A Ordem dos Caçadores em Busan, conta com duas grandes construções físicas, uma delas é o Quartel-General, onde fica o gabinete do líder e onde as missões são despachadas. Além de ser um refúgio para os caçadores, dispõem de salas e compartimentos para treinamento dos mesmos. 

O outro local, denominado Masmorra, é um espaço mais afastado do Quartel-General, onde são realizadas missões mais complexas, como retirar informações de pessoas através da tortura. O lugar fica inteiramente no subsolo de Busan, é composto por inúmeras celas onde os interrogatórios são realizados por caçadores conhecidos como precursores.

Os precursores eram os mais experientes, aqueles caçadores que já haviam passado por todo tipo de situação, e estavam preparados para lidar com os piores tipos de tortura. Contudo, havia um Alfa que mal havia se tornado um caçador e, com cerca de três meses, foi atribuído como um precursor altamente qualificado. 

O silêncio que imperava pelos corredores das Masmorras, foi quebrado por gritos de desespero, vindo de uma das salas. 

— AAAAHH…! — O berro ecoou pelo corredor.

— Esse aí gosta do ofício — um dos caçadores que passava pelo corredor comentou. 

— É o Chanyeol, um novato. Ele é completamente maluco — outro caçador riu.

A porta da sala onde a tortura acontecia foi aberta, os caçadores cessaram a conversa quando o jovem percursor deixou o cômodo. Chanyeol caminhou até parar onde eles estavam, e comentou em tom de frustração:

— Odeio quando eles morrem muito rápido.

— Você exagera, garoto. O moribundo deve ter sangrado demais.

— Mas eu nem tirei sangue dele — Chanyeol se corrigiu: — quer dizer, só um pouquinho quando removi as unhas dele com a pinça de serra.

— Esse é o problema. Alguns níveis de dor são tão altos que eles morrem de parada cardíaca. Você precisa se controlar mais.

— Boa ideia. — O jovem precursor sorriu para ele. — Tem mais algum interrogatório?

— Não. Hendrik ainda não retornou com o alvo. Assim que ele chegar, devemos conseguir uma certa informação dele.

— Eu consigo retirar essa informação dele.

— Você vai é matar ele, de tanta dor.

— Tsc.

— Vai procurar uma missão qualquer, rapaz. Relaxe um pouco, há dias que você não sai das Masmorras. 

— Tá, tanto faz — Chanyeol suspirou. — Vou falar com Samantha.

O caçador mais velho assentiu, e observou quando Chanyeol seguiu pelo corredor cantarolando baixinho. 

Samantha era uma Beta responsável por despachar as missões. Chanyeol e ela se tornaram grandes amigos, quando o Alfa se juntou à Ordem. Ela era a única que não tinha medo dele.

— Olá, Sammy — ele chegou sorridente, como sempre. — Tem alguma missão boa aí pra mim?

— O que você quer dizer com “boa”?

— Uma que seja pelas redondezas. Hendrik pode chegar com um alvo a qualquer momento e eu quero estar aqui para interrogar. 

— Certo, vamos ver… — a Beta buscou por um envelope dentro de uma gaveta, quando encontrou, ela o entregou ao caçador. — Aqui está. Vários assassinos já negaram a missão, talvez você seja o único com frieza suficiente para concluir.

Por que um assassino negaria um assassinato? Chanyeol ficou curioso quanto aquilo. Ele abriu o envelope para ler os dados da missão, onde continham a classe, o nome e uma ilustração do alvo, informações como a demanda solicitada (assassinato) e quem pagou. 

O alvo era um Ômega aparentando ser muito jovem, de cabelo vermelho, que estava causando uma crise financeira no mercado. Sua morte foi requisitada pelos comerciantes da praça mercantil. Na certa, o menino furtava os mercadores. 

— E então? — Samantha indagou ansiosa. 

— Fácil. — Dito isso, o caçador se retirou para cumprir a missão.

Chanyeol perambulou pela praça, como um transeunte qualquer. No primeiro dia da missão ele ficou apenas à espreita, e logo identificou o Ômega responsável por causar a crise financeira no mercado. 

