Enquanto Chanyeol cantava próximo a lareira, e Baekhyun resmungava no banheiro, o Beta se aproveitou do momento em que ficou sozinho para esticar os dedos para o lado, até conseguir sacudir a mesa e fazer com que as velas caíssem no chão, ao lado da corda que prendia seu antebraço esquerdo. 

Assim que o fogo das velas queimou a corda, Lotto desfez o nó do outro braço e depois libertou seus tornozelos. Quando ficou de pé, ele roubou uma faca e correu para cortar um cabo que prendia o pêndulo que possuía uma lâmina no fim, que servia para rasgar lentamente alguma pessoa que estivesse amarrada na mesa.

Quando deu por si, o Alfa viu o pêndulo muito veloz se movendo em sua direção, mas ao invés de atingi-lo, a lâmina fez barulho quando caiu fincada no chão. 

Baekhyun havia retornado do banheiro quando viu a cena. Ele apanhou o arco da mesa e lançou uma flecha na corda que ligava o pêndulo ao teto, partindo-a e salvando a vida do precursor.

Lotto ficou imóvel quando o Ômega puxou e encaixou outra flecha na arma, mirando em si. Chanyeol observou a lâmina do pêndulo presa no chão, depois moveu os olhos para o Beta.

— Você tentou me matar, Lotto! — Ele exclamou muito chocado. — E ainda quebrou meu pêndulo!

— E-eu não! Foi ele! — O Beta apontou para Baekhyun. Chanyeol tentou se aproximar, mas ele sacudiu a faca para ameaçá-lo: — Para trás!

— Solta essa merda. — Baekhyun exigiu.

— Não podem me matar sem ter uma resposta — Lotto sorriu vaidoso. 

Outra flecha foi disparada, dessa vez, acertou o pulso do Beta e o atravessou pela metade. Ele instantaneamente largou a faca e gritou de dor.

— Arrgh! — Gritou novamente quando Chanyeol puxou a flecha. 

Lotto teve o rosto prensado com violência contra a parede, e Baekhyun mais uma vez se viu no lugar dele. Ele sacudiu a cabeça para mandar embora aqueles pensamentos depravados.

— Agora você me deixou muito bravo, Lotto — o Alfa murmurou. 

— Eu não fiz por querer, eu juro! — O Beta choramingou, sendo arrastado até uma outra mesa.

Lotto foi jogado em cima dela sem cerimônia e, posteriormente, teve as mãos e os pés amarrados em cada extremidade da mesa. Agora ele se encontrava sobre o cavalete, instrumento pelo qual o precursor movia uma engrenagem onde os membros do indivíduo seriam puxados e esticados, até o ponto de ter seus ligamentos deslocados.

— Imagino que agora não corra mais o risco de fazer nenhuma gracinha — Chanyeol analisou. Os membros do Beta estavam quase ao ponto de saírem do lugar. 

O fogo na lareira foi diminuindo, e o Alfa percebeu que faltava madeira para alimentá-lo.

— Eu vou buscar um pouco de lenha — Ele avisou. 

O Alfa deixou o cômodo e logo depois se viu fora das Masmorras. Havia um estoque de madeira já separado em um pequeno depósito perto daquele lugar. Não levou mais do que 10 minutos quando estava de volta à sua sala. 

— Ele me provocou! — Baekhyun foi logo explicando.

Chanyeol franziu o cenho, acomodou a lenha no chão e seguiu até a mesa. O Ômega se afastou desconfiado. O queixo do Alfa quase caiu no chão quando viu que Lotto já não estava mais entre os vivos.

 — E agora, como vamos saber a localização de onde o garoto está?

— Que tipo de rastreadora essa Alfa é? — Baekhyun deu de ombros. — Se o Jackson estivesse aqui, já teria encontrado.

— Ela vai ficar muito puta quando voltar pela manhã.

— Foda-se! Ela que faça o trabalho dela direito. 

— Se for depender disso, o garoto Ômega perecerá.

— Ai, não… — o ruivo lamento. — Eu não pensei nisso…

— É, e eu falhei na missão. 

— Desculpa...

— Não pode deixar que insultos influenciem no seu comportamento. Palavras são apenas palavras, Baek. Somos nós que damos poder a elas.

— E agora, o que pretende fazer?

— Entregar o corpo a caçadora, e iniciar uma nova missão.

— Mas e o menino?

— Eu não tenho nada a ver com isso.

