CAPÍTULO 2
O campus da universidade estava um verdadeiro caos e Francisco ficou imaginando se a direção não tinha medo de que as coisas saíssem do controle e alguém danificasse o prédio ou machucasse algum dos calouros.
Francisco ignorou a presença das garotas, pois o seu foco era mesmo os rapazes.
Havia muitos rapazes sem camisa, usando jeans desbotados deixando a metade das cuecas à mostra, corpos suados, barrigas trincadas, ombros largos e rostos cheios daquela perversidade pronta a ser empregada para humilhar os novatos.
Francisco reconhecia que não se importaria em ser agarrado por algum daqueles rapazes... ser jogado sobre os ombros nus daqueles que mais pareciam uns primatas urrando daquele jeito... e num canto qualquer viesse a ser abusado ou, pelo menos, ser completamente despido e recebesse uns bons tapas no traseiro.
_Deixa que este aqui é meu! _ disse alguém colocando a mão pesada no ombro do herdeiro da fábrica de celulose.
Francisco não teve tempo de se virar pra ver quem o havia escolhido e já sentiu alguém o erguendo do chão diante dos aplausos do restante dos alunos veteranos e ao som de gargalhadas que soavam bem sádicas.
_Me ponha no chão! _ gritou para não demonstrar que estava gostando daquilo.
Esperava que não resolvessem raspar a sua cabeça e muito menos deixá-lo completamente nu e pintado de verde ou azul pedindo dinheiro em algum cruzamento.
_Acaba com ele, Calado! _ alguém gritou.
_Traz este par de tênis pra mim...estou precisando... _ outro berrou.
Francisco percebeu que estava nas costas de um homem alto e forte que o carregava em direção ao prédio mais próximo.
Logo atrás, vinha uma garota usando um vestido curto florido e botas brancas. Dava pra ver que ela era a parceira do cara que havia pegado Francisco e certamente os dois já tinham alguma coisa em mente para fazer com o calouro.
Os banheiros, aquele era o destino do pobre calouro que decidiu não dizer mais nada durante todo o percurso, mesmo quando recebeu algumas palmadas na bunda dadas pela garota que tinha um rosto lindo emoldurado por uma vasta cabeleira anelada e negra.
_Não vá vomitar nas costas do meu amigo, bebê. _ ela falou maldosamente.
O rapaz perdeu um pouco do entusiasmo, já que preferia estar sozinho com o seu sequestrador.
Finalmente, ele foi colocado no chão e pode ver quem era o seu colega mal intencionado. Aquele homem não era exatamente alguém que o calouro escolheria, pois havia algo nele que deixava Francisco meio intrigado...algo estranho no corpo...algo estranho no jeito de olhar...ele não sabia o que era.
Os dois pareciam ser bem mais velhos do que Francisco...ele presumia que deveriam estar no último período, talvez...Mais de trinta anos certamente teriam... Ele usava uma camiseta branca manchada de tinta, uma bermuda jeans rasgada e tinha um olhar enigmático...A garota parecia ser boazinha e ele gostou dela imediatamente.
Quando fecharam a porta sem dizer nada, o calouro chegou a sentir um calafrio temendo que não fosse gostar do que viria a seguir.
_Ele é bonitinho, não acha, Calado? _ a jovem perguntou com um sorriso bondoso.
_Não vai durar muito por aqui...tadinho... _ o homem falou suspirando.
Por acaso iriam abusar dele? Seria cedo demais pra confessar que não gostava de mulheres? Ou meteriam a sua cabeça dentro de algum vaso sanitário bem sujo e dariam descarga?
_Menino, o que a gente vai fazer com você? _ ela perguntou parecendo meio preocupada realmente.
_Olha só...a gente pode fazer um acordo, eu posso pagar... e aí vocês me liberam, pode ser?_ Francisco falou agoniado.
Os dois veteranos se olharam e deram uma risada perversa, deixando o jovem mais assustado ainda. Qual seria o limite da sacanagem que eles fariam?
_Ai que vontade de ligar o meu modo malévola e arrancar cada centavo deste riquinho de merda! _ disse ela sentando-se sobre a pia com agilidade.
