CAPÍTULO 3
O filho de Elias Monteiro se sentia protegido dentro da faculdade quando estava ao lado dos dois novos amigos.
Talvez por também acreditarem que alguém como ele preferisse estudar em uma faculdade fora do país, novas amizades foram surgindo sem que ninguém imaginasse que ele era o filho de um grande empresário.
Através de Simone e Calado, Francisco conheceu outros gays que também eram discretos como ele e muitos também usavam drogas.
_A vida é como um sonho...é o acordar que nos mata! _disse Simone um dia no meio de um cigarro de maconha que dividia com Francisco.
Calado, por sua vez, se controlava e dificilmente participava do vício.
_ Virginia Woolf...também gosto dela. _ disse Francisco jogando mais fumaça para o alto. _Está falando de alguma coisa em especial, Simone?
Ela deu de ombros e suspirou desanimada, lembrando-se que ainda não tinha condições de fazer a transição:
_Que tal eu ter nascido com uma pepeca no lugar de uma piroca?
Francisco jogou a cabeça pra trás e riu da amiga trans:
_Talvez na próxima encarnação, quem sabe?
_Pois eu queria exatamente o contrário! _ Calado também lamentou.
Francisco deu um sorriso meio desengonçado e imaginou que a qualquer momento os dois iriam pedir ajuda financeira pra finalizarem a transição.
Era assim, através do dinheiro que tinha de sobra, que ele sabia que poderia manter aquela amizade...pelo menos no início...até que realmente viessem a gostar dele.
_Eu me contentaria com um traseiro mais arredondado. _ Francisco também reclamou.
Simone revirou os olhos:
_Garoto, você não tem vergonha de ainda querer mais da vida?
_Dinheiro não é tudo na vida! _ ele protestou. _Muito menos traz felicidade.
_Essa é mais velha do que a minha bisavó e merece um comentário à altura: então me doe o seu dinheiro e seja feliz. _ disse Calado.
Os três caíram na gargalhada e era gostoso ver como os três se davam tão bem...mesmo que Francisco ainda acreditasse que era só pelo dinheiro.
_Marcelinho está perguntando por você... _ Calado comentou.
_Tem um pau que me obriga a levar uma lupa e uma pinça... _ Francisco falou com desdém.
_E o Sávio? _ foi a vez de Simone sugerir.
_O que falta no Marcelinho, sobra no Sávio...Sem chance de deixar aquilo tudo entrar no meu traseiro, você está louca? Quer me matar?
Simone jogou a cabeça pra trás espalhando os anéis negros dos cabelos pelas costas:
_Acho que criamos um monstro, Calado...Olha só o franguinho já querendo cantar de galo...Ninguém serve pra ele!
Calado fez um carinho no rosto do amigo:
_Isso mesmo, belo...Não se entregue por menos do que uma grande paixão.
Simone revirou os olhos:
_Falou o carinha que está com o traseiro amassado de tanto levar o pé na bunda. Deixa ele se divertir, Calado!
Juntos eles começaram a sair pra baladas e os novos amigos de Francisco não se importavam de serem bancados, das entradas às bebidas, pelo filho do empresário.
_A gente vai cuidar muito bem de você, bebê. _dizia Calado em relação a um possível parceiro para o amigo rico. _Não vou deixar veado safado vir fazer maldade com o seu coração.
_Comece não me chamando de bebê... _ Francisco corrigiu. _Preciso que me levem a sério, me respeitem.
_Eu te respeito! _ Simone agarrou o rosto do rapaz e beijou a cabeça dele. _ E se não quer que te chamemos de bebê...ou neném...ou garoto...Alguma sugestão?
_Só Francisco mesmo.
_Você é quem manda, colega.
Com o passar do tempo, Simone começou a perceber que Francisco estava muito interessado em maconha e tratou de tentar reverter a situação. No fundo, ela se arrependia de algum dia ter oferecido a erva pra ele, assim como não queria que alguém tivesse oferecido pra ela também.
_Já era pra eu ter me formado, Francisco, se não fosse a minha concentração estar cada vez pior por causa das merdas que eu fumo. _ela confessou após dizer a ele que era melhor parar de usar.
_E por que você não larga, Simone? Sei de mim que largo quando bem entender...não sou viciado como você.
_Falar é fácil, difícil é fazer. _Calado adiantou. _Ela vive falando que vai largar e nunca faz nada. Já falei que esse troço ainda vai dar merda junto com os hormônios que ela toma.
_Vi você aplicando algo outro dia. Então era hormônio? _ Francisco quis saber.
Ela se ofendeu com aquela pergunta:
_Achou que era o quê? Não uso droga injetável, Francisco! Tenho horror de quem se pica! Gosto mesmo é da erva...e só. Mas pretendo dar um jeito de parar de gostar, porque a danada come a minha grana todinha e eu vivo no vermelho.
_Se precisar de algum, pode falar comigo, Simone.
_Não faz isso, menino... _ disse Calado. _Vai que ela aceita e aí vai ter uma overdose e a gente perde a nossa amiga.
_Obrigada por me defender tão bonitinho, amor. _ ela deu um beijo leve nos lábios de Calado. _ Sabe que eu sempre te vi como o meu anjo da guarda, não é?
Pra Francisco, eles podiam até negar, mas era óbvio que aqueles dois tinham uma quedinha um pelo outro.
Uma outra ida à empresa do pai e mais uma vez os dois discutiram quando o empresário veio falar do aumento absurdo dos gastos do filho depois que havia entrado na faculdade.
