III
Franz correu pelo corredor em direção ao salão. Eu tô devendo uma ao Larry! Pensa, agradecendo mentalmente ao mesmo tempo. Mesmo o conhecendo por "tão pouco tempo", ele ainda teve o bom coração de ajudá-lo a encontrar Leon.
E ele está em sérios problemas nesse momento...
Assim que Franz chega às portas do salão, ele hesita e respira fundo. Calmo, abre a porta e entra. Assim que o faz, percebe pequenas e poucas decorações feitas. O salão era enorme, por isso teria de ser enfeitado o máximo possível, com uma grande variedade. Por ora, haviam mesas nos cantos, fitas penduradas no teto, sedas amarradas de uma extremidade para outra, portas dos fundos com pôsteres recém-colados e mais alguns adereços.
Franz caminha para o meio do salão enquanto observa tudo boquiaberto. Estava tudo realmente lindo, principalmente porque as cores quentes de vermelho e laranja lembravam um certo alguém...
Seu peito aperta de saudade do Cenourinha. Sorri ao lembrar do apelido. Ele me mataria se me visse chamando ele assim.
Franz percebe um pequeno fluxo de pessoas transitando pelo salão, contou somente quatro, mas nenhuma delas era Leon.
Já estava desanimando e pensando em ir embora, quando ouviu um barulho de algo caindo no chão em algum lugar ao seu lado. Pareciam sons de caixas com enfeites. E logo após, um "ai!" sofrido.
Franz olha assustado para uma mesa longe, à sua esquerda. Arqueia uma sobrancelha, tentando decifrar o que estava aconteceu. Seu olhar confuso fixa algo se mexendo sob a toalha de mesa branca.
Quando a pessoa tira a toalha de cima de si, Franz abre um largo sorriso. Era Leon.
Diferente, mas ainda assim, era ele.
Seus cabelos não estavam ruivos, mas sim com os perfeitos castanhos. O que apertou sua saudade mais ainda. Leon passa os cabelos curtos para trás da orelha e se agacha para juntar tudo o que caiu de dentro da caixa.
As portas da frente do salão são abertas com violência. Logo Franz vê Larry correndo em sua direção.
- Argh, consegui despistá-los! - Diz ofegante. - Então, cadê o seu amigo? - Passa a mão sobre a testa.
- Na verdade... é namorado... - desvia o olhar, corado.
- Oh, namorado? - Larry sorri lateral, mesmo ainda cansado. - Cadê o felizardo? - Procura-o com o olhar. Franz aponta para a mesa onde o viu. - Você curte mesas? - Zomba, mas assim que termina de falar, Leon se levanta detrás dela segurando uma caixa aberta cheia de adereços dentro. Uma mecha castanha caía sobre seu rosto e ele parecia incomodado, assoprando-a para tirar. - Wow, seu namorado é bonito - sorri.
- Ele não me viu ainda.
- E tem algum problema em te ver? Ele é seu namorado! Vai lá! - Larry lhe dá uma empurradinha. Franz sorri para ele e caminha até Leon.
Sentia seu suor frio escorrer a cada passo em que se aproximava, mas não iria dar meia volta.
Leon vira de costas e põe a caixa no chão, perto da parede, e permanesse agachado para retirar o que era necessário de dentro dela. Franz, que já estava próximo dele, corre e o abraça por trás.
- Ah! - Leon o empurra e, pela forma como estavam agarrados, cai sobre Franz. Leon levanta seu corpo e percebe o moreno abaixo de si. - Ei, por que fez isso? - pergunta com uma sobrancelha arqueada. Mesmo desconfiado, Franz via pelas suas bochechas como estava envergonhado pela situação. Ele sai de cima e vira-se para sua caixa novamente, dando as costas para Franz.
- Achei que você gostaria de um abraço - sorri enquanto se levanta.
- Hm - resmunga com entendimento. - Mas pro seu governo, eu não gosto nenhum pouco que invadam meu espaço - responde com certa rispidez. O que não era habitual para ele. Franz se surpreende com a resposta que recebe, mas só consegue encarar os cabelos castanhos que cobrem seu pescoço, com uma súbita vontade de beijá-lo ali.
- Oh, me desculpe, então - responde constrangido. O rapaz o olha de canto de olho e depois desvia o olhar novamente. - Ei.
- O quê?
- Sei que isso vai parecer estranho, mas... - inicia o vendo levantar, levantando-se também - você me conhece?
Leon se vira para ele e o encara de cima a baixo.
