CAPÍTULO 8
Francisco não se conformou quando recuperou a consciência no dia seguinte e ficou sabendo que havia perdido o velório do pai.
_Eu nunca vou me perdoar por isso...nunca vou me perdoar... _ chorou arrasado.
_Aquele filho da puta do Clemente se aproveitou da sua fragilidade, meu amor e certamente deve ter te passado alguma droga. _ Simone explicou.
_Não me lembro de nada... Deve ser por isso então..._Francisco lamentou. _Maldito Clemente!
_Pois é...você deve ter usado algo bem forte e aí simplesmente desmaiou e nós o trouxemos pra casa. _ Calado resumiu rapidamente.
Calado e Simone o pouparam de todo o restante da cena, pois ele já estava arrasado demais para se sobrecarregar com mais problemas. Felizmente, provavelmente Teresa, não havia deixado que nenhuma nota sobre o episódio viesse a público na mídia.
Os dois amigos se revezaram para cuidar de Francisco nos dias que se seguiram ao velório de Elias. O rapaz estava muito deprimido e tinha dificuldades para dormir ou mesmo para se alimentar.
_Fiquei sabendo que prenderam o Clemente, até que enfim! _ informou Simone ao amigo Calado.
_Oh, glória! Até que enfim estamos livres daquele maldito! Chega de desgraçar a vida de todo mundo! _ Calado desabafou não disfarçando a revolta. _Pena não ter sido antes dele fazer esta sacanagem com o Francisco!
_ Concordo! Algo me diz que tem o dedo da família do Francisco nisso aí, Calado. Acredita que logo depois que o Clemente saiu lá do velório, ele voltou pra casa e deu de cara com a polícia!
Calado a olhou pensativo.
_Sério? Então pode ser coisa do tal Mateus, irmão do pai do Francisco, porque eu percebi que ele não perdia o sobrinho de vista um minuto!
_Fora o momento em que ele foi arrastado pelo Clemente, claro! _ Simone lamentou. _Me sinto culpada pelo nosso vacilo, sabia? Deveríamos ter pensado que algo assim poderia acontecer, afinal, aquele verme não vale nada!
_ A ação daquele maldito deve ter sido na hora em que o Mateus estava lá ao lado daquela madrasta do Francisco recebendo o prefeito e alguns vereadores.
_Pena ele não ter podido barrar o Clemente, porque aí nada disso teria acontecido e o pobre do Francisco teria ido ao enterro do pai. Também com aquela mulherzinha insuportável mais preocupada em nos expulsar do que em cuidar do enteado, só podia dar no que deu!
_ E deu pra perceber que o Mateus é capacho dela! Ele ali, ao lado dela o tempo todo, mais parecia um cachorrinho de madame, isso sim! Aliás, você não acha estranho o tio só ter ligado pra cá um dia depois do ocorrido e não ter ligado mais?
_Vamos combinar que ele não engoliu aquela de que o Francisco teve uma convulsão por causa de ataque epilético nenhum. Esqueceu que ele sabe que o sobrinho usa drogas? _ Simone observou.
_Pois é...deve ter visto o Clemente chegando...juntou dois mais dois e deu quatro! Ligou para a polícia e já fez a denúncia!
_Oh, meu amigo...Essa gente rica tem todo mundo ali...na palma da mão! _ Simone esclareceu. _ Até que procurei, mas não deixaram sair nada na mídia sobre aquele escândalo lá no velório. Isso, pelo menos, poupou o Francisco.
Pararam de falar, quando perceberam que depois de ficar vários dias deprimido dentro do quarto sem querer falar com ninguém, Francisco parecia que havia resolvido sair e chegava na cozinha do apartamento.
_Olha...que bom que resolveu sair do quarto, tomou um banho, se arrumou... _ Calado comemorou. _Agora só falta comer alguma coisa pra ver se fortalece um pouquinho, meu anjo.
_Nem me fale em comida! Não vai descer nada, Calado! _ Francisco confessou. _Apetite zero, meu amigo!
_A gente sabe...É muito difícil mesmo, meu amigo. _Calado lamentou.
_Eu queria estar lá...ao lado dele, sabe? _ Francisco falou soluçando. _ Fico pensando que talvez ele quisesse me dizer alguma coisa...ali...no final...e eu não estava lá, gente...
_Não se torture assim, meu querido... _Simone o confortou. _ Foi um infarto fulminante...muito rápido...ele não teve tempo de falar nada...
_Pelo menos, não sofreu. _Calado tentou ajudar. _Agora descansa em paz nos braços de Deus.
_Eu amava o meu pai demais e vai ser difícil ficar sem ele!
_Pode apostar que de onde ele estiver, o seu pai sempre vai tomar conta de você, Francisco! _ Calado garantiu.
_Vai a algum lugar, meu querido? _ perguntou Simone fazendo um carinho no rosto do amigo.
Francisco deu um suspiro sofrido, antes de responder:
_O advogado do meu pai me mandou uma mensagem dizendo que farão a leitura do testamento hoje e que eu devo estar presente.
_Nossa! É tão rápido assim? _Simone questionou.
Ele deu de ombros sem muito entusiasmo:
_Tenho uma empresa pra dirigir...apesar de não ter a mínima ideia de como irei fazer isso! Devia ter entrado na faculdade de administração, como o meu pai queria.