_Eu não me oporia, pois estou sem um puto há dias! _ o outro falou.
Francisco começou a calcular quanto os dois pediriam de resgate para liberá-lo. Teria que ligar para o pai e certamente aquele seria mais um motivo para Elias Monteiro brigar com ele.
Ela tirou um cigarro do bolso, acendeu e logo o cheiro de maconha encheu o ambiente.
_Tira o olho, neném, que eu só libero a erva para os maiores de vinte e um ou a partir do quarto período. _ disse a moça piscando pra ele.
Aquilo não o incomodou, pois não se interessava por drogas e não seria aquele o melhor momento pra começar a usar.
Mais uma vez, a mão pesada do sequestrador pousou sobre o ombro de Francisco que o olhou tentando não demonstrar o quanto estava aflito imaginando o que poderia sair dali.
Ele estava com dois estranhos, fechado num banheiro e um deles logo ficaria chapado e as coisas poderiam sair do controle.
_Até que ele é bonitinho mesmo, Simone. _disse o homem. _Mas muito novinho...lamentável, não acha?
_Não assuste o garoto, Calado. _ Simone falou impaciente. _Minha intuição diz que a gente vai se dar bem com ele.
_Já disse que posso pagar! _ repetiu Francisco antes que os dois perdessem o controle, já que a garota passou o cigarro para o companheiro.
Parecendo não terem escutado o que ele dizia, pegaram a carteira de Francisco e ela leu em voz alta rindo maldosamente:
_Te falei que conhecia ele de algum lugar, Calado.
Ela jogou a carteira de identidade para o companheiro que a agarrou no ar.
_Então você é mesmo o herdeiro de Elias Monteiro. Sorte a nossa. _ o homem comemorou.
Francisco já começou a imaginar que talvez aqueles dois dessem um jeito de sair com ele pelos fundos e sabia que gritar por socorro não adiantaria.
A fala da garota surpreendeu o filho de Elias Monteiro:
_Veado, você não pode chegar aqui deste jeito dando tanta bandeira! Mamãe não te ensinou que na floresta tem muito lobo mau louco pra te comer sem dó?
Francisco quase perdeu o fôlego ao ouvir aquilo!
_ Vacilão! _ Calado comentou. _ Te vi salivando feito um cão faminto... Só faltou baixar as calças dos rapazes e sair distribuindo boquetes pelo campus!
Francisco assustou-se, pois não esperava que alguém tivesse visto ele analisando os corpos dos outros homens... Realmente deveria ter sido mais discreto.
_Concordo com você que aquele desfile de paus lá fora é de dar água na boca, mas dá uma despistada, bicha, ou não irá sobreviver muito tempo por aqui! _ Calado confessou.
Francisco olhava de um para o outro sem saber o que dizer...Talvez o cheiro da maconha estivesse confundindo os seus pensamentos...deixando o seu raciocínio mais lento...seria isso?
Será que daria tempo dele passar pela porta e sair correndo dali? Ainda não conseguia imaginar o que aqueles dois estavam pretendendo fazer com ele, agora que sabiam que ele era gay! Forçariam uma sacanagem a três, era isso? Abusariam dele e o deixariam inconsciente ali dentro daquele banheiro...seria isso?
_Nós dois salvamos o seu rabo hoje, nunca se esqueça disso, Francisco Monteiro. _ Calado falou apontando para o rosto assustado do calouro. _Você sairia daqui arrombado, pode acreditar, se tivesse caído em mãos erradas.
_ Tenho certeza de que ele nunca vai se esquecer, Calado, eu te garanto! Vai ficar nos devendo essa... e pode apostar que vamos cobrar!_ disse Simone piscando pra ele. _Se outra pessoa tivesse notado, agora você já estaria de quatro dando pra meia dúzia de marmanjos por aí só por sacanagem!
_E o Devanir daria uma surra em você por isso, depois! _Calado parecia revoltado ao falar aquele nome.
_O Devanir é um escroto que já passou da hora de morrer! Mas com a gente você está seguro, pode relaxar. _Simone garantiu sorrindo pra ele.
