Última noite
Leon estava lindo.
Franz o observava de longe conversar com Jimmy. As roupas combinavam com o outono. Tons quentes. Olhou para o salão, ao redor, e não podia haver pessoa mais bonita do que Leon naquela noite. Ele era o mais bonito.
— E aí, o que tá achando? — Larry aparece de repente ao seu lado, assustando-o.
— Ah, oi, Larry — disfarça. — Eu tô achando — Volta a olhar para Leon — perfeito... — sorri bobo.
Larry percebe isso.
— Não vai mais tentar beijá-lo?
— Não... — responde com um suspirado — eu vou deixá-lo à vontade agora. Entendi que não posso obrigá-lo a isso... Ele não me ama, afinal.
O mais alto o encara tristonho.
— Hoje é seu último dia, né? — O moreno assente. — Se por acaso você sumir — brinca —, foi um prazer te conhecer e viver essa aventura de quatro dias!
Franz volta seu olhar para ele com um sorriso amigável.
— Eu também, amigo.
***
— Eu falei pra você que ele seria de grande ajuda — diz Jimmy, referindo-se a Franz e a sua ajuda para restaurar o baile.
— É, ele foi sim — desliza seu dedo sobre a borda da sua taça com suco, pensativo. — Por que ele fez isso? — Olha para Jimmy. O loiro sorri e revira os olhos ao pensar em sua frase clichê.
— Porque ele ama você.
Leon arregala os olhos, mas antes que pudesse respondê-lo, um rapaz esbarra entre ele e sua taça de suco, derramando sobre sua roupa.
— Argh! — Resmunga ao ver a mancha marcada e não ouvir um pedido de desculpas do estranho. — Eu... vou limpar isso — ele põe a taça sobre a mesa ao lado e sai caminhando enquanto passa a mão sobre a mancha, tentando tirá-la.
Caminhando, passa por Larry e Franz. O moreno pergunta o que houve e Leon justifica. Ele se oferece para acompanhá-lo sem esperar uma resposta definitiva do castanho.
***
— Onde quer ir? — Franz pergunta, caminhando pelo corredor e vendo a agonia de Leon com aquela mancha em sua roupa.
— Pro quartinho de limpeza — responde. — Acho que tem algo lá pra tirar mancha de uva.
O corredor estava sombrio, o que causou desconfiança em Franz. As pessoas estavam na festa, Eustáquio estava caminhando pelos corredores vigiando qualquer movimentação estranha. Mas algo estava errado. Eles viraram o corredor mais duas vezes antes de chegarem no quartinho de limpeza.
Leon abriu a porta e, ao ser arrastada, um ranger alto soa. Aquilo incomoda seus ouvidos, mas não faz parecer. Eles entraram no quartinho e o castanho começou a bisbilhotar o que tinha nas prateleiras enquanto Franz o esperava encostado na porta.
— Como escondeu as marcas do seu pai? — Franz pergunta. Leon fica em silêncio, de costas.
— Roupas longas — analisa o rótulo de algum produto de líquido azul. — Eu tenho várias em casa.
— Ele não desconfiou?
— Ele não repara em mim — dá de ombros. — Não que eu note também.
— Entendi... — Franz abaixa a voz. No silêncio do lugar, onde só se ouvia Leon remexendo nos produtos de limpeza e mais alguns vidros, Franz não percebeu uma aproximação estranha atrás dele.
Leon, agachado em frente as prateleiras, de relance vê uma sombra atrás do rapaz. Ele se levanta rapidamente e grita, mas não a tempo de impedir o rapaz de empurrar Franz para dentro do quartinho e trancá-los.
— EI! — Leon bate forte na porta. — Abre essa porta! — Continua batendo, mas só ouve algumas risadas. Os moleques então se pronunciam e dizem que eles iriam ficar ali "de castigo", com deboche, além de que "não adiantava fugir". — Argh! — Leon esmurra a porta com decepção. — Como a gente sai daqui agora?!
— Não quer esperar ninguém chegar aqui?
— Ninguém vai chegar aqui! — Responde com raiva. — Não vem ninguém aqui! — Anda de um lado para o outro. — Oh, o Jimmy e o... o...
— Larry?
— Isso! Larry!
— Ah, com certeza eles não vêm, estão muito coladinhos um no outro. Duvido que lembrem de nós.
— Ahhhh — tomba a cabeça para trás. — Eu não tô acreditando que isso tá acontecendo! Que horas são, hein?
— São — Franz pega o celular do bolso e congela ao ver o horário — 19:00...
— Ah, que ótimo! — Ironiza. — Vamos perder a festa inteira aqui.
Mas eles não iam.
Se Franz tinha apenas 35 minutos com Leon, seriam os mais bem aproveitados.
Ele procura ao redor algo que possa os ajudar a sair. Olhando para cima, vê uma janela entreaberta, acima da estante alta. Uma ideia surge na sua cabeça.
— Leon...
— Hm?
— Eu tenho um plano.
***
— Mas que ideia... estúpida...! — Reclama enquanto tenta passar pela janela com esforço. Leon estava com medo de subir a prateleira e ela cair, então Franz o colocou em seus ombros. — Franz...
— Oi.
— Eles estão ali embaixo — avisa, ainda observando os dois rapazes.
— Então foi por isso que eles disseram que não adiantava fugir...
— Sabe, agora quem teve uma ideia fui eu — diz em um tom quase maléfico. — Franz, me passa o alvejante.
