CAPÍTULO 1






Francisco Monteiro não tinha muita certeza do que realmente pretendia quando decidiu passar no escritório do pai, antes de ir para o seu primeiro dia  na faculdade. Sabia que uma discussão seria inevitável, o que  tiraria  o seu entusiasmo por aquele dia histórico em sua vida.

O pai não se conformava. O filho havia decidido fazer letras e não economia ou administração de empresas, como o pai havia sugerido a vida inteira.

_Sempre sonhei em ver você assumindo a empresa  e agora você me vem com essa! _o pai desabafou.

Já tinham tido aquela conversa dezenas de vezes...O filho suspirou enfadado:

_Pois é, papai...assim é a vida. A gente sonha só pra depois se decepcionar. 

_Letras! _ o pai falou  inconsolável. _O que pretende com isso? Ser professor ou escritor?

_Por que não? Posso escrever as suas memórias, contar como o senhor fez para conquistar uma das maiores empresas de celulose do mundo. Se é que papel higiênico realmente é uma coisa que ninguém vai deixar de comprar jamais! _não resistiu em brincar.

_Estamos falando do destino da nossa empresa, onde  eu perdi os melhores anos da minha vida me matando pra construir todo esse patrimônio! Estamos falando do seu futuro!

Francisco jogou-se entediado no sofá e ironizou:

_Com um pé no passado e o outro no futuro, você está sacrificando o seu presente, sabia? Boa introdução para o meu primeiro livro...só preciso confirmar quem falou essa frase, claro. 

Naquele momento, alguém bateu na porta e sem esperar resposta, entrou.

Era Mateus, irmão de criação de Elias Monteiro e o braço direito do pai de Francisco.

"Cada vez que eu vejo este filho da mãe, ele está mais gostoso!", pensou Francisco desviando o olhar com relutância. Sabia que o  pai morreria, se descobrisse que o  único filho era gay. 

_Chegou em boa hora, Mateus! _ disse Elias. _Realmente eu preciso falar com você.

O rapaz gostava de reafirmar para si mesmo que Mateus não era da família e, por isso, não seria errado sentir tesão por ele.

_Ah, Francisco, você está aí? _ disse o tio indo beijar a cabeça do sobrinho. _Eu não sabia que você viria aqui hoje.

_Tenho certeza que não, por isso não trouxe um pirulito de morango pra mim. _o rapaz comentou revirando os olhos.  

Era irritante perceber que o tio ainda o via como um garoto e não como um homem, que desejava  outros homens e também sentia uma forte atração pelo próprio tio.

Sabendo que o tio era hétero, Francisco se continha, pois acreditava  que nunca teria uma chance com Mateus.

_Você disse que queria falar comigo, Elias?

O dono da empresa apontou para o filho que ainda estava largado  no sofá:

_Mateus, você pode colocar um pouco de bom senso na cabeça do meu filho  que insiste em fazer letras,  esse curso que não vai valer  nada na vida dele?

Mateus olhou para o rapaz tentando ser simpático:

_Quer dizer que o meu sobrinho quer realmente  ser escritor? Nunca imaginei!

O rapaz gostava daquela  voz máscula que mexia com ele...a visão daquele homem alto, corpo perfeito, rosto bem barbeado, aquela boca que já havia povoado tanto os seus  sonhos... Para Francisco,  Mateus era perfeito!

_Alguma coisa contra os escritores, Mateus? _Francisco perguntou arrogante  erguendo o queixo.

Mateus olhou para o jovem sobrinho. Aquele ar desafiador da juventude, cópia perfeita de Elias naquela idade tão complicada da adolescência. Olhos brilhantes, espessa cabeleira negra, bem mais baixo do que o tio...difícil levar a sério o que era dito naquela idade. Por que Elias não dava um tempo para o filho quebrar a cabeça um pouco até decidir que carreira seguir?

_Gosto de ler! Não tenho nada contra os escritores. _Mateus começou, antes de ser interrompido.

_Quem vai ser escritor? _ perguntou Teresa, madrasta de Francisco, que havia acabado de entrar no escritório do marido.

A loura exuberante atravessou a sala e foi dar um selinho no marido que sorriu satisfeito ao vê-la. 