- Não - dá de ombros. - Por quê, eu deveria? - Cruza os braços. O peito de Franz gela. Ele sente suas mãos frias. Leon não o conhecia.
Vendo Franz paralisado, Leon não espera por respostas e sai andando. O moreno pisca os olhos algumas vezes, desacreditado.
- Como assim? - Sussurra para si mesmo. - Não... isso não pode estar acontecendo...
Franz se vira e caminha apressado em direção às portas do salão.
- E aí, como foi a... - Larry hesita ao ver o moreno passar por ele sem respondê-lo - conversa...? - Vê o rapaz sair do salão, confuso.
Larry volta sua visão para Leon, que caminhava até um rapaz loiro. Ele se vira e vai atrás de Franz.
- Ei, Leon, quem era aquele cara que te abraçou? - Pergunta Jimmy, baixando a prancheta.
- Sabe que eu não sei? - Responde e encara às portas de entrada. - Foi tão... estranho... - seu olhar se perde, mas ao perceber, ele chacoalha a cabeça para afastar os pensamentos intrusivos. - O que mais tá faltando aí? - Olha para a prancheta.
***
- Ei, Franz - chama e corre até ele, mas não para. - Espera aí, cara. Foi muito ruim assim? O que ele falou? - Ao chegar perto dele, percebeu seu olhar baixo, assustado e perdido. - Ei, tá... tá tudo bem? - Toca seu ombro.
- Não - responde com a voz falhada. - Não, não tá tudo bem, Larry! - Vira-se para ele. - O Leon. O Leon não em reconhece! Assim como você também não!
- Mas se a gente nem se conhece como vamos nos reconhecer?
- Esse é o problema! - Joga os braços. - Vocês me conhecem! Assim como se conhecem também! Você conhece o Leon, me conhece, e o Jimmy é o seu namorado!
Larry olha para ele com a testa franzida pela confusão.
- Eu tenho um namorado?
- Tem! - Responde impaciente. - Assim como eu tenho o meu, mas que não sabe quem eu sou! - Revira os olhos.
- Ué, mas pra namorar com alguém, a pessoa não precisa te conhecer?
- Ele me conhece!
- Mas você acabou de dizer que não.
- Ahhh, esquece! - Dá as costas para Larry e respira fundo. - Eu... preciso de um pouco de ar, eu vou pro pátio - diz. - A gente se vê mais tarde, Larry - acena para ele e sai andando com as mãos nos bolsos, com certa pressa.
Larry o encara ir embora.
~ ◇ ~
Sentado em um banco semelhante aos de parque, Franz esconde seu rosto com as mãos. Tenta processar tudo o que estava acontecendo. O que aconteceu nessa manhã para ele não acordar em um dia comum, mas em um de 6 anos atrás, complemente distorcido ainda por cima. Isso é um pesadelo... Pensa, esfregando as mãos em seus olhos. Por que o Leon não me conhece? A gente se conhece desde... sempre! O que tá acontecendo...?
- Não gostou do pedido, fofuxo? - Uma voz soa atrás dele. Em um pulo Franz se levanta e percebe uma garota de cabelos brancos, sorridente, atrás do banco onde ele estava sentado. Ele murmura um "o quê?" e ela ri baixo. -Não se preocupe, só você consegue me ver. E agora está parecendo um maluco assustado conversando com "o nada" - faz as aspas com os dedos.
- Quem é você? - Hesita.
- Eu sou a Pop! - Ergue os braços.
- Pop?
- É, Pop! - Ri e pula para o banco, sentando-se. - Mas e aí, tá curtindo o seu dia? - Cruza as pernas.
- Você quem fez isso?
- Pode apostar que sim! - Diz orgulhosa.
- Tá de brincadeira?! - Esbraveja e ela se assusta. - Não tá vendo o que tá acontecendo aqui?! Por que o Leon não me reconhece? Ou melhor, não me conhece?
- É porque vocês é fato não se conhecem - responde simples, voltando a sorrir.
- Como? - Arqueia a sobrancelha. - Isso é impossível.
- Como impossível se tá acontecendo agora? - Questiona e percebe o olhar confuso dele. - Você mesmo desejou isso. Não lembra?
- Como eu desejei is... - seu olhar se abre ao lembrar. Pop ri para dentro, com um leve tom maléfico.
- Franz, ei - Leon o segue para alcançá-lo e não perdê-lo de vista. - Ei!
Franz se vira para ele.