_Me engana que o senhor está realmente preocupado com o dinheiro, papai...O senhor está curioso é pra saber com o que estou gastando, não é verdade? Nem pensou que podem ser os livros que tive que comprar?
_Deve ser com mulherada... _ o pai arriscou.
_Nenhuma que valha a pena, fique tranquilo que eu não vou te dar um neto...
_Me diga que não são drogas...
_ Não! É claro que não! Nunca usei drogas, papai, fique tranquilo. _ mentiu. _Só ando aproveitando esta nova fase da minha vida.
_Mas você não para mais um final de semana em casa!
_Sempre gostei de sair com os amigos, não sei por que o espanto.
_E você tem frequentado baladas com dois colegas super estranhos...
Francisco apelou:
_Espere...o senhor está mandando alguém me vigiar, pai?
_É claro que não...Você sempre foi um rapaz ajuizado, mas agora que entrou na faculdade e arranjou aqueles dois...Seu comportamento mudou, meu filho!
Francisco interrompeu o pai diante daquela notícia de que estava sendo espionado.
_Quem veio encher os seus ouvidos contra mim, eu posso saber?
O pai deu de ombros, parecendo se arrepender de ter revelado que o filho estava sendo seguido.
Começaram a discutir cada vez mais alterados...um atropelando o outro.
_E isso importa? Só quero que você saiba que eu não gostei dos seus novos amigos...
_Talvez porque o senhor ainda não os conheça...
_Conheço o suficiente para ter certeza de que querem lhe aplicar algum golpe!
Francisco passou as mãos pelos cabelos negros e sedosos tentando se controlar. Gostava do pai e já estava cansado de brigar com ele.
_Golpe foi o que eu recebi agora diante dessa notícia absurda! O que foi? Contratou um investigador pra fuçar as fichas dos meus novos amigos, é isso?
_Eu não precisei da ajuda de investigador coisa nenhuma! Só vieram me alertar sobre as suas novas companhias!
_Não me diga que foi a Teresa! Só pode ter sido a Teresa, porque o passatempo preferido dela é tentar jogar você contra mim!
_Na verdade, fui eu. E lhe garanto que não estou te espionando. _ disse Mateus chegando com o semblante sério atrás do sobrinho. _Passei um dia e vi vocês três saindo de um local que eu não recomendaria.
Francisco deu um sorriso contrariado. Mesmo assim, não deixou de observar como o tio ficava cada dia mais irresistível.
_Está com falta de dinheiro e deu pra fazer bico como detetive, Mateus?
Mateus não se deixou intimidar e continuou a olhar para o sobrinho.
Por que naquela idade todos os jovens acreditavam que o mundo inteiro estava contra eles e só faziam besteira? O tio não tinha resposta para essa pergunta.
_Olha aí o seu jeito de falar com o seu tio... _Elias repreendeu o filho.
_Já disse que ele não é o meu tio! _ o rapaz logo corrigiu irritado. _Aliás, nem sei por que eu estou aqui dando satisfação da minha vida para vocês, porque estudar numa faculdade é só o primeiro passo para eu obter a minha liberdade!
Francisco deu as costas para os dois e fez menção de ir embora, mas antes avisou:
_E nem pense em vir atrás de mim dando uma de conselheiro, que eu não estou interessado em nada do que você possa vir me dizer, Mateus! E deixa o meu pai em paz! Ele não precisa saber cada passo que eu dou, pois eu sei muito bem me cuidar!
Naquele momento, a secretária avisou que Elias tinha uma reunião importante.
O pai de Francisco respirou fundo e saiu da sala, mas antes falou com o filho:
_A gente ainda não terminou essa conversa!
Francisco foi mais esperto do que Mateus e o impediu de sair da sala quando ele fez menção de seguir o irmão.
_Por que você quer foder a minha relação com o meu pai, hein?!
Mateus olhou para o rosto do sobrinho com o semblante visivelmente preocupado.
_Você talvez não saiba, mas os seus dois melhores amigos não são quem disseram ser.
Apesar de ficar surpreso ao ver que Mateus tinha acesso àquela informação, Francisco se fez de bobo.
_Sério? Eles são impostores então...deixe-me adivinhar...os dois são dois bandidos que pretendem me sequestrar e pedir resgate, é isso?
_Aquele a quem chamam de Calado, na verdade é Yasmin e aquela a quem chamam de Simone nasceu Walter.
Francisco deu de ombros, tentando demonstrar maturidade:
_E? Por acaso você agora é transfóbico?
Mateus não disse nada. Não iria entrar numa discussão com o sobrinho, especialmente porque havia outros problemas a resolver naquele momento.
A secretária de Elias veio chamar o braço direito do patrão para a reunião.
Enquanto Mateus, muito sério, se dirigia à sala de reuniões, Francisco entrou no elevador, ainda sentindo o perfume másculo do tio.
_Vida sacana..._ disse o rapaz inconsolável. _ Pior que o danado está cada vez mais gostoso!
Francisco encontrou-se com os amigos ainda nervoso com aquela discussão com o pai e também por saber que o tio tinha participação naquilo. Pediu logo um cigarro de maconha a Simone.
_Menos, Francisco, menos... _ disse Calado preocupado. _Nem tudo se resolve com maconha, cara!
O rapaz ignorou o conselho do colega. Após algumas tragadas, sentiu-se melhor.
Simone arrependeu-se, mais uma vez, por ter sido a culpada por aquele vício de Francisco.
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