Sara Part 1
Sara
Silêncio absoluto!
Mãe... estou com medo... mãe?...
Já vejo uma luz! Oh não, mil cores vêem ao meu encontro.
Socorro! Vou fechar os olhos. Deve ser um pesadelo. Não consigo perceber como cheguei até aqui.
Finalmente! Mas onde estou?... Estou a ver o Aladino e o seu macaquinho... Não, não pode ser! Estou dentro do jogo do meu irmão!
- Olá Sara.
- Hu?! Quem és tu?
- Então não me conheces? Sou a Beatriz, a tua amiga imaginária.
- Imaginária? Do tempo dos meus 8 anos? Já és passado...
- Enganas-te. Sempre estive presente em ti.
- Como é que pode ser? Deves estar a brincar comigo. Lembro-me perfeitamente de ter uma amiga Beatriz, mas nem me lembro da cara.
Será que é porque estou num jogo?
Num jogo... Quantas vezes Sara tinha pedido que a vida fosse um jogo, simples e fácil. Jogava-se, uma, duas e pronto, era só ganhar. No entanto encontrava-se numa encruzilhada. Há dois anos tinha "virado" mulher, como dizia a mãe, e a vida tornou-se muito mais complicada. Complicada não, UM INFERNO! Tão depressa queria crescer, sair dali para fora, como tão depressa se queria aninhar num cantinho e brincar com as suas barbies. E pior... tão depressa não sabia o que queria.
E agora encontrava-se num jogo da "PlayStation" do irmão. Desejava ardentemente sair, era tudo tão estranho e assustador, mas não conseguia. E lá estava a tal Beatriz a olhar para ela Com aquela cara de quem diz "coitadinha olha p'ra ela, tá completamente perdida". Detestava aqueles olhares. Aliás nesta altura da vida, detestava quase tudo. A maior parte do tempo detestava a mãe, o pai, o irmão, os professores, os adultos, as crianças, enfim detestava quase sempre tudo e todos. De uma maneira geral detestava a vida... a maior parte das vezes
- Então se és minha amiga, tira-me daqui. Quero voltar para o meu quarto!
- Claro que te vou ajudar. Só temos que dar um passeio.
- É longo?
- Não. Vai passar num instante. Vamos.
Começaram a andar num caminho de luzes e estrelas. De quando em onde surgiam personagens que lhe eram familiares dos jogos do André. Entretanto Beatriz falava, falava "e lembras-te disto e lembras-te daquilo, blá, blá" uma infindável enxurrada de palavras que para ela não faziam sentido nenhum. Falava de um passado recente. Afinal Sara era ainda uma pré-adolescente. Das peripécias e aventuras, pelas quais tinham passado. Alucinava com toda a certeza. Sara lembrava-se apenas dessa amiga que, segundo a mãe, foi algo que arranjou para superar os seus medos. Fantástico! Estava a enlouquecer! Tinha 15 anos e a mãe tinha-lhe dito que, quando era mais nova, inventou algo para superar os seus medos – Beatriz! Já era na altura genial ou louca? Era suposto ter medos? E agora encontrava-se ali passado, sei lá, 6 anos? Com aquilo que tinha inventado para superar os seus medos no passado. Sabia que havia miúdos que "arranjavam" esses amigos imaginários, já tinha ouvido falar disso algures, provavelmente nalguma treta psicológica, ou até já tinha visto filmes sobre o assunto. Mas esta Beatriz não era de maneira nenhuma imaginária, era bem real, estava ali à frente dela. Bolas! Não conseguia lembrar-se do que aconteceu. E ela continua... blá, blá. Pára! Que foi que ela disse?
- Que disseste? "Agora que te aconteceu isto", isto o quê?
Sorri benevolamente. Meu Deus, como a detestava!
- Já vais perceber. Vamos continuar a nossa viagem.
Continua blá, blá. Socooorrooo!!
Queria tanto lembrar-se de como tudo tinha acontecido. Tinha uma vida para viver, pelo menos era o que sempre lhe diziam: "tens uma vida pela frente", mais os compromissos com os seus amigos, os únicos de quem gostava, a maior parte das vezes. Estava a perder tempo. Não aprendia nada, não que tivesse muito interesse em aprender, era uma seca. A mãe passava o tempo todo, a dizer-lhe que a vida é um processo de aprendizagem, que produz uma energia, que nos faz evoluir e, tornarmo-nos seres melhores e maiores, quando estamos receptivos ao conhecimento. A mãe era uma filósofa, só dizia chanfradisses que Sara quase nunca entendia. Claro que o facto dela não perceber patavina desses discursos fantásticos, motivava a mãe a dizer mais uma série de palavras para expressar o que pensava da incapacidade de Sara, para a entender. Dizia-lhe: "tens os neurónios, supostamente para funcionar". Pronto. Lá vinha ela falar caro, para que Sara pusesse então os seus neurónios a trabalhar. Mas Sara não estava nem aí.
