Capítulo 11 - Arrisco ou não?
Isaac acabava de terminar sua segunda fatia de pizza e já estava se preparando para outro pedaço. Alguém estava com fome pelo visto, ou eu mesmo não sabia como aproveitar uma pizza de verdade. Ainda estava cortando alguns pedacinhos da minha primeira fatia de calabresa e beliscando uma beringela do meu prato. Porém, creio que no momento estava afim de escutar o namorado do meu amigo terminar a história do primeiro encontro deles.
(...) Então a gente começou a bater papo e a conversa começou a fluir a ponto de trocarmos contato. Foi tudo muito rápido pra falar a verdade. A gente nem sabia se ia durar ou não, mas cá estamos nós. – Concluiu Theo por fim.
– Que ótimo. Vocês parecem se dar muito bem. – Tento mostrar simpatia nas palavras.
– Nem sempre. Às vezes a gente discute por besteira mesmo, principalmente em relação a jogos. Tem dias que a gente nem se fala um com o outro. – Responde o outro, ao mesmo tempo rindo da situação. – Mas depois voltamos a trocar mensagens como se nada tivesse acontecido.
Isaac estava concentrado no seu pedaço de pizza e quando escuta Theo falar, concorda com o namorado sorrindo de boca cheia. Ele limpa um pouco de ketchup da boca e começa a entrar na conversa.
– O que eu vou dizer pode até parecer loucura, mas a real é que nós dois meio que temos um sensor interno que dispara ao mesmo tempo quando notamos que a discussão era "criancisse" demais e que não valia a pena continuar. É quase como se fosse unânime, como se a gente adivinhasse o que outro estivesse pensando e não tocasse mais no assunto nunca mais. – Isaac volta a degustar sua pizza em seguida.
– Que bom que existe essa cumplicidade entre vocês. Isso prova que o relacionamento é sólido e pouco abalavel. – Tento soar positivo como qualquer amigo faria.
– Sim, a gente vai se aguentando até onde der. – Theo pisca para Isaac e ele sorrir em seguida.
Eles devem se gostar muito pelo que parece. Casais que se acertam com facilidade e são adeptos a conversa prioritariamente, faz com que o relacionamento progrida, mesmo até em uma discussão por algo inútil e desnecessário. Entretanto, eu nunca tive um relacionamento pra ter certeza de alguma coisa, vai depender de cada situação que houver.
– É claro também que a gente nem sempre discute por besteira. Não vai pensar que nós somos dois bobanhões insuportáveis não viu amigo. – Diz Isaac de forma espontânea e acabamos por rir de sua resposta.
– Deve ser normal em qualquer relacionamento gente... Nunca vai ser um mar de rosas. – Afirmo tentando cessar as risadas.
– Você nunca namorou não é amigo? – Indaga Isaac em minha direção.
– Nunca. Por isso fico pensativo se quando for na minha hora de acontecer vai ocorrer essas mesmas briguinhas aí de vocês. – Do jeito que não me contenho, não duvidaria de nada.
– Pois pode se preparar para uma baita enxurrada de brigas infantis e desentendimentos fúteis que não vão levar a absolutamente nada. – Expõe Theo e fico refletindo se sua fala foi de zoação ou uma pontinha de indireta para o meu amigo.
– Liga não Antônio, ele só está te assustando; existe também as coisas boas, se não, eu não aguentaria ficar cinco minutos perto dele. – Conclui Isaac e tento dar continuidade com a minha pose de vela da noite.
– Bom... vou confiar em vocês, não deve ser tão ruim assim. – Respondo sorridente e volto a comer, desejando a todos os deuses que o foco da conversa mude.
– Mas e aí amigo, voltando aquela conversa de você se mudar para cá... Por que tão de repente?
– Pode ter parecido precipitado a primeira vista, mas já vinha planejando a bastante tempo, só deixava esse pensamento um pouco recluso de todo mundo. E também estava esperando a oportunidade chegar.
– Mas você pretende concluir o curso não é?
– Pretendo sim, só que não sei quando. Ainda é uma incógnita pra mim. Mas claro que vou terminar! Não passei tanto sufoco assim para morrer na praia. – Rebato com um sorriso para mostrar que estava tudo bem, mesmo eu não tendo ideia de como vou concluir a faculdade.
– Que bom, fico feliz. – Isaac bebe o seu refrigerante e volta a falar em seguida. – É... amigo? Toma cuidado tá. Apesar de que olhando assim você já tá bem adaptado, muitas coisas aqui são diferentes do interior. Principalmente em relação a assalto, acidente... Aqui acontece toda hora. Todo cuidado é pouco.
– Fica tranquilo. O pouco tempo que passei aqui já me fez ficar atento a certas coisas. E a minha mãe ja fez uma lista de regras que eu tenho que seguir e não me deixa esquecer nem por um segundo. Pode acreditar.