Franz entendeu o que ele queria fazer e não tardou em procurar pelo recipiente. Com dificuldade - já que Leon estava em seus ombros -, pega o vidro e levanta. Leon o pega rapidamente.
— Mas primeiro, como sairemos daqui? — Pergunta enquanto abre o alvejante.
— Primeiro se apoie na prateleira — explica e vê o olhar medroso de Leon. — Confia em mim — acaricia sua perna. — Eu não vou deixar você cair — sorri carinhoso para ele, que hesita em assentir, mas o faz.
Quando ele sai de cima, Franz sobe na prateleira ao lado. A janela era grande, mas não daria para passar os dois.
— Fica aqui perto, quando eu sair, você sai depois — diz Franz.
— Tá bom — assente. — Mas deixa eu jogar isso aqui primeiro — balança o líquido dentro do recipiente.
— À vontade — dá espaço para ele. Leon põe a cabeça para fora da janela e olha para baixo.
— Ei! — Chama-os. Eles levantam a cabeça e, sem sequer verem, sentem o alvejante cair em seus olhos. A ardência os fez gritar. Leon dá espaço para Franz, que se posiciona na janela e desce sem perder tempo.
Os garotos estavam se contorcendo de dor, os xingando sem parar. Não conseguiam abrir os olhos, então não puderam reagir mesmo com Franz ao lado deles.
O moreno espera Leon descer da janela, mas o apressa ao ver mais dois amigos dos garotos correrem em sua direção.
Leon desce enquanto se segura na mão de Franz. Eles saem correndo para dentro do colégio.
***
Eles se escondem atrás dos armários, ainda sendo procurados pelos delinquentes. Franz olha o celular e vê a hora. 19:27. Ele tinha mais 8 minutos. Apenas.
— O Eustáquio passa pelos dormitórios a essa hora, não é? — Sorri maléfico para Leon, disfarçando sua tristeza.
— Ah! Se a gente chamar a atenção deles e levá-los pro Eustáquio no momento certo...
— Eles vão ser pegos e estarão encrencados! — completa a fala dele. Leon ri igual uma criança travessa.
— Adorei!
Assim que terminam de falar, ouvem os passos violentos se aproximando.
— Cadê eles? — Pergunta nervoso com um ranger de dentes.
— Hora do show? — Leon olha para Franz.
— Hora do show — assente para Leon
— Uhuu, estamos aquii! — O castanho sai detrás do armário e o moreno o acompanha. — Sentiram saudades? — Manda um beijo para eles. Com olhares raivosos, correm para os dois.
Rindo, eles correm também, olhando um para outro como uma brincadeira de criança. Franz pisca para Leon, que ri em resposta.
Eles viram o corredor, com os garotos em sua cola. E viraram mais uma vez, e dessa, quase que um deles pega no colarinho de Franz. Leon pega a mão dele e o traz para seu lado.
Já conseguiam ouvir a voz resmungona de Eustáquio.
Franz tira a chave de seu bolso e, perto da porta, já a abre.
Os rapazes estavam perto demais quando o moreno puxa-o para dentro do quarto e tranca a porta.
Ofegantes, ouvem Eustáquio apanhar os garotos - que até então esmurravam a porta do dormitório -.
Leon cai no chão, rindo mesmo sem fôlego.
— Isso... foi... demais...!
Franz sorri com mesma exaustão. Ele passa por Leon e vai até a cama, pegando o boneco que estava ali em cima. Ele tira o celular do bolso e o joga no lugar. Sua tela acende.
19:32.
De súbito, Franz sente uma fraqueza tomar conta de seu corpo. Ele cai sentado no chão.
Leon, vendo a cena, corre até ele, preocupado.
— F-Franz! — Senta ao seu lado.
— T-Tá tudo bem — tenta tranquilizá-lo, mas seu olhar fraco o contradizia. Leon passa o olhar de cima a baixo por Franz, tendo a estranha visão de que o rapaz estava sumindo.
— O-O que eu faço pra ajudar você...? — Põe as mãos no rosto dele.
— Acredite, você já fez tudo por mim, Leon... — sorri para ele.
— Nós formamos uma bela dupla... — diz. Franz dá uma risadinha.
— Bem mais do que você imagina — responde. Ele tira as mãos dele de seu rosto e as segura. — Leon, eu sinto muito por não estar com você quando mais precisou de mim — com sua outra mão, pega o boneco que estava no chão e dá para ele. O garoto se surpreende com o gesto e em ver o boneco mais uma vez.
— Eu... achei que tinha perdido isso... — sussurra incrédulo.
— Quem tá saindo perdendo sou eu — brinca. Leon volta a encará-lo, agora com um olhar triste. — Leon, sabe o que mais gostei nos últimos dias?
Ele nega com a cabeça.
— É que eu tive a chance de me apaixonar por você mais uma vez — sussurra perto dele com um sorriso no rosto.
Leon sente suas bochechas corarem. Em um ato impulsivo, ele se joga sobre Franz e o beija.
19:35.
Ao abrir os olhos, Leon se vê sozinho no quarto que agora reparara estar escuro. As lágrimas escorrem para suas bochechas enquanto olha para o boneco do Barba-Agulha agarrado em sua mão.
A porta do quarto abre com desespero.
— A gente soube do que aconteceu! — Larry grita da porta, possivelmente ao lado de Jimmy, mas Leon não se deu ao trabalho de se virar para vê-los. — Vocês estão... Ué, cadê o Franz?
Leon acaricia seu boneco.
***
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