- Ó mãe, deixa-te disso. Sabes bem que eu não gosto de pensar, cansa-me. Não tenho que ser como tu, que aliás, se fosse, também andava sempre cansada, porque, ao contrário de mim, tu pensas demais e isso, também deve ser cansativo. Portanto pára de me chamar estúpida. Achas que te fica bem como mãe? Não, claro que não.
A mãe calava-se, obviamente sentia-se culpada e achava que a filha tinha razão. Sabia-lhe tão bem, fazer a mãe sentir-se culpada. Durante umas horitas não a ia chatear. Portanto, era a altura certa para lhe fazer alguns pedidos que tinha vindo a adiar para um momento melhor. Era agora.
- Sabes mãe, aquele concerto dos "System of a Down"? - Olhou de soslaio para ver qual era a sua expressão.
- Sim?...
- Bom, tinha pensado que me podias deixar ir com o Pedro e o tio dele, que já tem 50 anos – volta de novo a olhar para a mãe. Esta faz uma expressão de perplexidade.
- Então não te importas de ir com um sujeito de 50 anos, que não conheces de lado nenhum, para não ires com o teu pai?
- É que com o pai não me sinto tão à vontade...
- Não? Que engraçadinha! Realmente não te sentes nada à vontade com o teu pai. Não, Sara. Tens duas opções: ou vais com o teu pai, ou não vais. Ok?
- E se o pai não quiser ir?
- Vais comigo. – Disse a mãe, fazendo um esgar de horror.
- Contigo? Ah! Ah! Assim é que não vou estar nada à vontade, nem cantar vou poder.
- Pois não. Nunca cantas comigo por perto! Quantas vezes tenho que te mandar calar?
- Tá bom! Mas aquelas músicas mais...
- Que têm palavrões? Olha Sara, já te disse quais são as tuas opções e ponto final.
Era sempre assim. A vontade deles sempre imperava. Era desesperante. Aliás a mãe era daquele tipo de mulheres que, "ou estás comigo ou contra mim", isto, segundo disse o pai, numa das muitas discussões que tinham. Estava Sara nestes feed-backs e a Beatriz noutros. Já se tinham esquecido da Beatriz e de como chegamos até aqui? Pois então Beatriz continuou a falar sem parar, enquanto a Sara navegava noutras ondas. Nesta altura Beatriz, apercebendo-se que faziam viagens diferentes, estacou o passo e perguntou:
- Sara porque não me ouves?
Sara surpreendida com o flagrante, respondeu-lhe, que estava a prestar atenção a tudo.
- Não te sabia mentirosa. - E fez um ar de profunda tristeza, que impressionou Sara.
- Meu Deus! Também não precisas de ficar assim. Tá bom. Não estava a prestar atenção. Tenho outras coisas em que pensar. Tenho uma vida, sabias?
- Pois é dela que te quero falar. Vai ajudar-te a sair daqui. Não é isso que queres?
Sara olhou-a. Já lhe parecia a mãe. Também a quereria obrigar a usar os neurónios? Estava condenada. Tinha que pôr a cuca a funcionar duma maneira ou doutra. Bom, era melhor prestar-lhe atenção.
- Lembras-te daquele fim-de-semana em que foste com os teus pais fazer um piquenique e acabaste toda mordida pelos mosquitos e com uma valente constipação?
Fantástico! De todas as suas memórias, tinha que lhe ir buscar uma bem chata e da qual preferia nem se lembrar.
- Sim...?
- Detestaste, não foi?
Acenou com a cabeça ficando expectante em relação ao que se seguiria. Não se seguiu rigorosamente nada. Beatriz calou-se, emudeceu, perdeu o pio. Sara fixou-a atónita. É de loucos! Pensou que lhe ia fazer alguma revelação fantástica sobre o assunto, mas não...
