CAPÍTULO 4




O tio de Francisco concordava com o irmão. O sobrinho realmente estava muito mudado e gastava cada vez mais. Claro que Francisco simplesmente podia  estar encantado com a vida universitária e também devia  estar interessado em alguma garota e só  queria impressionar. 

_Ok, Mateus, mesmo que seja isso, eu prefiro confirmar, para não sermos pegos de surpresa um dia desses. _ disse Elias ao escutar a hipótese do irmão. _Vamos ficar atentos e se você souber de alguma coisa...

_Pode deixar que eu te conto. _ o irmão prometeu. _Também me preocupo com ele, Elias. O Francisco é muito jovem, pode estar iludido com alguma garota que só quer dar algum golpe...

_Sem falar que a gente sabe como é esta geração...Usam drogas, bebem...Melhor ficarmos de olho nele. 

Os dois tentaram conversar diversas vezes com o rapaz, mas ele nunca se abria.

Uma noite, Mateus resolveu passar em frente a universidade onde Francisco estudava, mesmo sabendo que seria difícil localizar  o sobrinho no meio de tantos jovens que saíam do local após o término das aulas. 

De repente, depois de alguns minutos vasculhando o local, o olhar de Mateus foi atraído por um rosto conhecido, o de Francisco.

Lá estava ele junto aos dois amigos que definitivamente Mateus reprovava.

O tio de Francisco havia investigado as vidas de Simone e de Calado e não havia gostado do que tinha descoberto. Algo lhe dizia que os dois poderiam sim estar arquitetando algum golpe para tirar dinheiro do herdeiro de Elias Monteiro. 

Os novos amigos de Francisco, Mateus tinha descoberto, não tinham emprego fixo  e viviam cheios de dívidas. Para sobreviverem, viviam fazendo pequenos bicos vendendo doces pelos corredores da faculdade ou, quando as coisas apertavam, lavavam  pratos em algum restaurante.

Mateus se aproveitou daquela confusão toda para observar o sobrinho de longe, sem que o jovem percebesse a presença do tio no local.

Perto de Simone e Calado, Francisco parecia mais jovem e inexperiente ainda. Os dois mais velhos não teriam dificuldades em enganá-lo facilmente, o tio avaliou. 

Os três amigos riam de alguma coisa, quando um rapaz jovem se aproximou. Ele parecia ter  uns dois anos a mais do que Francisco. 

O tio de Francisco  viu quando  os dois rapazes mais jovens se afastaram um pouco do campo de visão  dos outros alunos e se beijaram rapidamente  na boca! Depois, sorriram cúmplices um para o outro!

Mateus ficou em choque, pois nunca havia sequer imaginado que o sobrinho gostasse de homens! Suspeitava que o irmão teria um infarto, quando descobrisse que o filho único era gay!

Os quatro entraram no carro de Francisco e saíram do local. 

Mateus ainda estava chocado, quando seguiu  o carro torcendo para que Francisco não percebesse a sua presença.

Era sexta-feira à noite e eles pareciam seguir a fila de carros e motos que foram para um barzinho que parecia ser parada obrigatória para os jovens estudantes.

Francisco  desceu com o braço no pescoço do rapaz que havia beijado e logo atrás deles, também Simone e Calado se abraçaram como se fossem namorados.

Percebendo que não havia mais nada a fazer ali, Mateus foi embora sabendo que não conseguiria dormir naquela noite, depois do que havia acabado de presenciar. 

Outras  noites em que o tio decidiu investigar o sobrinho, ele novamente viu Francisco junto com Simone e Calado e acompanhado por algum outro rapaz. Geralmente iam a barzinhos e Mateus suspeitava que a conta sempre ficava por conta do filho do seu irmão.

O grupo estava sempre muito alegre e o tio ficava surpreso por ver a grande diferença entre aquele Francisco e o Francisco sempre revoltado e arredio quando estava próximo da família. 

Um dia, Mateus voltava pra casa depois de um exaustivo dia de trabalho, quando percebeu o carro de Francisco parado de forma irregular  no acostamento. 

O sobrinho, que estava sozinho,  não escondeu o descontentamento quando viu o tio parando perto do carro dele. 

_Você está bem? _ o tio perguntou preocupado.

O sobrinho ignorou a pergunta do tio.

_Como você conseguiu enfiar o seu carro dentro deste buraco, Francisco? Estava dormindo, é?

O rapaz novamente não respondeu.

_Precisa de ajuda? 

Quando Francisco deu um sorriso que mais parecia uma careta desengonçada, Mateus percebeu que havia algo estranho ali...o rapaz não estava em seu estado normal e parecia drogado!

_Tenho cara de quem precisa de sua ajuda? Vai se foder, Mateus!

Antes que o tio falasse alguma coisa, um carro aproximou-se.

_Minha carona! _ gritou  Francisco indo em direção ao reboque que parava próximo ao carro acidentado.

Mateus chegou a se afastar alguns metros, decidido a ir embora e deixar o sobrinho se virar com os próprios problemas, mas algo mais forte do que ele  o fez parar mais a frente e descer.

O tio surpreendeu o rapaz discutindo com o motorista do reboque:

_Mas como assim vocês não dão carona para o dono do carro que vão rebocar?

_Regras da empresa, moço. _disse um homem com cara de poucos amigos cruzando os braços de forma ameaçadora.