Francisco deu um salto levantando-se do sofá, como se tivesse levado um choque, pois  não gostava da madrasta. Não resistiu em comentar não disfarçando a contrariedade:

_Mas esta sua sala mais parece uma feira com este entra e sai, pai! Qualquer um pode entrar? Deveria demitir esta secretária!

Elias apelou:

_Respeite a sua mãe!

_Ela não é a  minha mãe! _o rapaz corrigiu imediatamente. 

Teresa se fez de vítima:

_Deixa ele, Elias...eu não me importo...me conformo em ser a madrasta mesmo...isso não muda o amor que eu sinto por ele.

Francisco  não entendia como o pai não enxergava que ela era cínica!

_Seja como for, querida, ele não pode falar assim com você!

Francisco  ignorou o último comentário do pai e insistiu:

_Papai, eu agradeceria se o senhor respeitasse a minha vontade e não tentasse interferir na minha carreira. Aliás, o curso de letras não é apenas para quem quer ser escritor, ou professor...

Elias apelou novamente:

_Que se dane! Eu só sei que não é um curso para um futuro empresário e se você não sabe disso...

Teresa tocou o ombro do marido tentando acalmá-lo.

_ Deixa ele, amor. _e virando-se para Francisco com a expressão maternal. _ Você já tem dezoito anos e já é um rapazinho... pode muito bem escolher o curso que quer fazer. Também, você é muito jovem e qualquer coisa faz outro curso depois. 

_Teresa, alguém pediu a sua opinião? _Francisco falou não conseguindo mais olhar para aquela mulher que ele costumava dizer que já devia ter feito cirurgia plástica em cada centímetro do corpo. 

_Francisco! _ Elias novamente repreendeu o filho. 

Ela deu de ombros:

_Nossa...eu só queria ajudar. Também eu na sua idade não sabia direito o que queria estudar...

O rapaz  a interrompeu com um sorriso irônico:

_Difícil acreditar que um dia você já teve a minha idade!

Elias fez menção de que ia falar mais alguma coisa, mas Mateus tomou a palavra:

_Ok, vamos acalmar os ânimos que esta discussão toda não vai levar a nada e além do mais o seu pai tem uma reunião importante agora, Francisco. 

_Então são duas pessoas sobrando nesta sala... _ o rapaz se apressou em dizer.

O pai ignorou o último comentário.

_Mateus, leve o seu sobrinho daqui e tente convencê-lo a não  perder tempo na vida com esta besteira. 

_Ele  não é o meu tio, caralho! _Francisco corrigiu antes de se virar e sair da sala. _E eu sei onde é a saída, porra!

_Ele é um boca dura igualzinho à mãe! Sara quando colocava uma coisa na cabeça, me tirava do sério! _ ainda escutou o pai falando com Teresa. 

Francisco odiava quando ele fazia aquilo, lembrar-se da primeira esposa demonstrando que a esposa atual tinha alguma vantagem sobre a falecida. 

O jovem  acelerou os passos ao perceber que alguém vinha atrás dele e torceu para não ser Teresa mais uma vez  tentando posar de boa mãe só  para impressionar o marido.

Francisco alcançou o elevador, entrou, quando Mateus colocou a mão impedindo que a porta se fechasse.

_Desço com você.

_Já disse que sei onde é a saída.

A mente fértil do adolescente instantaneamente já começou a imaginar como seria bom se aquele elevador travasse, os dois ficariam presos ali dentro por duas, três horas...os suores cobrindo  os corpos, o perfume de Mateus...talvez o tio até tirasse a camisa...

"Segura a sua onda, veado...", pensou o rapaz se apoiando na parede do fundo do elevador e cruzando os braços no peito, fingindo  uma indiferença que não existia.

Mateus parou ao lado do sobrinho, como se fossem velhos amigos.

Francisco não sabia se torcia para que o elevador fosse mais rápido ou não...Talvez se simulasse algum desequilíbrio, conseguisse tocar o corpo do tio...a perna, talvez...Melhor não forçar a barra...não perder o controle...

_Achei que a sua obrigação era manter o meu pai na linha dentro da empresa. Deveria ter escoltado ele até esta tal reunião, porque com aquela mulher lá  pedindo mais dinheiro, com certeza ele vai faltar ao compromisso. _ o rapaz falou se esforçando para não se trair pela voz.

