O Começo

— Vamos Pearl, não quero me atrasar para a aula — Wade disse com um tom irritado, enquanto eu descia a escada arrumando minha trança, uma batida na porta nos avisa que a amiga do meu irmão já está pronta para ir também — Mareen já chegou, anda logo.

— Pare de chilique Wade, você só vai para a aula para ficar com a Mareen e o Finnick... — digo em um tom entediado. — Nem finge prestar atenção no treinamento.

— Se comportem na escola, estrelas do mar — mamãe diz vindo da cozinha, ela dá um sorriso para os filhos que devolvem com sorrisos abertos — Hoje a noite teremos um jantar em família, não fiquem fora até tarde... E sem treinamento!

— Mas mamãe... — Wade começa com uma careta ao ouvir que não poderá treinar.

— Não foi uma sugestão, Wade Marcet. — mamãe coloca as mãos na cintura e Wade abaixa a cabeça derrotado — Agora vão, ou irão se atrasar.

—  Até mais tarde, mamãe — ambas crianças dizem ao sair pela porta.

Mareen Rivers tem a mesma idade de Wade, onze anos, e mora na casa de frente a nossa, a garota de porte esguio e pequeno tem os cabelos de um loiro muito claro e olhos azul-céu, nos conhecemos desde pequenos, mas eu não diria que tenho tanta intimidade com ela quanto Wade. Ela é uma alma calma e gentil, como minha mãe a descreveu certa vez, o sorriso simples em seu rosto apenas desaparece quando Wade está rodeado de garotas, junto de Finnick Odair.

— Bom dia, Marcets — ela diz o cumprimento de todos os dias — Vamos nos atrasar...

— Bom dia, Rivers... Se quer alguém para culpar, culpe essa cabeça de molusco aqui — Wade aponta para mim e eu lhe mostro a língua. — Vamos indo, Finnick já deve estar esperando.

— Ah, tanto faz — falo andando ao lado dos dois — E não me chame de cabeça de molusco, seu ouriço do mar!

— Ora, sua... — Wade pega um graveto no chão e me ameaça com ele, Mareen da uma leve risadinha e continuamos nosso caminho até a escola.

Acenamos para vários moradores enquanto andamos pelas ruas do distrito, Finnick, o outro amigo de Wade, nos espera encostado em um dos postes de luz em uma esquina próxima a escola. O garoto de doze anos, está em seu último ano da escola e é extremamente popular, com seus cabelos cor de bronze e olhos verde-mar. Finnick é uma boa pessoa, mas pode ser bastante presunçoso, principalmente quando está cercado por garotas, o que eu acho muito irritante.

— Ai está minha dupla preferida — ele faz uma pausa e então me olha nos olhos — E Pearl...

— Afogue-se, Odair — digo rolando os olhos para ele que me dá um sorriso malicioso — Ah finalmente companhia apreciável...

Falo quando avisto meus melhores amigos virando a esquina e Kara vem até mim, enganchando o braço no meu, seu irmão gêmeo Keelan vem do meu outro lado e passa o braço pelos meus ombros.

— Finnick está implicando de novo, Pearl? — Kara olha com cara feia para Finnick que ergue as mãos se declarando inocente, ela então olha para Wade e Mareen — Olá vocês dois.

Kara é pequena, como eu, seus cabelos tão claros quanto os de Mareen, e seus olhos tão azuis quanto, mas eles emitem um leve tom esverdeado, ela é linda, e sua personalidade forte e protetora sempre acaba por arrumar algumas confusões, na maioria das vezes por minha causa. Keelan é o mais alto de nós três, com cabelos loiro-escuros e olhos azul-mar é tão bonito quanto a irmã, ele é sempre protetor conosco e nunca perde a calma.

— Certo, olá gêmeos... Vamos garotos? — Mareen fala e os dois concordam, indo na nossa frente.