Lembrava-se tão bem desse episódio. Tinha odiado, pois como já Beatriz tinha referido, tinha ficado toda mordida e com uma valente constipação, para além de que tinha sido numa altura em que já não apreciava a companhia dos pais. Estes, procuravam promover estas tretas de família p'ra cá e p'ra lá. Era crónico. Devia ser para ver se se convenciam a eles próprios que eram uma família. A maior parte dos seus amigos queixava-se do mesmo. Aliás esta cena de promover a família era uma treta social, que a chateava bué. Tanto falavam que os pais tinham que ter tempo para os filhos e no entanto os pais cada vez tinham que trabalhar mais. Ora, logicamente, mais tempo estavam fora de casa e, nem por isso percebia que os pais se encontravam numa situação económica melhor. Pelo contrário. Continuava a ouvir os pais a lamentarem-se do peso dos impostos, do absurdo que lhes era exigido para terem alguma dignidade existencial. Das coisas todas que tinham comprar e que pagar. Muitas vezes ouvia a mãe dizer que "pagavam até o ar que respiravam".
O ar está poluído e só causa doenças, como podem obrigar as pessoas a pagá-lo? Sim, sim, os neurónios de Sara não eram assim tão maus, sabia perfeitamente que não se paga o ar que se respira sabia exactamente o que a mãe queria dizer. A mãe detestava a classe política portuguesa. Dizia que eram todos uns exploradores, e que cada um deles andava lá, para resolver a sua vidinha, "maribando-se" para o "Zé Povinho". "A verdade" dizia a mãe "é que o primeiro a ser tramado é sempre o povo. Esses camelos – dizia ela, ao telefone com a tia – ainda vêm para os jornais e televisão, chamar-nos a todos analfabetos e burros, fazendo afirmações que dão vida a um morto. Eles, na verdade assim nos querem manter, ignorantes e analfabrutos. Por um lado, fingem que querem tirar o país do analfabetismo aumentando a escolaridade obrigatória, por outro, aumentam as propinas, os preços dos livros e de todo o restante material. Não criam condições para que um pai possa manter o seu filho na escola. Depois, acusam-nos de "não participarmos" na vida académica dos filhos e, para "facilitar", marcam reuniões em horário laboral. Por um lado, promovem tudo o que é "Doutor", tanto profissional como socialmente, por outro, limitam as vagas no ensino superior, entopem as saídas profissionais e alegam que nem toda a gente tem que ser doutor. A função pública dá prejuízo. Eles, políticos, como tal funcionários públicos, cujo ordenado é o único, em toda a classe, que está equiparado aos da Europa, passam a vida a achar que têm que ser aumentados, faltam que é um disparate, produzem a miséria que está à vista e quem paga tudo, é o desgraçado que obedece, que tem superiores, e que é obrigado a fazer o que lhe mandam. Mete-me nojo toda esta hipocrisia e, sinto um profundo desprezo por todos eles." A mãe era uma revolucionária!
Detestava mesmo estas cenas. Resumindo: os pais são obrigados a trabalhar cada vez mais. Enfim, para Sara tudo bem, gostava era de sentir que valia a pena. A mãe trabalhava em dois sítios e o pai trabalhava 14 horas por dia. Apesar de tudo, Sara achava que lhe faltava muita coisa, pois os pais alegavam falta de dinheiro. Então quem lhe explicava como é que os pais a trabalhar assim, não tinham dinheiro para tudo e ainda tinham de ter tempo para eles? Às vezes, quando punha os neurónios a funcionar pensava nestas coisas e, achava que a vida e as pessoas, nem eram justas umas para as outras, nem tinham uma vida muito justa. Lembrava-se de alguns colegas, cujos pais ainda tinham mais dificuldades que os dela, e de como esses colegas eram piores alunos. Como o Joaquim, a quem a mãe de Sara deu explicações de borla. Um dia Joaquim foi lá a casa e a mãe perguntou-lhe se ele queria passar a fazer os deveres com a Sara. Ele disse que sim e, nesse ano tirou melhores notas e passou. A mãe dizia que ele era bastante inteligente, mas não tinha acompanhamento. "É uma pena" dizia ela. Joaquim tinha que tomar conta do irmão mais novo. De manhã, antes de ir para as aulas, levava-o a uma senhora que ficava com ele e depois da escola ia buscá-lo. A mãe do Joaquim que estava divorciada, saía muito cedo de casa e, chegava muito tarde. No ano seguinte a mãe do Joaquim voltou a pedir à mãe de Sara para ajudar o filho. Nesse ano no entanto, a mãe de Sara, viu-se aflita e obrigada a arranjar um part-time e não dispunha de tempo, daí que não se pôde comprometer. Ficou bem triste, pois sabia que sem uma ajuda o Joaquim se perderia. E assim foi. Joaquim nesse ano chumbou e Sara deixou de o ver com tanta frequência.
