1 - Primeiro dia

O dia tinha começado com o pé esquerdo. A papelada necessária para o início das aulas é muito estressante, mesmo valendo a pena eu não sou uma santa.

O burburinho que se espalha ao redor daquele lugar me trás um conforto maravilhoso, depois de dois anos conseguir estar aqui é tudo que eu precisava para recomeçar e alcançar meu sonho.

— Tudo certo senhorita....

A voz rouca e zangada da Sra. Kent me chama atenção e desvio o olhar para a velha carrancuda a minha frente. Ela parece odiar tudo a sua volta, seus olhos azuis brilham constantemente como se uma força ruim a mantese em pé. Os cabelos grisalhos, curtos e lisos não dão a ela nem um pouco da aparência de uma senhora boazinha, como se não bastasse, as tatuagens fazem o resto do trabalho.

Tenho certeza que no passado ela teve ter sido uma jovem bem difícil de conviver, gosto de saber que manteve essa energia com ela ao longo de tantos anos.

— Spivot!

Pisco acordando do meu transe e prestando atenção no que a Sra. falava.

— Desculpe Sra Kent! Eu me distrai. — forço um sorriso envergonhado

Que com o olhar raivoso nela se torna bem real, assim como a ardência nas minhas bochechas.

— Alguém deve vir pra te ajudar com o resto, caso alguma dúvida...— ela estreita o olhos — Se vire sozinha já é uma adulta e não deve depender de ninguém!

Com esse feliz comentário eu me encontro fora daquela sala com cheiro de tabaco e colônia de flores sufocante.

Aproveito para analisar a universidade, as paredes brancas e azuis dão uma sensação de conforto e segurança, exatamente como um consultório medico deveria se manter. Os vários alunos com jalecos brancos e roupas sociais se apressam pelos corredores conversando e estudando a todo vapor.

Talvez seja a lotação, ou a aparência receptiva do lugar, mas acho que vou ter um início de ano muito bom.

— Bom dia! Seja bem vinda a Universidade Western Washington! Eu sou a Lena e vou te mostrar o campus!

A garota surge do nada na minha frente, seus cabelos são negros e lisos os olhos cinzentos e brilhantes, como se recebesse uma descarga de felicidade a cada segundo.

 — Como Lena Luthor? — digo a primeira coisa que vem a cabeça

Pela expressão dela sei que foi algo bem ruim.

— Hã... Como Helena mesmo — ela força um sorriso

Fica mais com uma careta de confusão.

— Desculpe, sou Kendra Spivot — estendo minha mão

— Eu imaginei que sim — ela concorda apertando minha mão

Sinto pequenos calos nas pontas dos seus dedos, talvez ela toque algum instrumento de corda.

— Vou te mostrar a faculdade, vem comigo! — ela volta a se animar

Sorrio e a sigo sentindo sua animação me contagiar.

Passamos pela cantina, campus, prédio de ciências, administração, lugar de descanso, lugar das drogas e muitas outras informações que ela despejou em cima de mim em poucos minutos, depois ela simplesmente se foi dizendo que estava atrasada para alguma aula importante.

Foi tudo tão rápido que mal tive tempo de pensar, a universidade é enorme e muito bonita, bem lotada também. Não posso deixar de dizer que isso me apavora um pouco. Estar neste lugar que eu sonhei por tanto tempo com mais esse monte de gente com planos parecidos e melhores, faz com que eu sinta aquele leve frio na barriga, sem saber o que me aguarda.

Olho para o papel que a Sra Kent, tão gentilmente, me deu e vejo que minha primeira aula é história. Isso é meio bizarro já que quero ser uma psicóloga, mesmo sabendo que tenho um pré ano de todas as aulas para que eu me decida, talvez eu mude de ideia. Sorrio, se eu fizer isso Nina me mata.

Começo a andar pelo campus em direção minha nova aula e acabo esbarrando com outra pessoa bem apressada.

— Ei, presta atenção por onde anda! — uma voz feminina me repreende

— Me desculpe, estou um pouco perdida — digo ajeitando meu cabelo.

— Não estou nem aí — a garota de cabelo castanho da de ombros

Paro para analisa-la melhor e vejo que seus olhos tem um leve repuxar, como uma descendente distante de algum asiático, os olhos são amarelos brilhantes e a boca no tamanho ideal assim como o nariz reto e pequeno. Ela veste uma saia lápis branca, um palmo acima do joelho, camisa azul claro social, saltos nude e um terninho jogado por cima de seus ombros. Parece uma modelo.

— Certo, com licença então — suspiro e passo por ela

Ela resmunga alguma coisa mais já estou ocupada indo o mais rápido que posso para minha aula, sinceramente esse lugar é grande demais para minhas pernas pequenas.

Entro no prédio azul e branco e sigo entre os vários universitários apressados e diversificados ate minha sala. É tudo bem estranho, estar aqui e viver tudo isso parece mais um dos meus variados sonhos que eu já tive.

Durante todo o tempo que eu estive trabalhando em lanchonetes, lojas de roupas, mercados e outros lugares, sempre sonhei em entrar na faculdade, nesta faculdade. Ao mesmo tempo que parece um sonho não é nada igual ao que eu imaginei, talvez isso seja o engraçado dos sonhos, lutamos tanto para conquista-los que quando finalmente acontece não tem nada do que realmente pensamos.

