38 - Sensação de urgência

Encaro King seriamente enquanto ele balança o rabinho e me encara de um jeitinho fofo e pidão, tento manter a pose seria e irritada mesmo enquanto ele se arrasta lentamente e apoia as patinhas nos meus joelhos como se me pedisse colo. 

— Não adianta me olhar assim, você fez caca no meu tapete! — o repreendo 

Ele choraminga e arranha meus joelhos novamente. 

— Você sempre acorda a mamãe quando quer passear, por quê fez isso? — pergunta me ajoelhando na sua frente 

Ele late e pula no meu colo. 

— Não, não! Eu estou irritada com você! — tiro ele do meu colo e coloco no chão

Ele choraminga de novo e deita escondendo o rosto entre as patinhas. 

— Deve ficar muito envergonhado mesmo! Agora o quarto da mamãe esta fedendo! — bufo  me levantando  

— Sabe o que os loucos dizem antes de serem mandados para o hospício? Eu não sou louco, apenas falo com meu cachorrinho. 

Dou um pulo quando vejo Thomas encostado no batente da minha porta.

— Como entrou aqui? — pergunto com o coração disparado 

— Sua irmã abriu a porta. — ele faz uma careta ao encarar o presentinho de King no meu tapete — Você caprichou em, garotão — ele faz carinho atrás das orelhas do King 

— O que acabou de falar sobre hospício mesmo? — arqueio as sobrancelhas 

— Vai limpar isso ou ficar enchendo meu saco?  

— Eu já volto.

Vou para o banheiro pego papel higiênico e desinfetante. 

— Bom dia! — Hyse me cumprimenta 

— Oi. — forço um sorriso 

Não nos falamos desde que eu fui ate sua casa descontrolada, não sei se ele contou para minha irmã e sinceramente não quero saber, não preciso de mais nenhum drama por agora.

— Você esta... 

— King fez coco no meu quarto, tchau. — o interrompo e volto para o meu quarto rapidamente 

— Nossa, parece que viu um fantasma. — Thomas ri assim que fecho a porta 

— Por que esta deitado na minha cama? — faço uma careta ao pegar o cocô 

— Parece que esta de mudança, por que esta tudo empacotado e embalado? — ele pergunta se sentando 

King se ajeita no colo dele e nem lembra mais que estou irritada com ele, sou uma piada como mãe de animais. 

— Eu vou embora no fim do ano. — respondo colocando o coco no saquinho e espirro desinfetante no lugar e no ar também 

— Como assim embora? Vai tirar umas férias? — estreita os olhos 

— Não, Thomy, estou indo embora de verdade. Vou para outro país. — não o encaro ao dizer isso 

— Outro país? Como assim? Por quê? — sua voz soa indignada 

— Eu não sou... americana — murmuro mexendo as mãos nervosamente 

— Você é o que então?

— Isso não vem ao caso agora. — nego rapidamente 

— Como assim não vem ao caso? — ele segura meu braço me virando para ele — Você vai embora e nem ia me contar? — pergunta com os olhos marejados 

Me desvencilho da sua pegada sem conseguir continuar olhando em seus olhos. 

— Eu ia contar, só não agora. 

— Isso deveria me tranquilizar? — ele cruza os braços visivelmente irritado 

— Não vejo como isso poderia ser na sua conta. — dou de ombros tentando soar indiferente 

Thomas arregala os olhos e descruza os braços me encarando como se não soubesse quem eu sou, como se minha resposta o chocasse tanto a ponto que ficasse sem palavras ou reação. Me arrependo do que disse na mesma hora, não é justo com ele que eu fale este tipo de coisa, mas depois de toda aquela avalanche de emoção ontem tudo que eu consigo pensar é em tudo que eu vou perder por culpa da minha vida desgraçada e criminosa. 

— Me desculpe, Thomas... 

Ele nega com a cabeça e sai do quarto sem me encarar, respiro fundo e encaro King, ele late e olha para a porta. 

— Você esta certo, pra variar. — resmungo e saio atrás do meu amigo

Ele esta na porta da cozinha com Nina no caminho e Rubens ao seu lado sem entender nada, que ótimo uma grande e bela confusão. 

— Eu não sei do que esta falando, Thomas! — Nina segura seu braço — Não vamos nos mudar para outro país . 

Sinto meu sangue gelar, não era pra isso estar acontecendo. 

— Não foi o que... 

— Já chega! — o interrompo — Vem Thomy, vamos conversar na sua casa.  — tiro as mãos de Nina dos seus braços e o empurro para fora de casa 

— Kendra, o que esta... 

Minha irmã começa e bato a porta na sua cara, seguro na mão de Thomas e nos conduzo ate seu apartamento, descemos as escadas  pois não conseguiria aguentar esperar a porcaria do elevador. 

— Abre. — mando parando frente a sua porta 

— Você não pode me dar ordens! Eu... 

Pego as chaves de seu bolso e destranco a porta, faço sinal para que ele entre e fecho a porta logo em seguida, esta vai ser uma longa conversa. 

— Você está sendo uma babaca. 