— Ok, me larguem... Vamos também, não quero levar outro sermão — balanço os braços os afastando e começo a andar na frente deles, que logo me alcançam. — Como estão?

— Assim você nos magoa, pequena... — Keelan diz calmamente enquanto chegamos aos portões do prédio simples que é a escola — Estou bem, como sempre.

— Eu estou animada... — Kara dá pulinhos enquanto anda.

— Como sempre... — eu e Keelan falamos em uníssono e rimos.

As aulas passam normalmente e pelo distrito 4 ser um distrito carreirista, temos um mínimo treinamento a partir dos oito anos, dos oito aos dez aprendemos todos os tipos de nós conhecidos e técnicas básicas de sobrevivência. A partir dos dez até os doze, aprendemos combate, não que eu e meu irmão nos preocupamos com isso, já treinamos em casa, Wade começou a treinar ano passado e eu começarei ano que vem.

Eu, Kara e Keelan, andamos um pouco pela praia depois da aula, conversando sobre besteiras do dia-a-dia. Keelan se agacha e pega algo na mão, ficando para trás enquanto Kara fala com animação sobre o fim das aulas deste ano.

— Ainda faltam quatro meses para isso, Kara — falo tentando trazer um pouco de realidade para a mente sonhadora da minha amiga. — Sem falar que dois meses depois do fim das aulas tem a Colheita.

Um silêncio recai sobre nós quando menciono a colheita, é quase um tabu em todos os distritos, e passamos o ano ignorando o evento até que ele esteja eminentemente próximo.

— Esse ano Finnick participará — Keelan fala seriamente ele então se aproxima e me estende a mão — Aqui.

Pego o pequeno objeto que ele solta em minha mão e admiro, uma pequena pérola rosada brilha na palma da minha mão.

— Que linda, acho que ainda não tenho nenhuma rosa — falo guardando a pequena jóia do mar no meu bolso, Keelan sorri para mim e eu sorrio de volta.

— Por favor, parem com essa melação... — Kara diz com uma cara de nojo.

— Não viaja, Kara — falo empurrando ela levemente. — Preciso ir para casa, mamãe disse que terá jantar em família hoje, não sei se a senhora Harbor vai ajudá-la, mas é melhor eu ir por via das duvidas...

— Tudo bem, nos vemos amanhã no lugar de sempre? — ela me pergunta e eu confirmo com a cabeça, já andando para longe e acenando para os dois. 

Ajudo minha mãe e a senhora Harbor, que é uma viúva com dois filhos que minha mãe costuma pagar para ajudá-la com as coisas da casa, apesar de conseguir fazer sozinha, mamãe certa vez disse que fazia isso para ajudar a mulher depois que o marido, um pescador, morreu em um acidente no mar a deixando com dois garotinhos para criar sozinha. Depois disso, minha mãe me manda direto para o banheiro me lavar.

Enquanto me troco em meu quarto, penso ter ouvido Wade chegar, e depois de um longo tempo eu desço até a sala de jantar, mas não encontro meu irmão.

— Pensei ter ouvido a voz de Wade... — falo para minha mãe que traz a comida para a mesa.

— Pedi para ele ir fazer algo pra mim depois que se lavou, me ajude a colocar os pratos — ando até o armário pegando quatro pratos, mas antes que eu volte com eles para a mesa, minha mãe acrescenta — Traga três pratos a mais.

— Imagino que sejam para o titio e Nico, quem é o terceiro convidado? — pergunto com curiosidade colocando cada prato em seu lugar e indo buscar os talheres.

— Um convidado de seu pai, é algo especial... — mamãe sorri após analisar a mesa satisfeita.

Não é nada chique, mas não diria que é simples também. Há vários pratos na mesa, com vegetais, peixes grelhados e o prato típico da mamãe, torta de carne. A última, comemos de fato somente em ocasiões especiais. Alcanço uma vagem na tigela e coloco na boca, apreciando a textura e o sabor leve de manteiga. Minha mãe me da um olhar de aviso mas sorri e eu solto um risinho malicioso.