— Bom dia estudantes — um cara baixinho entra com uma carranca horrível

A sala esta lotada com pessoas entediadas e algumas animadas demais, da pra notar quem esta começando agora e quem já conhece como tudo funciona. Subo as escada e sento na penúltima fileira me dando uma boa visão de tudo ao meu redor, coloco meu notebook em cima da mesa e me ajeito enquanto o professor prepara o material dele.

— Não pode usar isso aqui. — uma voz chama minha atenção

Olho para o lado no exato momento que as luzes são apagadas restringindo minha visão, mais sei que um cara sorridente me encara.

— O que disse? — pergunto baixo o suficiente para que a sala toda não escute

— O sr Hunter não gosta que usemos tecnologias — explica indicando meu computador

— Ele esta usando tecnologia! — aponto para o refletor

— Ninguém entende esse cara. — ele parece dar de ombros

— Isso é bem estranho. — murmuro

— Ele é professor de historia, faz sentido. — justifica

 — Claro, se estivéssemos no ensino médio! — retruco

— Digamos que ele é das antigas então — ele ri

— E quem é você? — estreito os olhos tentando vê-lo melhor

— Henry - ele estende a mão — Henry Ford.

A luz volta e tenho a vaga impressão que o professor reclama sobre as tecnologias e suas mudanças, mas eu, eu só consigo encarar Henry Ford. Aparentemente alto, musculoso, loiro com a barba rala, olhos verdes hipnotizantes e um sorriso perfeitamente reto com lábios finos acompanhados por uma convinha do lado esquerdo aumentando todo seu charme.

— Kendra Spivot — minha voz sai falhada e aperto sua mão

— Seja bem vinda, Kendra Spivot — ele arregala levemente os olhos e se inclina para perto

Seu cheiro me atinge com força, assim como a voz sedutora e o aperto firme. Fico um pouco zonza com o cheiro forte e amadeirado, por sorte consigo não parecer uma idiota e sorrio em agradecimento a suas boas vindas. Não chegou nem perto da de Lena, foi muito melhor e mais intenso.

Muito intenso.

— Você já esta aqui a muito tempo? — pergunto desviando o olhar para frente

Vejo que o professor não esta mais na sala e todos os alunos parecem entretidos em seus telefones para nos notar ali em cima.

— Olha, eu cheguei uns minutos antes de você. Mais acho que vinte minutos — zomba

— Não... eu não... —fico vermelha

— Eu entendi — ele acaba rindo um pouco alto  — Desculpe a piada — pede revirando os olhos

— Sem problemas — sorrio constrangida

— Apenas dois anos — ele finalmente responde a pergunta

— Parece bastante tempo — comento

— Tenho mais longos três anos pela frente— ele suspira — Então não sei dizer — da de ombros

— Você quer se formar em que? — me viro para ele novamente

Ele sorri um pouco surpreso.

— Ah desculpe! — balanço a cabeça em negação — Estou sendo muito intrometida? Minha irma sempre diz que sou intrometida — solto uma risada nervosa

— Não! — ele balança a cabeça — Eu gosto de intrometidas — pisca um olho

Mordo o lábio inferior tentando não ruborizar. Não deu muito certo.

— Você ficou vermelha — ele sorri ainda mais — Desculpa se eu te constrangi — pede olhando em meus olhos

— Tudo bem— abaixo a cabeça quebrando o contado — Eu fico vermelha por tudo - dou de ombros

— Que bom — ele suspira — Você fica linda assim.

— Pode para agora — digo colocando as mãos na bochecha para esconder o rubor

— Desculpe —  ele morde o lábio inferior

Esse cara é um perigo para todas as mulheres dessa universidade, seguro o impulso de morder meu lábio também e apenas o encaro.

— Advocacia — sussurra

— Como?  — pisco confusa

— Minha formação — ele ri

— Ah! — engulo a seco — Claro! — sorrio constrangida

— E você? — franze o cenho

— Psicologia — sorrio animada

— Doutora Spivot então — ele também sorri

— Eu espero que sim — concordo

Ele abre a boca para dizer algo mas a sala volta ficar escura e me obrigo a prestar atenção na aula .

Mesmo olhando para frente consigo sentir os olhares furtivos que Henry lança e mim a cada três minutos, aquilo me deixa um pouco eufórica. Um cara daquele olhando para uma garota como eu não é algo comum de se acontecer.

É bom, tenho que admitir.

Me sentir observada e muito provavelmente desejada, a vida toda quem foi observada primeiro era minha irma, e mesmo sendo gêmeas sempre fomos muito diferentes, ela a divertida, eu a chata.
E agora estou super envergonhada e animada.

— Muito bem, nos vemos na próxima — o professor anuncia.

Pisco surpresa, não prestei atenção em absolutamente nada. Espero que ele não tenha dito nada de muito importante ou vou ficar bem encrencada.

— Ate depois doutora Spivot — Henry sorri se levantando

— Ate depois Henry — sorrio também

Ele assente e desce as escadas, sorrio colocando as mãos em concha nas bochechas e desço também.

Próxima parada psicopatologia, parece empolgante!

Saio da sala com um sorriso no rosto e o notebook no braço quando um brutamonte se choca comigo derrubando meu precioso computador e meu pequeno e frágil corpo com força no chão.

— Puta merda! — uma voz masculina reclama.

Parei de fogo no toba e voltei, os outros livros ainda estão sem previsão de retorno mais eu prometo que vou agilizar tudo aqui. Sigam no insta!! booksdaSisi

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