Quem sabe talvez um dia se pudesse dedicar à política e ajudar a mudar um pouco a visão das coisas? Não! Delirava. Queria lá saber das pessoas. Cada um que se arranjasse. Quanto aos pais, ninguém lhes tinha pedido que tivessem filhos. O que ela curtia mesmo era estar sem fazer nada, assim sossegada sem que ninguém lhe desse cabo do juízo. Era tudo muito complicado.
Beatriz continuava ali, do lado dela, silenciosa, apenas observando... Como gostaria de perceber o que se passava, porquê tanto mistério e tanto silêncio. Era suposto levá-la de volta ao seu quarto sã e salva.
- Bom, vais-me então dizer porque falaste do piquenique?
- Já te lembras de tudo?
Sara fez um ar espantado. Não percebia. Beatriz queria falar-lhe de algo especial, algo que acontecera nessa altura. Era só mencionar esse facto, que ela se lembraria. Porque tinha Beatriz de estar sempre com estes jogos de quebra-cabeça? De qualquer forma não tinha acontecido nada de importante. Foram todos para Trofa. Era habitual no Verão fazerem um passeio em família, para ficarem a conhecer um pouco mais o "lindo país em que vivemos" diziam os pais. Era sempre em altura de Feiras e faziam depois um tour turístico pelas zonas mais interessantes. E assim foi. Finalmente abancaram numa praia fluvial que creio se chamava Bairros e o rio era o Ave. Lembrava-se que era giro ir para a água porque não havia ondas, a água era calma e para ela, que era mais miúda na altura, não podia haver melhor. Ia muita gente para lá.. Lembrava-se... que engraçado como a memória surge sempre de uma forma encadeada, umas coisas puxam as outras. Houve um episódio, numa das vezes em que foi para lá com os pais, que foi muito importante, pois durante uns tempos admirou-os de uma forma especial. Um miúdo esteve quase a afogar-se e quem se apercebeu de tudo foi a mãe de Sara. Foi ela que deu o alerta e foi o pai que salvou o miúdo. Durante uns tempos Sara teve um orgulho especial nos pais. Foi um episódio. Estes orgulhos duram pouco. Era isto que Beatriz esperava que ela se lembrasse. Virou-se para o lado para a questionar sobre o assunto, mas Beatriz desaparecera.
Olhou à sua volta e percebeu perfeitamente que já não se encontrava no mesmo sítio. Tinha voltado ao seu quarto, embora este lhe parecesse ligeiramente diferente, havia algo estranho. Teria estado tanto tempo longe que os pais já tinham modificado o quarto? Decidiu investigar.
Abriu a porta do quarto. A sensação mantinha-se. A casa era nitidamente diferente, muito mais pequena. Começou a ficar verdadeiramente assustada.
- Beatriz, Beatriz!
Chamou já com algum pânico na voz. Não compreendia o que se estava a passar, mais uma vez. Não seria muito novinha para passar por estas tribulações existenciais?
Meu Deus! Onde estava aquela que dizia ser a sua melhor amiga?
Resolveu arriscar. Tinha que ver os pais e o irmão. Começou a percorrer a casa, embora tivesse pouco que andar pois a casa era muito mais pequena que a dela. E a mobília? Tudo lhe parecia tão pobre. Estava já na cozinha quando ouviu uma porta bater. Virou-se...
- Ah já cá estás? Não tiveste a última aula?
Sara olhava para a mãe espantada. Era a mãe sem dúvida. Mas... estavamais velha, o cabelo já quase todo branco, curto. Que lhe tinha acontecido?Sara instintivamente agarrou-se à mãe e abraçou-a com toda a força. Estasurpreendida, sorriu e pensou "aconteceu qualquer coisa".
- Está tudo bem filha?
Sara tinha os olhos esbugalhados, fixos na mãe
- Sim mãe tá tudo bem.
Nesse instante ouve de novo a porta a bater.
- Olá! Tou cheio de fome!
André! Sara estava a viver um pesadelo. Era o André, com umas roupas todas rotas e o cabelo sujo.
- Tás a olhar? Nunca viste?
- Vá meninos não comecem. Hoje dói-me muito a cabeça e ainda tenho que ir trabalhar.