— Mas eu tenho! Ele vai morrer se não for encontrado, e a culpa é minha. Não vou esperar que uma rastreadora displicente o encontre, eu mesmo vou tentar encontrar e salvar ele.

— Não pode sair daqui.

— Não. O que foi dito é que eu tenho que ficar com você…

— O que está insinuando?

— Você vem comigo.

— Eu nunca vou a campo.

— Agora você vai. 

Chanyeol riu, estudando os ferimentos no corpo do Beta, causados pelo Ômega. 

— Eu não tenho a mínima intenção de deixar as Masmorras. A não ser que você me agrade, me ajude a limpar isso aqui. Quem sabe eu pense no assunto…

Baekhyun agarrou ele pela camisa e o empurrou para trás. O Alfa caiu sentado em uma cadeira. Antes que pudesse reagir, o Ômega apoiou um pé entre as pernas dele, no assento, e os antebraços cruzados sobre o joelho. Chanyeol olhou para baixo no mesmo instante.

— Olhe para mim! — O mais novo exigiu, o Alfa ergueu o olhar até ele. — Eu vou sair daqui e procurar aquele menino, e você vai comigo! 

Chanyeol poderia usar sua voz mais uma vez, e fazê-lo se tornar obediente. Mas não queria, até porque era ele quem desejava obedecer naquela situação. 

Baekhyun era um Ômega um tanto áspero. Ao mesmo tempo em que Chanyeol gostaria de domá-lo, ele sentia uma acentuada necessidade de ceder o controle.

— Eu irei. 

O Ômega sorriu, inclinou-se para frente e deu dois tapinhas no rosto dele.

— Muito bem, Alfa.

Assim que o ruivo se afastou, Chanyeol olhou para baixo novamente e murmurou encarando a própria região íntima:

— Agora não é o momento, meu filho.

— O que disse?

— Nada… — O Alfa sorriu para ele. — Tem ideia de por onde devemos começar?

— Talvez os amigos dele saibam de alguma coisa, ou até mesmo estejam envolvidos. Em qual navio ele trabalhava?

— Não sei. 

Baekhyun rolou os olhos. Chanyeol se levantou e passou a preparar o corpo de Lotto, soltando-o das amarras, para entregar a caçadora na manhã seguinte. Havia sangue do Beta escorrendo pela mesa e pingando em uma poça no chão.

Ainda que o Alfa tivesse oferecido sua cama para que Baekhyun pudesse descansar, o Ômega rejeitou. Ele escolheu passar a madrugada sentado em uma cadeira, enquanto Chanyeol se deitou confortável em seu colchão e dormiu despreocupadamente.

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Poucos minutos após o sol surgir no horizonte, a caçadora retornou à Câmara mais uma vez para obter a localização com o precursor. Ela ficou chocada ao receber a notícia de que Chanyeol havia falhado na missão. 

— Mas que porra, hein! — Ela exclamou. — Você dificultou meu trabalho pra um cacete, agora!

— Me desculpe. — Chanyeol coçou a nuca. — Isso é raro de acontecer.

— Dane-se! — Ela rosnou. — Você só tinha uma tarefa e mesmo assim fodeu com tudo! 

— Por que está gritando com ele? — Baekhyun se meteu. — A rastreadora aqui é você! É seu dever encontrar a localização!

— Mas as respostas estavam com o Beta. Eu o trouxe aqui e entreguei ao Chanyeol de bandeja! Tudo o que ele precisava era fazê-lo confessar!

— Ele não ia precisar disso, se você fizesse seu trabalho direito!

— Hum! — A caçadora riu com desdém. — Não vou ficar aqui discutindo com você.

— Espera! — Baek a chamou antes que fosse embora. — Em qual-...

— Já pode ir, Hélia. — Chanyeol o cortou.

A caçadora assentiu e deixou o recinto. Baekhyun virou-se para o Alfa:

— O que você fez?! Eu ia perguntar em qual navio o Beta trabalhava.

— Ninguém pode saber que estamos investigando isso. Hélia ficará muito ocupada tentando concluir sua missão, enquanto isso, a Ordem não saberá que eu falhei.

— E o que tem se eles ficarem sabendo? É só uma puniçãozinha…

— Não é apenas isso. Eu seria afastado por alguns dias, e isso significa que você seria entregue a outro precursor.

— Até que não é uma má ideia. Pelo menos eles seriam rápidos para me liberar.

— Você não tem ideia do que eles fazem quando colocam as mãos em um Ômega bonito como você.