É o que Thomas diz assim que termino de relatar os últimos acontecimentos para ele. 

— Puxa, Thomy, obrigada! Você é um amigão! — ironizo 

— Sou mesmo, amigos sempre dizem a verdade independente do que aconteça. 

— Temos uma visão diferenciada de amizade, até onde eu sei é para apoiar e ajudar o outro. 

— Isso é caridade. — rebate se levantando do sofá — E você tem uma visão distorcida de quase tudo na sua vida. 

— Bem, levando em consideração que eu fui criada por criminosos isso não é bem uma grande surpresa. — retruco incomodada 

— Ta vendo! Olha só você fazendo de novo! — ele exclama 

— O quê? — franzo o cenho confusa 

— Você fica se vitimizando, fica usando sua história de vida para justificar seus erros e não é assim que a vida funciona!

— A vida funciona de formas diferentes para situações diferentes. — me levanto do sofá 

— O que é correto serve para qualquer situação, já o errado se mostra maleável para aqueles que não tem caráter. — rebate 

— Eu não consigo entender o porquê esta me culpando de algo que eu não fiz! —passo as mãos pelos meus cabelos 

— Estou te culpando por algo que não esta evitando fazer! — ele suspira — De tudo que você me contou, a única coisa que é de fato sua culpa são as mentiras que voce espalha por ai. 

— Se não prestou atenção, Thomas, eu não tenho como contar a verdade para ninguém. — limpo uma lagrima solitária que escorre pelo meu rosto  — Não sem comprometer qualquer um que descubra. 

— Então por quê me contou? — franze o cenho 

— Porque eu não aguentava mais, porque estou sufocando a cada minuto e não faço ideia de como sair disso.  — confesso tentando segurar o soluço preso em minha garganta — Eu não queria te comprometer, eu juro, mais eu não sei o que fazer e eu só queria algum tipo de apoio. — sussurro sem conseguir encara-lo 

— Você precisa ir á policia. — ele se aproxima e segura meus ombros — Precisa contar tudo isso. 

Seus olhos verdes cintilam com lagrimas não derramadas e uma esperança louca que eu me recuso a absorver. 

— Polícia? — me desvencilho dele — E o que acha que aconteceria comigo na polícia? — estreito os olhos sem acreditar que ele esta se apoiando nesta opção absurda 

— Eles te ajudariam, você e sua irmã. — sorri 

—  Eu tenho vinte e um seu idiota! — o encaro irritada — Ou eu seria presa ou morta, se tem um sistema falho nessa droga de pais é o policial. Eles aceitam qualquer tipo de suborno, ainda mais da droga da máfia! — nego com a cabeça sem conseguir acreditar neste absurdo 

Thomas me encarar um pouco perdido e percebo meu erro. 

— Me desculpe... — sussurro — Me desculpe Thomy, eu não deveria ter dito essas coisas pra você. — solto um suspiro derrotado

 Kendra... 

— Eu vou embora agora, eu sinto muito... sinto muito mesmo — engulo a vontade de chorar e gritar e me viro para ir embora

— Espera, vamos conversar — ele segura meu braço — Não precisa ir embora assim, não precisa deixar que tudo isso sufoque você! 

Sinto vontade de ficar, sinto vontade de abraça-lo e pedir que ele me ajude, que me proteja e me mantenha a salvo, mas sei que isso tudo não passa de uma ilusão, porque eu sei que ele jamais poderia fazer isso e eu jamais pediria. 

— Não pode me ajudar... — começo me odiando — Não poderia nem se quisesse porque não pode nem ajudar a si mesmo. — O choque e a decepção são evidentes em seus olhos e não posso parara agora que enfiei a faca — Não conseguiu ajudar sua irmã e fugiu como um covarde, eu não preciso de mais um covarde na minha vida. 

Seus dedos afrouxam e não me permito observar o estrago que causei, prendo aquelas lagrimas que querem tanto se libertar e deixo que a dor me dilacere por dentro, enquanto saio do seu apartamento sem mais uma palavra. Tenho certeza que não  terei a chance de proferir qualquer uma que seja para ele novamente.  

— Eu estava esperando você sair.

Não tenho tempo de uma reação antes que  Luke desferira um tapa com as costas da mão na minha cara, meu corpo desacostumou com impactos e meu cérebro entra em pane, perco o controle e caio no chão com o rosto virado para o outro lado. 

— Que merda é essa? — pergunto me virando para ele 

Luke me encara de cima e seus olhos estão furiosos, ele esta furioso e não faço nem ideia do porquê. 

— Voce é uma desgraçada! — diz agarrando em meus cabelos e me puxando para cima 

— Ai Luke! O que você esta fazendo? — pergunto desesperada 

Faz anos que eu não luto, anos que estou parada e preguiçosa e meu corpo não esta mais acostumado com os impactos, está entrando em choque com meu desespero palpável e se isso acontecer não vou conseguir reagir, não vou conseguir me salvar. 