Chamar de crise financeira era um exagero. O menino roubava apenas algumas frutas e legumes, pão, leite e alguns outros poucos alimentos. Apenas o suficiente para sobreviver. Nenhum mercador ficaria mais pobre por causa daqueles pequenos furtos. 

— Fazer o quê, né? — Chanyeol se questionou após a reflexão. — É uma missão. 

Com isso, ele vigiou o Ômega durante todo aquele dia, acompanhou todos os passos do alvo até o local onde o mesmo se recolhe para dormir, escondido em uma viela entre duas construções.

O caçador podia matar o alvo ali mesmo, enquanto ele dormia. Mas seria rápido demais, e ele teria de voltar em Samantha para pedir outra missão. Assim sendo, ele decidiu que observaria o Ômega por mais alguns dias até que Hendrik retornasse, então ele o mataria da forma mais rápida e indolor possível. Afinal, o alvo de Chanyeol era apenas um menino.

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Crianças órfãs eram mantidas em instituições, onde deveriam ser amparadas e protegidas. Contudo, infelizmente, essa não era a realidade dos abrigos em Busan. Pelo menos era como Baekhyun enxergava e sentia na própria pele. 

O Ômega fugiu de todos os orfanatos em que foi levado pelos guardas da Marinha, para não ter de lidar com as diárias agressões e perseguições dos demais órfãos, além da violência vinda por parte dos próprios responsáveis pelas crianças. 

Baekhyun sobrevivia muito melhor dormindo na rua e se virando sozinho, do que naqueles lugares hediondos. Os próprios comerciantes tentaram dar um fim no garoto, por conta própria. Mas Baek era efetivamente esperto, os furtos continuavam, ninguém era capaz de parar aquele Ômega.

Ninguém, exceto um caçador que, no quarto dia de vigilância, estava se divertindo assistindo aquele garoto fazendo os mercadores de idiota. Todavia, aquele seria o dia do assassinato. Hendrik havia retornado com o alvo e Chanyeol daria fim a sua missão, para finalmente voltar ao ofício que tanto apreciava.

No final daquela tarde, Baekhyun executou tudo o que costumava fazer nos dias anteriores. Chanyeol o seguiu, para que pudesse matar o menino em um local pouco movimentado. O lugar onde ele dormia seria perfeito. 

Porém, o Ômega seguiu um caminho diferente naquele dia. Era algo novo para Chanyeol, mas ele continuou seguindo, pois o assassinato deveria acontecer. No mais, Baekhyun estava alguns passos à frente, e virou na próxima travessa. Chanyeol fez o mesmo.

A travessa dava para uma rua sem saída, o Alfa franziu as sobrancelhas e observou o caminho. Não havia sombra do Ômega, mas não tinha por onde ele ter fugido. Ele caminhou em direção ao fim daquele beco, procurando por trás das caixas onde eram depositados os lixos, e entre os entulhos que jogavam por ali.

Baekhyun havia escapado por uma passagem no chão que dava acesso aos esgotos de Busan. Apenas naquele dia, o Ômega havia notado a presença do caçador na praça. Na volta para o cantinho em que dormia, ele percebeu que o Alfa estava lhe seguindo. 

Chanyeol entendeu que seu alvo o descobriu, e não era para menos. Ele demorou demais para concluir a missão. Mas não importava, o Ômega iria morrer de qualquer maneira assim que colocasse as mãos nele.

No final da travessa tinha muro alto, que seria impossível de atravessar para um Ômega do tamanho daquele menino. Chanyeol subiu até conseguir enxergar o que havia do outro lado, mas para sua surpresa, ouviu uma voz perguntando logo atrás de si:

— O que você quer comigo? 

O Alfa olhou para trás, ficando surpreso ao encontrar seu alvo bem ali, segurando com firmeza uma arma para se defender. A arma se tratava de um pedaço de madeira, mais especificamente a perna de uma mesa quebrada, que o mais novo encontrou entre os entulhos.

Quando Chanyeol desceu do muro, o Ômega deu um passo para trás.

— Não chegue perto! — Baekhyun advertiu. 

— Não vai conseguir me matar com isso.

— Quer apostar? Trás sua cabeça aqui pra você ver o que eu faço com ela. — Para a surpresa do Ômega, Chanyeol riu. — Quem é você e o que quer comigo?