- Tá vendo como você só me atrasa?! - Seu olhar irritado assusta Leon. O ruivo hesita à medida que Franz se aproxima dele. - Eu tenho responsabilidades, Leon. Eu não sou como você!
- Como é? - Pergunta descrente. - "Como eu"? O que é ser "como eu"? - Cruza os braços. - Por acaso não percebe o esforço que eu tô fazendo por nós? Franz, você anda insuportável ultimamente, tudo por conta dessa faculdade de engenharia. Isso tá te fazendo mal e não sou só eu que estou percebendo. Sua mãe também, o seu pai. Até o Larry tá percebendo! E ninguém aqui tá se opondo ao seu sonho. Então pelo menos faça um esforcinho pra ser um pouco mais agradável!
- Seria bem mais fácil ser agradável se eu não tivesse que me preocupar com você me atrapalhando!
- Ah, então o problema sou eu?
- É, é isso aí - Leon o encara surpreso, com olhos arregalados e tristes. - Antes de eu te conhecer, eu vivia A MINHA vida. Tudo era tão tranquilo quando eu me preocupava só comigo - Fecha o punho, frustrado. - É você quem complica a minha vida!
- Ah, então se arrepende de ter me salvado do Stanley naquele dia?
- É, é isso aí! Talvez tivesse sido mais fácil assim! - Esbraveja com tanta ênfase que precisa respirar para recuperar o fôlego. Leon não o responde, apenas o encara incrédulo. Triste, ele se aproxima.
- Franz, você tem... uma família perfeita... Uma mãe incrível - sorri sem alegria -, amigos que te adoram... Um namorado que te ama tanto... - desvia o olhar. - Por que a única pessoa que não enxerga isso... é você? - E seu sorriso triste se fecha para o semblante de decepção lamentável, dando espaço para Franz refletir, mas ele não o fazia, sua raiva o deixou por instantes, cego.
Leon nega com a cabeça sutilmente, envergonhado. Franz desvia o olhar, mas ainda assim aborrecido. Quando Leon dá as costas para ele para voltar à casa de Jimmy, Franz percebe a presença de Larry ali. Ele ouvira tudo. E o encara igualmente decepcionado.
O moreno resmunga algo antes de sair andando para ir embora e ser seguido pelo amigo.
Franz sente seu mundo cair, então volta a se sentar no banco ao lado de Pop, com um olhar perdido. A garota apenas o observa digerir toda a situação.
- Você não salvou ele naquele dia - diz. - Assim como desejou.
- Se eu não salvei o Leon... quem salvou?
***
- Franz, aonde você tá indo?! - Larry grita atrás dele, vendo-o correr pelas ruas e virando esquinas.
Ao virar o último quarteirão, agradece mentalmente pelo garoto ter parado.
- Larry, me ajuda a subir aqui! - Pede, segurando na parede.
- Você vai invadir uma escola de crianças abandonada, Franz?! - Caminha até ele.
- O quê? Não! Bem... sim... Não! Argh! - Desvia o olhar. - Só me ajuda a subir aqui, eu preciso esclarecer uma coisa...
Assim, sem relutância, ou pouca, Larry o ajudou a subir o muro fazendo pezinho.
Franz nem sequer esperou ele subir também. Assim que desceu, saiu correndo em busca de algo que Larry, ao ver, queria entender.
Quando conseguiu descer também, teve dificuldade em acompanhar a velocidade do amigo, e novamente agradeceu quando ele parou de correr. Ele estava agachado em um chão de areia e parecia segurar alguma coisa.
- Franz, o que foi...? - Pergunta preocupado, aproximando-se. O garoto então se levanta e se vira lentamente para ele. Larry percebe em suas mãos um boneco quebrado. Faltavam-lhe uma perna e um braço.
- Era... o boneco dele... - diz com pesar.
Larry não entende de primeira.
- De quem, Franz?
- Do Leon... - acaricia o brinquedo. - Ele quis me entregar no dia que nos conhecemos, quando eu salvei ele... - Franz suspira ao pensar na frase brega que estava prestes a dizer. - É o símbolo do nosso amor...
Larry sente vontade de chorar, mas se controla.
- Quer... quer que eu guarde isso? - Estede a mão para ele. Franz sorri e o entrega o boneco. - Mas por que isso ainda tá aqui?
- Porque ninguém salvou ele... - desvia o olhar, sentindo o remorso o corroer.
- Mas você não acabou de dizer que salvou ele? - Arqueia uma sobrancelha.
- Não aqui - encara Larry, que aparenta, ainda, estar confuso.
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