Francisco não sabia se já podia respirar aliviado.
_Só vamos dar um tempo aqui dentro e depois te liberamos...só pra fingir que cumprimos a nossa parte neste ritual idiota de iniciação que já deveria ter sido banido há décadas! _Simone esclareceu.
Francisco virou-se de um para o outro como se esperasse que algum dos dois começasse a rir e dissesse que tudo não passava de uma brincadeira. Mas viu que não era. Havia sido flagrado logo no seu primeiro dia e havia tido sorte por receber a ajuda daquelas duas figuras no mínimo intrigantes!
_Dei tanta bandeira assim, é? _ perguntou quase sem sentir.
_Chegou a salivar olhando direto para as calças do Rogério! _ Calado sorriu.
_Aquele homem é um cavalo, isso sim! _novamente, Simone parecia revoltada ao falar dos colegas.
Continuaram a dar tragadas no cigarro...mais Simone do que Calado...realmente parecendo esperar o tempo passar.
Para Francisco, naquele momento não importava mais saber quem era Rogério, muito menos descobrir agora o que os outros teriam feito com ele se tivessem percebido os seus olhares famintos... O que importava agora era o que aqueles dois iriam fazer com ele...com aquela informação... Certamente rolaria alguma chantagem, imaginou.
O calouro ficou pálido ao imaginar que eles poderiam contar para o seu pai e isso realmente seria um desastre!
_ Vou abrir uma exceção e liberar uma tragada pra ele, Calado. _disse Simone pensativa olhando para o rosto de Francisco. _ Ele está em choque! Acho que ele nunca se assumiu pra ninguém!
Calado não aprovou a decisão da amiga e fez um gesto negativo com a cabeça:
_Não vai estragar a vida do garoto, Simone...coitadinho...Daqui a pouco ele se recupera...não precisa fazer isso com ele, Simone...
_O garoto parece que vai enfartar aqui na nossa frente! _ ela realmente parecia estar preocupada.
Simone estendeu o cigarro já quase no final para Francisco que fez um gesto negativo com a cabeça.
_ Vamos lá... coragem... Isso vai te fazer bem, criança. _Simone praticamente o obrigou a tragar umas duas vezes. _Só vai te relaxar, nada mais, prometo.
Francisco podia jurar que havia alguma coisa a mais, além da maconha, naquele cigarro já úmido, pois realmente a sensação de relaxamento o invadiu aos poucos e ele se acalmou. Não acreditou que a erva sozinha tivesse todo aquele poder! Aquilo era maravilhoso!
Era como se houvesse de repente dado um passo certeiro dentro daquele novo mundo em que acabava de ingressar! Seus dois novos amigos haviam descoberto que ele era gay...e daí? Aquilo não era o fim do mundo! Um peso enorme havia saído dos seus ombros e era bom que mais alguém soubesse do seu segredo!
_Não se preocupe. Vamos cuidar de você. _ os dois veteranos prometeram e Francisco não teve dúvidas de que aquilo fosse verdade.
Quando finalmente foram embora, o jovem de dezoito anos sentiu como se os três se conhecessem uma vida inteira e nunca mais fossem se separar!
Simone e Calado aceitaram a carona que ele lhes ofereceu até o apartamento onde moravam. Era um prédio simples num bairro pobre.
_Cara, não consigo entender por que você, que poderia estar estudando no exterior, numa grande universidade... em Harvard, quem sabe, escolheu estudar naquela faculdade federal! _ Calado queria saber.
_Vai ver que Elias Monteiro não tem dinheiro pra pagar a faculdade do filho. _Simone brincou. _Aliás, é sério que você quer fazer letras, Francisco? Nada a ver com o filho de um grande empresário!
_Quero ser o novo Machado de Assis! _ Francisco brincou.
Os dois amigos riram e não insistiram mais. Se o outro não queria esclarecer...que não esclarecesse...pelo menos, por enquanto.
Antes de se despedirem, os dois esclareceram que Simone um dia tinha sido Walter e que Calado na verdade tinha nascido Yasmin.
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