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Tibor Benedek, o Ministro do Meio Ambiente, esperava sua filha no pequeno sofá de dois lugares no saguão. Ao vê-la chegar, ele se levantou e sorriu largamente, embora seu sorriso tenha começado a desaparecer quando notou a expressão no rosto da garota.

— Que ocorre? — Ele perguntou em um tom sério.

Ela notou, pela primeira vez na sua vida, que os olhos de seu pai estavam caídos para baixo e escurecidos por suas sobrancelhas. Por alguma razão, naquele momento pareciam os olhos de um mentiroso.

Apesar disso, ela forçou um sorriso e o abraçou.

— Você veio tão rápido — ela apreciou.

— Claro, você parecia preocupada — disse ele, referindo-se a quando ela ligou para ele do shopping de Noé. — O que você precisa falar comigo?

Sooz não queria se sentar no mesmo sofá que seu pai havia ocupado. Ela queria estar bem na frente dele e não perder um detalhe da expressão em seu rosto quando perguntou sobre Friarton. Por isso sentou-se no sofá oposto. Uma planta com rosas amarelas repousava sobre a mesinha entre eles. Ela adorava rosas, mas naquela hora pareceu-lhe que tiravam a seriedade que o assunto exigia.

Benedek tirou o terno antes de se sentar. Era um gesto habitual nele. Ele sempre usava ternos caros e não era algo que Sooz havia notado antes; mas naquele momento ela se perguntou se aquele terno não teria sido pago com o salário que os cadetes de Friarton nunca receberam.

— Descobri uma coisa — ela sussurrou. — Algo perturbador que não consigo entender... Não entendo como isso pode ter sido mantido em segredo.

Seu pai estendeu a mão sobre as rosas e alisou o cabelo com calma.

— Que ocorre? — Ele repetiu com cara de divertido. Aparentemente, ele não esperava nenhum problema real dela.

Ela tinha sido tão superficial até agora? Seu mundo era tão inocente que seu pai não a levava a sério? Uma parte do teto da recepção foi envidraçada, permitindo a visão do céu e a entrada da luz do sol. Ela olhou ao redor, para o branco imaculado das paredes, o belo sofá marrom e aquelas malditas flores. O mundo dela não era perfeito? E sua gigantesca ignorância?

— Há uma plataforma espacial que não está nos mapas — ela deixou escapar, feliz com o constrangimento em seu rosto. — Friarton.

Tibor se recostou no sofá e apoiou um tornozelo no outro joelho.

Parecia a Sooz uma maneira forçada de ser legal quando ele não era. Uma astúcia comum entre os políticos, que tentavam usar a linguagem corporal para enganar o público.

— Continua — disse ele finalmente. Ele parecia relutante em comentar nada antes de perceber o quanto ela sabia.

— Eu sei tudo — ela exclamou, elevando o tom. — Sobre a segunda evacuação da Terra.

Seu pai olhou ao redor desconfortavelmente.

— Fale baixo, por favor? — Ele pediu. — Você poderia-me dizer quem te contou tudo isso?

Seu tom não era mais plácido, e ele não parecia nada divertido.

— Pai, como algo assim pode acontecer? — Ela protestou sem se incomodar em responder sua pergunta.

Seu pai suspirou.

— Ouça, Sooz, as coisas não são preto ou branco, ok? A pessoa que lhe disse isso fez parecer que foi um crime, mas era realmente caridade.

— Isto não é um discurso político, pai. Eu sou sua filha. Não use essa besteira eufemística comigo.

Tibor a olhou com os olhos arregalados.

— Exatamente, eu sou seu pai. Modere sua forma de falar comigo — ele avisou antes de continuar. Como eu ia dizendo, não havia mais lugar em Noé para nenhum deles. Eles iam ficar para trás, mas no último minuto surgiu idéia de usar Friarton. Na verdade, Friarton havia sido criado com a função de servir de presídio no caso de alguém em Noé infringir a lei de forma grave. Na prática, eram quinhentas vagas gratuitas que poderiam ser ocupadas por pessoas saudáveis e jovens, aumentando nossas chances de sobrevivência.