- Vais para o banco? Sara perguntou espantada. Eram 17.30h, horas da mãe ficar em casa, será que tinha um novo emprego?
- Para o banco? Que raio de pergunta é essa? Sabes perfeitamente que os bancos estão fechados a esta hora e que nós não temos relações de amizade com nenhum deles.- A mãe de Sara olhou para a sua cara pálida e começou a ficar preocupada. A filha estava estranha. – Estás bem filha? Que se passa?
- Tá é maluca, de certeza. Disse o André rapidamente. – Já reparaste como ela está vestida, mãe? Parece uma ricaça.
- Não me lembro efectivamente dessa fatiota filha!...
Sara, sentiu-se perfeitamente perdida, confusa, sem saber o que dizer.
- Foi... foi uma amiga minha, da escola, que me deu esta roupa.
A mãe estava com um ar tão cansado que nem ligou.
Entretanto pegou na carteira e num casaquinho e disse:
- Bom, vou indo. Já sabem, volto às 7.30. - E saiu.
Olhou à sua volta, não sabia que fazer
Nesta altura pensou em Beatriz, na promessa que lhe fizera de conseguir de novo a sua velha vidinha de volta; no entanto ali estava com uma suposta velha nova vida, e Beatriz desaparecera. Deixou-se cair pesadamente num banco da cozinha desiludida, desesperada, pôs a cabeça entre as mãos e lamentou tudo o que até àquele momento criticara e menosprezara da sua vida. Lamentou a forma como até aí tinha tratado os seus pais, o seu irmão... a mãe.... Como ela queria de novo a sua mãe toda segura e autoritária, aquela mãe que não precisava de protecção pelo contrário, protegia. Esta era tão frágil, tinha um ar tão cansado... ela não queria essa responsabilidade, ela queria ser outra vez aquela adolescente irresponsável e crítica... um pouco mais moderada... "Meu Deus se me deres a minha vida de volta prometo que nunca mais me queixo e vou tentar ser uma filha melhor e uma irmã também. Por favor... " Começou a chorar.
De repente levanta a cabeça e lembra-se "ainda não fui ver em que local estou, a cidade... vou lá fora. Tenho que encontrar o caminho de volta". Limpou a cara, secou as lágrimas, esboçou um sorriso grande para aliviar resíduos da sua mágoa e saiu.
Olhou à sua volta. Tudo era estranho, não fazia ideia aonde estava, sentiu uma angústia terrível "e se não conseguisse voltar de novo à sua vida? Ficaria sempre ali, presa naquele mundo desconhecido? Não! Tinha que encontrar o caminho de volta"
Pôs um pé à frente seguido do outro, e assim sucessivamente e começou a caminhar. Não sabia que direcção tomar nem para onde ir, mas continuou.
Andou, andou e foi ter a um descampado. Aí percebeu que não podia andar mais à deriva, pois não ia dar a lado nenhum. Percebeu que estava efectivamente perdida. Estava cansada, desesperada, queria gritar, chorar e queria sair dali.
Lá ao longe parecia-lhe ver alguém, alguém que não lhe era estranho. Umasilhueta que lhe era familiar. Dirigiu-se para lá.
- Desculpa, mas eu conheço-te!
A pessoa virou-se e Sara ficou estupefacta! Não podia ser. Era ela própria, ali em frente a ela, era outro eu! Tinha enlouquecido de vez, sabia que não havia cura. Saia de umas e entrava noutras histórias alucinantes, sem nexo.
A outra Sara sorriu. Pegou-lhe na mão e levou-a. Nada disse. Começaram a correr e Sara apercebeu-se que ela a levava em direcção ao precipício, tentou puxa-la e travar a corrida, mas a outra voltou-se, sorriu de novo e disse "não tenhas medo". Assim continuaram e saltaram. Sara voava. Que sensação estranha, ia morrer sem perceber porquê, sem ver os pais e o irmão, sem se poder despedir... fechou os olhos. Não conseguia respirar, sufocava! De repente, levantou-se e abriu os olhos:
- Filha estás a ter um pesadelo! Abanou-a com carinho.
Sara viu a mãe. Aquela Mãe! Olhou à volta e viu o seu quarto, era mesmo o seu quarto. Olhou de novo para a mãe e abraçou-a com toda a força.
- Mãe!!!
- Calma filha foi só um pesadelo.... mas já passou, já estás segura.
Sara olha de novo para a mãe, fixamente.
- Nunca pensei voltar a ver-te. Adoro-te mãezinha!
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