_Não deveria ter este comportamento na frente do seu pai. Sabe como ele fica quando você desrespeita a Teresa. _ disse Mateus.

Aquele comentário foi um balde de água fria no rapaz. O simples nome da esposa do pai dele já o irritava!

Francisco ficou revoltado  ao pensar que o tio  tinha ido até  ali apenas para defender Teresa.

_Aquela vadia gosta de aparecer para o meu pai e se você não percebeu isso ainda é mais lesado  do que ele!

_Francisco...menos, né?

O rapaz encarou o tio:

 _O que foi? Sente alguma atração por ela? Acha ela gostosa? Tudo aquilo ali foi moldado com muita operação plástica, botox...por baixo deve ser tanta pelanca...

Foi a vez de Mateus o interromper, afinal, já estavam chegando ao térreo.

_Ela se esforça para se dar bem com você...deveria fazer um esforço também...pelo seu pai...Ele fica contrariado...Gosta de vocês dois.

Francisco soltou o ar dos pulmões como se  tentasse se conter e não fazer uma besteira.

_Falou o cara que sumiu no mundo por mais de dez anos da minha vida e agora vem com sermão posando  de titio preocupado.

_Acontece que eu me preocupo com você, Francisco! Eu gosto de você e o considero sim como o meu sobrinho! Eu sou o seu amigo e você sabe muito bem disso!

Francisco não queria ser apenas um  amigo, mas não era o momento e nem o lugar pra  falar aquilo para Mateus, claro!

O tio só piorou a situação quando continuou, diante do silêncio do sobrinho:

_A Teresa até te defendeu lá em cima e eu sei que se tem alguém que pode mudar a cabeça do seu pai quanto ao curso que você escolheu, esse alguém é ela! Se é que algo me diz que você só escolheu este curso para contrariar o seu pai, acertei? Nunca te enxerguei fazendo letras, garoto!

A palavra final fez o sangue de Francisco ferver. Ali estava a prova de que o homem maravilhoso ao seu lado  não estava a fim de uma ou duas sacanagens dentro do elevador com um novinho safado. Lamentável, pensou.

Finalmente chegaram onde queriam, Francisco saiu e Mateus saiu atrás dele.

_Vai à merda, Mateus! O que você sabe sobre mim pra vir me dar conselhos?

_Ei!  Por acaso brigou com alguma namorada e agora vai descontar também em mim?

Francisco se  arrependeu por ter perdido mais uma oportunidade de ter dado em cima do tio a fim de se assumir pra ele...ir para o tudo ou nada...  

_Você sabe que mesmo estando longe,  eu nunca me esqueci de você... _Mateus tentou. 

Francisco ficou imaginando se o tio o acompanharia até o estacionamento...Será que entraria no carro junto com ele? 

_ Ah, é mesmo! Os seus presentes nunca faltaram no Natal, Dia das Crianças...Aliás, quem te lembrava dos meus aniversários? Sua secretária?

_Já te falei que estava fora do país estudando...trabalhando...

_E nunca teve tempo de ligar para o sobrinho e perguntar se a esposa do pai dele estava fazendo merda de sua vida!

_Sem drama, garoto...Seu pai me contou que a Teresa sempre te tratou bem...como um filho...Não tem por que posar de rebelde...

Francisco parou a sua marcha irritado, virou-se para o tio e quase meteu um dedo em sua cara ao dizer:

_Me chame de garoto mais uma vez e eu arranco as suas bolas, babaca! E pare de se comportar como o meu tio, porque nem da família você é! 

Ele sabia que tinha pegado pesado...sabia que não podia falar assim com Mateus...mas ver o tio tentando ajeitar as coisas pra Teresa havia tirado Francisco do sério!

O rapaz saiu sem olhar para trás.

Entrou no estacionamento da faculdade já percebendo que a tradicional recepção aos calouros já tinha começado.

Francisco rezou para não fazerem muita maldade com ele, pois ainda estava nervoso com tudo o que tinha acontecido e não seria legal já chegar apelando com todo mundo.

Pelo menos dava pra perceber que havia muitos rapazes gostosos por ali... veteranos que já pegavam as  suas primeiras vítimas.

_Melhor  encontrar um macho  sexy  bem rápido pra  começarmos a festa. _disse o novato tentando se empolgar.

Colocou o seu melhor sorriso e se misturou aos outros estudantes.


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