– Está certo. Depois a gente marca um rolê por aqui pra você conhecer os meus amigos. Você ainda não deve conhecer ninguém pela cidade não é?!
– Eu já conheci algumas pessoas bem legais. Confesso que no início achei que ia demorar para me enturmar mas até que esta sendo normal. – Asseguro, relembrando aquela noite na casa de Nanda.
Theo checa o relógio no pulso.
– Isaac, acho que já está na nossa hora.
Meu amigo olha para o seu namorado e concente.
– Pois é amigo, a gente ainda vai passar em um lugar. Mas foi bom o nosso jantar aqui, queria muito ver como você estava. Desculpa mais uma vez por não ter avisado.
– Que nada, não esquenta com isso. Também amei a conversa. – Falo com sinceridade porque gostei mesmo da companhia. Eu gosto de ficar sozinho, mas até que é bom ter alguém para conversar de vez em quando. – Eu levo vocês até a porta.
Espero os dois se ajeitarem e insisto para Isaac que não precisava lavar o prato que eu mesmo fazia isso. Consegui convencê-lo por fim e nós três caminhamos rumo a porta da frente. Assim que chegamos, meu amigo me dar um abraço de despedida.
– Muitas felicidades amigo. Vai dar tudo certo. Tenha cuidado.
– Pode deixar. – Fico feliz com sua preocupação. – Apareça mais vezes tá, quando puder.
– Está certo. – Ele fala sorrindo.
Noto que não fiz o mesmo convite para Theo e tento reparar a situação.
– Igualmente para você Theo. Amei te conhecer. – Chego perto dele e lhe dou um abraço. Ele também tinha um perfume ótimo que nem o de Isaac. Meu amigo sabia bem escolher. Quando o abraço foi cessado, Theo retribui meu elogio:
– Também gostei muito de te conhecer. Eu sei que você não conhece muitas pessoas aqui na cidade então... se você precisar de ajuda pra qualquer coisa é só entrar em contato comigo. Depois o Isaac te passa o meu número e aí você me contata se for o caso.
Viu só?! Meu amigo acertou em cheio. Um fofo.
– Muito obrigado. Não quero incomodar, mas se eu precisar de ajuda com algo já sei com quem contar. – Espero do fundo do meu coração que eu NÃO precise, mas né nunca se sabe.
– Fica combinado então. – Pontua Theo.
Os dois acenam para mim e se vão. Fico parado esperando eles sumirem pelo corredor e descerem as escadas. Assim que acontece, fecho a porta e caminho lentamente até a cozinha. Sento na cadeira mais próxima em frente a mesa onde estávamos e fico refletindo. Se eu fosse um adepto aos cigarros, já estaria com o meu maço em cima da mesa e tragando bem devagar na tentativa de colocar os pensamentos em ordem.
Apesar de Theo ter sido gentil a todo momento da noite (e ser aparentemente uma boa pessoa) ainda fico com um vazio presente que não sei como explicar. É certo que eles se gostam bastante, e eu sou a última pessoa que precisa opinar em alguma coisa. Mas não deixo de pensar em como seria se eu e Isaac fôssemos um casal. Se eles não tivessem se conhecido e quem sabe Isaac estaria solteiro e eu assim pudesse tentar algo com ele.
Para mim, Isaac era o tipo ideal de cara que definitivamente eu namoraria. Nossos gostos e nossa personalidade são até parecidos, e admito, isso conta bastante no meu critério de relacionamento. Mas às vezes fico pensando se eu idealizo demais uma relação perfeita, em que ambos compartilham coisas em comum e que isso é um ponto positivo para que a relação dê certo, seja prazerosa e que pendure por muito tempo. Quer dizer, é basicamente isso. Mas não quer dizer que é o suficiente. Eu nunca acreditei por completo naquele ditado popular que diz que "os opostos se atraem", mas será que eu poderia estar errado? Será que eu deveria parar de esperar um modelo de relação perfeita baseado nas minhas próprias características de personalidade? É algo que preciso trazer a tona na terapia. E Marcelo terá uma bela opinião formada sobre isso.
Trato de esquecer esse assunto por enquanto e me levanto na tentativa de lavar a louça. Ainda bem que amanhã ainda é domingo e posso aproveitar o dia inteiro livre para descansar para a semana seguinte. Chega de pensar em coisas que estão fora da minha realidade atual.
//
Na segunda a noite, não estou tão exausto quanto pensei que estaria e isso é uma raridade. O dia na loja ocorreu normalmente sem grandes ocontecimentos. A única diferença é que o movimento de clientes estava baixo, o que significou assim que tive um tempinho para jogar conversa fora com Karol, Ricardo e Luisa durante o expediente. Porém, sempre atentos em observar se Alessandra não estaria por perto.