— Você o matou! Matou meu melhor amigo! — grita em fúria e bate meu corpo na parede com tanta força que me sinto zonza 

Ele aperta o braço no meu pescoço forçando meu corpo na parede, sei como me livrar disso, sei que tenho uma vantagem, mais estou muito tonta para pensar ou fazer algo e estou começando a sufocar com seu braço esganando meu pescoço. 

— Luke, eu não sei do que está falando!  — digo tentando meu soltar dele 

— Não se faça de sínica! — ele afrouxa o aperto apenas para bater meu corpo na parede mais um vez e bato a cabeça com mais força — Você sempre disse que havia um limite para o que fazíamos, que nunca ultrapassaria  esse limite, mas fez sem pestanejar quando se sentiu ameaçada! — seus olhos estão molhados e não sei se são lagrimas, não sei nada direito pois esta tudo rodando sem parar 

— Luke... — me esforço para respirar — Luke... por favor... — finco as unhas em seus ombros e o puxo para mim 

Aproveito que seu corpo esta todo inclinado para parece para puxa-lo mais um pouco e desviar meu rosto para que o seu encontre a parede na qual ele me prende, seu aperto afrouxa e consigo me livrar dele tossindo e puxando o ar com força.  

— Eu não sei o que esta acontecendo com você, mas por favor, vamos conversar! — peço me afastando dele 

— Conversar? — ele se vira para mim ainda mais transtornado e vejo um filete de sangue escorrendo pela sua testa — Não tem conversa! Você matou meu melhor amigo! — grita e avança para cima de mim novamente 

Me preparo e desvio do caminho quando seu punho avança conta mim, seguro seu braço me lembrando das intermináveis aulas de devesa pessoal e segurando seu cotovelo dou um compasso jogando-o no chão, mas Luke também teve essas aulas e ele se agarra na minha blusa me puxando junto, no ultimo segundo impulsiono meu corpo em um rolamento decapando dele e ambos nos encaramos abaixados no chão. 

— Quem você acha que eu matei? — pergunto tentando recuperar o folego 

Meu corpo esta acelerado pela adrenalina mais ainda sim consigo sentir a dor excruciante na minha cabeça e o ardor no meu nariz e na bochecha esquerda pelo tapa que ele me deu, meu lábio esta cortado e minha costela dói pelo impacto na parede e no chão, não deixo que isso me impeça de ficar em pé novamente. 

— Daniel. — ele também se levanta — Ele te amava e mesmo assim você o matou! 

É mil vezes pior que os ferimentos físicos, a dor que eu sinto é como se meu coração estivesse sendo arrancado do peito e agora Luke o espaga com o pé. 

— Do que está falando? — arregalo os olhos sem me permitir entender 

— Não finja que não sabe, achamos o corpo dele perto do local que se encontraram.  — ele da um passo na minha direção e eu recuo — Você o esfaqueou pelas costas, nem mesmo teve a coragem de olhar nos olhos dele enquanto fazia!  — cospe no chão me encarando com raiva e nojo 

Não contenho as lágrimas que escorrem pelo meu rosto, nem o soluço estrangulado que eu solto e meus joelhos falham, a dor é grande, mas o meu instinto de sobrevivência é maior e sei que Like não está pensando direito. Ele vai me matar antes mesmo de se dar conta que isso não foi minha culpa, me levando do chão enquanto processo aquela informação.

— Pare de fingir! — ele me empurra e fica em cima de mim — Pare de chorar pois você não é digna de fazer isso! — grita e da um soco na minha cara, depois outro, e mais um e mais um ate que eu sinta que estou perdendo a consciência e não sei se me importo com isso. 

Como um estalo percebo o que aconteceu, fui incriminada, meu pai fez isso e contou para Luke pois sabia que ele viria atrás de mim sem pensar duas vezes e comigo fora do seu caminho Nina não resistiria mais, não depois de me perder. Seguro o próximo soco e coma visão vermelha e dolorida solto um grito empurrando Luke para longe. 

— O que esta acontecendo? — Thomas abre a porta alarmado 

Não me foco dele, lágrimas e sangue atrapalham minha visão, mas meu corpo se lembra, meus músculos reclamam pela fata de treinos e ainda  assim estão clamando por essa liberação, me ponho de pé e vou para cima de Luke. Agarro seu capelo curto e bato sua cabeça no chão, uma, duas, três vezes, até que alguém tenta me impedir e registro só depois que dei um soco no saco de Thomas e ele esta ajoelhado no chão grunhido de dor. 

Percebo que é hora de parar.

Cuspo sangue no chão e fico de pé encarando o rosto furioso e machucado de Luke no chão, dou um pisão no meio de suas pernas fazendo ele soltar um grito agoniado. 

— Eu não matei seu amigo, mais se tentar me matar de novo farei com você. — rosno e dou as costas para ambos os caras no  chão   

Entro no elevador mal conseguindo me manter em pé e aperto meu andar antes de perder a consciência. 

Eita que o negócio tá pegando fogo!!!! Me mantendo na promessa de postar tudo ainda essa semana em!!! Aguardem mais sofrimento... Opa, mais capítulos kkkkk
Espero que tenham gostado!!!

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