_Calma... _ Simone o abraçou com carinho. _ É só uma questão de prática! Com o tempo, você se acostumará e vai conseguir! Você é um menino inteligente e o faro pra os negócios certamente está em seu DNA!
_Bom que você tem o seu... _ Calado se corrigiu a tempo. _Que você tem o Mateus para te ajudar pelo menos neste primeiro momento.
Francisco passou as mãos pelo rosto e falou conformado:
_Eu confesso que não queria precisar dele, mas como eu não sei nada da empresa do meu pai...é com ele que vou ter que contar mesmo.
_ Mas você está tão abatido, Francisco...Depois vai passar mal! _Simone alertou. _Não seria melhor você ligar pro Mateus e pedir pra ele te representar?
_A Simone está certa, lindo. Você está num abatimento de fazer dó... Talvez devesse pedir pra eles adiarem, não? Diga que você ainda está se recuperando...está indisposto...Daqui alguns dias, poderão fazer esta tal reunião. _Calado sugeriu.
Francisco negou com a cabeça:
_Não...eu preciso ir lá, especialmente porque eu quero expulsar aquela mulher da minha casa!
Simone resolveu preparar o amigo:
_Vai com calma que o seu pai certamente deve ter deixado alguma coisa pra ela, Francisco.
_Realmente...Talvez a casa... _Calado concordou com a amiga.
_Na minha casa, a casa onde eu cresci, ela não fica! _ Francisco falou determinado. _Eu quero estar lá, frente a frente com o advogado, porque eu faço o que for preciso para tirar aquela maldita de circulação e ela que vá para o quinto dos infernos torrar a parte que ela herdou!
_Ok...mas tente comer alguma coisa antes de sair, amor. _ disse Simone num tom maternal.
_Não desce, gente...eu juro que já tentei...
_Aqui está. _ Calado o forçou a segurar o copo que ele trazia nas mãos. _Seu iogurte de mamão que eu sei que você adora. E é da marca que você prefere.
Francisco sorriu e tomou o iogurte, fazendo um esforço, sentindo o estômago protestar.
Mesmo sabendo que era difícil não pensar que aqueles dois só estavam ajudando ele naquele momento com segundas intenções, era bom tê-los por perto, Francisco reconheceu. Não havia outro lugar onde ele quisesse estar num momento como aquele, senão junto com os seus dois melhores amigos.
Agora que era o dono de uma grande fortuna, Francisco pensou, não seria problema oferecer a Calado e Simone o apartamento que havia prometido, assim também como satisfaria as necessidades dos dois, inclusive pagando o tratamento hormonal que eles faziam. Que isso fosse visto como um investimento na amizade entre eles, o rapaz concluiu.
_Nem sei como agradecer tudo o que vocês dois estão fazendo por mim. _ disse com sinceridade. _Nem sei o que faria, se não estivessem me dando toda esta força, sabe?
Calado e Simone sorriram e intimamente estavam felizes em poder ajudar. Reconheciam que haviam passado a sentir um carinho muito especial por Francisco e, por vezes, se esqueciam que aquele interesse pelo colega tinha começado pela ambição.
Cada um colocou uma mão num dos ombros de Francisco, tentando reconfortá-lo e esperando que ele se sentisse melhor com aquele apoio sincero.
_ Sei que a gente começou a nossa amizade errado, Francisco...mas quero que saiba que nós dois somos os seus amigos...nunca se esqueça disso, Francisco. _ Calado falou com firmeza.
_Pode contar com a gente sempre! _Simone completou se sentindo emocionada.
Mais uma vez, o herdeiro de Elias tentou acreditar naquelas palavras e torceu para que um dia aquilo realmente fosse verdade...Que aqueles dois vissem nele mais do que uma fonte de renda.
_Posso dirigir, se quiser. _Simone ofereceu timidamente. _Você tantos dias fechado aqui dentro da nossa caixinha de fósforos...pode ter alguma tontura ao volante, sabe?
_ Melhor não arriscar. _Calado endossou as palavras da amiga percebendo que também não queria que o amigo se machucasse.
Francisco sorriu para os dois:
_Vou aceitar, porque eu confesso que estou com as pernas bambas, só em pensar em todas as decisões que precisarei tomar a partir de agora.
Calado ficou olhando os dois se afastarem e sentiu que em seu coração havia um sentimento sincero de querer o melhor para Francisco e que aquilo não tinha nada a ver com o fato dele ser rico.
O rapaz quis passar no cemitério, antes de ir para a leitura do testamento.
Simone o ajudou a escolher flores...o acompanhou até o túmulo do pai e amparou o amigo que chorou pedindo perdão...se lamentando por tudo...jurando que nunca iria esquecer do pai.
_Eu vou largar o curso de letras, papai. _ prometeu ainda perto da sepultura do pai. _ Vou fazer o curso que o senhor queria que eu fizesse e vou dar muito orgulho para o senhor, eu juro! Vou honrar o seu nome e cuidarei de tudo...de todo o seu patrimônio do mesmo jeito que o senhor sempre fez!
Simone não suportou ver aquela cena e também chorou junto ao amigo e quando os dois finalmente saíram dali, ela teve a certeza de que nunca abandonaria Francisco...acontecesse o que acontecesse, sempre seriam amigos!
___&&&___
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top