O medo aumentou quando viu o mais velho puxando uma pistola do coldre. O que ele poderia fazer com aquela porcaria de madeira que estava segurando contra uma arma de fogo?

— Eu sou um caçador e estou aqui pra te matar, Baekhyun. — Afirmou com muita tranquilidade. O Ômega arregalou os olhos. — Mas… estou curioso pra saber se você realmente teria coragem de me matar.

Inesperadamente, ele predispôs o cabo da pistola na direção do Ômega. Desconfiado, Baek olhou para a arma e depois para o Alfa.

— Pode pegar. — Chanyeol incentivou.

— Está falando sério?

O caçador suspirou quando se abaixou devagar para logo em seguida deixar a pistola no chão. Baekhyun o observou com muito cuidado, e assim que o Alfa se afastou o suficiente, ele largou a perna da mesa e empunhou a pistola, mirando no mais velho.

— Pra um caçador você é muito burro! — O Ômega riu. — Acho melhor você ir, antes que eu deixe um buraco nessa sua cabeça de vento.

— Você não tem coragem, não é? — Não obteve resposta. — Pensei que fosse forte o bastante pra isso, mas parece que me enganei.

— Pra isso o quê? — Baekhyun se afastou quando o Alfa caminhou em sua direção. — Pare! — Chanyeol não obedeceu. — Porcaria, eu vou atirar! 

Quando o Alfa chegou perto demais, quase a ponto de conseguir a arma de volta, os instintos gritaram mais alto e Baekhyun apertou o dedo no gatilho. Mas não houve disparo.

Chanyeol riu, observando a reação confusa do Ômega. Baekhyun parou um pouco mais atrás, a uma distância que julgou ser segura o suficiente, para que tivesse tempo para correr e fugir do caçador.

O Alfa começou a rir mais alto, o que deixou o ruivo irritado.

— Do que tá rindo, idiota? 

— E não é que você tem mesmo coragem? Estou impressionado. Parabéns.

— Você fugiu de um manicômio?

— Não, eu realmente sou um caçador. 

— Então deve ser o caçador mais burro que existe, entregando a sua arma assim pro seu alvo.

— Não há perigo nisso, você não sabe usar. É o mesmo que entregar a pistola a uma porta.

Baekhyun ficou tão vermelho de raiva, quanto o próprio cabelo. Na verdade, a expressão que ele fez estava muito engraçada. Chanyeol gargalhou enquanto o ruivo manuseava a pistola buscando um jeito de ativá-la. 

Quanto mais ele se enrolava para destravar a arma, mais o Alfa ria. Era irritante. Se conseguisse ativar aquela porcaria, ele iria descarregar toda aquela pólvora na cara daquele caçador. 

Quando teve certeza de que não iria conseguir e já bastante irritado, o Ômega executou a única coisa que podia fazer com a pistola. Ele lançou o objeto contra o Alfa, acertando diretamente em um dos olhos dele.

Chanyeol parou de rir no mesmo instante. Ele pegou a arma antes que a mesma caísse no chão.

— Nossa, que mira boa você tem. — Comentou, como se não tivesse sentindo dor. Havia sangue saindo do olho atingido. O Ômega tentou recuperar o pedaço de madeira, mas parou quando o caçador mirou a pistola nele. — Paradinho, aí. Agora é a minha vez.

— Se for me matar, deixe de palhaçada e seja rápido!

— Você realmente tem o perfil… o que sabe sobre ser um caçador?

— Sei que podem estar em qualquer lugar mas raramente são vistos. Dizem que fazem qualquer tipo de serviço se forem bem recompensados.

— É, basicamente isso… Eu acredito que você se daria bem sendo um caçador.

— Então você não vai me matar?

— Depende, você viria comigo para ser treinado pela Ordem?

— E se eu não for?

— Eu te coloco em uma caixa e o despacho no próximo navio mercante, pro lugar mais distante que você possa imaginar. 

— Eu quero ir com você — Baekhyun já havia decidido isso desde que o Alfa fez o convite. — Quero ser um caçador.

Chanyeol sorriu satisfeito. Antes de levá-lo consigo até a Ordem, o Alfa passou no mercado e pagou por todo o prejuízo que o pequeno aprendiz havia causado. 

Continua…