Francisco surtou:

_Regras da empresa o caralho! Acha que eu sou idiota? Acha que eu não sei o que está acontecendo aqui? Aposto que se eu oferecer uma grana alta você me leva até nos braços pra onde eu quiser, otário!

Mateus acelerou o passo quando viu que o outro parecia querer partir pra cima do rapaz atrevido.

_Meu cartão! _ disse praticamente enfiando o cartão na mão do homem.

O mal encarado leu rapidamente o cartão e já mudou a postura se mostrando gentil.

_Pois não, doutor!  Vai querer que eu  faça o serviço pro senhor? _ disse o homem ignorando completamente a presença de Francisco ali.

_Ei! O carro não é dele...é meu! Você tem que falar é comigo! _ Francisco protestou.

O irmão de Elias Monteiro praticamente arrastou o sobrinho até o seu carro, ignorando os protestos do rapaz.

Francisco estava tão drogado que não conseguiu abrir a porta antes que Mateus sentasse  no assento do motorista e travasse as portas.

_Não conhecia este seu lado bruto, Mateus. _disse Francisco com a voz arrastada. _Quase quebrou o meu braço, seu grosso!

Mateus não disfarçou a irritação:

_ Outro dia te vi aos beijos com um rapaz na saída da faculdade e agora eu descubro que você está se drogando!

Francisco riu ironicamente:

_Nossa! Descobriu isso tudo assim de uma tacada só?

Mateus perguntou em tom autoritário:

_Quando foi que você começou a usar drogas, Francisco?

Francisco ignorou a pergunta e colocou a mão na coxa do tio, com um sorriso maldoso:

_Sorte sua eu não te considerar da família, Mateus. Vai uma chupada aí?

Mateus deu um tapa na mão do sobrinho que deu um grito e recolheu a mão.

_Deixa de ser bruto, cara! Você não me engana com este seu jeito todo de machão e agora vem me sequestrar na beira da estrada depois de descobrir que eu dou o rabo! Não seria o primeiro hétero curioso que eu pegaria!

Mateus não se deixou intimidar:

_Você é uma decepção, isso sim! Meu pobre irmão está esperando alguém que o substitua na empresa  e você  faz o quê? Joga a sua vida fora andando com aqueles dois delinquentes e fica   agarrando  outros caras enquanto está drogado!

_Se vai continuar com o sermão, pode parar que eu vou descer! Cara chato!

O telefone de Mateus começou a tocar e Francisco viu que era o seu pai. Colocou um dedo na frente dos lábios e falou:

_ Por favor, titio...não conte nada para o meu pai que eu te recompenso depois.

Mateus atendeu a ligação rapidamente alegando que estava no trânsito e prometendo ir ao encontro do irmão o mais rápido possível.

Mesmo drogado, Francisco ficou surpreso quando o tio parou em frente ao apartamento de Simone e Calado.

Mateus desceu, deu a volta, abriu a porta do carro e arrancou Francisco lá de dentro.

_Ei! Que mania de agredir as pessoas de graça, porra! Não preciso que me leve lá dentro! 

Mateus ficou irritado ao perceber que pior do que o local não ter interfone e nem elevador, foi o fato de notar que a porta da rua estava aberta.

Os dois amigos de Francisco levaram um susto quando abriram a porta e Mateus praticamente jogou o sobrinho em cima deles.

_Mas o que é isso? _ Simone gritou assustada.

Francisco desabou no sofá e falou apontando para o tio que bufava na porta:

_Mateus, irmão do meu pai. Acho que ele tomou umas e errou o caminho da minha casa e veio me despejar aqui.

Calado já se preocupava com as consequências daquilo, pois era óbvio que o tio de Francisco deixava evidente que desconfiava que eles eram culpados do sobrinho estar naquele estado.

Simone e Calado sentiram o olhar acusador de Mateus sobre eles e não se surpreenderam quando ele deu as costas para os três e saiu sem olhar pra trás.

_Meu Deus! E agora? _ Calado estava visivelmente apavorado. _Será que ele vai voltar com a polícia?

_Menos, Calado! _ a amiga apelou irritada. _ Se fosse pra fazer isso, ele já teria trazido a polícia junto com ele agora, não acha?

Simone fez sinal para que Calado a ajudasse a levantar Francisco que parecia começar a cochilar.

_Olha só o que você fez, garoto! _disse Simone nervosa. _Quer ferrar com a nossa vida, é?

_Vacilo, Francisco...vacilo..._lamentou Calado fazendo um gesto negativo com a cabeça enquanto colocava o rapaz na cama. _Não duvido nada do seu tio aparecer daqui a pouco com a polícia pra fazer uma revista aqui em casa tentando nos enquadrar como traficantes!

_Dá pra parar de falar em polícia! _ Simone apelou.

Francisco deu de ombros:

_Nada...se assim fosse, ele teria me levado pra casa enquanto ligava pra polícia, mas não...ele me trouxe pra cá enquanto deve estar indo correndo contar para o meu pai que eu sou veado e que também uso drogas...e daí? O que eles têm a ver com a minha vida?

_Maldita a hora em que você ofereceu esta merda pra ele, Simone! 

_E você acha que eu já não me arrependi disso umas mil vezes, Calado? 

Francisco caiu num sono profundo deixando os dois amigos apreensivos quanto ao que os esperava a partir dali.


___&&&___

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top