Prólogo

Os olhos assustados se voltaram para o redor, correndo o corredor com a vista embaçada.
Alguém havia olhado para si, alguém havia o visto, alguém estava o olhando.
Seus olhos se arregalaram, olhando diretamente para a câmera de vigilância.

Tudo ao seu redor era uma mistura macabra de sangue, destruição e vazio, porém, algum sobrevivente, alguém, estava o encarando do outro lado dessa câmera.
Seu corpo não se segurou, o grito alto soou, enquanto seus braços se voltaram em direção a parede aos pedaços que dividia o corredor de diversas salas.

Como um ímã, o SCP correu, com seu grito de fundo como uma sinfonia da morte.
Seja qual for a pessoa do outro lado dessa câmera, a criatura não podia permitir que ela continuasse viva, precisava dar um fim a imagem que a pessoa tinha de sua horrenda face.

As paredes eram quebradas com um enorme buraco por onde o SCP passava, como um rastro de destruição maior do que os corpos espatifados e o sangue manchando as paredes, no qual antes, eram brancas.

Seu grito estava cada vez mais alto e desesperado, até que finalmente, pôde descansar sua voz.
Em suas mãos, estava o corpo do cientista que tanto cuidou de si, tanto evitou que mais e mais experimentos fossem feitos em seu corpo desgastado e magricelo.

A face, antes tão bela, estava esmagada por suas mãos.
O sangue do homem, manchou sua pele pálida, recebendo um tom avermelhado ao invés do mais puro carmim.

O SCP não entendia o motivo, mas teve pena desse humano, no qual tanto tentou evitar seu sofrimento.
Com pesar no peito, o corpo falecido foi levado em seus lábios, sendo completamente engolido em uma fração de segundos.

A boca, já enorme, pareceu ter o tamanho exato para engolir um humano adulto, sendo capaz de digerir aquele corpo.
Sua pele pálida, lentamente se cobriu com uma camada nova.
O tom de pele saudável era sua nova cor, ao invés do cinza esbranquiçado.
Ao invés da face medonha, um rosto bonito se formou, enquanto lentamente sua boca se adaptava ao tamanho daqueles labios carnudos do falecido humano.

Os dedos compridos foram lentamente diminuindo, cabendo perfeitamente no tamanho dos dedos grandes, porém belos, do humano.
Fios negros desceram como uma leve cascata até seus ombros, sobrancelhas surgiram a cima de suas pálpebras, uma sutil pintinha se formou a baixo do seu olho direito, assim como seu corpo se moldou conforme o corpo do falecido humano.

Lentamente, o SCP se acostumava com o corpo, tomando parte da memória do defunto para si.
Seu nome não seria mais 096 quando estivesse fora do laboratório SCP, mas sim, Hwang Hyunjin.

Com passos lentos, se retirava do meio de tantos destroços, não havia mais vida ali, apenas morte, desespero e um passado cruel com tantas criaturas estudadas pelos humanos.

O SCP não podia negar, estava assustado com tudo isso, com tantas pessoas que olhavam para si e voltavam a feição de medo, angústia e pavor, nunca havia recebido um olhar que não transmitisse tais sentimentos, obviamente, não contava com Hyunjin nessa sua conclusão.

O cientista fora o único capaz de cuidar de si tanto quanto cuidou de sua própria família, o impedindo de sofrer tanto nas mãos dos demais cientistas.
Não podia deixar de relevar um suspiro cansado, se surpreendendo com o som saudável que escapou de sua boca, não era um tom rouco e áspero, nem um grito apavorante, mas sim uma voz suave e melódica.

Estava sentindo pena da vida que retirou, mas não podia voltar atrás, não agora que estava a um passo de escapar.
Sabia que logo os "soldadinhos baixos" viriam o eletrocutar e o prender novamente, sabia bem do quão cruel eles eram capazes de agir com um SCP fugitivo.

Com um olhar pesaroso, encarou a passagem que levava como uma "rampa para o céu", olhando para cima, via apenas um teto preto, gigante, talvez infinito, com diversas mini-luzes que brilhavam e apagavam diversas vezes.
Também via uma luz redonda, gigantesca e talvez furada, que iluminava um pouco a planície.

Quando tomou coragem e saiu da passagem subterrânea, seus olhos se arregalaram em surpresa, era diferente do laboratório branco, esse era... Colorido.

Por anos de sua vida, acreditou que o planeta fosse cinza, branco e preto, porém agora, via com perfeição que não eram apenas essas cores.
Lembrava da conversa de Hyunjin com um soldadinho baixo, lembrava perfeitamente da voz desesperada tentando avisar sobre os experimentos, sobre uma fuga.

Será que eles sabiam que iriam fugir?

Também se lembrava de uma visão que não era sua, provavelmente parte da memória de Hyunjin, no qual dizia não ver as cores adequadamente, algo como uma doença.
Até este momento, o SCP não entendia como explicar sua visão.

Talvez pelas árvores possuírem um tom aconchegante, suave e opaco? O céu por ser único, sem tantos tons além do preto?
O chão tinha um tom próximo as árvores, mas não conseguia ter tanto problema em identificar o tom frio, talvez fosse sua culpa?

Com um olhar inspirado, se voltou as belezas que, pela primeira vez, se impressionava com a variedade de formas.
Coisas pequenas e frágeis pintavam o chão, como se fossem tão inofensivas aos humanos, que a sua quantidade não faria diferença a agredir alguém.

Talvez fossem animais inanimados, como as mesas e cadeiras, ou como a sua comida que vez ou outra lhe era entregue.

Pensando nisso, se notou faminto, não tardando a se agaixar e pegar um punhado das pequenas criaturas inanimadas, as engolindo desesperado, uma pena não gostar de seu sabor, a cospindo sobre o chão e voltando a andar perdidamente.

Sabia que deveria se afastar, por isso, caminhou, andou e correu, floresta a dentro, fugindo daquela planície e invadindo as áreas mais montanhosas.
Seus olhos se voltavam ao redor, não havia muito além das gigantes coisas de cores frias, no qual surgiam magicamente do chão, as coisinhas pontudas e macias no qual pintava todo o chão e as criaturinhas inanimadas, no qual notou não ser nada saborosa.

Precisaria dar seu jeito de se afastar, pois sabia, os humanos não o deixariam em paz.

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