O professor e a Fênix II

Charles e Erik tentaram levantar Melanie ainda acreditando que ela estava voltando à consciência. Assim que Charles encostou a mão na pele dela os móveis ao redor levitaram e voaram em direção a eles. Erik levantou as mãos para controlar os metais e impediu que os atingisse.

Charles teve que dividir sua consciência em duas, uma parte para tentar alcança Melanie e a outra para controlar as coisas ao redor que estava atingindo eles.

O corpo de Melanie estava ao chão, imóvel e assustadoramente quieto. Após o surto que ela teve, Charles precisou de todo o seu poder telepático para controlá-la, estava exausto. Estava ao chão quase inconsciente.

Erik foi ao encontro do telepata e o ajudou a se colocar novamente na cadeira. Apesar de ainda jovens, eles sentiam que haviam envelhecido mil anos com toda a energia que gastaram para bloqueá-la.

A boca de Erik sangrava, Charles sentia a terrível dor na espinha e lutava para não perder a consciência agora. Por um segundo, acharam que havia terminado.

Mas o corpo de Melanie levitou no ar até ela se erguer a vários metros do chão. Ainda de olhos fechados, aparentemente desacordada ela pendia no ar de braços abertos, os cabelos castanhos balançando lentamente ao redor de seu rosto.


-O que há com ela, Charles? -Erik
perguntou, uma pontada de desespero passou pelos seus olhos. Ele nunca tinha visto Melanie daquela maneira, tampouco Charles.

As luzes começaram a piscar e os móveis ao redor tremeram saindo do lugar, alguns objetos pequenos levantaram lentamente no ar. Cada lâmpada explodiu, uma a uma até a sala escurecer.

-Charles... -Murmurou Erik em tom de aviso.

Então Melanie abriu os olhos, eles eram como chamas. Sem órbitas, somente chamas.

-Temos que pará-la. -Sussurrou Charles. -Ela vai nos matar. Vai matar a todos nós.

Chamas começaram a sair dos braços de Melanie, mas não eram como o fogo. Eram chamas cósmicas, em formato de grandes asas que iluminavam a sala com fúria.

Charles e Erik viram com assombro o momento em que Melanie foi tomada pela Fênix Sombria.

Tudo ao redor se tornava pó, aos poucos tudo ia sendo consumido conforme as chamas cósmicas da Fênix cresciam e se erguiam como asas com uma força que envolviam todos em um grande tornado.

Erik controlava todos os metais formando uma enorme barreira móvel ao redor do círculo onde todos se encontravam e ainda movia a cadeira de Charles quando Melanie ameaçava acertá-lo.

-Charles! -Gritou Erik. Eles estavam em silêncio há alguns minutos, Charles estava na cabeça de Melanie e tudo que Erik podia fazer era tentar controlar precariamente a zona de perigo causada pelos poderes e as forças descomunais que estavam em choque.

Charles. Sussurrou a voz de Melanie na mente dos dois. Erik. Me ajudem a acabar com isso.

Ela estava fraca, sua mente estava se perdendo. Como uma ligação de rádio de frequência fraca.

-Consegui um bloqueio. -Gritou Charles de volta. -Vou tentar criar vários bloqueios para inativar os poderes dela. Vou tentar trazê-la de volta à consciência.

Erik não conseguiu responder, nem poderia. Suas forças estavam todas concentradas em manter a barreira e proteger Charles.

-Erik, acho que a única maneira... -Começou Charles, o tom era de pesar. -A única maneira é criar um bloqueio mental para os poderes dela e apagar a sua memória.

-Não! -Erik gritou imediatamente. -Tem que haver outra maneira!


Para um mutante ficar sem os seus poderes e sua memória seria uma perca irreparável.

-Ela vai destruir tudo, Erik. -Lágrimas escorreram pelos olhos de Charles, ele balançou a cabeça. -Eu não posso Melanie, eu não posso!

As chamas tornaram-se um tom de alaranjado mais intenso.

Charles. O único de jeito de parar isso, você sabe...

-Ela está pedindo para que a gente acabe com isso. -Murmurou Charles.

Erik não precisou perguntar o que significava, a apreensão apertou em seu coração.

Então de repente tudo parou. As chamas, os metais, o ar e as lágrimas de Charles pareceram estagnados no ar. Mas olhando mais atentamente, Erik percebeu que cada partícula se movia em câmera lenta.

-Erik... -A voz de Melanie chamou, em alto e bom som. As chamas de seus olhos ainda bem acesas. Ela estava lutando para usar seu último fôlego.


Magneto se ergueu do chão usando um pedaço de metal como suporte em seus pés e voou até ela, se aproximou o bastante para abraçá-la, mas as chamas da Fênix o lembrou de manter uma segura distância.

-Você precisa me ajudar, Erik. -A voz dela ecoou.

-Estou aqui por você. -Ele disse convicto.

-Charles criou um bloqueio, mas este poder é maior. O bloqueio pode se romper rapidamente. -Os cabelos dela balançavam no ar lentamente. -Não posso viver, Erik. Para acabar com isso, preciso que me ajude. -O tom na voz tinha um resquício de tristeza e desespero. -Por nossos irmãos e irmãs mutantes, pelo nosso mundo... Preciso que me ajude a acabar com isso.