Baekhyun sentiu algo em seu estômago, com o elogio que veio naturalmente. Sentiu-se bem com aquilo, mas a curiosidade foi além:

— O que eles fazem?

— Torturam sexualmente.

— Que nojo… bando de depravados! Você já fez isso alguma vez?

— Não. Quer dizer, teve uma vez em Folsom que uma Ômega e eu nos divertimos bastante. Ela aceitou ser torturada de um jeito muito delicioso…

— Poupe-me! Eu já entendi. Não precisa entrar em detalhes.

— Você quem manda. — Ele sorriu, observando o ruivo dos pés a cabeça. — O que faremos agora?

— Já que a Ordem não pode saber que você falhou, teremos de ser cautelosos. Vamos investigar a pousada em que os funcionários do dono dos navios estão hospedados.

— Há uma que fica perto do estaleiro. Esse Alfa possui três navios, talvez nem todos estejam ancorados. O que estiver no porto, provavelmente será o que Lotto trabalhou.

Baekhyun concordou. Antes de deixarem as Masmorras, Chanyeol advertiu os demais precursores de que levaria seu serviço para além daquele local, e como o caso estava sendo mais difícil do que esperava, poderia demorar a retornar. Os caçadores apenas assentiram. 

No Porto, o Ômega e ele descobriram que um dos navios que estava ancorado pertencia ao nobre que solicitou a missão. Enquanto transitavam, eles notaram que alguns marujos que deixaram a embarcação, adentraram na pousada que ficava próxima do estaleiro.

Os caçadores aguardaram até a chegada da noite, para então se infiltrar nas estalagens sem ter a presença anunciada. Alguns marujos se ausentaram para se divertir em casas noturnas, Chanyeol e Baekhyun se aproveitaram do momento para investigar o interior dos quartos.

— O que estamos procurando exatamente? — O Alfa perguntou.

— Qualquer coisa que ligue alguém aqui ao caso. 

— Eu acho bem difícil, eles não deixariam tão a mostra.

— Como você é otimista.

Chanyeol deu de ombros e eles voltaram às buscas, de qualquer pista que indicasse qual próximo passo deveriam seguir. Eles entraram através das janelas das varandas e examinaram todos os quartos, cujos hóspedes estavam ausentes.

No último deles, a procura teve de ser interrompida quando o hóspede do quarto em pauta, retornou mais cedo do que eles imaginavam. Ele estava acompanhado de uma Beta, tão animado, que no momento em que tentou abrir a porta deixou a chave cair no chão.

— Vamos! — Baekhyun seguiu em direção a janela, mas foi puxado no braço pelo Alfa. — Que está fazendo?!

— Essa é a nossa chance! A gente pode ouvir a conversa e descobrir qualquer coisa.

Não havia tempo para discutir os prós e os contras. Chanyeol abriu um baú perto da cama, disponível para que os hóspedes depositassem seus pertences, mas que dificilmente eram utilizados. 

— Entra e se esconde aqui! — Ele indicou.

Baekhyun fez como ele disse e se acomodou de costas dentro do baú, com as pernas dobradas. Franziu o cenho quando o Alfa também entrou, e se posicionou logo acima dele, fechando a tampa do baú no momento em que a porta foi aberta pelo hóspede.

— Que você tá fazendo?! — Baekhyun sussurrou.

— Me escondendo. 

— Mas é muito apertado! Mal consigo respirar com você aqui! 

— Não tinha outra opção.

— Tinha sim! 

— Shh! Eles vão ouvir.

Baekhyun estava com as pernas juntas e dobradas, enquanto Chanyeol manteve uma em cada lado do corpo do ruivo, assim como os antebraços apoiados ao lado dos ombros do menor. Já as mãos do Ômega estavam descansando sobre seu próprio peito.

Havia pouca iluminação dentro daquele pequeno espaço, a única claridade provinha da fechadura quebrada e algumas frestas que foram roídas pelos ratos. Mas a respiração quente do Alfa indicava que seu rosto estava muito perto do de Baekhyun.

— Por que tá com tanta pressa, Pirulão? — A Beta cantarolou. 

Baekhyun arqueou as sobrancelhas ao escutar o apelido que a Beta chamou o Alfa. Chanyeol franziu o cenho. Os dois seguiram em silêncio.

— Você sabe, Tchutchuca. Tenho um trabalho extra.

Deixando de lado a parte dos apelidos medonhos, aquela última afirmação acendeu o pavio do que poderia ser o indício de que aquele Alfa estava ligado ao crime de Lotto.

Continua…