Agora recém chegado no meu apê, apanho duas bananas (sim, eu como bananas a noite) e vou me sentar à mesa na tentativa de me ocupar com a vida dos meus seguidores, famosos, subcelebridades e "tiktokers" que não conheço.
Rolando o meu feed, começo a curtir várias publicações em looping e me deparo com uma foto de Sara com o seu namorado. O que, não nego, me deixa surpreso. Minha amiga sempre foi reservada em seus relacionamentos e quase não postava nada sobre. Pelo que parece, não sou somente eu que estou a mercê de mudanças. Curto sua foto e deixo um comentário fofo. Espero que ela esteja feliz com ele.
Subindo meu feed, opto por ver os stories. A grande maioria gira em torno de frases motivacionais, vídeos engraçados e selfies descontraídas. Um em questão consegue prender a minha atenção. Era Luciano em mais um dia de treino no crossfit. Ele pegava mais uma barra pesadíssima e fazia vários movimentos com ela. Eu fico embasbacado como esses atletas conseguem ter tanto autodominio e precisão nas execuções.
Fico vendo seu vídeo por alguns minutos. Fazia algum tempo que não conversava nem com ele e nem com sua prima Nanda. Fico na tentação de mandar uma mensagem. Quem sabe dizer um "oi" e perguntar como estão. Não custa nada, certo?! Mas fico na dúvida, ou deve ser só vergonha mesmo. Consequências de ser uma pessoa introvertida. Merda!
Sem pensar duas vezes e com um misto de coragem, clico na barra de mensagem e começo a digitar:
– Esse exercício deve ser bem complicado não é? Acho que não conseguiria fazer tão bem.
Fico olhando a mensagem com uma vontade imensa de excluir. Argh. Por que sou assim? Que bom que ele não viu.
O leve incômodo na bexiga não me deixa ficar sentado muito tempo e assim faço minha caminhada até o banheiro. Depois de fazer minhas necessidades, estou a higienizar as minhas mãos quando escuto o toque de notificação do meu celular. Será que era ele? Saio do cômodo imediatamente a passos largos até a cozinha.
Na mesa, apanho o celular e constato uma mensagem do direct do Instagram como eu já esperava.
– Quem olha assim de primeira acha que é a coisa mais difícil do mundo. Mas com a prática e o tempo necessário você vai aprimorando. No inicio dos meus primeiros treinos tinha essa mesma opinião que você, e hoje em dia, já faço com facilidade. Mas sempre com cuidado e atenção. Você pode ter a experiência que for, mas nada vai adiantar se você não tiver concentração no que faz. Pode ocorrer uma lesão muito séria.
A tela mostra que ele ainda está digitando outra mensagem.
– E aí, está com interesse de tentar fazer crossfit?
Quem me dera. Meu dinheiro ultimamente está todo contado. Quase que a terapia era adiada. E além disso, meu problema de escoliose me deixa super nervoso em ter que fazer esses vários movimentos. Assim sendo, começo a digitar uma resposta:
– No momento, só estou curioso mesmo. Quem sabe um dia.
Vamos lá Antony, não seja tímido demais. Volto a digitar novamente:
– E você, como está? Tem notícias de sua prima?
Pronto! Já é um assunto que temos em comum. Se ele não quisesse conversar comigo não teria mandado outra mensagem. Vou tentar de alguma forma manter o papo entre nós. O que eu pretendia com isso? Não faço a mínima ideia.
A mensagem ainda não foi visualizada por ele, então espero alguns minutos. Não sou bom em formular diálogos em uma conversa onde eu não tenho um tipo de intimidade com o outro, tanto online como pessoalmente. Dito isso, me lembro muito bem da época que baixava aqueles aplicativos de namoro e bate papo. Todas as minhas tentativas de conversa acabavam se tornando em um questionário de perguntas sem fim. Na maiorias das vezes só ficava por isso mesmo.
Após alguns minutos, Luciano finalmente volta a digitar:
– Minha prima até onde eu sei está ótima. Fomos jantar com alguns amigos ontem à noite e ela estava bem.
– Ah, e comigo está tudo numa boa.
No mesmo instante quando começo a escrever uma resposta ele volta a digitar novamente.
– Você sumiu.
"Você sumiu". Tá, essa me pegou de surpresa. Não achava que ele ia notar. Eu estava com dúvidas até se ele iria lembrar de mim. Eu não o culparia se isso acontecesse. Hoje em dia, na correria que é o nosso cotidiano, isso até que era normal. Eu mesmo agora na rotina de trabalho, já estou esquecendo de algumas coisas. Um dia desses quase que minha mãe me matava por telefone porque esqueci de ligar para ela por uma semana. Questionei porque a mesma não me ligava e ela disse que estava testando se eu ainda me importava com ela. Mães.