A porta da frente se abre e meu pai, meu tio e o pequeno Nico entram, deixando seus sapatos próximo a porta, corro até meu pai que se abaixa e me pega, me segurando em um abraço, dou um beijo em seu rosto.

— Papai, como foi seu dia? — pergunto enquanto ele me coloca no chão. 

— Muito produtivo e o seu? Aprendeu algo interessante? — ele me pergunta passa um braço pela cintura de minha mãe que chegou até nós, ele lhe dá um beijo na bochecha e ela sorri calorosamente.

— Apendi o nó Rapala, não diria que foi interessante, fui a primeira a conseguir terminar... — falo com um tom tedioso.

— Esse não é um nó fácil, estou orgulhoso!! — Ele passa por mim com minha mãe ao lado, eles conversam baixo um com o outro enquanto me viro para meu tio.

— E ai, pequena, como tem estado? — meu tio bagunça meus cabelos e eu protesto.

— Titio!! — faço uma careta enquanto arrumo o cabelo — Estou bem, assim como estava fim de semana passado, quando nos vimos...

— Hey, muita coisa pode acontecer em uma semana... — ele vai atrás de meus pais e Nico que estava escondido atrás dele me olha com seus grandes olhos escuros.

Abro os braços e o garotinho de seis anos me aperta forte, passo a mão em seus cabelos e pego ele pela mão, levando para a sala de jantar.

— Como você está, Nico? — falo sorrindo para o mais novo, ele apenas me responde com um aceno de cabeça. Nico nunca foi muito de falar, mas sempre gostou de ficar comigo e Wade, sendo bem mais grudado em mim.

A porta da frente se abre novamente e meu irmão entra, e logo depois dele para meu espanto, Finnick Odair, faço uma careta.

— Pode deixar seus sapatos aqui, Finn, mamãe não gosta de sujar a casa de areia — meu irmão diz sorrindo para o amigo que sorri de volta com o que parece ser um pouco de vergonha. — Oh, esse aqui é meu priminho, Nico, como está garotão?

Meu irmão se aproxima com Finnick logo atrás dele e bagunça os cabelos escuros de Nico. Nico olha para Finnick e aperta os bracinhos ao redor da minha cintura.

— Olá Nico, sou Finnick, amigo do Wade — ele se abaixa na altura de Nico e sorri.

— Ele não é de falar muito... — falo para Finnick que parecia esperar alguma resposta do garotinho — O que está fazendo aqui Odair?

— Insisti para seu irmão me trazer aqui para te ver, Pearl... — ele coloca a mão no peito em uma atuação exagerada, mas logo seu sorriso se desfaz e ele fica sério. — Não sei também, pequena, Wade apenas me disse que era coisa do seu pai.

— Não me chame de pequena. — falo ficando vermelha de raiva. — Vem Nico, vamos nos sentar.

Após nos acomodarmos na mesa, meu pai sorri e olha para Finnick, que está sentado ao lado de Wade e de frente para mim.

— Seja bem-vindo Finnick, Wade fala muito bem de você — o sorriso do meu pai parece deixar Finnick com vergonha e ele apenas acena com a cabeça.

— Espero que goste da comida Finnick e fique a vontade. — o sorriso caloroso da minha mãe faz as bochechas do garoto de doze anos ficarem coradas.

— Obrigado pelo convite, senhor e senhora Marcet. — Finnick diz baixo.

Meus pais riem da vergonha do garoto.

— Não precisa tanta formalidade, garoto. — meu pai então bate palma levemente e diz animado — Vamos comer!!!

Hey, sugar cubes, temos aqui a apresentação de todos os personagens principais e suas interações uns com os outros. Próximo capítulo teremos o restante dessa cena e então um salto no tempo, não quero perder muito tempo enchendo linguiça kkkkk.

Beijos, beijos e não se esqueçam de votar!!

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