Os metais controlados por Erik se aproximaram da barreira de objetos que eles formaram. Um pequeno pedaço de cano afiado como uma adaga se aproximou em uma alta velocidade. Erik sabia que teria que fazer isso rápido antes que vacilasse e o metal atravessou as chamas cósmicas da fênix com um assobio que ecoou quando o metal ficou cravado no peito de Melanie.

As chamas se tornaram um vermelho intenso quando o grito dela ecoou. Então no mesmo instante as chamas se transforam em cinzas e tudo ao redor sucumbiu ao chão. O corpo de Melanie caiu nos braços de Magneto, ele a segurou e instintivamente segurou o metal preso no coração dela para retirá-lo. Mas as mãos dela se moveram e tocaram o rosto dele.

-Não, deixe ele ali para que eu não possa me regenerar. -Ela sussurrou com dificuldade, os olhos se abriram e eles eram cor de âmbar sem chamas. Na verdade, estavam perdendo a chama da vida. -Nunca fui boa em curar feridas profundas.

Erik tocou o rosto dela.

-Eu sinto muito, eu sinto muito... -Ele sussurrou de volta, os dedos entre os fios de cabelos castanhos dela. Esperava que os olhos não se fechassem, não era justo que ela tivesse aquele fim.

-Você tem que me deixar ir, está bem? -Ela deu um meio sorriso de desculpas, tentou manter os olhos abertos, mas já não conseguia mais focar o olhar. -Ich liebe dich, meine...

E então todas as chamas ao redor apagaram, inclusive a chama da vida de Melanie.

Erik nunca sentiu tanto frio na vida.

-Meine liebe. -Ele sussurrou beijando a testa dela. As lágrimas dele escorreram pelo rosto dela, ele pousou no chão segurando-a em seu colo. Todos os metais ao redor foram lançados longe quando ele gritou de dor e ajoelhou no chão abraçando o corpo dela.

Mas o metal alojado no coração dela permaneceu mostrando a todos que Melanie Levinsky estava morta.



***



O barulho de vidro quebrando ecoou pela mansão em Westchester. Charles seguiu com a cadeira de rodas até a sala de estar de onde sabia que tinha vindo o barulho. Ao adentrar o local, viu que Erik estava com o a garrafa de wisky nas mãos e havia os restos de um copo de vidro no chão.

-Não posso viver com isso, Charles. -Ele murmurou antes que o telepata pudesse declarar qualquer coisa. -Não posso culpar a ninguém, não posso fugir... Eu simplesmente não consigo viver com isso.

Charles se aproximou dele e o encarou por um longo segundo. Tudo que poderia ter dito para Erik ele já havia dito. Sabia muito bem que palavras não poderiam de fato livrá-lo da angústia, mas Charles não sabia o que poderia fazer.

-Faça-me esquecer. -Pediu Erik.

O peso do pedido pairou no ar enquanto Charles refletia o significado daquilo.

-Sabe quais seriam as consequências? -Perguntou Charles intrigado.

-Sei e estou disposto a isso. -Erik declarou deixando a garrafa em cima da mesa. -Também sei que não é justo deixá-lo carregar o peso de tudo isso sozinho, mas eu nunca fui como você. Por isso te peço isso. Faça-me esquecer.

O telepata encarou o olhar de seu velho amigo e viu nele pura amargura. Sabia que toda mágoa era um combustível para Magneto, ele era uma bomba relógio perigosa. Charles tinha inúmeras razões para não fazer aquilo, mas dessa vez Charles Xavier decidiu fazer a escolha errada.

Ele tocou no rosto dele, adentrou a mente de Erik e buscou por cada lembrança. O sorriso de Melanie, os seus olhos brilhantes, a sua morte e o enterro. Apagou a lembrança de Erik segurando seu corpo e posteriormente dele carregando o caixão. Apagou os abraços, os olhares, apagou o beijo e Charles mesmo se lembrou da vez em que vira os olhos dela. Tudo perdido no sacrifício que ela fez.

Uma lágrima escorreu pelo rosto de Erik, a mesma lágrima que escorria pelo rosto de Charles. E estava feito, não havia lembranças. Mas o vazio era palpável dentro dos dois.

Infelizmente para Charles não havia a opção de bloquear ou apagar as próprias lembranças, portanto ele carregava consigo cada segundo. Sabia que o que ocorreu foi necessário, caso contrário ninguém teria sobrevivido. Melanie havia sido a destruição de si mesma enquanto salvava o resto do mundo e tudo aconteceu bem nos jardins da mansão em Westchester.

Com a guerra do Vietnã e com o mundo cada vez mais consciente da existência dos mutantes, a escola ficou vazia. Raven seguiu com Erik e coube a Charles lidar sozinho com as ruínas do que um dia foram os seus planos.

Hank desenvolveu um soro com o sangue de Melanie que o fazia ter de volta os movimentos das pernas. Porém, o soro tirava as habilidades telepáticas por completo. Mas para Charles que toda noite sonhava com Melanie e inúmeras vozes em sua cabeça, o soro era uma benção.

Mal sabia Charles que os sonhos e os gritos de Melanie que às vezes ouvia, eram o sinal de que algo estava acontecendo.

A sete palmos debaixo da terra, nos limites dos jardins da mansão Xavier, alguns grãos de terra ao redor da madeira paralisaram alguns segundos no ar. Afinal, a fênix é uma criatura conhecida por ressurgir a partir de suas cinzas. De forma lenta e silenciosa, Melanie Levinsky se regenerava.


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