguir com os planos que Jimin tinha para ele àquela noite.

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