— Eles deixaram as pessoas para trás?

Seu pai massageou a testa com os dedos.

— Não se podia fazer nada por eles em uma situação tão incomum, devemos ser práticos. É por isso que a competição foi organizada, a fim de selecionar os mais fortes e saudáveis.

— Competição? — Sooz gritou, horrorizada. — Vocês fizeram eles competirem pela própria vida?

— Sooz... — Ele começou em um tom de rendição. — Salvamos os que podíamos, demos a eles um lar, os alimentamos e, claro, os treinamos para lutar pela Terra quando chegar a hora. Que outra coisa podíamos fazer?

Sooz se levantou, incapaz de ouvir outra palavra do frio pragmatismo de seu pai.

— Eles deixaram as crianças para trás? Idosos?

Ela não esperou por uma resposta, no entanto, mas se afastou sem nem mesmo parar quando o ouviu chamar seu nome.

— Lá está Sooz — disse Driamma, indicando o sofá no vestíbulo. — E esse deve ser o pai dela.

Ash se virou, apoiando-se em uma coluna que sustentava a porta que ligava o corredor ao jardim.

— O que você está fazendo? — Driamma perguntou-lhe, aproximando-se da coluna. A jovem olhou para ela com ansiedade. — Você está se...? — Ela começou a falar, virando-se para onde Sooz e seu pai estavam. — ... escondendo?

— Não — a ruiva disse rapidamente. — Eu quero voltar para o jardim.

— Mas você acabou de dizer que precisava ir ao banheiro — protestou Driamma, confusa.

Ash se inclinou para dar uma olhada rápida ao redor do vestíbulo.

— Já passou a minha vontade — disse ela, puxando Driamma para o jardim.

— Você mencionou isso para o médico? Ou para o psicólogo?

Naquele momento elas viram Sooz sair correndo do vestíbulo. Ela parecia tão perturbada que passou por elas sem sequer vê-las.

— Sooz — seu pai gritou da porta do vestíbulo.

Vendo-o chamá-la em vão, Driamma teve pena do homem.

— Eu acho que ela está indo para o quarto dela — ela esclareceu.

Ele olhou para o jardim, surpreso com a intervenção. Uma vez que ele a viu, sua expressão mudou para uma muito mais animada.

— Você é nova aqui? — Ele perguntou sorrindo enquanto se aproximava delas.

— Isso mesmo, Ash e eu somos novas este ano — ela explicou, apontando para Ash, que por algum motivo estava de costas para eles.

O homem se virou para olhar para ela, e então seus olhos se arregalaram de surpresa.

— Oh! Ele exclamou com entusiasmo. — Eu não tinha reconhecido você.

— Ministro Benedek? — Interrompeu uma voz atrás dele. O homem virou-se para descobrir quem falava.

— Lozis.

Semyon Lozis, o diretor da Academia, apertou a mão do Ministro.

— Você queria falar comigo?

— De fato — disse Benedek, virando a cabeça para dizer adeus com um sorriso. — Vamos ao seu escritório. Tenho várias coisas para lhe perguntar.

— E eu tenho várias coisas para lhe explicar.

Antes de se afastarem delas, os homens deram-lhes uma última olhada que pareceu estranho a Driamma.

— O que é que foi isso? — Ela perguntou severamente. — Vocês se conhecem?

Ash deu de ombros.

— Nós nos encontramos algumas vezes no Pentace — ela disse simplesmente, parecendo um pouco desconfortável.

A Driamma lhe pareceu que a atitude de todos havia sido bastante estranha naquele breve encontro. Começando com o comportamento peculiar de Ash ao ver o pai de Sooz, e terminando com a forma estranha como os dois homens olharam para elas logo após declarar que tinham certas perguntas e explicações para trocar. Ela sentiu arrepios subirem em sua pele com o pensamento deles discutindo sobre ela.

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