Voltando a realidade, começo a mandar uma resposta:
– Que bom que estão bem.
– Então... eu trabalho em um shopping, como eu já tinha falado. E lá é um ambiente de trabalho onde exige muito de quem é empregado. Chego em casa exausto na maioria das vezes. Hoje foi uma excessão, mas nem sempre é assim.
– Como eu trabalho também no sábado, eu tiro o domingo para descansar e também arrumar algumas coisas aqui. Por isso, nem sempre eu tiro um tempo pra sair e conversar com as pessoas. Somente com os meus amigos mais próximos.
– Mas irei mandar notícias para sua prima sim kkkk eu gostei muito dela.
Mandei praticamente um texto para ele. Tenho que me controlar. Meu Deus! Por que eu tenho a necessidade de fazer um relatório com detalhes da minha vida para as pessoas? Ninguém quer saber.
Antes de tentar me estapear no rosto Luciano manda uma mensagem:
– Eu entendo. Deve ser difícil mesmo a correria do trabalho. Mas tente tirar um tempinho para você relaxar. Eu sei que é difícil, mas a nossa vida não pode ser só trabalho.
– A vida social também é importante e um respiro para conseguir suportar tudo isso.
Ele tinha razão. Do jeito que ele escreveu parecia até Marcelo falando diretamente para mim. Respondo de volta:
– Você está certo. Vou tentar fazer isso.
Ele rapidamente visualiza a mensagem e acho que agora a conversa foi encerrada. Mas não quero parar por aqui. Penso no que ele disse, que "a vida social é importante". Mudanças sao necessárias, e quebra de rotinas também. Não quero ser mais o cara que eu era antes de vim para cá. Retraido e com medo. Quero ser uma nova versão de mim. Mas como vou fazer isso sem tentar? Será que faço o que estou pensando agora? Que se dane! Sem perceber, começo a escrever freneticamente para não perder a coragem imediata que tomou conta do meu corpo.
– Mudando um pouco de assunto...
– Você topa sair qualquer dia desses comigo pra gente fazer alguma coisa? Tipo: conversar enquanto toma um açaí, um sorvete ou até quem sabe comer uma pizza.
– Estou tentando seguir seu conselho haha.
Consegui.
Vamos lá, a única coisa que pode acontecer é ele dizer um "não". E se ele não topar, a minha parte eu já fiz. Pelo menos não vou ficar me martirizando por não ter feito nenhuma tentativa.
Luciano não visualiza a minha mensagem de primeira e decido parar de ser um bobo emocionado. Deixo o celular na mesa e decido ir até o meu quarto para pegar uma toalha e assim tomar um banho relaxante.
(...)
Depois de um tempo, apanho o celular novamente para ver se Luciano respondeu minha proposta. Já tinha duas mensagens dele enviadas a um minuto.
– Haha claro que sim.
– Mas não sei se Nanda estará disponível esse final de semana. Se eu não me engano, ela viajará na sexta com os pais dela. Ou você quer esperar para quando ela chegar?
Ok, agora não sei o que fazer. Eu e Luciano SOZINHOS. Algo me diz que o universo está mechendo os seus pauzinhos para que isso aconteça. Eu não especifiquei "esse final de semana" mas já que ele disse...
Decido não perder a oportunidade que me foi dada e começo a digitar:
– Bom, não sei se no próximo vai dar pra mim.
– Esse final de semana agora seria ideal. Você topa nós dois então? Se ela não puder ir é claro.
Fico na expectativa. Nanda que me perdoe, mas esse será meu primeiro encontro com alguém. Se eu posso me dar ao luxo de falar um "encontro" não é.
Na tela, Luciano digita:
– Tudo bem então. Eu conheço um ótimo lugar pra gente ir.
– No domingo à noite, às 20h? Eu vou te buscar no seu apartamento.
Puta merda. Deu certo! Em êxtase, o respondo por fim:
– Ótimo. Ficarei te esperando.
Um sorriso brota do meu rosto sem que eu perceba. E hoje ainda é segunda. Como vou passar a semana toda ansioso assim? Nao faço a mínima ideia. Só tem uma coisa que está passando pela minha cabeça nesse exato momento. É que irei ter um encontro com Luciano Maurilio.
*
Oi gente, tudo bom com vocês?
Deixo aqui mais um capítulo fresquinho. Então, eu disse que não iria demorar para postar esse capítulo mas acontece que ocorreu várias coisas que me impediram de escrevê-lo a tempo. Por esse fato, não irei mais fazer promessas que não vou cumprir. Sendo assim, até o próximo capítulo, quando eu conseguir e puder postar. Ah, e se for possível, gostaria do voto de vocês na estrelinha a baixo. Assim a história ficará mais engajada. Até logo! Beijos.
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top